A floresta ainda parecia carregada com a energia da criatura que haviam enfrentado. Mesmo que tivesse desaparecido, Kael sabia que aquilo não era um fim—apenas uma pausa. O ar ao seu redor ainda estava denso, pesado com o cheiro da magia antiga que permeava o local.Lírica permanecia ao seu lado, seus olhos âmbar ainda iluminados pelo resquício de fúria e determinação. Malthus, por outro lado, parecia mais abatido do que nunca. O ritual que haviam realizado naquela noite para tentar conter a criatura claramente o desgastara, e seu olhar carregava uma preocupação que não conseguia esconder.— Ela fugiu, mas não foi destruída. — Lírica quebrou o silêncio, a voz cortante como uma lâmina. — Ela nos testou, queria saber do que somos capazes.Kael sabia que ela estava certa. O jeito que a criatura os observou antes de sumir, o tom sinistro em sua voz ao prometer que voltaria—não era um blefe.Malthus soltou um longo suspiro, passando a mão pelo rosto cansado.— Não estamos lidando com um es
A presença sombria se dissipou na noite, mas o peso da ameaça permanecia. Kael sentia os instintos gritando dentro dele, um aviso silencioso de que algo pior estava por vir. Ele olhou para Malthus, que mantinha o cajado erguido, ainda murmurando encantamentos de proteção.Lírica deu um passo para frente, os olhos fixos na escuridão entre as árvores.— Eles estão vindo. — Sua voz era baixa, quase um sussurro.Kael a observou. Mesmo tentando esconder, ele via o peso da incerteza em sua expressão. Ele se aproximou e pegou sua mão.— Vamos sair daqui. Precisamos planejar o próximo passo.Lírica não protestou, o que só reforçou a gravidade da situação. Malthus assentiu e começou a guiá-los para um refúgio seguro, um antigo templo abandonado na colina mais próxima. Enquanto caminhavam, Kael sentiu o coração apertar. Ele sabia que essa batalha não terminaria sem sacríficios.O Refúgio SombrioO templo era um amontoado de ruínas, com colunas quebradas e musgo cobrindo o chão de pedra. O lugar
A noite estava densa, carregada de presságios sombrios. O brilho pálido da lua banhava as ruínas do templo enquanto Kael observava Malthus recuperar o fôlego. O mago tremia ligeiramente, seus olhos fixos em algo que apenas ele parecia enxergar.Lírica, ao lado de Kael, mantinha a mão firme na empunhadura da espada. A energia ao redor deles vibrava, carregada de uma força arcana que ameaçava se romper a qualquer momento.— Precisamos agir agora — disse Malthus, sua voz rouca. — Se esperarmos mais, eles atravessarão completamente para o nosso mundo, e não teremos forças para detê-los.Kael cerrou os punhos. A lembrança do exército das sombras atravessando o véu era um pesadelo que ele não queria tornar real. Ele olhou para Lírica, que assentiu, seu olhar resoluto.— O que precisamos fazer? — perguntou a alfa.Malthus apontou para o centro do templo, onde um círculo de pedras antigas jazia coberto de musgo. Gravuras ancestrais brilhavam fracamente, como se respondessem à presença deles.
