Se eu soubesse que uma simples decisão inconsequente me colocaria nesta situação, jamais teria a tomado.
Meus olhos ardem e não preciso encarar meu reflexo no pequeno espelho em cima do lavatório para saber que estão vermelhos. Solto a respiração e tento relaxar, o que por sua vez não é nada fácil dado a minha atuação situação.— Vamos lá Amanda! — Incentivo a mim mesma. — E só mijar no maldito copo!Finalmente, depois de vinte minutos sentada na privada, consigo encher o copinho e molhar meus dedos no processo. Enrugando o nariz, apoio o copinho no lavatório e lavo as mãos, sem conseguir parar de encarar o líquido de cor amarelo-claro.Olá Deus, sou eu de novo! — Suplico em pensamentos.Pego o pequeno pacote metalizado e tiro de dentro a pequena fitinha e jogo-a dentro do copinho.Que se foda!Saio do banheiro sem esperar pelo resultado.A verdade é que, estou muito apavorada para isso, e sou uma covarde.Vou até a bancada da cozinha, pego meu celular e disco o número de Kaitlyn, no segundo toque ela atende.— Me fala que você tem boas notícias?! — Ouço sua voz do outro lado da linha.Seguro um soluço.— Eu não sei, Kat — fungo —, simplesmente não consigo olhar.Ouço minha amiga suspirar e xingar baixinho.— Olha Mandi, seja qual for o resultado, eu sempre estarei aqui para você — tenta me tranquilizar. — Se for negativo, em dez minutos chego na sua casa com uma garrafa de vinho, daquelas baratinhas que vendem aí perto, e dois pacotes daqueles salgadinhos com cheiro de chulé que você adora — posso imaginar Kaitlyn fazendo careta, o que me tira um sorriso dos lábios apesar de tudo. — Se for positivo, teremos que trocar o vinho por suco de uva e nos passaremos os próximos trinta minutos olhando a lista telefônica até achar o número pessoal daquele filho da put...— Pode ser, Kat! — Interrompi. — Vou mudar a ligação para chamada de vídeo, assim você vê e me dá as notícias.— Se isso te traz mais coragem... Pode ser!Com as mãos trêmulas, mudo a chamada. Uma Kaitlyn com expressão de preocupação preenche a tela do meu smartphone. Em contraste, está minha imagem na telinha pequena abaixo da sua, me sinto tão acabada quanto me pareço.Kat sorri para mim, algo que acho que deveria ser um sorriso para me passar tranquilidade, mas só consigo enxergar as entrelinhas que dizem:"Em que merda você foi se meter, em?"— Vamos lá, Mandi — incentiva.Tiro da câmera frontal e faço o caminho de volta até meu pequeno banheiro. Antes de entrar, aponto a câmera na direção em que lembro ter deixado o teste de gravidez e fecho os olhos. Dou os últimos passos para dentro do cômodo assim.Kaitlyn resmunga.— Chega um pouquinho mais perto — aproximo o celular no mesmo instante —, não consigo enxergar di... SANGUE DE JESUS TEM PODER!— O QUE? — Abro os olhos no mesmo momento em que ela fala:— Positivo!Encaro os dois tracinhos vermelhos na fitinha parcialmente afundada em urina. E, dessa forma, eu percebo que nunca mais a minha vida será a mesma. De repente sinto minhas pernas ficarem fracas e sou obrigada a me apoiar na parede de azulejos frios e me sentar no chão feito dos mesmos.Só consigo pensar em como eu deixei isso acontecer. Sempre me cuidei, sempre me previni. Tomava pílula pontualmente quando namorava, depois disso, deixei a pílula, mas nunca fiquei com outros caras sem camisinhas. Anos de sermões que a minha mãe havia me dado passaram pela minha cabeça. Mas a real é que eu sabia o que tinha acontecido, agora era tudo muito claro para mim.O genitor, eu já sabia quem era, fiquei apenas com ele depois de seis longos meses na seca, somente uma vez.Quase ri com a minha desgraça.Uma foda de três semanas atrás, da qual eu mal me lembrava, havia me colocado nessa situação.Eu tinha minha parcela de culpa, mas ele tinha muito mais. Afinal, que homem ficava com uma mulher bêbada e parcialmente alegre demais?A verdade é que eu estava tão frustada com a minha vida profissional e amoroso que encher a cara e ficar com um desconhecido parecia ser uma boa ideia quando cheguei naquela boate. Mas na verdade eu não esperava que isso passasse de alguns poucos beijos, mas o álcool acabou me levando a ultrapassar meus próprios limites rígidos.— AMANDA? — Kat grita meu nome, ainda na ligação.Só então percebo que havia a deixado falando sozinha, e com certeza ela estava ao ponto de surtar pela falta de uma resposta.Pego meu celular que nem lembrava ter deixado no chão ao meu lado e troco para a câmera frontal. Só percebi que chorava, quando vi as lágrimas que molhavam meu rosto.