Clara ouviu tantas histórias sobre Vinícius, histórias que o pintavam como uma pessoa perigosa e impiedosa. E agora, vivendo ao lado dele, ela começava a ver outra faceta — alguém cuidadoso e preocupado. Mas, e se tudo isso fosse apenas uma fachada? E se, no momento em que ele descobrisse a verdade, sua reação fosse tão implacável quanto as histórias que ela ouviu no passado? Essas dúvidas a corroíam. O medo de Vinícius descobrir o que ela escondia era tão paralisante quanto o medo de Suzana. Ambas as ameaças pareciam convergir, e Clara se encontrava em uma encruzilhada de incertezas. — Clara, você já me perguntou se eu acho que algumas coisas são imperdoáveis. Por que isso? — Vinícius perguntou de repente, a voz calma, mas penetrante. Clara congelou por um segundo. Ela havia sondado Vinícius antes, tentando descobrir o que ele pensava sobre perdão, mas agora, a pergunta dele a pegou desprevenida. Ela sabia que precisava ser cautelosa com sua resposta, especialmente porque ele pa
O silêncio entre Clara e Vinícius se tornou quase insuportável. Mesmo deitada ao lado dele, Clara sentia que o abismo entre os dois crescia a cada minuto. O sono não vinha, e seus pensamentos eram atormentados pela ameaça de Suzana e a sombra do que Vinícius poderia fazer se descobrisse a verdade. A ideia do divórcio ainda pulsava em sua mente como uma saída desesperada para salvar seus pais e ela mesma.Ela se revirou na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas a verdade é que o desconforto vinha de dentro. Como ela poderia continuar assim, mantendo essa farsa por mais tempo? A cada dia, Vinícius parecia mais desconfiado. Ele era um homem inteligente, e Clara sabia que, eventualmente, ele ligaria os pontos. A única saída que ela via era se afastar antes que tudo desmoronasse.Ao seu lado, Vinícius estava acordado. Ele também não conseguia dormir. Algo no comportamento de Clara nas últimas semanas o deixava inquieto. Seus instintos diziam que ela estava escondendo al
Enquanto descia no elevador, Vinícius manteve-se em silêncio. Quando a porta se abriu, ele caminhou até o apartamento de Júlia e bateu suavemente. Não demorou muito para que ela abrisse a porta com um sorriso leve, ajeitando a bolsa no ombro.— Bom dia, Vinícius — disse Júlia, os olhos brilhando de entusiasmo. — Estava quase pronta para sair.— Ótimo, vou te levar para resolvermos algumas coisas sobre seu trabalho e sua nova vida por aqui — respondeu ele, observando-a com uma gentileza controlada. — Vamos?Juntos, desceram até o carro de Vinícius que os aguardava na garagem. Durante o trajeto, o silêncio entre eles era confortável, mas carregado de pensamentos. Júlia estava ansiosa com as novas oportunidades em Belville, enquanto Vinícius, por mais que se concentrasse em ajudá-la, não conseguia tirar Clara da cabeça.— Então, o que você planejou para hoje? — perguntou Júlia, tentando puxar conversa e quebrar o silêncio.— Primeiro, vamos resolver sua situação com o emprego — disse ele
Clara estava em casa, perdida nos próprios pensamentos, quando o telefone vibrou. Ela olhou para a tela e viu o nome de Leonardo. Seu coração se apertou, não por saudade, mas pela revolta que ainda carregava por todas as mentiras e manipulações que ele havia feito.Ela hesitou por alguns instantes, mas sabia que precisava enfrentar Leonardo de uma vez. Com um suspiro pesado, foi para o quarto, onde poderia atender sem que a Dona Marisa ouvisse.— O que você quer, Leonardo? — disse Clara, sua voz firme e carregada de frieza.Leonardo demorou alguns segundos para responder, sua voz soando mais controlada do que ela esperava.— Clara... precisamos conversar. Eu preciso te ver — disse ele, tentando manter a calma, mas Clara sabia que ele estava pressionado.— Conversar sobre o quê? — ela perguntou, sem paciência para rodeios.— Sobre tudo. Sobre nós, sobre Vinícius, sobre o que aconteceu. Eu não suporto mais essa situação. Preciso te ver. — Ele fez uma pausa, quase suplicante. — Estou no
