Melissa Anderson
Dia especial? Talvez seja quando eu estiver a caminho do inferno. Finalmente dezenove anos, mas para quê? Não acredito que o Salvador teve coragem de m****r o sobrinho desprezível dele comprar um bolo para mim, não me arrependo nem um pouco de ter deixado tudo para ele comer sozinho. Eu claramente os odeio, mesmo que estejam ajudando-me agora, não consigo sentir nada além disso.
Eu não queria estar nesta casa, poderia ficar em um lugar sozinha, mas ele não autorizou alega que tem medo de alguém vir atrás de mim e isso me faz odiar ainda mais essa vida.
Olho ao redor do meu quarto, não possui nada aqui que indique ser meu e nunca terá. Não sou do tipo de pessoa que caracteriza os lugares com a sua personalidade, eu apenas existo aqui e isso é por pouco tempo, pois logo irei embora.
Não posso ser totalmente mal agradecida, o Salvador deixou o quarto totalmente confortável, mais do que tudo o que já experimentei. Tenho um guarda roupa grande com roupas que jamais pensei em comprar.
Minha sapateira possui quatro gavetas cheias. Possuo uma televisão, mesa com computador e uma cortina linda na cor vinho. Minha cama esta forrada com um lençol azul-claro e a coberta é em um tom vermelho sangue. Possuo dois travesseiros macios. O quarto é pintado na cor laranja cintilante e possui alguns quadros de paisagem na parede.
Realmente tudo é lindo, mas não é o meu lugar. Nada disso é meu, não tenho fotos na parede ou algo que eu realmente goste. Não posso me apegar a um lugar quando sei exatamente o motivo de eu estar aqui.
Sento em frente ao computador e abro o meu e-mail, vejo o que esperei a semana inteira. Finalmente poderei colocar o meu plano em prática. Esta tudo certo, para o meu novo emprego, amanhã será o meu grande dia.
Sorrio, sentindo o meu rosto arder, ainda me preocupo com o bolo em cima da mesa e a expressão que deixei no rosto de Tomaz, de fato ele não tem culpa de nada do que estou passando, mas não consigo gostar do que estou vivendo aqui.
Levanto e resolvo sair, não quero que as coisas se tornem piores do que já estão. A casa é grande, quando abro a porta dou de cara com um corredor, nele temos três portas, sendo duas de nossos quartos e uma do banheiro.
Ando um pouco e desço a escada que dá algumas voltas até que eu chegue ao térreo. A sala é aconchegante, possui uma televisão grande, um sofá que consegue ser mais confortável do que minha cama e mais algumas coisas.
Vejo fotos do Tomaz com sua família, mas evito olhá-las quando me recordo que nunca terei isso. Quando entro na cozinha encontro-o sentado a mesa, seus olhos encontram os meus e vejo toda a raiva e mágoa que esta estampada, ele não faz questão de esconder e sinto-me satisfeita por isso.
— Se te conforta eu também não a queria aqui. – Diz ríspido.
— Eu sei, o Théo deixou isso claro para mim. – Falo ainda de pé não tenho coragem de me sentar.
— Então pare de agir como se fosse escolhida para algo e coma a porcaria do bolo. – Exige irritado.
Eu o encaro vendo a irritação tomar conta do seu rosto, se ele soubesse que eu já tinha sido escolhida e não era para algo bom, não falaria dessa forma, porém não posso julgá-lo ele não sabe de nada.
— Tudo bem. – Cedo e sento-me a mesa.
Corto o bolo e lhe dou o primeiro pedaço, em seguida corto um pedaço para mim. O bolo é de chocolate com morango, esta bem recheado e é uma delicia. Como um pedaço pequeno e ele desperta em mim algo que eu desejava deixar para trás.
“— Venha Clara é meu aniversário, vamos comemorar. – Diz Ellya correndo por uma grama em que não deveríamos estar pisando.
— Ellya nós temos que voltar, não podemos ficar aqui. – Falo com medo, sei bem o que acontece quando ficam irritados com nós.
— Não tenha medo, não vão fazer nada. Eu quero achar um bolo para mim, tenho direito não é? Afinal é meu aniversário. – Comenta e entra em uma padaria.
Sei que ali não é o nosso lugar. O espaço é pequeno e as poucas pessoas que lá estão são distraídas. Ela escolhe um bolo de morando e saímos correndo voltando para a grama a fim de nos esconder.
— Devolvam isso suas ladras. – Grita um homem que desconheço a voz.
Não o obedecemos, corremos mais rápido enquanto ela segura o bolo. Escondo-me em um buraco que encontro perto de algumas árvores, sinto que Ellya esta vindo atrás de mim, mas ela demora e quando chega ao meu campo de visão parece feliz.
