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Virgem em Chamas
Virgem em Chamas
Por: Tainá Costa
Capítulo 01 - Proposta Inesperada.

Kate Ferreira

A sala de reuniões estava cheia, e eu estava no centro dela, comandando os olhares e atenções. Meu notebook estava conectado ao projetor, exibindo os slides da nova campanha publicitária que eu havia preparado para o lançamento da nossa linha de lingeries. As peças eram sensuais, ousadas, mas com um toque de elegância que prometia agradar mulheres de todos os corpos.

— Como podem ver — comecei, apontando para a tela onde a imagem de uma modelo exibia uma das peças principais da coleção —, a proposta da campanha é reforçar a ideia de que a sensualidade não está em um padrão único, mas na confiança que cada mulher tem ao vestir nossas lingeries.

Olhei ao redor da sala, observando as reações. A equipe parecia envolvida com a ideia, mas meus olhos, inevitavelmente, foram parar em Ricardo, meu chefe. Ele estava sentado na ponta da mesa, o corpo levemente inclinado para frente, com os olhos fixos em mim. A expressão séria e concentrada fazia meu coração acelerar mais do que deveria.

Ricardo tinha uma presença marcante. Era o tipo de homem que chamava atenção sem esforço algum. Alto, cabelos levemente bagunçados, um terno impecavelmente ajustado ao corpo atlético e aquele olhar penetrante que fazia qualquer um perder a linha de raciocínio. Eu era boa no que fazia, mas não estava imune à sua presença. No fundo, eu sabia que ele nunca olharia para mim além do profissional. Afinal, homens como Ricardo não se interessavam por mulheres fora dos padrões, como eu.

Respirei fundo e continuei.

— Além disso, vamos usar a campanha para fortalecer nossa comunicação digital, com postagens que representem diferentes tipos de corpos. Isso nos aproxima do público e reforça a ideia de inclusão.

— Excelente ideia, Kate. — disse Juliana, uma das designers gráficas, sentada à minha direita. Ela era sempre a primeira a apoiar minhas propostas, mas o que veio a seguir pegou-me completamente de surpresa. — Sabe o que seria ainda mais incrível? Se você fosse uma das modelos.

Um silêncio tomou conta da sala por um breve momento.

— O quê? — perguntei, sentindo meu rosto esquentar.

— Pense bem, Kate. Você tem tudo a ver com o conceito da campanha. Sempre fala sobre confiança e diversidade, e, sinceramente, você é o exemplo perfeito disso. Olha só para você hoje! — Juliana gesticulou na minha direção, e todos os olhos da sala se voltaram para mim. — Esse salto vermelho, a calça pantalona que realça suas curvas, e essa blusa com um leve decote... Você é a definição de sensualidade sem esforço.

Eu quis me enfiar debaixo da mesa. Apesar de todo o discurso sobre confiança que eu defendia, ser colocada naquele tipo de holofote me deixava desconfortável.

— Eu não sei se seria a melhor escolha... — tentei argumentar, mas outros colegas começaram a concordar com Juliana.

— É verdade, Kate. Você representa exatamente o que queremos passar com essa campanha. — disse Lucas, um dos fotógrafos da equipe.

— Concordo — acrescentou Mariana, a coordenadora de criação. — Acho que seria uma ideia poderosa.

Olhei para Ricardo, buscando alguma ajuda. Ele ainda mantinha aquele olhar fixo em mim, mas, dessa vez, parecia intrigado, talvez até interessado.

— O que você acha disso, Ricardo? — perguntei, esperando que ele encerrasse o assunto.

Ele cruzou os braços, analisando a situação por um instante antes de responder.

— Acho uma excelente ideia. Você é uma profissional exemplar, Kate, e acredito que isso pode trazer um impacto ainda maior para a campanha. Além disso, quero acompanhar de perto o ensaio fotográfico.

Senti um frio na espinha ao ouvir aquelas palavras. A presença de Ricardo no dia do ensaio tornava tudo ainda mais intimidador.

Sem saída, forcei um sorriso e assenti.

— Tudo bem, então. Se todos acham que é uma boa ideia, eu aceito.

A reunião prosseguiu com a discussão dos detalhes da campanha, mas eu mal conseguia me concentrar. Por dentro, minha mente estava em um turbilhão. Eu me sentia exposta, vulnerável. Apesar de toda a fachada de autoconfiança que eu apresentava, ainda era difícil aceitar meu corpo como ele era. Sempre achei que os homens só me viam como uma fantasia passageira, nunca como alguém para amar de verdade.

