Depois de uma quinta estranha, minha sexta-feira pode ser útil para pôr para fora tudo que me deixa incomodado. Eu posso descontar em alguém toda minha raiva por essa situação chata em que eu estou metido.
O encapuzado não sai da minha cabeça. Estou com medo, claro, ele pode aparecer novamente ou foi apenas um caso isolado, em que eu estava na hora errada e no lugar errado. Devo contar para alguém ou guardar apenas para mim? Claro, possivelmente vão dizer que é tudo fruto de minha imaginação, afinal, uma pessoa com ansiedade generalizada fica assustada com muita facilidade. Respiro fundo inúmeras vezes e decido deixar essa coisa de homem estranho em estacionamento um pouco de lado.
Como meus pais decidiram, as minhas sextas são dedicadas à terapia, ou seja, de manhã eu acordo, sou liberado das minhas obrigações na escola e me encontro com a psicóloga em sua clínica.
E aqui estou eu, doido para voltar para casa, sentado em um sofá longo e azul, em uma recepção branca com detalhes azuis, com cheiro de flores. Talvez, deste lugar, apenas isso me agrade.
Meus olhos continuam rondando o ambiente e o que mais me chama atenção é a presença de uma mulher de cabelo curto e rosa. Paro e fico encarando-a. Ela mexe em seu celular e ri às vezes, em outras ela revira seus olhos ou sussurra algo bem baixinho. Ela tem umas caras e bocas engraçadas e bem expressivas, o que me deixa hipnotizado.
A mulher de cabelo rosa parece que acabou de sair de um mangá. Sua pele é branquinha e em seu rosto não há sinal algum de imperfeição, há apenas sardas e uma pintinha perto da boca.
Ela percebe que eu estou olhando, ergue seu olhar e abre um grande sorriso. Eu não consigo decifrar se é sincero ou debochado. Tento então retribuir da mesma forma, mas acho que acabo sendo um pouco exagerado. Ela revira os olhos, sorri outra vez e se levanta.
Meu coração gela!
Ela começa a caminhar em minha direção, ajeitando seu vestido tubinho e seu decote. Ela tem grandes seios. É notório.
– Gostou da minha cara, amorzinho? – Ela pergunta parando em minha frente, como se estivesse fazendo posse para uma revista. – Ou dos meus seios?
Eu não sei o que falar, a olho sem graça e as palavras para mim não existem mais.
– O gato comeu a sua língua ou o deixo nervoso? – Ela pergunta e muda sua pose. Em sua voz, percebo um tom sedutor e provocativo.
Ela está tentando me seduzir? Mesmo sendo mais velha?
– Melhor assim, vai que você fala um monte de besteira e estraga minha manhã? – A mulher de cabelo rosa revira os olhos, senta-se ao meu lado, dá uma olhada em seu celular e depois para um dos consultórios da clínica. Aproveito essa oportunidade para reparar nas horas. São 09:08 da manhã.
– Veio ser atendida? – Pergunto finalmente.
– Não, estou aqui apenas enfeitando esta clínica feia com minha beleza e meu brilho. – Responde toda dura, mas acabo rindo. – Achou engraçado? Está rindo de mim?
– Claro que não, mas gostei da resposta. – Respondo-a olhando para a porta da minha psicóloga, que continua fechada.
– Minha psicóloga diz que tenho uma alma de artista… estou pensando em entrar em um curso de teatro, o que você acha? – Ela me pergunta como se eu a conhecesse o suficiente para lhe dar uma opinião.
– Se ela diz, deve ser verdade. – Tento não ser rude.
– Você é imprestável… – Ela revira os olhos, depois abre um sorriso. – Brincadeirinha!
– Marilia, por favor! – Uma das psicólogas da clínica surge e chama a mulher de cabelo rosa.
– Não estava brincando, falei a verdade, você é imprestável, mas é bonitinho, precisa falar mais, é muito calado e parece ter medo de mim. Eu só mordo se pedirem, mas tchauzinho e se cuida, garoto. – Ela dispara as palavras, solta uma piscadela, levanta-se, ajeita seu vestido e seu decote e acompanha a sua psicóloga.
