Capítulo 02

O domingo foi um dia exaustivo.

Beatriz chegou logo cedo e foi direto para a cozinha preparar o cardápio para receber o amigo dele Murilo e a namorada Bianca. Fez vários petiscos para servir antes do almoço, alguns pratos, drinks e sobremesas.

Tudo ia muito bem até que os convidados chegaram e Alana apareceu na cozinha para avisar que ela deveria começar a servir. Ela parecia bem diferente do dia anterior. Não deu nem bom dia e usou um tom de voz ríspido e autoritário.

Beatriz ignorou e arrumou as bandejas levando-as para as mesas arrumadas em volta da piscina.

Murilo era um rapaz alto, moreno de cabelos pretos.  Era bem bonito e muito simpático assim como a namorada Bianca uma moça morena de longos cabelos cacheados e olhos verdes.

-  Então você é a chef do restaurante Bom Paladar?  Eu frequento muito o seu restaurante. Adoro seus pratos

- Obrigada Sr. Murilo...

- Sem o senhor – Ele riu

- Tudo bem

Bianca se aproximou

- Você fez aqueles bolinhos de carne seca não fez?

Ela sentiu-se orgulhosa

- Sim, trarei em seguida

Alana se aproximou

-  Beatriz! você pode trazer o restante dos pratos agora

Nesse momento Jefferson apareceu na porta. Estava mais lindo do que no dia anterior, vestido com uma bermuda branca e camisa vermelha. Beatriz notou o relógio de ouro que ele usava e um anel na mão esquerda. Tudo nele denunciava riqueza. Olhou de relance para o rosto dele, mas ele nem sequer olhou para ela.

Já era de se esperar. Gente maluca!

Voltou com o restante dos pratos e ao se aproximar da mesa tal foi sua surpresa quando Alana voltou-se para ela.

- Beatriz, esse não foi o cardápio que eu pedi

- Como?!

- Está tudo errado, eu não pedir nada disso que você serviu

Ela olhou para Jefferson

- Sr Jefferson esse foi o cardápio que Joana me passou via e-mail

-Eu sei, fui eu que mudei

Ela estava vermelha de raiva

- Então poderia ter avisado sua noiva, teria me poupado desse vexame

- Não tenho que avisar ninguém sobre o que quero comer

Beatriz contou até dez em silêncio.

Murilo tentou amenizar a situação

- Não tem problema com o cardápio. Está tudo muito bom.

Mas Alana parecia disposta a procurar problemas

- Não está tudo bem não, da próxima vez prefiro que você converse comigo sobre o cardápio Beatriz.

Beatriz ainda tentou se segurar, mas quando percebeu já tinha falado

- Quem dá as ordens aqui afinal? Que eu saiba vocês não são nem casados, então a quem devo obedecer mesmo?

Ela não esperou pela resposta e entrou na casa disposta a ir embora. Não iria aguentar nem mais um minuto as neuroses daquela mulher irritante.

Ela estava retirando o avental no banheiro quando ouviu a voz de Jefferson batendo na porta.

- Beatriz!

Ela saiu e deu de cara com ele encostado na porta.

- Me deixe sair por favor

- Onde você pensa que vai?

- Eu não penso, eu vou embora agora

- Você tem um contrato comigo pelo menos pra esse fim de semana

- Um contrato pra cozinhar e não pra ouvir desaforos

Ele impediu que ela saísse fechando a porta que saia para o cozinha

- Espere, não pode sair assim, estou com visitas e você ainda não terminou seu serviço

Aquilo parecia uma queda de braços. Ela ali parada na frente dele de braços cruzados e ele encostado na porta impedindo que ela saísse. Chegava a ser engraçado.

- Peço desculpas por Alana e respondo sua pergunta. Aqui quem dar as ordens sou eu, portanto faça aquilo que eu determinei e pronto.

Beatriz respirou fundo. Na verdade precisava ser profissional. Não podia abandonar um trabalho assim. Ela tinha assinado um contrato e poderia ser penalizada se não cumprisse.