Quando a reunião terminou, fui a última a sair da sala, organizando meus papéis e tentando colocar meus pensamentos em ordem. Ricardo se levantou e caminhou até mim.

— Kate.

Levantei os olhos para ele, e meu coração deu um salto.

— Sim?

— Gostei da sua apresentação. E, sobre a ideia de você ser uma das modelos, acho que foi uma sugestão muito inteligente. Você representa exatamente o que estamos tentando transmitir.

Seus olhos estavam fixos nos meus, e por um momento, esqueci como falar. Apenas consegui balançar a cabeça em concordância.

— Tenho certeza de que será um sucesso. — Ele deu um pequeno sorriso antes de sair da sala, me deixando sozinha com minha confusão.

Enquanto caminhava de volta para minha mesa, minha mente estava a mil. Eu sabia que aquele ensaio seria um grande desafio, não apenas profissionalmente, mas pessoalmente. Eu teria que confrontar minhas inseguranças e, acima de tudo, enfrentar o homem que mexia comigo de um jeito que ninguém jamais havia conseguido.

No fundo, porém, havia uma pequena parte de mim que estava empolgada. Talvez, só talvez, aquela fosse a oportunidade de me enxergar de um jeito diferente – e quem sabe, de fazer Ricardo me enxergar além da profissional impecável que eu sempre me esforcei para ser.

O restante do dia passou como um borrão. Entre reuniões, ligações e ajustes nos detalhes da campanha, minha mente continuava presa ao que havia acontecido mais cedo. A proposta de eu ser uma das modelos ainda ecoava na minha cabeça, me deixando inquieta. A ideia de me expor daquela forma era assustadora, mas havia algo ainda mais perturbador: o jeito como Ricardo havia me olhado. Não era apenas profissionalismo ou aprovação pela ideia. Havia algo mais ali, algo que fez minha pele arrepiar e minha respiração acelerar.

Quando finalmente consegui um momento de silêncio em minha sala, sentei na cadeira e encostei a cabeça no encosto, tentando organizar meus pensamentos. Eu precisava focar no trabalho, mas era impossível ignorar o turbilhão de emoções que crescia dentro de mim.

Um som leve na porta chamou minha atenção, e levantei os olhos. Era Clara, uma das estagiárias da equipe de marketing. Ela entrou com um sorriso no rosto, carregando duas sacolas idênticas.

— Oi, Kate! Trouxe uma coisa para você. — disse ela, colocando uma das sacolas sobre minha mesa.

— O que é isso? — perguntei, curiosa.

Clara segurou a outra sacola, balançando-a levemente.

— Chegaram alguns produtos novos e a equipe de jornalismo quer que a gente escreva um texto sobre a experiência de usá-los. Eles pediram a opinião de algumas mulheres importantes da empresa, e você foi uma das escolhidas.

Fitei a sacola sobre a mesa com as sobrancelhas arqueadas.

— Produtos novos? Que tipo de produtos?

Clara riu, percebendo meu tom desconfiado.

— Melhor você mesma olhar. Eu vou para a minha sala, mas qualquer dúvida, estamos aqui.

— Clara, espera. Quem teve essa ideia? — insisti, ainda tentando processar a situação.

— A equipe de jornalismo. Eles disseram que seria interessante ter a perspectiva de mulheres influentes aqui da empresa, já que queremos conectar nossos produtos à experiência real das consumidoras. Não se preocupe, Kate, eu sei que você vai arrasar.

Antes que eu pudesse protestar, Clara saiu da sala, deixando-me sozinha com a sacola.

Suspirei profundamente e puxei a sacola para perto, abrindo-a com cuidado. Meus olhos se arregalaram ao ver o conteúdo. Havia vibradores de diferentes tamanhos e formatos, frascos de lubrificantes, géis comestíveis e até algumas amostras de óleos vibratórios. Peguei um dos vibradores e o examinei, tentando processar o que estava acontecendo.

— Dessa vez, o pessoal do jornalismo foi longe demais. — murmurei para mim mesma.

Eu sabia que a ideia era ousada e fazia sentido dentro do contexto da empresa, mas a situação ainda me deixava desconfortável. Eu tinha criado uma carreira sólida na área de marketing, lidando com campanhas provocantes e criativas, mas nunca tinha pensado que seria colocada nessa posição.

Apesar da surpresa, eu sabia que precisava cumprir a tarefa. Afinal, não era apenas sobre mim. Era sobre mostrar que nossos produtos realmente podiam transformar a experiência das mulheres, promovendo autoconfiança e prazer.

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