Lentamente abro meus olhos, sentindo uma forte dor de cabeça. Começo a avistar um teto de gesso todo branco e o cheiro do local em que eu estou, lembro-me de um hospital. Eu tenho quase certeza de que estou na enfermaria da escola.
Com dificuldade de respirar, inclino minha cabeça para a direita e concluo minha suposição quando avisto a enfermeira. Ela está de costas para mim, conversando com Elisa, que segura uma sacola plástica preta toda amarrada.
Me arrepio. Minhas roupas estão ali dentro, eu sinto, mas se realmente estão nesse saco, alguém me deu banho enquanto eu estava desacordado e essa ideia me deixa nervoso.
Para tirar a imagem da mente, sem me preocupar com a dor de cabeça, a ergo e olho para meu corpo. Eu estou usando outra calça e camisa, provavelmente do acervo do curso de teatro.
Volto a encostar minha cabeça na almofada dura do leito e solto um baixo
O Ateliê da Berta é um prédio rosa de cinco andares. O térreo é a recepção... na verdade, uma grande recepção. O segundo andar é a loja da Grife de Lara. Os andares três e quatro são responsáveis pela produção, onde ficam inúmeras máquinas de costuras, mesas de cortes e demais coisas para confecção das roupas desenhadas por ótimos estilistas, auxiliando as costureiras qualificadas. O quinto andar é a administração, em que fica também o escritório da Berta.Ao chegar à recepção, não olho para a cara da recepcionista que fala algo comigo. Não compreendo. Passo direto para o elevador e o pego.O setor administrativo é enorme e divido em várias salas, cada uma com uma função. Passo pelo RH, pela contabilidade, pelo almoxarifado, pela sala de
Eu não tenho o costume de sair durante a tarde. Para mim, é estranho. As pessoas desconhecidas que passam, os numerosos automóveis e seus barulhos insuportáveis, o odor estranho que se propaga no ar, sem falar das ruas terrivelmente sujas.Um rapaz passa por mim enquanto eu caminho e joga no chão, sem se preocupar com a poluição, a embalagem de um picolé que chupava. Olho o plástico dançar no ar até chegar ao chão. Pergunto-me o que impede este homem de esperar uma cesta mais próxima para descartar seu lixo.De acordo com meu estado sentimental, eu me estressarei com qualquer coisinha, então bufo, um pouco irritado, e prossigo na minha caminhada, prestando atenção aos detalhes da rua para seguir o caminho correto.A medida em que eu ando, percebo que estou conseguindo acertar o lugar. Estou reconhecendo alguns estabelecimentos, até virar algumas
O que faz o tempo passar mais rápido quando chego em casa é ficar pensando em toda a conversa que eu tive com aquele estranho no jardim. Eu não sei seu nome, talvez eu esteja interessado em saber, mas tenho quase certeza de que não o encontrarei outra vez.Quando saio do closet após vestir minha roupa de dormir, vejo o Littlefinger amolando suas afiadas unhas em um dos pufes, o que me deixa muito irritado por ele estar estragando um móvel, sendo que ele tem seu próprio amolador no seu cantinho.– Littlefinger, seu gato malvado, pare com isto. – Repreendo-o e o carrego.Ele mia, protestando, querendo chão, mas quando faço cafuné em sua cabeça, ele para e se aninha em meu colo como um felino carente.– Você tem problemas com os outros gatos? – Pergunto descaradamente. – Acredito que tenha, mas que sempre consegue resolver... ou é
