-Ela já está assim há 2 horas! Você deveria ter atirado uma somnum menor! - disse uma voz estranha.
-Não tive escolha, eram muitas crianças humanas! - disse uma voz mais familiar.-Calem a boca, ela está acordando! - ralhou uma terceira voz.Lentamente abri meus olhos. Minha visão turva avistou três borrões coloridos que pareciam me encarar. Levei as mãos ao rosto e esfreguei os olhos, como se tivesse acabado de despertar de uma longa noite de sono.Ainda morosa, olhei para os lados, os olhos semiabertos, procurando por Kris. Pensei estar no quarto dele, mas quando minha visão se tornou nítida descobri que eu não poderia estar num lugar mais distinto do quarto da minha criança.Com o susto, caí do lugar onde estava sentada. Procurei à minha volta por algo que pudesse explicar por que eu me encontrava num lugar que parecia uma caverna sem saída. Antes de despencar, eu estava sentada numa cadeira que parecia ter sido esculpidMeu queixo tornou a cair. O Cristal das Fadas, o lendário artefato que armazenava a essência vital de todas as fadas, perdido há quase 1 milênio, pendurado no pescoço daquela leedwee.-O-Onde...? C-Como...? - gaguejei incrédula.-Meus antepassados. Vim de uma linhagem de curandeiros que encontraram este fragmento em suas viagens de aprendizado. Pequeno, porém com um poder além da imaginação. Foi sabiamente passado de pai para filho e usado secretamente para curar os mais profundos ferimentos e as mais terríveis pestes que assolavam nosso vilarejo. Minha família era muito querida e respeitada na região, mas nem mesmo isso foi suficiente para amenizar a ira daqueles que me viam como uma aberração que cometeu o imperdoável crime de nascer. Foi o Cristal que me salvou quando meu humano morreu. Meu pai me deixou em um barco com o fragmento pendurado no pescoço e permitiu que a correnteza me carregasse para longe daquela vila. Na última vez que vi meu pai e
Foi você quem atacou o Centro de Domesticação na última segunda-feira? -E se fui eu? -Você quase matou Kris e eu! -Eu não sabia que você era uma fada. Vi um humano dando mole e eu não podia perder uma oportunidade assim. Eu estava prestes a explodir num berreiro, mas Pandora falou: -Surt, você andou depredando uma cidade humana? -Senhorita, eu depredei aquele lugar horrível que aliena leedwees! -E no processo matou humanos, consequentemente matando leedwees, não? -Foi um sacrifício necessário! -Surt, já conversamos sobre isso. Durante nossa busca não podemos matar ninguém. Lembre-se de que, segundo a lenda, se uma fada estiver na sua forma leedwee quando seu humano morrer ela também morre. Se você tivesse assassinado o humano da Bluey, perderíamos ela e seu poder, e então teríamos que esperar 200 anos a mais para concluir a
O portal se fechou às minhas costas, como se as bordas de luz fossem sugadas pela pedrinha vermelha no chão em meio a tantas outras. Arbustos e árvores ficavam em volta daquela pequena clareira. A Escola Nacional Príncipe Benito ficava do outro lado da rua.Há alguns quarteirões de casa me senti estranha. Plumas cresceram nas minhas asas, senti um formigamento pelo corpo (era a cobertura de queratina voltando) e meus cabelos eram novamente um tom de azul royal. Significava que Kris estava a 3 quilômetros dali, sem dúvida em casa.A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi guardar a Pedra Portal e o vestidinho de couro no barracão de ferramentas nos fundos. Escolhi um bom lugar para esconder meus pertences e voltei voando pela janela do quarto de Kris. Minha criança não estava lá, mas a mochila com os materiais escolares se encontrava sobre a cama.Cuidadosament
Sob o grande carvalho, atrás da escola, um montinho de poeira cinza jazia tristemente como se não fosse nada mais que um punhado de sujeira inútil. Sobre a relva, o que havia era nada menos que o que sobrou da Jujuba.No tronco uma corda fina amarrada em volta da árvore marcava o local onde minha amiga foi deixada para morrer.Eu não podia acreditar. Eu não queria acreditar.Eu estava ajoelhada bem na frente do que restava dela. Kris lutava para se manter firme enquanto Meg chorava em seu ombro. Júpiter se mantinha impassível, mas àquela altura eu já não esperava nenhum sentimentalismo por parte dele.Aos poucos, uma pequena multidão de leedwees foi se aproximando. Enquanto eles se mostravam tristes e indignados, seus humanos trazidos pela curiosidade não demonstravam muita compaixão. De fato, alguns até mesmo de
