Clara esperava no térreo para subir ao apartamento. Quando as portas do elevador se abriram, ela congelou. Vinícius estava ali, ao lado de Júlia, conversando e rindo de forma descontraída. Já não era a primeira vez que Clara percebia uma proximidade entre os dois, mas agora, ao saber que Júlia estava morando no mesmo prédio e que Vinícius não havia lhe contado nada, a insegurança e desconfiança começaram a se intensificar dentro dela. Ela ficou parada, incapaz de entrar no elevador de imediato, e as portas começaram a se fechar.Vinícius, que estava imerso na conversa, notou Clara parada ali no último segundo. Com um gesto rápido, ele apertou o botão para reabrir o elevador e a olhou com surpresa.— Clara, você não vai entrar? — perguntou ele, com um tom casual, mas seu olhar mostrava que estava tentando ler suas reações.Clara respirou fundo e entrou no elevador, tentando manter a compostura. Ela sabia que precisava esconder suas emoções, mas o desconforto era palpável.— Claro... —
O silêncio entre Clara e Vinícius pairava no ar enquanto estavam na sala. Vinícius quebrou o silêncio com um comentário casual:— Estou com fome. O que será que a Dona Marisa preparou para o jantar?Clara assentiu, indo em direção a cozinha.— Vou ver o que ela preparou.Na cozinha, a mesa já estava posta com a refeição pronta. Dona Marisa sempre cuidava dos detalhes com carinho, o que deu a Clara um breve alívio por não ter que se preocupar com isso. Ela voltou à sala e chamou Vinícius:— A mesa já está pronta. Dona Marisa preparou o jantar.Eles caminharam até a mesa de jantar, mas Clara não conseguia afastar o desconforto que crescia a cada momento. Estar ao lado de Vinícius, sabendo da mentira que sustentava o casamento, era um peso que ela carregava em silêncio.Enquanto comiam, Vinícius comentou:— A comida está muito boa.Clara assentiu, forçando um leve sorriso.— Está sim.Depois do jantar, Clara murmurou que iria tomar um banho e saiu. Vinícius a observou, ainda pensando no
O sol da manhã já iluminava o quarto quando Clara acordou ao lado de Vinícius. A noite anterior ainda pairava em sua mente — o envolvimento físico, os sentimentos confusos e o peso das mentiras. Vinícius ainda dormia, e Clara se levantou silenciosamente, indo até a cozinha preparar o café da manhã. O aroma do café fresco começou a se espalhar pela casa, mas Clara não conseguia se concentrar. O pensamento de Vinícius e Júlia a atormentava, criando um nó em seu estômago. Pouco tempo depois, Vinícius apareceu, com os cabelos desarrumados, e sentou-se à mesa enquanto Clara servia o café. — Dormiu bem? — perguntou ele, com a voz ainda rouca de sono. — Sim, e você? — respondeu Clara, sentando-se à sua frente. — Também. A noite foi... boa — disse Vinícius, com um sorriso leve que trouxe um misto de conforto e desconforto a Clara. O silêncio entre eles foi preenchido pelo som das xícaras. Clara, sem conseguir mais evitar a questão que a consumia, fez uma pergunta, tentando manter o
Enquanto Clara se afastava em silêncio, Sabrina seguiu decidida até o escritório de Henrique. A curiosidade em relação a ele a consumia, e sua determinação era difícil de ignorar. Ao chegar à porta, respirou fundo e bateu levemente. Henrique abriu, exibindo sua típica expressão séria, mas educada. Ele era dedicado ao trabalho e mantinha uma postura profissional, especialmente com Sabrina. A amizade de longa data com Vinícius tornava tudo mais delicado. — Sabrina, o que faz aqui? — perguntou ele, surpreso, mantendo o tom formal. — Só vim dar um oi — respondeu ela, com um sorriso despreocupado. — Passei com a Clara e achei que seria bom te ver. Henrique assentiu, mas seu olhar transmitia que ela estava cruzando uma linha invisível. Ele se afastou para que ela entrasse, mas manteve uma postura rígida, quase criando uma barreira entre eles. — Tudo bem, pode entrar, mas estou um pouco ocupado. Não posso demorar muito — disse ele, tentando ser firme. Sabrina entrou sem se abalar. Sempr
