A lua cheia ainda reinava no céu quando Kael acordou, o calor do corpo de Lírica confortando-o. O cheiro dela misturava-se ao aroma da floresta, e por um instante, ele se permitiu esquecer a guerra e o sangue que ainda manchava o solo. Mas a realidade logo o alcançou.Ele deslizou os dedos pela pele dela, observando seu rosto sereno enquanto dormia. Lírica era sua força, sua âncora. Mas o que havia acontecido com Gregor não parecia um fim definitivo. Algo dentro dele murmurava um aviso sombrio.Suavemente, ele se afastou e vestiu suas roupas. Ao sair da tenda improvisada, o frio da madrugada o envolveu. O acampamento estava silencioso, apenas os sons da floresta quebravam a quietude.Kael não sabia dizer por que, mas sentia que estavam sendo observados.O Chamado da SombraMalthus estava sentado perto da fogueira quase apagada, traçando símbolos na terra. O mago ergueu os olhos ao ver Kael se aproximar.— Você também sentiu, não foi? — Malthus perguntou sem rodeios.Kael franziu a tes
A presença sombria havia desaparecido, mas suas palavras ecoavam na mente de Kael como um sussurro persistente. "A entidade que possuía Gregor ainda está viva."Ele retornou ao acampamento antes do amanhecer, sua mente em turbilhão. Lírica sentiu sua inquietação assim que ele se deitou ao lado dela, mas não perguntou nada. Apenas envolveu-o em seus braços, oferecendo-lhe o único conforto possível naquele momento.Mas Kael sabia que não poderia ignorar o aviso. A verdadeira batalha ainda estava por vir.A Revelação de MalthusQuando o sol despontou no horizonte, Kael reuniu Malthus e Lírica para compartilhar o encontro com a figura misteriosa. O mago franziu o cenho ao ouvir as palavras sobre a entidade que havia controlado Gregor.— Se isso for verdade, então nunca enfrentamos Gregor de fato. Lutamos contra algo muito mais antigo e poderoso.Lírica cruzou os braços, pensativa.— O que poderia ser tão forte a ponto de controlar um Alfa?Malthus suspirou, seus olhos escurecendo.— Exist
O cheiro de cinzas impregnava o ar quando Kael ergueu os olhos para a vila devastada. As chamas ainda consumiam o que restava de algumas casas, enquanto lobos e humanos corriam para socorrer os feridos. O ataque fora brutal e inesperado.Mas o pior era o silêncio que veio depois.As sombras haviam desaparecido tão rapidamente quanto surgiram, deixando apenas destruição e medo.Malthus ajoelhou-se no chão enegrecido, tocando os resquícios de magia negra que ainda impregnavam o solo. Seus olhos estavam sombrios quando ele se virou para Kael e Lírica.— Isso foi apenas um teste.Kael estreitou os olhos.— Teste para o quê?O mago passou a mão pelos símbolos que desenhara na terra.— Para ver do que somos capazes. Para entender nossas fraquezas.Lírica limpou o sangue do rosto e se aproximou.— Então essa entidade está estudando a gente?Malthus assentiu.— E, pelo que vi hoje... ela encontrou pontos fracos.Kael trincou os dentes.— Então precisamos estar um passo à frente.A Decisão Dif
O lobo no chão se contorcia, sua pele tremulando como se algo dentro dele tentasse escapar. Seus olhos negros como o abismo refletiam a essência da entidade que o possuía. Kael deu um passo à frente, os músculos tensionados, enquanto Lírica surgia ao seu lado, já em posição de ataque.O resto da alcatéia acordava com os sons guturais que saíam da garganta da criatura. Malthus, sentindo a onda de energia sombria que emanava do lobo, levantou as mãos e começou a murmurar encantamentos.Mas antes que qualquer um pudesse reagir, o lobo possuído saltou para cima de Kael.A Luta Contra as SombrasKael se esquivou no último instante, sentindo as garras passarem a poucos centímetros de seu rosto. O lobo corrompido caiu sobre o chão, mas imediatamente se ergueu, movendo-se de forma anormal, como se suas articulações estivessem sendo manipuladas por algo invisível.Lírica atacou primeiro, suas garras brilhando com um brilho prateado sob a luz da lua. Ela acertou o peito da criatura, mas ao invé