Fico acompanhando-a com o olhar, sem entender nada. Que mulher louca. Acabei de conhecê-la e ela falou essas coisas para mim. Talvez fosse esse o seu problema e o motivo de estar aqui cuidando da sua cabecinha.
Sinceramente, ela me fez sorrir e aqui estou eu, sentado, esperando minha vez com um sorriso idiota na cara.
A porta da minha terapeuta abre, um idoso sai sorridente. Ajeito-me e preparo-me para me levantar, só aguardando o seu chamado, e assim acontece. Ela acena para mim e entro.
Dra. Norah Runni não é uma má profissional, ela mostra ser dura, uma mulher de punho forte, e isso me deixa confortável, mas o problema está em mim. Eu não gosto de ficar me abrindo assim para as pessoas, só se for virtualmente, porque não é cara a cara.
Ultimamente, parece que ela anda cutucando muito a minha vida em busca de algo que não consegue encontrar. Deu opiniões tolas aos meus pais no encontro que acontece uma vez por mês com eles por eu ser menor, o que me deixa preocupado e pensando que a Dra. Runni pode ser capaz de contar para eles as poucas coisas que eu solto em nossas conversas.
Será ela capaz de quebrar o pouco vínculo que formamos?
Sento-me na poltrona de sempre e fico esperando-a se acomodar.
– Olá, Nicholas!
– Olá, Dra. Runni!
– Como vai?
– Indo!
– Indo como?
– Com os pés, de carro…
– Que bacana, e de que outra maneira você poderia ir?
– Na verdade, eu quero parar de vir aqui.
– Tem algum motivo para não querer mais o acompanhamento?
– Parece que todas as vezes que venho aqui, você piora a minha vida. – Lanço as palavras e ela não consegue conter a reação. Franze o cenho.
– Como assim, Nicholas? – Indaga Dra. Runni, preocupada com minha afirmativa, afinal, é seu nome que está em jogo e eu tenho poder para sujá-lo.
– Talvez nem seja culpa sua, ou você é uma puta psicóloga maldosa querendo ferrar a minha vida também... ou talvez esteja se aproveitando dos seus conhecimentos para me adoecer e tirar dinheiro dos meus pais. – Desvio meu olhar para um pequeno jarro em uma mesinha de canto.
Dra. Runni cruza as pernas. Já percebi durante nossos encontros que, quando ela faz isso, é sinal de que dará broncas através de meigas palavras ou que me fará refletir.
– E o que te leva a pensar que estou fazendo isso? – Questiona-me.
– Você disse que eu precisava interagir com meu ambiente e sabe o que eles estão fazendo? – Pergunto sentindo irritação em minha voz. – Estão me levando para todos os eventos... eles já faziam isso, mas agora é com mais frequência e eu O-D-E-I-O. – Olho-a com raiva.
– Você acha que foi isso que sugeri? Que eles te levassem para o mundo deles? – Dra. Runni indaga em um tom desafiador.
– Se não fosse, com certeza você deixaria claro... por isso eu digo que você fez de propósito. – Reviro os olhos ficando mais puto.
– Infelizmente não somos capazes de implantarmos nossas interpretações nas mentes das pessoas, Nicholas, eu apenas disse o que acho necessário, mas cabe a você e seus pais interpretarem e tomarem suas decisões. Eu simplesmente os acolho. – Ela tenta se explicar e defender seu lado.
É compreensível, ela está certa. Não adianta nada eu ficar tentando atacá-la, já que tudo que eu quero é colocar para fora ou achar um culpado por toda esta merda que eu estou vivendo.
Talvez não existisse culpado.
– Meus pais... eles são os piores e maiores problemas da minha vida, não por existirem, mas porque não me entendem, não sabem lidar comigo. – Desabafo.
– Ou você não sabe lidar com eles? – Dra. Runni me joga uma pergunta que não fez sentido.
Eu tenho que aprender a lidar com meus pais para ser feliz? Eu tenho que me adaptar? Começo a tentar buscar uma resposta, eu quero lhe responder, quero lhe mostrar que eu tenho uma resposta para tudo, mas na verdade eu não sei de nada. Nunca soube!
– Então sou eu que preciso aprender a lidar com eles? – Questiono com um tom debochado.
