Kate Ferreira
A sala de reuniões estava cheia, e eu estava no centro dela, comandando os olhares e atenções. Meu notebook estava conectado ao projetor, exibindo os slides da nova campanha publicitária que eu havia preparado para o lançamento da nossa linha de lingeries. As peças eram sensuais, ousadas, mas com um toque de elegância que prometia agradar mulheres de todos os corpos. — Como podem ver — comecei, apontando para a tela onde a imagem de uma modelo exibia uma das peças principais da coleção —, a proposta da campanha é reforçar a ideia de que a sensualidade não está em um padrão único, mas na confiança que cada mulher tem ao vestir nossas lingeries. Olhei ao redor da sala, observando as reações. A equipe parecia envolvida com a ideia, mas meus olhos, inevitavelmente, foram parar em Ricardo, meu chefe. Ele estava sentado na ponta da mesa, o corpo levemente inclinado para frente, com os olhos fixos em mim. A expressão séria e concentrada fazia meu coração acelerar mais do que deveria. Ricardo tinha uma presença marcante. Era o tipo de homem que chamava atenção sem esforço algum. Alto, cabelos levemente bagunçados, um terno impecavelmente ajustado ao corpo atlético e aquele olhar penetrante que fazia qualquer um perder a linha de raciocínio. Eu era boa no que fazia, mas não estava imune à sua presença. No fundo, eu sabia que ele nunca olharia para mim além do profissional. Afinal, homens como Ricardo não se interessavam por mulheres fora dos padrões, como eu. Respirei fundo e continuei. — Além disso, vamos usar a campanha para fortalecer nossa comunicação digital, com postagens que representem diferentes tipos de corpos. Isso nos aproxima do público e reforça a ideia de inclusão. — Excelente ideia, Kate. — disse Juliana, uma das designers gráficas, sentada à minha direita. Ela era sempre a primeira a apoiar minhas propostas, mas o que veio a seguir pegou-me completamente de surpresa. — Sabe o que seria ainda mais incrível? Se você fosse uma das modelos. Um silêncio tomou conta da sala por um breve momento. — O quê? — perguntei, sentindo meu rosto esquentar. — Pense bem, Kate. Você tem tudo a ver com o conceito da campanha. Sempre fala sobre confiança e diversidade, e, sinceramente, você é o exemplo perfeito disso. Olha só para você hoje! — Juliana gesticulou na minha direção, e todos os olhos da sala se voltaram para mim. — Esse salto vermelho, a calça pantalona que realça suas curvas, e essa blusa com um leve decote... Você é a definição de sensualidade sem esforço. Eu quis me enfiar debaixo da mesa. Apesar de todo o discurso sobre confiança que eu defendia, ser colocada naquele tipo de holofote me deixava desconfortável. — Eu não sei se seria a melhor escolha... — tentei argumentar, mas outros colegas começaram a concordar com Juliana. — É verdade, Kate. Você representa exatamente o que queremos passar com essa campanha. — disse Lucas, um dos fotógrafos da equipe. — Concordo — acrescentou Mariana, a coordenadora de criação. — Acho que seria uma ideia poderosa. Olhei para Ricardo, buscando alguma ajuda. Ele ainda mantinha aquele olhar fixo em mim, mas, dessa vez, parecia intrigado, talvez até interessado. — O que você acha disso, Ricardo? — perguntei, esperando que ele encerrasse o assunto. Ele cruzou os braços, analisando a situação por um instante antes de responder. — Acho uma excelente ideia. Você é uma profissional exemplar, Kate, e acredito que isso pode trazer um impacto ainda maior para a campanha. Além disso, quero acompanhar de perto o ensaio fotográfico. Senti um frio na espinha ao ouvir aquelas palavras. A presença de Ricardo no dia do ensaio tornava tudo ainda mais intimidador. Sem saída, forcei um sorriso e assenti. — Tudo bem, então. Se todos acham que é uma boa ideia, eu aceito. A reunião prosseguiu com a discussão dos detalhes da campanha, mas eu mal conseguia me concentrar. Por dentro, minha mente estava em um turbilhão. Eu me sentia exposta, vulnerável. Apesar de toda a fachada de autoconfiança que eu apresentava, ainda era difícil aceitar meu corpo como ele era. Sempre achei que os homens só me