— Consegui Clara, vamos comer o meu bolo. – Diz, mas antes que consiga chegar perto de mim, ouço o estrondo.
Ela caí a alguns centímetros de mim e o bolo que parecia tão apetitoso agora esta recheado com o seu sangue. Ela ainda sorri, mesmo morta. Não a pondero acredito que esteja mais feliz.”
Sinto o meu estômago brigar comigo e o único pedaço de bolo que comi retorna com toda força. Corro para o banheiro que fica no andar de baixo e começo a vomitar mesmo sem fechar a porta, não tenho muito tempo.
Acho que tudo o que comi durante o dia esta indo embora e quando finalmente termino, dou descarga e lavo o rosto e a boca. Após escovar os dentes encaro o espelho e sinto as lágrimas invadirem os meus olhos.
Ellya era apenas uma menina com sonhos, mas ela se foi. Eu deveria ter ido em seu lugar, no lugar de todas elas, mas eu estou aqui e me odeio por isso. Tento controlar-me e vou até a cozinha, vejo que o meu colega observa-me preocupado.
— Esta maravilhoso, mas... – Paro de falar e encaro minhas mãos, sentindo as lágrimas passearem pelo meu rosto. Limpo-as e respiro fundo. — Perdoe-me, contudo sinto que não posso ficar aqui esta noite. – Digo e consigo olhar para ele.
Vejo-o respirar fundo e seus olhos curiosos me analisam, eu fico onde estou faltam-me forças para andar mesmo sabendo que o melhor que faço é sair dali.
— Tudo bem Melissa, eu organizo a cozinha, mas amanhã é o seu dia. – Murmura parecendo preocupado. — Quer me falar o que houve? – Indaga.
— Não. – Sussurro e me afasto.
Volto para o quarto e permito que as lágrimas insistentes saiam. Choro por mim, pela culpa e por todas que não puderam ser salvas. Desejo ardentemente estar com elas mesmo sabendo que não posso.
Abraço com força o meu travesseiro e me permito ficar ali sentindo o meu corpo tremer. Quando abro os olhos vejo vultos passeando pelo meu quarto, às vezes parece que eles vieram me buscar e isso me amedronta ainda mais. Fecho os olhos com força e tento concentrar-me em minha respiração, tento me livrar desses medos que querem dominar-me, mas não consigo.
Tudo volta, os temores e os medos. Isso parece possuir-me, pensei que isso acabaria, porém eles insistem em ficar comigo meus demônios, os fantasmas que me foram impostos.
Deixo que a escuridão tome conta de mim, pois já perdi as minhas forças, mas agora me sinto segura, afinal somente ela é a minha mãe. A luz nunca me foi convidativa, não sinto que sou bem vinda. Eu sempre serei filha da escuridão.
Melissa AndersonO sol insistente tenta entrar pela brecha da cortina e eu continuo encarando-o. Eu o vi nascer já que não consegui dormir durante toda a noite, descobri conforme o dia foi surgindo que hoje o clima será quente e isso me deixa extremamente chateada, não é exatamente o que eu queria.Aguardo mais alguns minutos e finalmente escuto o meu despertador, cheguei a pensar que ele me atrasaria, contudo acredito que me adiantei desde o momento em que acordei no meio da noite, após um sonho totalmente escuro.Pude ouvir os sons noturnos que sempre me assustam, se o Théo não tivesse preparado este quarto para mim provavelmente eu não dormiria de nenhuma forma, o sono não vence o meu medo.Encaro o teto e vejo as estrelas ridículas que ele usou na decoração, acredito que ele pensou que ainda sou uma criança.