Clara esperava no térreo para subir ao apartamento. Quando as portas do elevador se abriram, ela congelou. Vinícius estava ali, ao lado de Júlia, conversando e rindo de forma descontraída. Já não era a primeira vez que Clara percebia uma proximidade entre os dois, mas agora, ao saber que Júlia estava morando no mesmo prédio e que Vinícius não havia lhe contado nada, a insegurança e desconfiança começaram a se intensificar dentro dela. Ela ficou parada, incapaz de entrar no elevador de imediato, e as portas começaram a se fechar.Vinícius, que estava imerso na conversa, notou Clara parada ali no último segundo. Com um gesto rápido, ele apertou o botão para reabrir o elevador e a olhou com surpresa.— Clara, você não vai entrar? — perguntou ele, com um tom casual, mas seu olhar mostrava que estava tentando ler suas reações.Clara respirou fundo e entrou no elevador, tentando manter a compostura. Ela sabia que precisava esconder suas emoções, mas o desconforto era palpável.— Claro... —
O silêncio entre Clara e Vinícius pairava no ar enquanto estavam na sala. Vinícius quebrou o silêncio com um comentário casual:— Estou com fome. O que será que a Dona Marisa preparou para o jantar?Clara assentiu, indo em direção a cozinha.— Vou ver o que ela preparou.Na cozinha, a mesa já estava posta com a refeição pronta. Dona Marisa sempre cuidava dos detalhes com carinho, o que deu a Clara um breve alívio por não ter que se preocupar com isso. Ela voltou à sala e chamou Vinícius:— A mesa já está pronta. Dona Marisa preparou o jantar.Eles caminharam até a mesa de jantar, mas Clara não conseguia afastar o desconforto que crescia a cada momento. Estar ao lado de Vinícius, sabendo da mentira que sustentava o casamento, era um peso que ela carregava em silêncio.Enquanto comiam, Vinícius comentou:— A comida está muito boa.Clara assentiu, forçando um leve sorriso.— Está sim.Depois do jantar, Clara murmurou que iria tomar um banho e saiu. Vinícius a observou, ainda pensando no
O sol da manhã já iluminava o quarto quando Clara acordou ao lado de Vinícius. A noite anterior ainda pairava em sua mente — o envolvimento físico, os sentimentos confusos e o peso das mentiras. Vinícius ainda dormia, e Clara se levantou silenciosamente, indo até a cozinha preparar o café da manhã. O aroma do café fresco começou a se espalhar pela casa, mas Clara não conseguia se concentrar. O pensamento de Vinícius e Júlia a atormentava, criando um nó em seu estômago. Pouco tempo depois, Vinícius apareceu, com os cabelos desarrumados, e sentou-se à mesa enquanto Clara servia o café. — Dormiu bem? — perguntou ele, com a voz ainda rouca de sono. — Sim, e você? — respondeu Clara, sentando-se à sua frente. — Também. A noite foi... boa — disse Vinícius, com um sorriso leve que trouxe um misto de conforto e desconforto a Clara. O silêncio entre eles foi preenchido pelo som das xícaras. Clara, sem conseguir mais evitar a questão que a consumia, fez uma pergunta, tentando manter o
Enquanto Clara se afastava em silêncio, Sabrina seguiu decidida até o escritório de Henrique. A curiosidade em relação a ele a consumia, e sua determinação era difícil de ignorar. Ao chegar à porta, respirou fundo e bateu levemente. Henrique abriu, exibindo sua típica expressão séria, mas educada. Ele era dedicado ao trabalho e mantinha uma postura profissional, especialmente com Sabrina. A amizade de longa data com Vinícius tornava tudo mais delicado. — Sabrina, o que faz aqui? — perguntou ele, surpreso, mantendo o tom formal. — Só vim dar um oi — respondeu ela, com um sorriso despreocupado. — Passei com a Clara e achei que seria bom te ver. Henrique assentiu, mas seu olhar transmitia que ela estava cruzando uma linha invisível. Ele se afastou para que ela entrasse, mas manteve uma postura rígida, quase criando uma barreira entre eles. — Tudo bem, pode entrar, mas estou um pouco ocupado. Não posso demorar muito — disse ele, tentando ser firme. Sabrina entrou sem se abalar. Sempr