CAPÍTULO 1

TRÊS SEMANAS ANTES

— Você sabe que precisa relaxar um pouco. Todo esse estresse não passa de tesão reprimido!

Reviro meus olhos.

— Essa é a sua solução para tudo, Kat. Às vezes acho que você só pode ser viciada ou pervertida demais para a sociedade.

— Só porque gosto de usar a ferramenta que Deus me deu? Ao contrário da sua, mantenho a minha muito bem lubrificada!

Sinto o calor subir até as minhas bochechas. Olhando ao redor, observo as várias pessoas presentes no restaurante em pleno horário de almoço. — Graças a Deus, todas preocupadas demais com seus pratos para prestarem atenção em nossa conversa.

Lanço um olhar de repreensão na direção de minha amiga. Kaitlyn, com cinismo, apenas dá de ombro.

Volto minha atenção ao meu prato de salada verde com frango, o que para Kat é incentivo suficiente para continuar a conversa.

— Eu sei que você buscava aquela promoção, mas por mais competente que seja, no nosso mundo o que manda é o patriarcado, Mandi. — Ela fala, bebericando seu suco de laranja. — Você pode ficar se lamentando, ou ir comigo essa noite naquela boate nova, achar um cara e trepar a noite toda até que essa frustração saia totalmente do seu corpo!

Soltei um estalo com a língua.

— E quem te disse que eu preciso "achar um cara e trepar a noite toda" para extravasar? — Pergunto, repetindo sua fala e fazendo aspas com as mãos.

Kaitlyn sorri sem mostrar os dentes, em desdém.

— Fala sério, claro que precisa! Afinal — ela conta nos dedos —, fazem o quê? Quatro meses desde que você ficou com um cara?

Encolhi meus ombros, querendo sumir na cadeira do restaurante.

— Seis meses — corrigi, quase num sussurro. — Depois de Greg não fiquei com tantos caras assim.

Algo como choque passar por sua expressão.

— Quantos caras?

— Quê? Eu não vou te falar com quantos caras fiquei depois de Greg!

— Eu sou sua melhor amiga! — exclama como se fosse razão suficiente.

— Isso é muito íntimo! Esquece. — Protesto, mas sei que essa é uma batalha que vou perder, com Kat sempre é assim.

— Quantos caras, Mandi? — Repete ela, semi-cerrando o olhar.

Resmungo baixinho.

— Eu não ouvi direito!

— Dois caras! Está feliz agora?

Kaitlyn ainda me olha com os olhos cerrados.

— Você não pode estar falando sério! — Quando percebe que de fato falo a verdade, sua expressão passa de inquisitiva para de total choque. — Fazem dois anos que você e Greg terminaram!

— Eu sei! — Protesto, sem onde esconder minha cara.

— Dois caras — repete. — E se faz seis meses que você ficou com um deles... — Posso ver as engrenagens trabalhando em sua cabeça. — Porra, isso dá um período de um ano e seis meses para ter ficado com o primeiro cara!

— Temos uma Einstein entre nós!

— Sem brincadeirinhas, Amanda. Nós vamos sair hoje e lubrificar a sua ferramenta. Já deve ter teias de aranhas aí!

Enruguei o nariz.

— Não é pra tanto!

Kaitlyn olha em seu relógio de pulso.

— Tenho que voltar para o escritório. Às dezenove horas passo no seu apartamento pra gente se arrumar.

— Kaitlyn, sério? — Pergunto fazendo bico.

— Às dezenove, Amanda!

→★←

Finalmente consigo aprovar o que vejo no reflexo do meu espelho.

Kaitlyn não mentiu quando disse que chegaria aqui às dezenove horas. O ponteiro do relógio mal havia parado no lugar quando ela bateu na porta, trazendo o que parecia uma mala de viagem, mas que na verdade possuía o seu arsenal pessoal. Vestidos, maquiagem e algumas lingeries provocantes e sem uso.

Depois de insistir, tanto que meus ouvidos estavam ao ponto de sangrarem, Kat me convenceu a vestir uma calcinha do conjunto de lingerie preta de rendinha transparente, alegando que teria um ótimo contraste com a minha pele pálida. O vestido deslumbrante de seda, vermelho, agarrado ao corpo, de alças que não passavam de fitinhas entrelaçadas nas costas nuas e uma fenda na cocha, não dava oportunidade para se usar um sutiã.

Deixei meus fios pretos soltos e Kat fez cachos nas pontas que quase alcançavam a alturas de meus quadris.

— Sério, você tá muito gata, Mandi! Se eu não fosse hétero te pegava muito!

— Aí, sei lá. Pra mim sinto que falta pano. Tem certeza que a minha bunda não está aparecendo?

Kat revira os olhos.

— Não está, prometo!

Suspiro.

— Então vamos. — Falo pegando minha bolsinha pequena.

— Só mais uma coisa!

Kaitlyn revira sua mala em busca de algo.

— Aqui! — Fala me entregando quatro preservativos.

Com relutância, pego de sua mão encarando a embalagem metalizada.

— Camisinhas gratuitas? Ouvi dizer que o pessoal que distribui isso nos postos de saúde furam elas com agulhas!

Kat solta um estalo com a língua.