— Poxa Mandi, você quase me matou do coração! Fiquei sem saber se ligava para a emergência ou se deveria ir aí.— A segunda alternativa, por favor.— Chego aí em dez minutos — avisa. — Vou desligar. Fica calma e não faça nenhuma burrada!— Até parece que você não me conhece! — Amenizo minha fala, para mostrá-la que estou bem, apesar de não estar. — E, Kat?— Hm?— Suco de uva não. Sorvete é melhor — aviso, sentindo meu estômago embrulhar só de lembrar do suco pronto que vende aqui perto do prédio do meu apartamento.— Sorvete e salgadinhos de queijo? — pergunta incrédula.Fungo o nariz.— Sim.Kaitlyn ri e resmunga algo baixinho.— Tudo bem.Desliga a ligação, me deixando com meus pensamentos e com a ameaça de um futuro que para mim, agora, era uma grande incógnita.O pior era saber, que mesmo odiando toda essa situação, algo agora era diferente. Eu não havia pedido por isso, não estava esperando, mas faria o meu melhor para que desse certo.Afinal, eu estava grávida, com apenas vinte quatro anos. E, ainda por cima, de um homem cujo a foda não me lembrava, mas havia ficado dolorida por alguns dias, o que, eu poderia colocar a culpa nos hormônios, mas queria experimentar de novo.De preferência, consciente de meus atos dessa vez.TRÊS SEMANAS ANTES — Você sabe que precisa relaxar um pouco. Todo esse estresse não passa de tesão reprimido! Reviro meus olhos. — Essa é a sua solução para tudo, Kat. Às vezes acho que você só pode ser viciada ou pervertida demais para a sociedade.— Só porque gosto de usar a ferramenta que Deus me deu? Ao contrário da sua, mantenho a minha muito bem lubrificada!Sinto o calor subir até as minhas bochechas. Olhando ao redor, observo as várias pessoas presentes no restaurante em pleno horário de almoço. — Graças a Deus, todas preocupadas demais com seus pratos para prestarem atenção em nossa conversa.Lanço um olhar de repreensão na direção de minha amiga. Kaitlyn, com cinismo, apenas dá de ombro.Volto minha atenção ao meu prato de salada verde com frango, o que para Kat é incentivo suficiente para continuar a conversa.— Eu sei que você buscava aquela promoção, mas por mais competente que seja, no nosso mundo o que manda é o patriarcado, Mandi. — Ela fala, bebericando seu suco de
Só o apartamento do Senhor Bonitão dava com certeza para comprar o prédio em que eu morava inteiro. Tentando acalmar a inquietude crescente dentro de mim, observei tudo à minha volta enquanto ele trancava a porta de trava eletrônica. O ambiente era amplo e aberto com todo esse conceito de espaço que gente rica tem. Chão de mármore branco rajado, sofás longos e da cor cinza, lustre de cristal. De CRISTAL!Tudo limpo, tudo iluminado, tudo luxuoso. Até mesmo o quadro ridículo e abstrato na parede parecia valer mais que o meu apartamento, talvez até valesse mesmo.— Seu AP é... Hm... Legal — falo quando ouço seus passos atrás de mim.— Você achou? — Ele pergunta me abraçando por trás. — Não venho aqui muitas vezes — disse, afundando o rosto em meu pescoço, depositando pequenos beijos em minha pele.Ah, então este era o apartamento em que ele traz as conquistas da noite?Com um movimento rápido, ele me virou, para que ficasse de frente para ele e voltou a depositar beijos no meu pescoço su
— Porque você não pegou o dinheiro? Revirei meus olhos.Kat havia inventado de fazer uma "noite das garotas" para que eu lhe contasse tudo que aconteceu na noite anterior. Por mais que tenha protestado, alegando não ter muita coisa para falar, ela insistiu tanto que cá estamos nós.— Por que eu não sou uma puta! — Ah, sei lá. Você nem se lembrava da foda, poderia ter saído de lá ganhando alguma coisa de fato.Bufei. — Não é porque eu não me lembro que eu não sei que foi boa. Afinal, é só mexer minhas pernas uma na outra, que posso sentir muito bem como John acabou comigo.Kat dá risada.— É uma pena ele ser um completo babaca, então — Kat fez beicinho. — Se não, você poderia pedir um biz!— E correr o risco de ser humilhada futuramente? Passo! — Falo abrindo um pacote de salgadinho de queijo. — E é exatamente por isso que prefiro não ficar com caras que conheci na noitada! — Enfio alguns salgadinhos na boca, saboreando o sabor enquanto Kat enruga o nariz para o cheiro típico dele.
