O ar estava carregado com a energia do feitiço de Malthus. O lobo possuído ainda se debatia dentro do círculo de contenção, sua pele se retorcendo em formas impossíveis, enquanto sua voz reverberava em tons distorcidos.Kael sentiu a tensão no ar. O plano era arriscado—invocar Gregor, um espírito há muito desaparecido, para selar a entidade dentro dele. Mas se falhassem... não haveria segunda chance.Lírica passou os olhos pelo grupo, sua mente trabalhando rapidamente.— Precisamos de um local seguro para o ritual. Aqui não vai funcionar.Malthus assentiu, o suor escorrendo pela testa.— Tenho um lugar. Mas... precisamos nos mover agora. Não sei quanto tempo posso manter esse feitiço.Kael não hesitou.— Vamos.A Caminho da Pedra do CrepúsculoA Pedra do Crepúsculo ficava no coração da floresta, um local antigo e esquecido, onde diziam que o véu entre os mundos era mais fino. Se Gregor ainda vagava pela terra dos vivos, era lá que ele seria encontrado.A alcatéia avançava rapidamente
O ar ficou denso, como se o próprio mundo prendesse a respiração. O espírito de Gregor permanecia ali, parado, sua presença oscilando entre o visível e o etéreo. Mas o que fez o coração de Kael acelerar não foi apenas vê-lo ali. Foi perceber que Gregor não estava sozinho.Sombras se moviam ao redor dele, sussurrando em línguas esquecidas. Lírica se aproximou de Kael, seus olhos dourados atentos.— Algo está errado...Kael assentiu, mantendo-se firme.— Gregor, precisamos de você. Essa entidade precisa ser selada e apenas um espírito forte pode contê-la. Você sempre foi um dos mais fortes entre nós.O espírito de Gregor estreitou os olhos.— Você me pede para servir como prisão para algo que devora almas?Kael sentiu o peso das palavras.— Não temos escolha. Se não o fizermos, essa entidade destruirá nossa alcatéia. Você viu o que ela pode fazer. Ela já tomou um de nós.Gregor abaixou a cabeça por um momento, como se ponderasse.— Eu não pertenço mais a esse mundo, Kael. Mas... — Seus
A noite estava pesada, densa como um manto de trevas envolvendo a floresta. O vento soprava entre as árvores, carregando um cheiro úmido de terra revirada e algo mais... algo podre, corrompido.Kael sentiu a presença antes de vê-la. Seu instinto gritou um alerta silencioso. Ao seu lado, Lírica rosnou, os olhos âmbar brilhando na penumbra.— Isso não é normal. — A voz dela era um sussurro afiado, carregado de tensão.Malthus, ainda exausto do ritual que haviam feito horas antes, cambaleou, apoiando-se em seu cajado. Seu rosto estava pálido.— Abrimos uma porta, e algo passou por ela.Então, a floresta se calou.Nenhum pássaro, nenhum farfalhar de folhas. Apenas um silêncio opressor que apertava os pulmões como uma mão invisível.Foi quando ela apareceu.A Criatura Sem NomeEntre as sombras das árvores, uma figura emergiu. Caminhava devagar, como se testasse o próprio corpo, sua pele cinzenta e opaca reluzindo fracamente sob a luz da lua. Seus olhos eram buracos negros, vazios de qualqu
A floresta ainda parecia carregada com a energia da criatura que haviam enfrentado. Mesmo que tivesse desaparecido, Kael sabia que aquilo não era um fim—apenas uma pausa. O ar ao seu redor ainda estava denso, pesado com o cheiro da magia antiga que permeava o local.Lírica permanecia ao seu lado, seus olhos âmbar ainda iluminados pelo resquício de fúria e determinação. Malthus, por outro lado, parecia mais abatido do que nunca. O ritual que haviam realizado naquela noite para tentar conter a criatura claramente o desgastara, e seu olhar carregava uma preocupação que não conseguia esconder.— Ela fugiu, mas não foi destruída. — Lírica quebrou o silêncio, a voz cortante como uma lâmina. — Ela nos testou, queria saber do que somos capazes.Kael sabia que ela estava certa. O jeito que a criatura os observou antes de sumir, o tom sinistro em sua voz ao prometer que voltaria—não era um blefe.Malthus soltou um longo suspiro, passando a mão pelo rosto cansado.— Não estamos lidando com um es
