A brisa fria da noite envolvia Kael e Lírica quando saíram da caverna. O silêncio era quase esmagador, interrompido apenas pelo farfalhar das árvores ao redor. Cada passo de Kael parecia mais firme, como se ele estivesse finalmente completo.Malthus os esperava do lado de fora, os olhos estreitados em avaliação.— Então? — O mago perguntou. — Você venceu?Kael expirou devagar.— Não era uma luta para ser vencida. Era para ser compreendida.Malthus arqueou uma sobrancelha, mas um brilho de aprovação surgiu em seus olhos.— Interessante. Então você finalmente aceitou a fera dentro de si?Kael olhou para suas próprias mãos, sentindo o poder fluir através de sua pele, mas dessa vez, não como uma ameaça incontrolável.— Eu sou Kael, e Fenrir é parte de mim. Mas eu sou o mestre desse poder, e não o contrário.Lírica apertou sua mão, os olhos brilhando com orgulho e alívio.— Então estamos prontos para o que vier.Malthus suspirou.— O que vier é exatamente o problema. Gregor não vai esperar
O mundo ao redor se dissolveu quando Kael e Gregor se chocaram. O impacto de seus golpes fez o chão estremecer, os ecos de suas forças reverberando pelo campo de batalha.Gregor rugiu, os olhos brilhando em vermelho intenso, sua forma lupina dominada por fúria e poder bruto. Ele atacava com garras afiadas, tentando despedaçar Kael com sua força avassaladora.Kael, porém, não era mais o mesmo lobo de antes. Seu corpo se movia com precisão, seus reflexos aguçados pela fusão com Fenrir. Ele bloqueava, esquivava e contra-atacava, cada golpe sendo calculado para enfraquecer Gregor.Ao redor deles, a guerra rugia. Lírica liderava os guerreiros da Alcatéia da Lua Sangrenta, enfrentando os soldados de Gregor com ferocidade. Malthus conjurava feitiços, criando barreiras e lançando explosões de energia para desequilibrar o inimigo.Mas, para Kael, só existia Gregor.— Você sempre fugiu do seu destino, irmão. — Gregor rosnou, investindo com um golpe feroz. — Mas não pode fugir de mim!Kael desvi
O vento gélido percorreu o campo de batalha, carregando consigo o cheiro de sangue, terra e fogo. O corpo inerte de Gregor jazia no chão, uma lembrança silenciosa do fim de uma era. Kael respirava com dificuldade, sentindo a exaustão pesar em seus músculos, mas sem permitir que a dor o dominasse. Lírica estava ao seu lado, os olhos dourados observando os lobos sobreviventes que agora os rodeavam, incertos do que viria a seguir.Os guerreiros da Alcatéia da Lua Sangrenta estavam feridos, mas vitoriosos. Os poucos seguidores leais de Gregor que haviam sobrevivido hesitavam, alguns recuando, outros aguardando um comando que nunca mais viria.Malthus se aproximou, seu rosto coberto de fuligem e suor. O mago havia usado seu poder até o limite, mas um leve sorriso surgiu em seus lábios ao olhar para Kael.— Então, o Alfa Renegado venceu.Kael expirou lentamente.— Não se trata de vencer. Se trata de reescrever o futuro.A Alcatéia Sem LíderO silêncio foi interrompido por um lobo de pelagem
A lua cheia ainda reinava no céu quando Kael acordou, o calor do corpo de Lírica confortando-o. O cheiro dela misturava-se ao aroma da floresta, e por um instante, ele se permitiu esquecer a guerra e o sangue que ainda manchava o solo. Mas a realidade logo o alcançou.Ele deslizou os dedos pela pele dela, observando seu rosto sereno enquanto dormia. Lírica era sua força, sua âncora. Mas o que havia acontecido com Gregor não parecia um fim definitivo. Algo dentro dele murmurava um aviso sombrio.Suavemente, ele se afastou e vestiu suas roupas. Ao sair da tenda improvisada, o frio da madrugada o envolveu. O acampamento estava silencioso, apenas os sons da floresta quebravam a quietude.Kael não sabia dizer por que, mas sentia que estavam sendo observados.O Chamado da SombraMalthus estava sentado perto da fogueira quase apagada, traçando símbolos na terra. O mago ergueu os olhos ao ver Kael se aproximar.— Você também sentiu, não foi? — Malthus perguntou sem rodeios.Kael franziu a tes