viam como uma fantasia passageira, nunca como alguém para amar de verdade. Quando a reunião terminou, fui a última a sair da sala, organizando meus papéis e tentando colocar meus pensamentos em ordem. Ricardo se levantou e caminhou até mim. — Kate. Levantei os olhos para ele, e meu coração deu um salto. — Sim? — Gostei da sua apresentação. E, sobre a ideia de você ser uma das modelos, acho que foi uma sugestão muito inteligente. Você representa exatamente o que estamos tentando transmitir. Seus olhos estavam fixos nos meus, e por um momento, esqueci como falar. Apenas consegui balançar a cabeça em concordância. — Tenho certeza de que será um sucesso. — Ele deu um pequeno sorriso antes de sair da sala, me deixando sozinha com minha confusão. Enquanto caminhava de volta para minha mesa, minha mente estava a mil. Eu sabia que aquele ensaio seria um grande desafio, não apenas profissionalmente, mas pessoalmente. Eu teria que confrontar minhas inseguranças e, acima de tudo, enfrentar o homem que mexia comigo de um jeito que ninguém jamais havia conseguido. No fundo, porém, havia uma pequena parte de mim que estava empolgada. Talvez, só talvez, aquela fosse a oportunidade de me enxergar de um jeito diferente – e quem sabe, de fazer Ricardo me enxergar além da profissional impecável que eu sempre me esforcei para ser. O restante do dia passou como um borrão. Entre reuniões, ligações e ajustes nos detalhes da campanha, minha mente continuava presa ao que havia acontecido mais cedo. A proposta de eu ser uma das modelos ainda ecoava na minha cabeça, me deixando inquieta. A ideia de me expor daquela forma era assustadora, mas havia algo ainda mais perturbador: o jeito como Ricardo havia me olhado. Não era apenas profissionalismo ou aprovação pela ideia. Havia algo mais ali, algo que fez minha pele arrepiar e minha respiração acelerar. Quando finalmente consegui um momento de silêncio em minha sala, sentei na cadeira e encostei a cabeça no encosto, tentando organizar meus pensamentos. Eu precisava focar no trabalho, mas era impossível ignorar o turbilhão de emoções que crescia dentro de mim. Um som leve na porta chamou minha atenção, e levantei os olhos. Era Clara, uma das estagiárias da equipe de marketing. Ela entrou com um sorriso no rosto, carregando duas sacolas idênticas. — Oi, Kate! Trouxe uma coisa para você. — disse ela, colocando uma das sacolas sobre minha mesa. — O que é isso? — perguntei, curiosa. Clara segurou a outra sacola, balançando-a levemente. — Chegaram alguns produtos novos e a equipe de jornalismo quer que a gente escreva um texto sobre a experiência de usá-los. Eles pediram a opinião de algumas mulheres importantes da empresa, e você foi uma das escolhidas. Fitei a sacola sobre a mesa com as sobrancelhas arqueadas. — Produtos novos? Que tipo de produtos? Clara riu, percebendo meu tom desconfiado. — Melhor você mesma olhar. Eu vou para a minha sala, mas qualquer dúvida, estamos aqui. — Clara, espera. Quem teve essa ideia? — insisti, ainda tentando processar a situação. — A equipe de jornalismo. Eles disseram que seria interessante ter a perspectiva de mulheres influentes aqui da empresa, já que queremos conectar nossos produtos à experiência real das consumidoras. Não se preocupe, Kate, eu sei que você vai arrasar. Antes que eu pudesse protestar, Clara saiu da sala, deixando-me sozinha com a sacola. Suspirei profundamente e puxei a sacola para perto, abrindo-a com cuidado. Meus olhos se arregalaram ao ver o conteúdo. Havia vibradores de diferentes tamanhos e formatos, frascos de lubrificantes, géis comestíveis e até algumas amostras de óleos vibratórios. Peguei um dos vibradores e o examinei, tentando processar o que estava acontecendo. — Dessa vez, o pessoal do jornalismo foi longe demais. — murmurei para mim mesma. Eu sabia que a ideia era ousada e fazia sentido dentro do contexto da empresa, mas a situação ainda me deixava desconfortável. Eu tinha criado uma carreira sólida na área de marketing, lidando com campanhas provocantes e criativas, mas nunca tinha pensado que seria colocada nessa posição. Apesar da surpresa, eu sabia que precisava cumprir a tarefa. Afinal, não era apenas sobre mim. Era sobre mostrar que nossos produtos realmente podiam transformar a experiência das mulheres, promovendo autoconfiança e prazer.Kate FerreiraO som da porta se abrindo de repente me tirou dos meus pensamentos. Ainda com o vibrador em mãos, ergui os olhos e dei de cara com Ricardo entrando na sala. Por reflexo, congelei, como se ele fosse um ladrão flagrando-me em um crime.