– Não! O que você precisa fazer é aprender a lidar consigo mesmo.
– E como faço?
– E como você faz?
– Lá vem você!
– Já estou aqui!
Eu odeio essa mulher!
– Eu não sei, eu não sei como fazer isso, não sei como lidar comigo, com meus problemas, com essas coisas que sinto...
– E o que você sente? Coisas? Quais coisas? – Dra. Runni descruza as pernas, prende seu cabelo em um coque desgrenhado e levanta-se.
– Não sei! – Respondo sem entender o que ela está fazendo.
– Para saber lidar, precisa conhecer o que sente, precisa fazer contato. – Ela fala e parece carregar em seus lábios um sorrisinho de canto.
– E como eu faço contato? – Indago e a acompanho com meus olhos. Dra. Runni caminha pelo consultório e some atrás de mim.
– Está vendo esta poltrona vazia? – Vejo sua mão apontar para a poltrona em que ela estava sentada. Olho para o móvel e fico um tempo calado, apenas observando.
– Estou! – Respondo.
– Nela, visualize você, a versão sua que sabe lidar com o que você sente... descubra. Depois inverta os papeis, você se senta nesta vazia e responde. – Dra. Runni tenta me explicar a proposta.
– Eu vou falar sozinho? – Estou confuso, muito confuso.
– Não, Nicholas, vai falar consigo mesmo.
Então tudo ao meu redor parece escurecer e existe aqui nesta pequena sala apenas eu e a poltrona vazia em minha frente.
– Eu não sei!
– Tente!
Não ouço mais nada, apenas minha respiração pesada e as batidas do meu coração. Respiro fundo tentando levar a sério a proposta da Dra. Runni, então a procuro e não a encontro. Realmente não existe ninguém aqui além de mim mesmo.
Torno a olhar para a poltrona vazia e lá está, uma outra versão minha. Ele parece mais gordinho, mais saudável, e sua face é avermelhada... ele parece ser feliz. Ele me encara com um sorrisinho idiota, como se estivesse zombando de mim e do meu fracasso em tentar ser forte nesses tempos difíceis da minha vida.
Eu preciso falar com ele, mas não sei como começar e nem o que falar. Fecho meus olhos, respiro fundo… eu só preciso deixar fluir.
– Oi... – Tento, mas as palavras não saem de primeira. Volto a ficar em silêncio.
– Oi, Nicholas melhor que eu. – Começo a falar outra vez. – Isto é estranho, falar comigo... – Rio de nervoso. – No caso, falar com você. – Mordo meu lábio inferior. – Estranho talvez porque você é a pessoa que eu queria ser, o Nicholas que eu deveria me tornar, mas não sei como fazer isso. – Começo a estalar meus dedos. – A louca aqui da psicóloga diz que preciso conhecer o que sinto, esta coisa que fica aqui dentro de nós, mas eu não sei que nome dar, nem sei como é de verdade ou se realmente me pertence. Queria saber de você, como é isto, o que você sente, como lida com isto. É tão difícil, é tão... doloroso.
O outro Nicholas se levanta e caminha, parando em minha frente. Ele parece bravo.
– Sabe qual é o seu problema, Nicholas que quer ser eu? Você é fraco... você é idiota, tolo, besta, um cara que simplesmente abaixa a cabeça para tudo e não toma atitude nenhuma. E, quando toma, são as piores, rebaixando as pessoas, as humilhando... – Cospe as palavras em minha cara. – Acha que foi fácil chegar aonde cheguei? Acha que foi de uma noite para outra que acordei sabendo lidar com todos os meus problemas e sentimentos?
– Sentimentos? – Questiono um pouco sinuoso e trêmulo.
– Sim, sentimentos! – O outro Nicholas responde impaciente.
– Então o nome disto que sinto é sentimento?
– Vai me dizer que não sabia?! – Minha outra versão ironiza.
– Não... eu sei, é que eu não sei... não sei usá-los. Talvez eu seja defeituoso. – Levanto-me sentindo meus olhos arderem.
– Não é um defeito, é apenas um bloqueio. – O outro Nicholas começa a caminhar pela sala escura.
– Como assim? – Não penso duas vezes em segui-lo.