Clara saiu do escritório e, ao chegar ao térreo, parou por um momento, respirando fundo. Ela pegou o celular e rapidamente digitou:Clara: "Sabrina, estou te esperando aqui no térreo."Enquanto aguardava, sua mente estava em conflito. Ela viu Vinícius com Júlia e aquilo a afetou mais do que queria admitir. Porém, como poderia cobrar algo de Vinícius? "Eu não sou realmente a esposa dele… estou mentindo. Não tenho direito de reclamar." Pensamentos como esses a perseguiam, e ela tentava se manter calma. O fato de estar presa a uma trama tão cruel a fazia sentir que estava sempre à beira de perder tudo.Pouco tempo depois, Sabrina apareceu, sorrindo, parecendo despreocupada como sempre.— Aconteceu alguma coisa? Você tá meio estranha — perguntou Sabrina, lançando um olhar atento a Clara.Clara disfarçou, forçando um sorriso.— Não, tá tudo bem. Só cansaço. Vamos ao shopping?Sabrina deu de ombros, aceitando a resposta sem aprofundar.— Claro! Vamos. Preciso ver umas coisas.As duas saíram
Vinícius permaneceu em silêncio por um momento, claramente processando o que Clara acabara de dizer. Ele apoiou os cotovelos na mesa, unindo as mãos diante do rosto, como se estivesse ponderando profundamente.— Clara, eu entendo que você possa estar se sentindo assim — ele disse, sua voz mais suave do que o habitual. — Mas você está falando como se estivesse desistindo de tudo. Eu não entendo. Por que de repente você acha que precisamos nos separar?Clara sentiu o coração apertar ainda mais. Cada palavra que ele dizia parecia afundá-la mais nas mentiras que já tinha contado. Ele não vai entender completamente, pensou ela. E, ao mesmo tempo, sabia que, se continuasse mentindo, o risco de Vinícius descobrir tudo aumentaria ainda mais.— Eu não estou desistindo, Vinícius. Eu só... — ela tentou segurar as lágrimas que ameaçavam surgir, respirando fundo antes de continuar. — Eu só acho que você merece algo melhor. Desde que esse acidente aconteceu, nada mais tem sido o mesmo. Você vive em
O silêncio entre Clara e Vinícius era denso, cheio de perguntas não respondidas e desconfianças veladas. Ele estava prestes a continuar pressionando Clara quando o som do celular quebrou a tensão. Vinícius olhou para a tela e viu um número desconhecido.Ele franziu o cenho, hesitante, mas acabou atendendo.— Alô? — disse ele, com um tom firme.Do outro lado da linha, uma voz aflita respondeu.— Vinícius, é a Júlia... me desculpa ligar desse jeito, mas eu estou numa situação complicada.Clara observou enquanto ele se levantava da mesa, claramente mais tenso agora.— O que aconteceu? — perguntou Vinícius, preocupado.— Eu fui até uma loja aqui perto e... acabei sendo assaltada. Levaram meu celular e o dinheiro que eu tinha. Estou na rua, sem saber o que fazer. Precisei pedir um telefone emprestado para ligar pra você. Pode me ajudar?Vinícius respirou fundo, o rosto endurecendo.— Claro. Onde você está agora?Júlia lhe deu a localização, e ele rapidamente olhou para Clara.— Eu preciso
Enquanto Vinícius atendia o celular, Clara o observava de longe, sentindo o peso daquela ligação. Ela sabia que a conversa entre eles estava ficando cada vez mais difícil de evitar, mas o som da voz dele ao telefone indicava que outra urgência tinha surgido.— Júlia? — disse Vinícius, com um tom de preocupação.Clara fechou os olhos por um momento, tentando controlar a ansiedade. Ela sabia que Júlia tinha passado por uma situação complicada no dia anterior, mas ouvir o nome dela mais uma vez naquela manhã só aumentava a sensação de que sua própria relação com Vinícius estava desmoronando.— O que aconteceu? Você está bem? — perguntou Vinícius, andando pelo apartamento enquanto falava.Clara observava de longe, sentindo-se ainda mais distanciada. Ela não podia ouvir toda a conversa, mas o tom na voz de Vinícius deixava claro que algo estava errado.Do outro lado da linha, Júlia falava rapidamente, sua voz trêmula.— Vinícius, eu sei que ontem já foi difícil... mas eu não consigo tirar