Capítulo 1: O Uivo na EscuridãoA lua cheia pairava no céu, uma esfera prateada que iluminava a floresta com um brilho fantasmagórico. O vento soprava entre as árvores antigas, carregando o cheiro de terra molhada e madeira queimada. Para Kael, era apenas mais uma noite solitária — o tipo de noite que havia se tornado tão familiar quanto o som de seu próprio batimento cardíaco.Ele caminhava entre as sombras, sua forma lupina quase indistinguível do ambiente ao redor. O pelo negro como carvão o tornava invisível à luz da lua, mas seus olhos brilhavam em um tom dourado que denunciava sua presença para qualquer um que olhasse de perto. Não que houvesse alguém por perto. A essa altura, Kael já sabia que ninguém ousava se aventurar tão profundamente na floresta proibida, um território que até mesmo as alcateias evitavam.Ele não tinha escolha. Como renegado, o exílio era sua única opção. E essa floresta — perigosa e imprevisível — era o único lugar onde ele podia existir sem medo constant
A floresta parecia respirar ao redor deles, viva com sons sutis que apenas os lobos podiam captar. Galhos se curvavam com o peso do vento, folhas dançavam no ar, e, ao longe, o uivo de uma coruja cortava o silêncio. Kael mantinha a postura rígida enquanto Lírica se apoiava em seu braço, os passos dela hesitantes, mas teimosos.O cheiro de sangue ainda pairava no ar, um lembrete de que a batalha havia sido vencida, mas não a guerra.— Você está desacelerando — Kael comentou, sem olhar para ela.Lírica soltou um suspiro exasperado, erguendo o queixo.— Eu estou ferida, não morta.Ele lançou um olhar de canto de olho, o brilho dourado de seus olhos visível mesmo sob as sombras.— Por enquanto.Ela ignorou o comentário. Lírica não era do tipo que demonstrava fraqueza, mesmo quando cada passo fazia sua visão escurecer por um instante.— Quanto tempo até chegarmos ao vale? — perguntou ela, tentando soar firme.Kael não respondeu imediatamente. Ele conhecia bem a floresta e sabia que o camin
A manhã chegou silenciosa, trazendo consigo uma névoa densa que se espalhava pelo vale como um manto. A luz pálida do sol mal atravessava as árvores altas, e o abrigo de pedra parecia ainda mais isolado.Kael observava a pequena fogueira que haviam acendido dentro da cabana, os olhos fixos nas chamas dançantes. Ele não confiava naqueles novos lobos, especialmente em um deles — um jovem chamado Eryon, cuja postura rígida e olhar evasivo o deixavam desconfortável.Lírica, por outro lado, parecia mais serena. Apesar de suas feridas ainda não estarem totalmente curadas, ela já havia começado a traçar um plano.— Precisamos nos mover antes que a noite caia — disse ela, sua voz firme, mas baixa o suficiente para não despertar suspeitas.Kael inclinou-se contra a parede da cabana, cruzando os braços.— Ótimo. Vamos direto para a boca do lobo.Lírica lançou-lhe um olhar impaciente.— Se não recuperarmos o artefato, Darius vai nos encontrar de qualquer forma. Ele já está nos caçando, Kael. Não
Capítulo 4: A Chama que Nunca Se ApagaA Floresta Proibida nunca fora um lugar de paz, mas naquele momento, ela parecia respirar com uma vida própria, como se o próprio ambiente soubesse que algo grandioso — e fatal — estava prestes a acontecer. A cada passo que Kael dava, ele sentia o peso do destino em suas costas, mais pesado do que qualquer batalha que já tivesse enfrentado. Ele olhou para Lírica, que estava a alguns metros à frente, e, por um momento, o silêncio entre eles falou mais do que palavras poderiam dizer.Lírica, apesar de sua aparência fria e imperturbável, carregava consigo o peso do mundo. As cicatrizes de seu passado e os segredos que guardava podiam ser lidos nos olhos dela — e Kael sabia que ela não era de compartilhar facilmente suas fraquezas. Mas ele sentia que estava chegando perto de entender quem ela realmente era, e isso despertava algo dentro dele, algo que ele não conseguia controlar.— Você me preocupa, Lírica. — A voz de Kael cortou o silêncio.Ela viro