— Kate... — Ele parou no meio do caminho, seus olhos imediatamente pousando no objeto em minhas mãos. Uma expressão de surpresa, seguida por uma diversão contida, passou por seu rosto. — Estou interrompendo algo?Minha mente disparou em pânico, e senti o rosto esquentar. Largando o vibrador de volta na sacola, ergui as mãos em uma tentativa de parecer despreocupada.— Não é o que parece! — soltei, talvez rápido demais.Ricardo cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha, um sorriso dançando nos cantos dos lábios.— Não é o que parece? Então me explique o que parece.Respirei fundo, tentando soar profissional e não como uma adolescente pega no flagra.— Isso foi ideia da equipe de jornalismo. Eles querem que algumas mulheres aqui da empresa te
Kate FerreiraO som estridente do despertador rasga o silêncio do meu quarto, me arrancando bruscamente de um sonho bom, onde eu estava em uma praia paradisíaca, sem preocupações. Estendo a mão para o criado-mudo e, com um tapa mal calculado, finalmente consigo silenciar aquele barulho infernal. O alívio dura apenas alguns segundos, pois logo sinto algo peludo e quentinho subir em cima de mim.— Bom dia, Merlin — murmuro com a voz ainda rouca de sono, enquanto meu gato esfrega o focinho no meu rosto.Merlin, como sempre, é insistente. Ele mia baixinho, exigindo sua dose matinal de carinho. Respiro fundo e passo a mão em seu pelo macio, sentindo um breve momento de paz antes de encarar o dia que me espera.Hoje não é um dia qualquer. É o dia das sessões de fotos, e, para piorar, Ricardo estará lá fiscalizando tudo pessoalmente. Só de pensar nisso, meu estômago dá um nó. Trabalhar com ele já é complicado, mas tê-lo me observando enquanto tiro fotos de lingerie? Um pesadelo.— Vai ser ót
Ricardo SantanaA manhã seguia como qualquer outra, ou pelo menos era o que eu tentava me convencer enquanto estava em minha sala, com pilhas de relatórios e contratos espalhados sobre a mesa. As responsabilidades da empresa pareciam intermináveis, mas era parte do que fazia a "Sedução Urbana", nosso sex shop de renome, funcionar tão bem.Inclinei-me na cadeira, ajustando a gravata enquanto abria mais um arquivo. Os números das vendas estavam melhores do que o esperado, especialmente com a nova campanha de lingeries inclusivas. A ideia de abraçar diferentes corpos no marketing tinha sido ousada, mas estava valendo a pena. O feedback era extremamente positivo.Ainda assim, mesmo com a montanha de trabalho à minha frente, minha atenção continuava se desviando. Sobre a mesa, a revista com as fotos da nova campanha chamava por mim como uma tentação silenciosa.Eu a ignorei por um tempo, até que a curiosidade venceu. Peguei a revista, folheando-a distraidamente, revisando as imagens de out
Kate Ferreira Selena dançava ao nosso lado como se não houvesse amanhã, enquanto Clara ria do exagero da nossa amiga. Eu, apesar de hesitar antes de aceitar o convite para sair, estava feliz por ter vindo. Fazia tempo que eu não me soltava assim. A música alta fazia meu corpo reagir naturalmente, balançando no ritmo. Os olhares ao redor eram inevitáveis, mas eu estava focada em me divertir.Então, comecei a passar meus olhos pelo lugar, observando as pessoas e quem sabe alguém interessante, mas meus olhos pararam em uma pessoa específica. Na área VIP, Ricardo estava sentado com mais dois homens, rindo de algo que um deles falava. Ele parecia tão à vontade, tão no controle, que por um instante me peguei admirando a forma como ele dominava o ambiente sem esforço. Meu olhar demorou um pouco mais do que deveria, e foi quando percebi que ele estava olhando de volta. Aquele olhar direto, penetrante, como se pudesse desvendar tudo o que eu tentava esconder.— Kate, você tá bem? — Clara perg