— Se vocês usaram camisinhas, como que você ficou grávida então? Porque todo mundo sabe que o menino Jesus já nasceu!Ri das gracinhas de Kaitlyn. Por mais que tenha chorado muito ao ponto de gastar duas caixas de lenços, agora, graças a minha amiga, me sinto um pouco mais tranquila.— Eu não sei Kat, às vezes ele pegou as camisinhas mas não as usou.— Isso não faz sentido, Mandi! — Ela protestou. — Ele deixou bem claro no outro dia que não queria nenhuma ligação com você.Por mais que seja verdade, ouvi essas palavras saírem de sua boca e tomarem forma, me deixou desconfortável.— É, mas agora não há muito o que fazer — falei foleando a lista telefônica que Kat trouxe.Depois de vinte minutos, joguei de lado a lista e falei com os olhos marejados:— Nenhum John Carter.Uma lágrima escorreu por meu rosto, mas logo tratei de seca-la com as costa da mão.Malditos hormônios!— Ei, não precisa chorar. A gente vai dar um jeito! — Ela tenta me acalmar. — O nome é a única coisa que você lemb
— Boa tarde, Senhora Ferrer! — John cumprimenta ao entrar em seu escritório.Me levando e aceito o seu aperto de mão. Sua mão é grande e áspera em contato com a pele macia da minha.Não sei se foi nervosismo por toda essa situação ou o fato de John parecer não me conhecer que havia me deixado momentaneamente sem palavras. Sinto que ele observa meu rosto, mas eu sequer consigo encarar seus olhos. Quando ele se afasta, cansado de esperar por uma resposta, e se acomoda em sua mesa, enfim solto o ar que nem ao menos sabia estar prendendo. Concentre-se Amanda!— Sente-se, por favor.Volto a me acomodar no sofá, agradecendo pela estabilidade do mesmo, e não confiando tanto assim em minhas penas bambas.Quando ergo o olhar e olho John nos olhos, vejo algo diferente neles. Ele ainda não me reconheceu, mas aquele brilho em seu olhar eu conhecia muito bem.Senti as maçãs do rosto ficarem quentes.— Quando fui informado está manhã que após o almoço teria uma reunião com uma tal de Senhora Ferr
Aqui estou eu, no hall de entrada do apartemento de John, agarrada a minha bolsa, enquanto pessoas que nem mesmo conheço carregam e organizam minhas coisas em algum quarto luxuoso do apartamento. E, nem posso acreditar que aceitei essa loucura.A verdade é que essa foi uma batalha a qual eu perdir amargamente. Kat, minha melhor amiga traidora, concordou com John, enquanto estavamos em uma briga na porta do meu apartamento, que seria melhor assim. Que, John poderia me dar toda a "assistência" necessária nessa fase da minha vida, mas sei de qual "assistência" Kat estava falando quando deu um sorrisinho pra mim ao dizer suas palavras. — John por sua vez parece um paranoico e louco por controle. Não sei se a ficha não caiu ainda ou se esse é seu jeito dele absorver a noticia, mas ele parece considerar o nosso bebê como uma posse, e como ele não nasceu ainda, eu tenho tomado esse lugar, em sua visão distorcida.— John! — Kat grita atrás de mim, chamando a minha atenção e a de John que esta
— Amanda Ferrer? Você é a próxima.O primeiro ultrassom deveria ser um momento feliz, afinal, eu estava prestes a escutar o coraçãozinho do meu bebê pela primeira vez. Por mais que diga a mim mesma que o incômodo instalado dentro de mim é unicamente por causa do nervosismo, sei que parte desse incômodo é o sentimento de culpa me consumindo. John era uma babaca, mas ainda assim, também era pai do meu bebê. Por orgulho eu não falei para ele que estava prestes a fazer o primeiro ultrassom, mas a cada minuto que passava na sala de espera do consultório, eu me sentia mal com essa decisão.— Mandi? É a sua vez! — Minha amiga me cutuca, me tirando de meus pensamentos.Como sempre, Kaitlyn é minha fiel escudeira, e não poderia deixar de estar presente em um dos momentos mais marcantes da minha vida.Dando um sorriso amarelo para minha amiga, me levanto da poltrona da sala de espera e caminho para o consultório, com Kaitlyn no meu encalço.É tudo tão novo e marcante para mim que nos primeiros
Com a bexiga do tamanho de uma castanha, ter uma longa noite de sono tem se mostrado uma missão impossível a cada dia que passa. E, como se a insônia devido às várias idas ao banheiro não fosse o bastando, sinto estar a beira da loucura com o desejo de comer morangos com mostarda.Por vários minutos tentei mudar meu foco. Não pensar nesse desejo era como só pensar nele. Então, me dando por vencida, afasto os cobertores e sinto o ar gelado da noite me abraçar, arrepiando todos os pelos das partes expostas do meu corpo.Nesse momento, amaldiçoei a mim mesma por ter escolhido um baby-doll curto como pijama.Ignorando todos os instintos que me faziam querer me enroscar nas cobertas, crio forças para ir até a cozinha. Por mais que o chão de marmore não fizesse barulho abaixo de meus pés descalços, me vi andndo nas pontas dos pés, disposta a passar despercebida.Na cozinha escura, jurei ter escutado uma porta se abrindo e fechando em alguma parte do apartamento, mas constatando ser apesnas