Eu estou encurralado. A nanica continua saltitando de felicidade por ver seus amigos selvagens e, logo à frente, eles se aproximam. O que eu faço? Sinto dentro de mim um pequeno medo e vontade de correr, mas algo me diz para continuar aqui, esperando.O pavão, que desfila majestosamente, como uma ave da alta nobreza, olha para mim e acelera em minha direção. Sua cauda está fechada, arrastando-se no chão. Os outros prosseguem bem devagar, sem se preocuparem comigo.Quando a ave penosa está bem perto, abre sua cauda novamente e se contorce, virando um garoto ossudo, alto, cabelo castanho com mechas rosas.Ele para em minha frente todo sorridente, me analisa de cima a baixo, até que aproxima seu rosto do meu pescoço e me cheira. Dou um passo para trás, assustado com a sua inconveniência.Os macacos pulam mais e mais, até que um deles sobe sobre os ombros do out
Desperto.Sento-me na cama com os olhos arregalados, suando e com a respiração ofegante. Eu quero saber o que aconteceu. Olho em volta e decepciono-me quando noto que eu estou novamente em meu quarto.Aquele sonho foi tão real... cada sentimento, cada sensação, cheiro e toque. A vontade que tenho é de chorar por ser jogado violentamente de um lugar em que meus sentimentos ruins não me afetavam e que, quando tentavam, eram escorraçados de forma incrível, que deixava minha mente em paz.Toco cuidadosamente em meu olho esquerdo e o sinto inchado. Que droga!Em um salto, levanto-me, corro até a porta, abro-a bruscamente e vou até o quarto dos meus pais. A cama está forrada e não há sinal deles. Vou até a sala de jantar e Cristal está arrumando a mesa.– Que horas são? – Pergunto-lhe, tentando recuperar o fôle
Abro meus olhos e lá está ela, a grande árvore neste circular campo gramado do Incrível Condado Feliz da Ilha Solitária do Reino Aurora. Caminhando, olho para todos os lados em busca das realezas, mas não consigo avistá-los. Então lembro-me de que tudo começou com um alto piado de uma grande ave de rapina. Olho para o céu, que parece estar escurecendo, e as nuvens inertes estão alvas como a neve. Outra pintura, ainda acompanhada pela imagem enorme e de pouca opacidade de números e ponteiros de um relógio marcando 00:00.A grama está mais curta e verde, por sinal.Quando toquei no relógio, por um momento pensei que não chegaria aqui. Na primeira vez, tive uma forte impressão de que era real e agora tenho certeza disso. Não precisei tomar pílula para culpá-la por delírio, muito menos dormir para dizer que é sonho. Eu es
Vejo-me sozinho no Condado Feliz. É neste momento que acordo em meu quarto e frustro-me por ser sonho? Mas nada acontece, continuo em pé, olhando para as árvores coloridas, altas e baixas, que me cercam.O que será que existe atrás dessas árvores? Posso ficar aqui e esperar alguém aparecer, ou posso explorar esse Condado e saber para onde o Sebastian foi. Se isso é real, preciso conhecer antes que me tirem daqui novamente e eu nunca mais volte.Começo a caminhar em direção às árvores e, cada vez que me aproximo, parece que elas crescem. Olho para além delas, a floresta parece ser longa e escura. Isso não vai dar certo, posso me dar mal por ser tão curioso.O que tenho a perder? Reviro os olhos. Que se dane! Prossigo decidido, mas confesso que estou sentindo um pouco de medo do que posso encontrar.A grama verdinha que c
Noto uma claridade bem lá na frente, acelero meus passos e começo a sentir um aroma diferente, um que nunca senti antes. Lembra-me de peixe, só que sem todos os temperos que a Cristal coloca para ficar delicioso. Será que é o mar? Tento ouvir algum som, mas não há nenhum, apenas silêncio. Aproximo-me mais, até que vejo, iluminando um pouco a escuridão da floresta, algo com pequeninas asas que batem velozmente.Paro e o observo, tentando decifrá-lo. Isso é um peixe... com asas? Cautelosamente, para não o espantar, me aproximo. Recordo-me, ao vê-lo de mais perto, de um peixe dourado, só que prateado, com pequeninas pedrinhas cristalizadas dando seu brilho intenso.O peixe bate suas miúdas asas e voa em direção ao céu azul. Sigo-o maravilhado e, ao me aproximar mais, piso em uma areia branquinha como neve, ligada a um mar cri