- Tudo bem, mas diga a sua noiva para não me tratar com uma imbecil, porque eu não sou obrigada a ouvir chiliques de gente rica.

Ele riu e olhou incrédulo para ela

- Nossa garota! Você é sempre tão brava assim?

- Só quando me tratam como se eu fosse idiota, ai eu viro fera

Ele se aproximou dela, fazendo com que Beatriz se sentisse presa entre ele e a porta.

Ela prendeu a respiração ao sentir que ele chegava mais perto dela. Tão perto que podia sentir o ar quente que saia da boca dele. Uma boca tão linda, que qualquer mulher em sã consciência desejaria beijar.

- Não tenho medo de feras, até já participei de um circo na adolescência. Eu era o domador de leões.

Beatriz se abaixou e passou por baixo dos braços dele.

- Acho melhor voltarmos para lá, tá ficando meio estranho nós dois aqui esse tempo todo.

Antes de abrir a porta ele chegou novamente perto dela e dessa vez seguro-a pelo queixo e falou bem perto dela, suas bocas quase se tocando e falou com a voz lenta e rouca.

- Não processe nada que Alana disser, já disse que aqui quem manda sou eu. É só fazer o que eu disser e tudo dará certo. Pode ser?

Jesus! O que era aquele calor que desceu de repente por seu corpo? Por que ele olhava tão fixamente para sua boca? Ia beijá-la ali?

- Eu...

Ele virou as costas e saiu

Beatriz encostou na parede quase desmaiando. Agora sim, tinha motivos suficientes para nunca mais pisar naquela casa. Iria terminar aquela dia, procurar Joana e pedir demissão. Pra sua segurança e paz de espírito não podia ficar perto de Jefferson Ryan.

Ela não sabia como conseguiu chegar ao final daquele dia. Todas as vezes que se aproximava para servir alguma coisa ou retirar os pratos sentia o olhar de Jefferson sobre ela. Ele nem sequer disfarçava na frente da noiva, que não perdia a oportunidade de dizer piadinhas sobre a comida. Ela tentava humilhar Beatriz, justamente por ter percebido as investidas do noivo.

Ela estava preparando o último prato quando Jefferson entrou na cozinha. Ela continuou de costas como se não tivesse visto que ele estava ali.

-E ai? Tudo bem?

Ela visou-se

- Ficaria melhor se você parasse de olhar pra mim.

- Por quê?

- Por quê? Não respeita sua noiva não?

Ele se aproximou.

- Só viajarei na terça, então pensei que gostaria de jantar comigo amanhã.

Ela arregalou os olhos

- Como?

- Quero sair com você amanhã. Vou viajar para Nova York e só voltarei daqui a quinze dias, então gostaria de sair com você para nos conhecermos melhor.

- Não vejo necessidade. Não quero conhecer ninguém.

Ele fez menção de rir

- Mas eu vejo. Então iremos sim. Eu ligo amanhã para confirmar o horário.

- Eu já disse que não vou!

Ele pegou a bandeja que ela segurava.

- Eu acho que você deveria ir

Arrogante! Presunçoso!

Ele saiu com a bandeja sem olhar para trás.

No final daquele dia Beatriz respirou aliviada. Podia ir para casa, tomar um banho e dormir. Precisava relaxar e tentar voltar ao seu juízo normal, pois ele estava fora do lugar desde que encontrara Jefferson no dia anterior. Que homem fascinante e irritante e ao mesmo tempo. Aquele trabalho não ia dar certo. Não estava disposta a brincar de gato e rato com ele. Até que seria divertido, mas sem dúvida, perigoso também.

Ela se assustou com a buzina dos carros atrás dela. O sinal tinha aberto e ela continuava ali parada. Quase tinha provocado um acidente pensando em quem não devia.

Ao chegar em casa, agradeceu por estar sozinha. Estava com dor de cabeça e não queria conversar com ninguém. Foi jogando as coisas pelo chão sem se importar se alguém ia reclamar. Mariana também não era das mais organizadas e por vezes seu quarto estava tão bagunçado que era difícil ela distinguir as roupas sujas das que estavam limpas. Pensou na casa impecável de Jefferson Ryan e deu uma gargalhada.