Logo na noite seguinte demos início ao meu treinamento. Todos foram muito prestativos e pacientes comigo nas primeiras sessões, com exceção de Surt que, a princípio, demonstrou certa relutância, mas com o tempo começou a me ajudar com algumas dicas. Na primeira aula eles tentaram me ensinar alguns movimentos, dizendo que a forma como eu mexo minhas mãos determina como o ar que controlo vai se comportar. Outros pontos cruciais são a minha concentração, minha força de vontade e o foco no objetivo. Não consegui produzir mais que pequenas brisas nos primeiros dias, embora eu não soubesse se era eu ou apenas o vento natural da noite. Não sei se foi por nervosismo ou ansiedade mas tive certa dificuldade para me concentrar.Combinamos que eu não teria dias fixos para aparecer na caverna. Somente quando eu tivesse a certeza de que Kris dormia profundamente eu me arriscaria a sair. Ainda assim resolvi tomar algumas precauções extras, como prestar atenção se Kris bebia muita água e ia ao banh
Começamos meu treinamento especial logo naquela mesma tarde. O meu objetivo foi traçado: eu deveria produz um escudo de ar capaz de conter vibrações mágicas. Como não possuíamos nenhum ADM, trabalhamos com a única coisa que tínhamos a nossa disposição: nossas vozes. O exemplo de Pandora de que as vibrações mágicas se assemelham às vibrações causadas pelo som acabou por nos dar essa ideia. As fadas iriam falar, gritar ou fazer qualquer outro barulho e quando eu finalmente pudesse criar um escudo de ar suficientemente bom á minha volta os seus sons seriam mutados para mim.Visto que eu não tinha a mínima ideia do que deveria fazer, acabei por não ter quase nenhum progresso feito nos primeiros dias. Pandora me explicou que, para que o escudo ficasse perfeito, eu deveria criar uma espécie de tornado esférico, de modo que eu ficasse 100% protegida dentro dele. Decidimos focar primeiro na força do meu vento, que tem sido um problema, afinal um tornado formado por uma leve brisa não ia nos s
Pelo lado de dentro, abro uma pequena parte do zíper da bolsa, afim de ver onde estávamos. Pandora caminhava rápido numa larga calçada ao lado de uma movimentada avenida. Ela trazia Ran, Freya, Surt e eu escondidos dentro de uma bolsa de couro negro, que ela transfigurara a partir de um pedaço de couro de veado usando a alquimia. Vestia-se com um vestido de lã roxo e um blazer preto. Suas orelhas pontudas eram facilmente escondidas pelos cachos volumosos, contudo era difícil para mim dizer como as suas asas, que tinham facilmente uns 2 metros de envergadura, conseguiam se esconder dentro de roupas humanas. Queria perguntar como ela tinha feito essa façanha, porém de um tempo para lá eu havia notado que as outras fadas raramente questionavam as ideias e atitudes de Pandora. Elas pareciam confiar completamente em sua líder, e não haviam perguntado como ela escondeu suas asas, então decidi fazer o mesmo. Eu não queria parecer cética ou inconveniente, ainda mais porquê Pandora havia aceit
Enderson Corduroy há muitos séculos escreveu sobre Gaia, a fada-mãe, criadora do mundo, poderosa, onipotente, que gerou seus filhos, as fadas, a partir de seu cristal mágico, conhecido como Omnistone. Corduroy também escreveu sobre Tyr, a humana, fraca, desprezível, só mais uma dentre milhões de outros escravos gigantes, conhecidos como humanos, os servos dos semelhantes de Gaia.O conto mais famoso envolvendo as duas relata como a fraca Tyr subjugou a fada-mãe, libertando a humanidade depois de 200 anos de escravidão, antes de ser assassinada por Gaia. Depois disso, Gaia, fraca e cambaleante, desapareceu, abandonando seus filhos, deixando-os sem poderes.Quando Gaia criou o mundo, ela também criou dois cristais a partir do Omnistone. Um deles era bonito, brilhante e multicolorido, este guardando os poderes e a essência vital das fadas que Gaia criou. Este cristal permitia que as fadas manip