Luana suspirou e pegou o papel de volta.
— Ah, minha querida… Quando as pessoas estão feridas, elas acreditam no que querem acreditar. E Álvaro já está vulnerável o suficiente para cair nessa. Ela inclinou-se para mais perto, sua voz baixa e ameaçadora. — Agora, você tem uma escolha. Pode se recusar a copiar essa carta… e Álvaro passará o resto da vida na prisão. Ou pode assiná-la e garantir que ele seja solto. O desespero apertou o peito de Isabele como garras afiadas. — Você é uma pessoa desprezível ! — sussurrou, lutando contra as lágrimas. — Sim. E sou. — Luana sorriu. — E então o que você decide ? O peso da decisão era esmagador. Ela olhou para a carta novamente, sentindo cada palavra a perfurar como estacas. Se assinasse, destruiria qualquer chance de Álvaro acreditar nela novamente. Se recusasse… ele nunca sai— Mamãe, a gente vai demorar muito nessa viagem? A voz doce e inocente do filho a fez estremecer. Ela se forçou a sorrir, mas sabia que seus olhos não escondiam o peso da mentira que estava prestes a contar. — Não, meu amor… Logo estaremos de volta. Os olhinhos dele brilharam de alívio. — Ainda bem! Eu não quero ficar longe do meu papai de novo. Eu amo ele mamãe e ele é muito legal. Aquelas palavras atravessaram Isabele como uma faca envenenada. Sua respiração falhou, e por um instante, ela teve que desviar o olhar para não deixar que ele visse suas lágrimas. Ele não sabia. Nunca saberia. Davi acreditava que era apenas uma viagem, que logo voltariam. Mas I
Mas, apesar de tudo, seu relacionamento com Luana nunca se aprofundou. Ela queria ser a senhora Castro, mas para Álvaro, ela nunca passaria de uma companhia ocasional para noites solitárias. E Luana sabia disso. Ela suportava porque ainda nutria a esperança de conquistá-lo. E, mais do que tudo, porque queria que Isabele continuasse no passado, esquecida e odiada. — Bebendo tão cedo? — Luana perguntou, arqueando uma sobrancelha enquanto caminhava na direção dele. Álvaro soltou um riso amargo, servindo-se de mais um copo. — O detetive que contratei não encontrou nenhuma maldita pista sobre Isabele e Davi. Luana sentiu a raiva subir por sua garganta como um veneno corrosivo. Ele ainda estava procurando aquela mulher. Dizia odiá-la, dizia querer apenas o filho de volta, mas Luana sabia a verdade. Ele
O sol já iluminava o apartamento amplo em Goiânia, mas Isabele ainda não tinha conseguido tirar Davi da cama. O café da manhã estava sobre a mesa, intacto, e o relógio marcava a hora exata em que ele já deveria estar se preparando para sair. Mas, como nos últimos dias, a resistência dele era absoluta. — Davi, levanta, filho. Você vai se atrasar para a escola. Ele permaneceu deitado, de costas para ela, abraçando o travesseiro com força. — Eu não quero ir. A voz dele soava emburrada, mas por trás da teimosia, Isabele reconhecia o que realmente estava acontecendo: Davi não estava apenas fazendo birra. Ele estava magoado. E, dessa vez, ela não sabia como consertar isso. Suspirando, ela se sentou na beira da cama e passou a mão pelos cabelos dele, mas o menino afastou sua mão com um gesto brusco. — Por favor, filho... — Sua voz saiu baixa, cansada. Finalmente, Davi se virou, e Isabele sentiu o impacto daqueles olhos azuis que sempre a faziam lembrar de Álvaro. Eram idênticos aos do
O telefone tocava sem parar enquanto Isabele caminhava de um lado para o outro no pequeno apartamento. O peso da conversa com Davi ainda estava em seu peito, e ela sabia que precisava desabafar. Precisava ouvir sua mãe, mesmo que isso não trouxesse a solução imediata para seus problemas. — Alô? — A voz de Angélica soou cansada do outro lado da linha. — Mãe... — A voz de Isabele falhou por um instante. Ela fechou os olhos, tentando conter as lágrimas. — Eu não sei mais o que fazer com o Davi. — O que aconteceu, filha? — Ele está revoltado, mãe. Não quer ir para a escola, não quer me ouvir, não aceita nossa nova vida aqui. Ele me culpa por ter tirado o pai dele, diz que eu estraguei tudo... Ele até me disse que me odeia. — A última frase saiu como um sussurro doloroso. Angélica suspirou pesadamente. — Ele é só uma criança, Isa. Está magoado, confuso. Você sabe o quanto Davi sempre sonhou em ter um pai. Quando finalmente teve isso, você teve que ir embora o afastando do pai que e