A presença sombria havia desaparecido, mas suas palavras ecoavam na mente de Kael como um sussurro persistente. "A entidade que possuía Gregor ainda está viva."Ele retornou ao acampamento antes do amanhecer, sua mente em turbilhão. Lírica sentiu sua inquietação assim que ele se deitou ao lado dela, mas não perguntou nada. Apenas envolveu-o em seus braços, oferecendo-lhe o único conforto possível naquele momento.Mas Kael sabia que não poderia ignorar o aviso. A verdadeira batalha ainda estava por vir.A Revelação de MalthusQuando o sol despontou no horizonte, Kael reuniu Malthus e Lírica para compartilhar o encontro com a figura misteriosa. O mago franziu o cenho ao ouvir as palavras sobre a entidade que havia controlado Gregor.— Se isso for verdade, então nunca enfrentamos Gregor de fato. Lutamos contra algo muito mais antigo e poderoso.Lírica cruzou os braços, pensativa.— O que poderia ser tão forte a ponto de controlar um Alfa?Malthus suspirou, seus olhos escurecendo.— Exist
O cheiro de cinzas impregnava o ar quando Kael ergueu os olhos para a vila devastada. As chamas ainda consumiam o que restava de algumas casas, enquanto lobos e humanos corriam para socorrer os feridos. O ataque fora brutal e inesperado.Mas o pior era o silêncio que veio depois.As sombras haviam desaparecido tão rapidamente quanto surgiram, deixando apenas destruição e medo.Malthus ajoelhou-se no chão enegrecido, tocando os resquícios de magia negra que ainda impregnavam o solo. Seus olhos estavam sombrios quando ele se virou para Kael e Lírica.— Isso foi apenas um teste.Kael estreitou os olhos.— Teste para o quê?O mago passou a mão pelos símbolos que desenhara na terra.— Para ver do que somos capazes. Para entender nossas fraquezas.Lírica limpou o sangue do rosto e se aproximou.— Então essa entidade está estudando a gente?Malthus assentiu.— E, pelo que vi hoje... ela encontrou pontos fracos.Kael trincou os dentes.— Então precisamos estar um passo à frente.A Decisão Dif
O lobo no chão se contorcia, sua pele tremulando como se algo dentro dele tentasse escapar. Seus olhos negros como o abismo refletiam a essência da entidade que o possuía. Kael deu um passo à frente, os músculos tensionados, enquanto Lírica surgia ao seu lado, já em posição de ataque.O resto da alcatéia acordava com os sons guturais que saíam da garganta da criatura. Malthus, sentindo a onda de energia sombria que emanava do lobo, levantou as mãos e começou a murmurar encantamentos.Mas antes que qualquer um pudesse reagir, o lobo possuído saltou para cima de Kael.A Luta Contra as SombrasKael se esquivou no último instante, sentindo as garras passarem a poucos centímetros de seu rosto. O lobo corrompido caiu sobre o chão, mas imediatamente se ergueu, movendo-se de forma anormal, como se suas articulações estivessem sendo manipuladas por algo invisível.Lírica atacou primeiro, suas garras brilhando com um brilho prateado sob a luz da lua. Ela acertou o peito da criatura, mas ao invé
O ar estava carregado com a energia do feitiço de Malthus. O lobo possuído ainda se debatia dentro do círculo de contenção, sua pele se retorcendo em formas impossíveis, enquanto sua voz reverberava em tons distorcidos.Kael sentiu a tensão no ar. O plano era arriscado—invocar Gregor, um espírito há muito desaparecido, para selar a entidade dentro dele. Mas se falhassem... não haveria segunda chance.Lírica passou os olhos pelo grupo, sua mente trabalhando rapidamente.— Precisamos de um local seguro para o ritual. Aqui não vai funcionar.Malthus assentiu, o suor escorrendo pela testa.— Tenho um lugar. Mas... precisamos nos mover agora. Não sei quanto tempo posso manter esse feitiço.Kael não hesitou.— Vamos.A Caminho da Pedra do CrepúsculoA Pedra do Crepúsculo ficava no coração da floresta, um local antigo e esquecido, onde diziam que o véu entre os mundos era mais fino. Se Gregor ainda vagava pela terra dos vivos, era lá que ele seria encontrado.A alcatéia avançava rapidamente