O tempo parecia se esvair como areia entre os dedos de Kael. O vento frio cortava sua pele enquanto o templo vibrava com a energia do ritual. Malthus estava ajoelhado no centro do círculo de runas, o cajado brilhando intensamente, enquanto as sombras ao redor dançavam e rugiam, tentando penetrar a barreira mágica que ainda resistia.Lírica mantinha sua posição ao lado de Kael, a respiração pesada após a batalha. Os olhos dela estavam fixos nele, lendo seus pensamentos antes mesmo que ele os expressasse em palavras. A tensão entre os dois era palpável. Ambos sabiam que o tempo estava acabando.— Não há outra escolha — disse Kael, sua voz grave e carregada de emoção.Lírica avançou um passo, agarrando seu braço com força. — Não diga isso. Nós sempre encontramos um jeito.Ele segurou o rosto dela com ambas as mãos, os polegares acariciando sua pele quente. — Eu não posso te perder, Lírica. Se houver uma chance de salvar você e nosso povo, eu vou tomá-la.Os olhos de Lírica brilharam com
A dor ainda queimava nas entranhas de Kael. Cada fibra do seu corpo clamava pelo que ele havia perdido. Sua conexão com a lua, com sua natureza lupina, agora não passava de um eco distante.Lírica segurava seu rosto com ambas as mãos, os olhos dela cheios de uma mistura de medo e fúria.— O que você fez? — a voz dela era pouco mais do que um sussurro, mas carregava uma tempestade por trás dela.Kael forçou um sorriso cansado, seus dedos roçando na pele quente de Lírica.— Eu escolhi você, Lírica. Escolhi nossa matilha.Ela fechou os olhos por um breve instante, respirando fundo. Quando os abriu novamente, Kael viu neles algo que não esperava: lágrimas.— Mas a que custo, Kael? — sua voz estava embargada. — O que você é agora?Kael não tinha essa resposta. Ele sentia cada músculo de seu corpo funcionar, sua mente ainda alerta, mas havia algo estranho, como se uma parte vital dele tivesse sido arrancada. A lua cheia ainda brilhava no céu, mas sua luz parecia distante, como se ele estive
O rugido se espalhou pelo vale como um trovão. Kael sentiu um arrepio percorrer sua pele, uma sensação densa e gelada rastejando por sua espinha. Lírica recuou, instintivamente assumindo uma postura de defesa, os olhos faiscando com um brilho dourado intenso.— O que é isso? — ela perguntou, olhando para Malthus.O mago se virou para o horizonte, seu semblante sombrio.— Algo que não deveria ter sido acordado.Kael deu um passo à frente, sentindo o peso de seu novo estado. Não havia mais o instinto selvagem pulsando em suas veias, mas algo diferente, algo que se enraizava em sua carne e pulsava em um ritmo sombrio.Do meio das árvores retorcidas, uma criatura emergiu. Sua pele era escura como a noite, seus olhos brilhavam com um vermelho espectral. Ela não era um lobo, nem um humano. Era uma fusão de sombras e ódio, uma entidade que parecia ter sido tecida a partir do próprio abismo.Lírica rosnou, os músculos tensos.— Nunca vi algo assim.Kael sentiu um impulso inexplicável dentro d
O chão da floresta parecia tremer sob os pés de Kael, como se a própria terra estivesse reagindo à mudança dentro dele. O brilho negro que agora se espalhava por sua pele pulsava como um coração sombrio, batendo em um ritmo profundo e implacável. Cada respiração que ele tomava trazia consigo uma sensação nova, uma sensação que ele não conseguia definir, mas que sabia que o transformava. Ele sentia algo dentro de si, algo antigo e desconhecido, tomando forma. Não era apenas poder; era uma essência, uma presença que se fundia com sua alma.Ao seu lado, Lírica sentia a diferença. Ela não sabia o que Kael havia se tornado, mas estava certa de que ele já não era o mesmo. A fúria de antes, aquela força bruta e selvagem, agora era substituída por algo mais sombrio, mais enigmático. Ela apertou o braço dele, como se temesse que ele fosse se romper com a realidade, com a vida que conheciam.— Como se sente? — perguntou Lírica, sua voz suave, mas carregada de preocupação.Kael fechou os olhos p
A madrugada ainda não havia se dissipado completamente quando Kael e Lírica começaram a caminhar pela floresta. O som dos passos era abafado pela espessa camada de folhas secas, mas Kael podia sentir os olhos da floresta sobre eles. Cada movimento, cada respiração parecia amplificado. Ele se sentia como uma marionete, mas ao mesmo tempo, como o próprio mestre das cordas. Algo dentro dele o puxava, como se a floresta estivesse tentando guiá-lo, ou talvez, alertá-lo.Lírica caminhava ao seu lado, silenciosa, observando-o com cuidado. A energia negra que ainda envolvia Kael era palpável, e ela não podia deixar de se perguntar o que exatamente ele havia se tornado. O brilho de seus olhos não era mais o de um lobo, mas de algo mais profundo, mais inquietante.— Kael... — A voz de Lírica cortou o silêncio, suave, mas firme. — Você não percebe o que isso pode significar?Kael parou de repente, seus olhos se fixando no vazio à frente. Ele podia sentir a mudança. O poder dentro de si não era a