Álvaro riu, mas sem qualquer humor. — Isso não me importa. Acima de qualquer coisa, está o meu filho. E eu vou direto à fonte. Dessa vez, Angélica terá que me contar toda a verdade sobre o paradeiro de Isabele. Ele virou-se para sair, mas o detetive deu um passo à frente, bloqueando seu caminho. — Com todo o respeito, senhor… se pretende confrontar sua madrasta, pense bem. Assim que ela perceber que você está indo atrás da filha, pode avisá-la. E então Isabele terá tempo suficiente para desaparecer novamente. Álvaro parou. O detetive tinha razão. Ele conhecia Isabele. Se ela percebesse que estava sendo procurada, fugiria mais uma vez, e dessa vez poderia ser ainda mais difícil encontrá-la. Ele passou as mãos pelos cabelos, frustrado. — Droga. Ele nunca teve intenção de ser rude com Angélica e a machucar com palavras , mas agora ela o forçava a tomar medidas extremas. Contava que, pelo menos uma vez na vida, ela fizesse a coisa certa e lhe dissesse a verdade… mas e se não o fize
Agora, tudo o que precisava era partir e ir buscar seu filho. Se Isabele quisesse ficar, que ficasse, mas seu filho voltaria para São Paulo com ele. Na manhã seguinte, seu carro deslizou pelas ruas até o aeroporto particular. Seu jato já o aguardava, pronto para decolar. — Bom dia, senhor Castro — cumprimentou o piloto, acompanhado pelo copiloto. Álvaro respondeu ao cumprimento de ambos de forma polida e, depois que tudo estava pronto, eles levantaram voo rumo a Goiânia. O tempo de voo entre São Paulo e Goiânia seria de aproximadamente uma hora e vinte minutos. Tempo suficiente para organizar seus pensamentos. Enquanto a aeronave cortava o céu, ele encarava a paisagem lá fora, mas sua mente estava em um turbilhão. Ele estava a menos de duas horas de finalmente reencontrar Isabele. E, dessa vez… Ela não teria mais para onde fugir, não sem que ele deixasse claro que nunca mais permitiria que afastasse seu filho dele novamente. Se o que ela escreveu naquela carta que deixou para
Álvaro pegou as chaves do carro e a carteira sobre a cômoda, segurando o braço dela com firmeza para fazê-la segui-lo. No entanto, Isabele se desvencilhou com um movimento brusco. — O Davi está na escola, e eu não vou interromper os estudos do meu filho para atender a um capricho seu. — Capricho? Você acha que querer ver meu filho, depois de dois anos sem poder vê-lo é um capricho? O olhar dele faiscava de fúria contida, enquanto Isabele sustentava a própria raiva. — Escute bem, Isabele — ele continuou, com a voz baixa e cortante. — Você não vai mais usar o meu filho como arma para a sua vingança. Já não foi bastante arma para eu apodrecer na cadeia? Se no passado eu destruí você, saiba que você quase fez o mesmo comigo. Se não fosse a Luana ter se arriscado para me tirar daquela cela, você teria conseguido o que queria.
A saia preta envelope delineava suas curvas com elegância, enquanto a blusa branca de seda, de alças finas, deixava seus ombros expostos. O calor daquela manhã a fez dispensar o sutiã, mas o tecido fino marcava levemente seus seios, o que a incomodava um pouco. Respirou fundo e tocou a campainha. A porta se abriu. E Isabele sentiu seu corpo congelar. A cor sumiu de seu rosto, e suas mãos tremeram. Lá estava ele. Álvaro. Lindo. Imponente. Dominador. Vestindo jeans e uma camiseta branca que se moldava perfeitamente ao seu corpo forte, destacando os músculos dos braços. Seu olhar era cortante, uma mistura intensa de ódio e… algo mais. Algo que ela não soube decifrar. Seu coração disparou.