Na manhã seguinte, Clara e Vinícius estavam na mesa da cozinha, tomando café. Dona Marisa já havia preparado tudo, como de costume. A mesa estava bem posta, com pães, frutas e café fresco.Clara bebia seu café em silêncio, ainda refletindo sobre a noite anterior, enquanto Vinícius, sentado ao lado, folheava alguns papéis de trabalho que havia trazido para casa.— Clara, você vai sair hoje? — perguntou Vinícius casualmente, sem tirar os olhos dos papéis.— Não, vou ficar em casa. — respondeu ela, tentando manter o tom despreocupado.— Estarei de volta mais cedo hoje para o jantar — comentou Vinícius, levantando-se e deixando a xícara de café vazia sobre a mesa. Clara apenas assentiu, observando-o sair pela porta, enquanto sua mente começava a planejar o que faria durante o resto do dia. Assim que Vinícius saiu, Dona Marisa entrou na cozinha, limpando a bancada.— Dona Clara, a senhora vai querer mais alguma coisa? — perguntou Marisa, com a voz suave.— Não, obrigada, Marisa — responde
O escritório de Vinícius era sempre silencioso àquela hora da manhã. Ele estava sentado em sua cadeira de couro, os olhos concentrados nas telas à sua frente, mas a mente vagava entre as suspeitas que rondavam sua vida. Seu casamento com Clara era uma grande incógnita, e ele sentia que estava cercado de mentiras. Porém, hoje, ele se forçava a focar no trabalho. Enquanto revisava um contrato importante, o telefone em sua mesa vibrou, trazendo-o de volta à realidade. Ele reconheceu o número imediatamente: era Júlia. A jovem havia ligado algumas semanas antes, contando sobre sua decisão de ir para Belleville, e ele havia prometido ajudá-la. Ele pegou o telefone e atendeu, sua voz suave, mas curiosa. — Júlia, como você está? — perguntou, inclinando-se um pouco na cadeira. — Oi, Vinícius. Estou bem, obrigada — a voz de Júlia soava animada, mas com um toque de ansiedade. — Estou ligando para te avisar que vou para Belville amanhã. Consegui resolver tudo por aqui, e acho que é a melho
Depois de sair do quarto, Vinícius foi até seu escritório novamente. Ele precisava de um momento para refletir sobre tudo o que havia descoberto. As peças do quebra-cabeça estavam começando a se encaixar, mas ainda faltavam informações cruciais. Sabia que Suzana não aparecia sem motivo, especialmente com Clara tão tensa ultimamente.Ele se recostou na cadeira, olhando pela janela. A noite estava silenciosa, mas sua mente estava agitada. A conversa com Clara havia sido superficial, e ele sentia que estava sendo mantido à margem. Algo estava sendo tramado, e ele desconfiava cada vez mais de Suzana.Vinícius pegou o telefone e, por um momento, considerou ligar para Suzana, confrontá-la diretamente. Mas sabia que ela era astuta demais para entregar algo sem uma boa razão. Precisava ser mais cauteloso."Vou descobrir," ele pensou, decidindo que precisaria manter sua investigação discreta. O próximo passo seria observar ainda mais atentamente qualquer interação entre Clara e Suzana, sem q
Ao chegar no prédio, Vinícius guiou Júlia até o elevador. Eles subiram para um dos andares mais baixos, onde ficava o apartamento que ele havia arranjado para ela, dois andares abaixo de sua própria cobertura.— Aqui está — disse Vinícius, abrindo a porta do apartamento.Júlia entrou e olhou ao redor, surpresa com o que via. O apartamento era compacto, mas extremamente bem decorado e equipado. Ela se virou para Vinícius, sorrindo com gratidão.— Uau, Vinícius, isso é muito mais do que eu esperava. É lindo! — disse Júlia, ainda impressionada.Vinícius sorriu de volta, satisfeito por ver que ela gostara do lugar.— Eu queria que você ficasse confortável. Aqui você terá tudo o que precisa, e qualquer coisa que faltar, é só me avisar.Júlia assentiu, ainda sem acreditar no que estava vendo. A gratidão transbordava de seus olhos, e sem pensar muito, ela se aproximou rapidamente de Vinícius e o abraçou de forma calorosa.— Eu não sei como te agradecer por tudo isso — disse Júlia, empolgada,
