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capítulo 07: duras palavras

Minha noite de sono havia sido péssima, me revirei na cama a noite inteira. Quando me pus de pé, o alarme estava disparando adoidado na cômoda. Sem demora desliguei, e tratei de descer até o andar de baixo.

O café da manhã já estava posto na mesa, logo eu me sentei.

Estava quase tomando o café, quando Henry surgiu e sentou-se na outra cadeira.

- pensei que já havia ido para o trabalho.

- ainda tenho tempo. - o fitei.

- não quer demonstrar serviço?

- não quero que seu amado pai pense que sou um puxa saco. - sorri sem felicidade, ficamos alguns instantes em silêncio. Quando me voltei para ele novamente.

- Henry, meu pai é um homem poderoso, extremamente influente! Ele pode acabar com você em segundos se quiser. - ele bebeu mais um pouco de café, e logo me encarou.

- por isso mesmo vai ser tão divertido ver ele no chão, junto com toda a escória de sua família. - me empertiguei, sentindo um aperto no coração.

- quando você fala isso... Se refere a mim também? - ele não voltou a me olhar.

- é melhor tomar seu café em silêncio Katherine. - apertei a xícara em minhas mãos, e apenas engoli todo aquele café com a força do ódio.

Após alguns minutos, ele se foi. Eu fiquei sentada naquela mesa grande, olhando para todos os cantos daquela casa sem vida. Me pus de pé furiosa, e subi até o andar de cima para trocar de roupa.

Sai de casa sem dar nenhuma explicação para os funcionários e parti em busca de uma loja de decorações, eu precisava disso.

Andei bastante, até chegar em uma loja grande cheia de móveis e quadros. Não pensei duas vezes e adentrei, não haviam muitas pessoas. Fiquei em meu próprio canto olhando para todos os lados, quando avistei uma pessoa familiar. Engoli em seco. Era Regina, a irmã de Henry. Ela estava do outro lado da loja. Olhando algumas prateleiras. Eu me empertiguei, tentei ficar onde estava. Mas não pude.

- Cristina? - ela se voltou para mim sobressaltada.

- ah... Katherine, olá.

- você sabia desde o começo que seu irmão queria casar comigo por vingança? - eu precisava colocar aquilo para fora, ela arregalou os olhos. E engoliu em seco.

- tem um café que fica aqui perto, vem comigo. - havia tanta sinceridade em suas palavras, eu quis recusar. Mas resolvi aceitar e fomos juntas.

Sentamos em uma mesa, uma de frente para a outra. Ela parecia tão tensa, eu respirei fundo.

- naquele dia, no meu casamento... Você me avisou. - ela assentiu.

- você está nisso junto com ele?

- não! De forma alguma. - ela negou com todas as forças.

- mas... Então por quê isso? Por que ele sente tanto ódio do meu pai? - ela se empertigou na cadeira, e me fitou.

- nem eu mesma sei Katherine, eu apenas lembro de ser muito pequena. Quando nossa mãe morreu, Henry praticamente me criou. Foi só depois de adulta, que eu notei que ele tinha uma grande obsessão pelo seu pai, por sua família! Ele falava tanto sobre os wilborn, sobre... Vingança. Eu o questionei tantas vezes do porque, mas ele nunca me disse nada. - meu coração estava acelerado, Regina passava confiança. Eu podia sentir que ela não estava mentindo.

- quando ele foi para a Coreia atrás de você...

- espera, o que? - parei bruscamente, ela me fitou confusa.

- Henry foi para a Coreia, ele não morava lá?

- não, nós moramos aqui desde muito jovens. - comecei a sentir as mãos tremendo.

- ele foi atrás de você.

- mas... Mas como assim?

- ele seguia você, nas redes sociais, ele viu quando você postou que estava indo para a Coreia. Ele não perdeu tempo. - a cada instante minha respiração ficava mais ofegante, Cristina notou meu desconforto e me deu um copo de água. Que eu bebi prontamente.

- Cristina, isso é loucura! Então... Eu estava na mira dele há muito tempo. - ela assentiu tristemente.