Tomaz VasconcelosFinalizo o dia no trabalho e resolvo malhar, ser professor de luta torna-se cansativo se esta o tempo inteiro em ação. Faço um treino pesado de no máximo uma hora para poder ir mais cedo para casa prometi a Melissa que iria comemorar com ela pelo emprego novo.Não sei exatamente o que pensar sobre essa menina, mas se tiver que me aproximar para descobrir quem ela é farei isso independente de qualquer coisa. Sei que ela e Théo escondem algo e não irei permitir que me deixem no escuro por mais tempo.Meu tio deixou claro que ela é território proibido para mim, mas não me importo afinal não possuo nenhum interesse além de descobrir suas mentiras. Estou tentando ganhar sua confiança e quando a tiver tudo ira ocorrer de forma perfeita.Corro mais um pouco na esteira e vou fazer alguns exercícios
Melissa AndersonDeixo as lágrimas saírem livremente pelos meus olhos, não vejo necessidade de controlar-me e mesmo se eu tentasse não conseguiria. O nervosismo toma conta de mim fazendo com que me sinta vulnerável apesar de não me sentir assim há muito tempo.Não acredito que confiei nele, estou me sentindo tão patética que a vergonha toma conta de mim, em alguns momentos não controlo o choro desesperador que saí de dentro de mim.Não quero que ele ouça, por isso tempo faze tudo ser o mais silencioso possível. Quando ouço-o gritar com Théo para me levar embora perco todo o controle e me sinto uma inútil novamente, aquela que nunca vai servir, a que faz tudo errado.Antes eu realmente não queria servir e mantar este corpo magro me ajudou a ter sanidade, mas hoje eu senti algo diferente, confiei
Tomaz VasconcelosReúno o grupo para iniciar a aula e quando eu menos esperava parece um novo aluno, para ser mais exato é uma aluna e acredito que talvez eu a esteja conhecendo. Melissa fica surpresa por me ver ali, ela realmente não sabe nada sobre mim.Fico espantado por vê-la em minha aula, mas eu já deveria ter imaginado. As pessoas a observam curiosas, antes que comece algum comentário eu inicio o alongamento evitando assim que os olhares continuem.Quando finalizamos eles parecem animados para começar a aula e eu percebo que gosto disso, pois renova a energia.— E então quem vai começar hoje? – Indago orientando-os com as mãos a abrir um círculo.— Começar o que? – Indaga Mel.— Temos um ritual de antes de iniciar a aula termos uma luta simples. – Explico encarando-a.
Clara AndradeA música continua tocando, invadindo minha mente como se isso nunca fosse passar “Patience” ela esta presente invadindo-me, possuindo-me e tirando de mim minha sanidade.Mais um vez ninguém responde ao telefone, eu realmente pensei que essas ligações iriam parar depois que ele se foi, mas parece eu me enganei novamente, realmente estou cansada disso.Estou sozinha na empresa, a Melissa chegará a alguns minutos, mas não estou preocupada tem outras coisas ocupando minha mente. Desligo o telefone quando percebo que apenas ouvirei a música, encaro o anel em meu dedo e lembro-me do sonho que tive essa noite.O vento forte fazia com que tudo se mexesse com mais agilidade fazendo com que o frio que outrora não nos atingia alcance-nos com força e agilidade agora. Consigo mudar nosso percurso e no
Melissa AndersonMinhas mãos tremem, tento controlar-me, porém isso parece impossível agora. Eu não deveria me sentir desta maneira, minha mente esta confusa os pensamentos começam a se diversificar enquanto a exaustão começa a tomar conta do meu corpo.Lavo o rosto algumas vezes e respiro fundo parece que estou perdendo minha própria alma, meus demônios devem estar comemorando agora e eu não posso lutar contra eles.Sento-me no chão tentando em vão recuperar a mim mesma, aperto minhas mãos forçando-me a manter-me aqui, obrigando-me a lembrar de onde estou, porém nada parece funcionar, essa sensação é muito forte.Minha pele nua é invadida pelo gelo que essa chuva se tornou, estamos todas de mãos dadas, são muitas meninas e posso jurar que algumas já est&at
Tomaz VasconcelosAna me avisou que Melissa havia ido embora, confesso que não me senti tranquilo depois disso recordo-me constantemente do carro que ficou observando-a e isso me deixa cada vez mais desconfiado.Inicio minha aula, mas tenho que impressão que falho completamente, não consigo me concentrar em nada, só penso nela.Quando começo a iniciar a outra aula meu telefone toca, atendo-o imediatamente.— Tomaz falando. – Digo sem verificar quem é.— Vá até ela, agora. – Ordena uma voz que conheço muito bem.— Do que esta falando tio? – Indago confuso.— Não tenho tempo para explicar, preciso que vá para casa. Eles vão matá-la. – Exclama e sinto o meu coração disparar.Eu sabia que algo muito errado estava acontecendo, mas a gr
Melissa AndersonSinto o chão gélido abaixo de mim, o sangue escorre pelo meu rosto e tudo em mim dói de uma maneira desesperada. Sinto-me feliz por ter lutado, contudo são muitos homens contra mim e não consegui vencê-los, porém só de não estar nua para mim já é uma vitória.Não tento levantar-me prefiro que eles pensem que não tenho forças, possuo medo do que podem fazer comigo e preciso encontrar uma forma de resistir ou tudo será perdido.Luto constantemente para me mandar consciente, mas vejo-me perder-me em momentos em que isso é absurdo o meu corpo esta fora de controle assim como minha mente, eles riem e me convidam a levantar convencidos de que ainda sou uma menina, esquecem-se que cresci, contudo não os julgo, pois não me sinto inteira para lutar contra ninguém.Temos que mante