Ricardo SantanaA caminho da empresa, minha mente estava presa à noite anterior. O som alto, as luzes piscando, o calor abafado da pista de dança... e, claro, Kate. Aquela mulher tinha um jeito de me desarmar que ninguém mais tinha.Lembrei do momento em que a segurei pela cintura, do gosto dos lábios dela. Foi difícil me conter, parar por ali. Mas eu sabia que deixar aquilo ir além seria um problema — não só para o trabalho, mas também para o controle que eu me orgulhava tanto de ter. Kate era minha funcionária, e cruzar essa linha complicaria tudo, mesmo que cada fibra do meu corpo quisesse fazer exatamente isso.Cheguei na empresa mais cedo do que o normal, precisando ocupar minha mente com qualquer coisa que não fosse a lembrança daquele beijo. Subi para minha sala, passei um café forte e me sentei para revisar os relatórios do mês. No entanto, por mais que tentasse me concentrar, minha mente voltava sempre para ela. Kate. Ela era mais do que atraente; tinha algo nela que fazia qu
Kate Ferreira Eu estava sentada no meio da minha cama, cercada por roupas, sapatos e acessórios, tentando organizar a mala para passar uma semana em Los Angeles. Apesar do caos, havia uma animação em mim que eu não conseguia conter. Sempre achei Los Angeles uma cidade incrível, com suas praias, palmeiras e aquele glamour que parecia saído direto dos filmes. Já tinha viajado para o exterior antes, mas nunca para lá. Era como realizar mais um pequeno sonho.Enquanto dobrava uma blusa, minha mente começou a divagar. O último mês tinha sido uma verdadeira loucura na empresa. Os preparativos para o desfile tomaram conta de todos, e parecia que ninguém tinha tempo para respirar. Cada setor estava trabalhando no limite, e eu não era exceção. Campanhas publicitárias, ajustes nas redes sociais, planejamento de estratégias para impulsionar a marca... tudo recaía sobre meus ombros e da minha equipe.E, claro, havia Ricardo.Desde aquele dia na empresa, nosso contato mudou. Ele parecia mais dist
Kate Ferreira O aeroporto estava movimentado, comosempre, e a energia no ar parecia diferente. Era empolgante pensar que estávamos prestes a embarcar para Los Angeles. Quando avistei o grupo da empresa, caminhei até eles com minha mala de rodinhas, notando como o entusiasmo era geral. Clara estava entre os primeiros a me ver e, com seu jeito animado, correu até mim.— Finalmente, Kate! Achei que ia perder o voo! — brincou, me puxando para um abraço.— Jamais. Você sabe que eu sempre chego no limite do horário, mas nunca atrasada. — pisquei para ela, rindo.O grupo foi se reunindo na área de embarque. Vi Ricardo conversando com alguns dos diretores de área, sempre com aquela postura impecável. Tentei não reparar demais nele, mas meu olhar parecia ter vontade própria. Ele usava uma jaqueta casual e jeans, uma combinação simples, mas que nele parecia perfeita.Depois de toda a burocracia do embarque, finalmente estávamos dentro do avião. Clara e eu nos sentamos juntas, como já havíamos
Ricardo SantanaEra cedo quando saímos do hotel em direção ao local da sessão de fotos. A atmosfera no carro estava animada, com a equipe comentando sobre as expectativas para o desfile e as possibilidades de expansão da marca. Eu, no entanto, me mantinha mais calado, revisando mentalmente os detalhes da produção e da logística. Precisávamos que tudo saísse perfeito, e qualquer falha poderia comprometer nossa imagem.Ao chegarmos ao estúdio fotográfico, fomos recepcionados por um dos diretores do evento, um homem mais ou menos da minha idade com um olhar atento e postura confiante. Ele nos guiou até o espaço onde a mágica aconteceria: uma área ampla, com iluminação impecável, câmeras de última geração e várias modelos já posicionadas para começarem os testes de figurino.— Vamos escolher as peças e atribuir às modelos — anunciei à equipe, deixando claro que precisávamos ser eficientes.Kate estava ali, ao lado de Clara e de alguns outros membros do marketing. Apesar de estar focada no