- infelizmente, sim. Eu não pude acreditar quando ele contou que estava noivo de você, eu fiquei tão mal. Eu sempre soube o que ele queria, e naquele dia eu tentei avisar mas... Eu imaginei que você pudesse não acreditar em mim. Fiquei com medo, e recuei... Me perdoe. - a olhei nos olhos, eu engoli em seco.

- tudo bem, você está certa. Naquele dia eu... Eu estava tão apaixonada, tão esperançosa de me casar com o homem que amava, eu teria negado tudo. E teria ido ao altar com ele mesmo assim, como fui burra. - desviei o olhar, e apertei as mãos. Regina me olhava com pesar.

Ela segurou minhas mãos, olhei para ela no mesmo instante.

- por quê não pede o divórcio?

- não posso, ele tratou de dar um jeito nisso também. É... Complicado demais. - ela se empertigou.

- eu amo Henry, ele é meu irmão. Ele cuidou de mim, mas... Ver o que se tornou me assusta. E é ainda pior ver que você está presa nisso. - assenti com o coração partido.

- eu tenho que descobrir o porque de tanto ódio, tenho que saber o que há por trás disso.

- acho difícil você descobrir, Henry nunca falou disso. - engoli em seco.

- mas eu preciso, talvez seja a chave pra eu sair disso tudo. - ficamos no café por mais algumas horas, trocamos números e prometemos manter contato. Eu precisava de Regina, e naquele momento ela era a única com quem eu podia desabafar sobre tudo. Ela iria me entender, de certa forma era um alívio saber que agora eu tinha alguém assim.

****

Comprei apenas algumas tintas, e papéis de parede e logo segui para casa.

Passei o resto do dia pintando meu quarto sem vida, tentando extravasar tudo que estava sentindo na pintura. Ao fim do dia, eu ouvi o som do carro entrando na garagem.

Ele havia chegado em casa.

Quando abri a porta, ele já estava passando pelo corredor, indo em direção ao seu próprio quarto. Sem demora fiz questão de o seguir, a porta estava entre aberta. Adentrei sem bater, meu coração acelerou ao entrar.

Ele estava sem camiseta, apenas de calças. Suas costas eram rígidas, tensas e... Cheias de cicatrizes. Haviam marcas por toda a sua pele, indo de seu ombro até mais abaixo. Eu franzi o cenho, o que era aquilo. Me sobressaltei quando ele se virou para trás e me encarou.

- o que há? - pigarrei.

- como foi o primeiro dia? - ele ergueu uma sobrancelha.

- quer dar uma de esposa preocupada agora.

- só quero saber como foi. - ele vestiu um roupão prontamente.

- seu pai gostou bastante do meu desempenho, ele gostou das ideias que dei. - me empertiguei.

- não se preocupe, eu não destrui nenhum prédio, ainda. - ele foi em direção ao banheiro, eu respirei fundo e o segui. Ao me ver na porta, ele me fitou de cima a baixo.

- algo mais? Eu quero tomar banho.

- estive com sua irmã hoje. Ele não olhou para mim, mas pude ver como ficou tenso.

- ela me falou muitas coisas.

- Regina fala demais. - franzi o cenho, indo em direção a ele.

- Henry, o que aconteceu com sua mãe? - ele se voltou para mim tão rápido que eu dei alguns passos para trás.

- saia daqui. - ergui uma sobrancelha.

- você precisa me falar.

- eu preciso que você saia daqui. - ele me deu as costas novamente, e foi em direção ao box.

- Henry... Você me perseguiu na Coreia, foi atrás de mim! Você fez tudo isso, por vingança! Por que? Eu só quero que você me diga o motivo! - ele continuou de costas. Eu ousei me aproximar um pouco mais.

- eu não quero acreditar que tudo que tivemos foi mentira, tudo aquilo! Havia algo ali. - ele não se voltou para mim, mas começou a rir. Comecei a sentir as mãos tremendo. Lentamente ele me encarou.

- quer que eu diga que por um momento naqueles dias, eu gostei de você? Que eu realmente... Poderia mudar de ideia com o tempo? Você é tão ingênua Katherine, é tão triste. Eu nunca amei você, nunca estive apaixonado por você! E digo isso olhando em seus olhos, agora... Faça o favor de me deixar só. - ódio emanava em sua voz, eu sentia os olhos ardendo, conforme ia até a porta e saía dali com o coração ainda mais despedaçado.

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