O ar estava carregado com a energia do feitiço de Malthus. O lobo possuído ainda se debatia dentro do círculo de contenção, sua pele se retorcendo em formas impossíveis, enquanto sua voz reverberava em tons distorcidos.Kael sentiu a tensão no ar. O plano era arriscado—invocar Gregor, um espírito há muito desaparecido, para selar a entidade dentro dele. Mas se falhassem... não haveria segunda chance.Lírica passou os olhos pelo grupo, sua mente trabalhando rapidamente.— Precisamos de um local seguro para o ritual. Aqui não vai funcionar.Malthus assentiu, o suor escorrendo pela testa.— Tenho um lugar. Mas... precisamos nos mover agora. Não sei quanto tempo posso manter esse feitiço.Kael não hesitou.— Vamos.A Caminho da Pedra do CrepúsculoA Pedra do Crepúsculo ficava no coração da floresta, um local antigo e esquecido, onde diziam que o véu entre os mundos era mais fino. Se Gregor ainda vagava pela terra dos vivos, era lá que ele seria encontrado.A alcatéia avançava rapidamente
O ar ficou denso, como se o próprio mundo prendesse a respiração. O espírito de Gregor permanecia ali, parado, sua presença oscilando entre o visível e o etéreo. Mas o que fez o coração de Kael acelerar não foi apenas vê-lo ali. Foi perceber que Gregor não estava sozinho.Sombras se moviam ao redor dele, sussurrando em línguas esquecidas. Lírica se aproximou de Kael, seus olhos dourados atentos.— Algo está errado...Kael assentiu, mantendo-se firme.— Gregor, precisamos de você. Essa entidade precisa ser selada e apenas um espírito forte pode contê-la. Você sempre foi um dos mais fortes entre nós.O espírito de Gregor estreitou os olhos.— Você me pede para servir como prisão para algo que devora almas?Kael sentiu o peso das palavras.— Não temos escolha. Se não o fizermos, essa entidade destruirá nossa alcatéia. Você viu o que ela pode fazer. Ela já tomou um de nós.Gregor abaixou a cabeça por um momento, como se ponderasse.— Eu não pertenço mais a esse mundo, Kael. Mas... — Seus
A noite estava pesada, densa como um manto de trevas envolvendo a floresta. O vento soprava entre as árvores, carregando um cheiro úmido de terra revirada e algo mais... algo podre, corrompido.Kael sentiu a presença antes de vê-la. Seu instinto gritou um alerta silencioso. Ao seu lado, Lírica rosnou, os olhos âmbar brilhando na penumbra.— Isso não é normal. — A voz dela era um sussurro afiado, carregado de tensão.Malthus, ainda exausto do ritual que haviam feito horas antes, cambaleou, apoiando-se em seu cajado. Seu rosto estava pálido.— Abrimos uma porta, e algo passou por ela.Então, a floresta se calou.Nenhum pássaro, nenhum farfalhar de folhas. Apenas um silêncio opressor que apertava os pulmões como uma mão invisível.Foi quando ela apareceu.A Criatura Sem NomeEntre as sombras das árvores, uma figura emergiu. Caminhava devagar, como se testasse o próprio corpo, sua pele cinzenta e opaca reluzindo fracamente sob a luz da lua. Seus olhos eram buracos negros, vazios de qualqu
A floresta ainda parecia carregada com a energia da criatura que haviam enfrentado. Mesmo que tivesse desaparecido, Kael sabia que aquilo não era um fim—apenas uma pausa. O ar ao seu redor ainda estava denso, pesado com o cheiro da magia antiga que permeava o local.Lírica permanecia ao seu lado, seus olhos âmbar ainda iluminados pelo resquício de fúria e determinação. Malthus, por outro lado, parecia mais abatido do que nunca. O ritual que haviam realizado naquela noite para tentar conter a criatura claramente o desgastara, e seu olhar carregava uma preocupação que não conseguia esconder.— Ela fugiu, mas não foi destruída. — Lírica quebrou o silêncio, a voz cortante como uma lâmina. — Ela nos testou, queria saber do que somos capazes.Kael sabia que ela estava certa. O jeito que a criatura os observou antes de sumir, o tom sinistro em sua voz ao prometer que voltaria—não era um blefe.Malthus soltou um longo suspiro, passando a mão pelo rosto cansado.— Não estamos lidando com um es