– Você se bloqueou para você mesmo quando não fez nada quando recebeu aquele abraço.
Então paro, meu coração parece parar lentamente, minha cabeça rodopia e meu ar some. Eu não quero lembrar do abraço, não quero me recordar do que me aconteceu e fragmentos querem invadir meus pensamentos, então começo a lutar. Fecho meus olhos bem forte e deixo as lágrimas rolarem, malditas lágrimas.
– Aquele abraço... – Sussurro jogando-me na poltrona.
– O pior abraço que já recebemos. – O outro Nicholas parece tão triste quanto eu e joga-se também em sua poltrona.
– Sim, o pior de todos! – Afirmo, ergo meu olhar e o encaro.
Nicholas, minha outra versão, abre um sorriso e some. Toda a sala volta ao seu lugar, tudo está como era antes e aqui está Dra. Runni me encarando, doida para perguntar algo.
Limpo minhas poucas lágrimas.
– Que abraço, Nicholas? Quer falar sobre isso?
– Não quero falar sobre nada! – Murmuro impaciente, olho para o relógio e percebo que não estou nem na metade ainda da sessão.
– O que você está sentindo? – Dra. Runni me estende lencinhos. Bufo e reviro os olhos, rejeitando-os.
– Só quero ir embora daqui. Eu estou bem, não se preocupe. – Levanto-me e, ignorando completamente o que Dra. Runni diz, abandono a sua sala e a sua clínica.
Passo o resto da minha sexta-feira tentando não pensar no que aconteceu na sessão ou no estacionamento. Tranco-me no quarto e resolvo escrever no blog sobre a importância de um abraço para uma pessoa e como ele, que aparentemente é tão bom, pode ser um veneno para o resto da vida, causando marcas e sequelas irreversíveis.O Pior de TodosDulce SoledadTalvez não doa, talvez doa. Talvez não fiquem marcas..., mas ficou. Ele era apaixonado pela vida, ele era apenas um garoto que sonhava e sempre andava com um sorriso bem desenhando em seus pequeninos lábios, mesmo cercado por problemas grandes que para ele eram pequenos, quase inexistentes. Ele podia tombar, cair, se ferir, mas se levantaria e riria de tudo, vendo os machucados cicatrizando.Ele via a inocência em tudo e em todos. Acreditava que por
Mais um evento, último da semana, é o que acredito. É o maldito lançamento do livro da amiga da Berta.De terno, todo passadinho, me sinto sufocado e encurralado. Tento afogar minha gravata, pergunto-me o que eles chamam de diversão. Talvez seja uma estranha versão que a todo momento está estampada em minha face, mas que nunca noto.– Espero que pelo menos tenha uma música de verdade. – Murmuro enquanto subimos as escadas que nos levam à entrada do local. – Isso sim seria diversão.Minha mãe desliga o celular e o guarda na bolsa. Estava conversando com sua assistente, Johanna, que sofre em suas mãos, coitada.Meu pai também guarda o seu celular. Havia recebido um relatório importante e precisava ler e assinar digitalmente.Adentramos e percebo logo que está cheio de pessoas exatamente como meus progenitores.Bufo, frustr
Billie não me responde de imediato, mas eu sigo na esperança ainda de receber uma resposta sua. É domingo, dia em que eu vegeto em minha cama, mas como eu sou senhor do meu próprio destino, ou tento acreditar que sim, posso tomar alguma iniciativa e mudar o rumo dessa jornada louca.Elisa, minha melhor amiga, ainda não me mandou mensagem pedindo desculpas ou tentando se comunicar comigo de alguma forma. Eu sou orgulhoso, não vou procurá-la, sendo que eu estou em meu pleno direito de dar minha opinião sobre seu fogo miserável com aquele garoto que acabou de conhecer.São aproximadamente oito horas da manhã, ainda não desci para tomar café. Sinceramente? Minha cama está muito boa, então fecho meus olhos, respiro fundo, tentando não ficar chato por causa do tédio, e começo a pensar em tudo que me aconteceu nesses últimos dias.À