Clara ouviu tantas histórias sobre Vinícius, histórias que o pintavam como uma pessoa perigosa e impiedosa. E agora, vivendo ao lado dele, ela começava a ver outra faceta — alguém cuidadoso e preocupado. Mas, e se tudo isso fosse apenas uma fachada? E se, no momento em que ele descobrisse a verdade, sua reação fosse tão implacável quanto as histórias que ela ouviu no passado? Essas dúvidas a corroíam. O medo de Vinícius descobrir o que ela escondia era tão paralisante quanto o medo de Suzana. Ambas as ameaças pareciam convergir, e Clara se encontrava em uma encruzilhada de incertezas. — Clara, você já me perguntou se eu acho que algumas coisas são imperdoáveis. Por que isso? — Vinícius perguntou de repente, a voz calma, mas penetrante. Clara congelou por um segundo. Ela havia sondado Vinícius antes, tentando descobrir o que ele pensava sobre perdão, mas agora, a pergunta dele a pegou desprevenida. Ela sabia que precisava ser cautelosa com sua resposta, especialmente porque ele pa
O silêncio entre Clara e Vinícius se tornou quase insuportável. Mesmo deitada ao lado dele, Clara sentia que o abismo entre os dois crescia a cada minuto. O sono não vinha, e seus pensamentos eram atormentados pela ameaça de Suzana e a sombra do que Vinícius poderia fazer se descobrisse a verdade. A ideia do divórcio ainda pulsava em sua mente como uma saída desesperada para salvar seus pais e ela mesma.Ela se revirou na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas a verdade é que o desconforto vinha de dentro. Como ela poderia continuar assim, mantendo essa farsa por mais tempo? A cada dia, Vinícius parecia mais desconfiado. Ele era um homem inteligente, e Clara sabia que, eventualmente, ele ligaria os pontos. A única saída que ela via era se afastar antes que tudo desmoronasse.Ao seu lado, Vinícius estava acordado. Ele também não conseguia dormir. Algo no comportamento de Clara nas últimas semanas o deixava inquieto. Seus instintos diziam que ela estava escondendo al
Enquanto descia no elevador, Vinícius manteve-se em silêncio. Quando a porta se abriu, ele caminhou até o apartamento de Júlia e bateu suavemente. Não demorou muito para que ela abrisse a porta com um sorriso leve, ajeitando a bolsa no ombro.— Bom dia, Vinícius — disse Júlia, os olhos brilhando de entusiasmo. — Estava quase pronta para sair.— Ótimo, vou te levar para resolvermos algumas coisas sobre seu trabalho e sua nova vida por aqui — respondeu ele, observando-a com uma gentileza controlada. — Vamos?Juntos, desceram até o carro de Vinícius que os aguardava na garagem. Durante o trajeto, o silêncio entre eles era confortável, mas carregado de pensamentos. Júlia estava ansiosa com as novas oportunidades em Belville, enquanto Vinícius, por mais que se concentrasse em ajudá-la, não conseguia tirar Clara da cabeça.— Então, o que você planejou para hoje? — perguntou Júlia, tentando puxar conversa e quebrar o silêncio.— Primeiro, vamos resolver sua situação com o emprego — disse ele
Clara estava em casa, perdida nos próprios pensamentos, quando o telefone vibrou. Ela olhou para a tela e viu o nome de Leonardo. Seu coração se apertou, não por saudade, mas pela revolta que ainda carregava por todas as mentiras e manipulações que ele havia feito.Ela hesitou por alguns instantes, mas sabia que precisava enfrentar Leonardo de uma vez. Com um suspiro pesado, foi para o quarto, onde poderia atender sem que a Dona Marisa ouvisse.— O que você quer, Leonardo? — disse Clara, sua voz firme e carregada de frieza.Leonardo demorou alguns segundos para responder, sua voz soando mais controlada do que ela esperava.— Clara... precisamos conversar. Eu preciso te ver — disse ele, tentando manter a calma, mas Clara sabia que ele estava pressionado.— Conversar sobre o quê? — ela perguntou, sem paciência para rodeios.— Sobre tudo. Sobre nós, sobre Vinícius, sobre o que aconteceu. Eu não suporto mais essa situação. Preciso te ver. — Ele fez uma pausa, quase suplicante. — Estou no