Daria tudo para que você visse minha sala agora, seu engomadinho!

Ela tirou as roupas e andou nua até o banheiro. Abriu o chuveiro no máximo e deixou-se ficar longos minutos em baixo da água quente, para relaxar os músculos. Ao sair olhou-se no espelho. Estava muito magra. Talvez ela tivesse exagerado na última dieta e agora podia se dar ao luxo de comer algumas fatias de pizza.  Não era muito vaidosa, mas gostava de estar bonita, então também deveria voltar para a academia para onde ela tinha ido apenas algumas vezes depois de pagar vários meses. Secou os cabelos vermelhos curtinhos. Ela adorava manter os cabelos curtos, pois davam uma sensação de liberdade além da facilidade para cuidar, e combinavam com seu estilo despojado de se vestir. Estava satisfeita com seu visual e as inúmeras propostas de rapazes para sair e namorar corroboravam para que ela mantivesse a auto estima.

Enrolou-se em seu roupão branco predileto e foi procurar alguma coisa para comer na cozinha.

***

- Jefferson! Estou falando com você!

- Ah... Oi Murilo, o que você disse?

- Eu disse um monte coisas e você não ouviu nada

Ele passou a mão arrumando os cabelos que estavam devidamente arrumados.

Ele estava impaciente e não sabia o motivo, ou melhor, não sabia como acabar com o motivo da sua impaciência.

Murilo se aproximou do amigo.

- O que você tem afinal?

Ele sentou e pediu que o amigo fizesse o mesmo

- Cara, não aguento mais a Alana, e não sei como livrar dela

- Se livrar dela? Não foi você que ficou noivo?

- Eu concordei em ficar noivo, não pedir ninguém em casamento

- O que há de errado com ela?

- Tudo e ao mesmo tempo nada

Murilo riu

-Jefferson você está em crise. Onde vai achar uma mulher mais bonita que Alana?

Ele levantou e andou pelo escritório

- É justamente esse o problema. Ela é tão linda, tão perfeita que não enxerga mais nada além dela mesma. Tem se mostrado arrogante, egocêntrica. Você viu como ela tratou aquela moça hoje aqui não foi?

- Hum... aquela moça? Aquela que você não ver a hora de levar para a cama?

- Ah! Murilo não invente histórias...

- Eu? Inventar histórias? Quem foi que passou o dia comendo a mulher com os olhos?

Jefferson não teve saída senão rir.

- Ela é meio doida, olha as roupas que ela veste, aquele cabelo vermelho, mas o olhar dela é muito intenso. Confesso que fiquei curioso.

- Coitada! Se eu fosse ela eu corria pra bem longe de você

- Você falando assim parece que sou um monstro

- Mas é um Don Juan que não consegue ficar mais do que um mês com uma mulher. Alana já é uma vencedora por você está a quase um ano com ela

- O que eu vou fazer se todas as mulheres acabam demonstrando que eu realmente não devia ter confiado nelas

- Você precisa é abrir o coração e fechar o zíper da calça, isso sim.

- Quer saber? Vamos trabalhar. Só temos hoje e amanhã para resolver tudo sobre a nova loja. E é você que vai acompanhar tudo até eu voltar de Nova York

- Como vão os negócios lá?

Ele deu um tapinha no ombro do amigo

- De vento em polpa, meu caro. Estou ganhando rios de dinheiro!

- Opa! E o que sobra pra mim ai?

- Que tal um aumento de salário? O dobro ta bom pra você?

- Agora sim, eu acho que vou casar

Jefferson revirou os olhos

- Casar? Não tem nada melhor para fazer não?

- Eu acho Bianca uma moça legal e vou me casar com ela. E acho que você devia procurar uma boa moça para casar também

- Deus me livre! Vamos mudar de assunto? Foco no trabalho rapaz! Isso sim te traz recompensas.

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