Acordar cedo nunca foi um problema para mim. A manhã de segunda, da qual muitos reclamam, eu amo. Simplesmente por causa da escola, local em que consigo sorrir um pouco – ou tento –, longe dos meus pais. Tirando a professora de matemática, que parece me odiar, e alguns garotos que pegam em meu pé, abstraio toda a negatividade do lugar e penso apenas no lado bom, minha melhor amiga.Ainda estamos brigados, mas eu sei que é temporário, é sempre assim.Abro meus olhos me sentindo confiante. Caminho até meu banheiro, faço toda a higiene matinal seguida por um banho morno, bem gostoso. Após me enxugar, volto ao quarto, abro o closet e pego a primeira calça jeans que vejo. Procuro a farda, que é uma camisa social branca de manga ¾ com o brasão da instituição, no formato de um pavão. Ainda acho um pouco brega, mas não posso fazer nada, eu sou obri
Lentamente abro meus olhos, sentindo uma forte dor de cabeça. Começo a avistar um teto de gesso todo branco e o cheiro do local em que eu estou, lembro-me de um hospital. Eu tenho quase certeza de que estou na enfermaria da escola.Com dificuldade de respirar, inclino minha cabeça para a direita e concluo minha suposição quando avisto a enfermeira. Ela está de costas para mim, conversando com Elisa, que segura uma sacola plástica preta toda amarrada.Me arrepio. Minhas roupas estão ali dentro, eu sinto, mas se realmente estão nesse saco, alguém me deu banho enquanto eu estava desacordado e essa ideia me deixa nervoso.Para tirar a imagem da mente, sem me preocupar com a dor de cabeça, a ergo e olho para meu corpo. Eu estou usando outra calça e camisa, provavelmente do acervo do curso de teatro.Volto a encostar minha cabeça na almofada dura do leito e solto um baixo
O Ateliê da Berta é um prédio rosa de cinco andares. O térreo é a recepção... na verdade, uma grande recepção. O segundo andar é a loja da Grife de Lara. Os andares três e quatro são responsáveis pela produção, onde ficam inúmeras máquinas de costuras, mesas de cortes e demais coisas para confecção das roupas desenhadas por ótimos estilistas, auxiliando as costureiras qualificadas. O quinto andar é a administração, em que fica também o escritório da Berta.Ao chegar à recepção, não olho para a cara da recepcionista que fala algo comigo. Não compreendo. Passo direto para o elevador e o pego.O setor administrativo é enorme e divido em várias salas, cada uma com uma função. Passo pelo RH, pela contabilidade, pelo almoxarifado, pela sala de
Eu não tenho o costume de sair durante a tarde. Para mim, é estranho. As pessoas desconhecidas que passam, os numerosos automóveis e seus barulhos insuportáveis, o odor estranho que se propaga no ar, sem falar das ruas terrivelmente sujas.Um rapaz passa por mim enquanto eu caminho e joga no chão, sem se preocupar com a poluição, a embalagem de um picolé que chupava. Olho o plástico dançar no ar até chegar ao chão. Pergunto-me o que impede este homem de esperar uma cesta mais próxima para descartar seu lixo.De acordo com meu estado sentimental, eu me estressarei com qualquer coisinha, então bufo, um pouco irritado, e prossigo na minha caminhada, prestando atenção aos detalhes da rua para seguir o caminho correto.A medida em que eu ando, percebo que estou conseguindo acertar o lugar. Estou reconhecendo alguns estabelecimentos, até virar algumas
O que faz o tempo passar mais rápido quando chego em casa é ficar pensando em toda a conversa que eu tive com aquele estranho no jardim. Eu não sei seu nome, talvez eu esteja interessado em saber, mas tenho quase certeza de que não o encontrarei outra vez.Quando saio do closet após vestir minha roupa de dormir, vejo o Littlefinger amolando suas afiadas unhas em um dos pufes, o que me deixa muito irritado por ele estar estragando um móvel, sendo que ele tem seu próprio amolador no seu cantinho.– Littlefinger, seu gato malvado, pare com isto. – Repreendo-o e o carrego.Ele mia, protestando, querendo chão, mas quando faço cafuné em sua cabeça, ele para e se aninha em meu colo como um felino carente.– Você tem problemas com os outros gatos? – Pergunto descaradamente. – Acredito que tenha, mas que sempre consegue resolver... ou é