— Isso é só uma historinha que a indústria inventou para vender mais camisinhas!

Reviro os olhos.

— Vamos então?

→★←

Chegamos na Up21, a nova boate que Kaitlyn estava doida para conhecer, para nós deparamos com nada mais que uma fila quilométrica.

Kaitlyn, como sempre, não se dando como vencida, passou furando a fila ignorando os vários xingamentos que recebeu ao passar por todas as pessoas que esperavam para entrar na boate, sussurrou algo no ouvido do segurança e me chamou com um aceno. Caminhei em sua direção dando uma série de pedidos de desculpas para os que estavam na fila e entrei com ela.

Dentro da Up21, meus olhos demoraram um pouco para se adaptarem ao ambiente pouco iluminado repletos de leds e laser-balada. A pista estava cheia de pessoas dançando, mas parecia que a verdadeira festa estava acontecendo na área vip do segundo andar.

Kat resmunga algo que não ouço direito por causa da música alta.

— Quê? — Pergunto quase gritando.

— Precisamos ir pra lá! — Ela aponta a área vip com um movimento do queixo.

— Não tenho dinheiro para uma pulseira vip, Kat.

Minha amiga me olha como se tivesse crescido chifres na minha cabeça.

— Quem disse que nós vamos pagar?

Sem me dar a chance de questionar, Kat pega em meu pulso e condiz atravessando o mar de pessoas na pista, indo em direção a escada que dava para o piso superior. Dois seguranças estavam parados barrando a entrada.

— Veja e aprenda!

Minha amiga mais uma vez fala algo no ouvido de um dos seguranças e não sei quais sãos suas palavras mágicas, mas o brutamontes abre passagem enquanto prende uma pulseira verde neon no pulso de Kat. O outro segurança me chama com um aceno e também fecha a pulseira no meu pulso.

— Se descer não sobe mais. — Avisa ele, me dando passagem.

Subo as escadas atrás de Kat.

— Queria saber o que você falou para os convencer?

Kat vira o rosto de lado e me dá um grande sorriso.

— Um mestre nunca revela seus segredos! — Ela ri. — E eu não perderia um open-bar por nada!

Kat sendo Kat. Dei risada.

De fato, a festa na área vip estava muito melhor do que no andar de baixo. Bebidas eram distribuídas por todos os lados por garçons ágeis, mulheres dançavam de forma provocativa com alguns homens, em algum canto alguém estourou um champanhe e foi ovacionado.

Homem bonito e bem vestido era mato.

Senti meu rosto arder com o pensamento.

— Ali! — Aponto para uma mesinha alta mais afastada, chamando a atenção de Kat.

Fomos até lá, e apoiei minha bolsa. Kaitlyn fez o mesmo e posicionou sua bolsa em cima da mesa ao lado da minha e se virou para olhar a festa.

— Vamos dançar!

— Que? Não!

— Amanda, nós não viemos para a balada para você ficar em pé ao lado de uma mesa! Preciso te lembrar do motivo?

Suspiro.

— Ok Kaitlyn! Mas eu preciso de uma bebida antes.

— Não seja por isso.

Desinibida, Kat entra na frente de um cara e pega dois shots de tequila. Ele protesta, mas minha amiga vira um em um gole só e pisca para o cara que dá de ombros e vai buscar outra bebida.

— Que vergonha, Kat! — protesto.

— Quem tem vergonha não vai a Roma ou sabe lá qual é o ditado. Beba! — Fala me entregando o copinho de vidro.

Antes que perdesse a coragem, virei o líquido em um gole e senti a bebida descer queimando pela minha garganta. Fiz careta.

— É assim que se faz! Bora dançar!

É, a noite estava apenas começando.

Kaitlyn e eu dançamos, no começo estava meio desajeitada e dura, mas conforme o álcool surtia efeito em meu organismo, comecei a me soltar mais. Quando Dangerous Woman de Ariana Grande começou a tocar, eu já estava totalmente entregue a dança, a melodia entrando em minhas veias e a letra impulsionando meus movimentos provocativos. Não havia mais ninguém, somente eu, Kat e a música. Cada mexer de meus quadris, cada jogada de cabelo, cada uma de minhas mãos passando por meu corpo me envolvia mais e mais na música. Quando acabou e finalmente abri meus olhos, vários caras olhavam para mim e Kat com desejo brilhando nos olhos.

Kat por sua vez ganhou a sua fatia do bolo, pois um cara se adiantou a frente dos outros e começou a dançar a próxima música com a minha amiga. Eu, desejando aquietar a efervescência de meu sangue e o recém incômodo entre as penas, volte pare a mesinha e peguei uma bebida com um dos garçons.

Estava bebericando a bebida que tinha um leve sabor de morango e observando o movimento da pista de dança, quando levei um pequeno susto ao ser tirada de meus pensamentos por uma voz grossa ao meu lado:

— Você deu um belo show, agora a pouco.

Viro para encarar o dono de um timbre tão envolvente que fez meus pelos se arrepiarem. Apesar do lugar pouco iluminado, eu podia ver o quão lindo era aquele cara. Cabelos pretos em um corte social e sofisticado ao mesmo tempo, rosto de linhas bem marcantes, maxilar quadrado, barba por fazer de um jeito charmoso, sobrancelhas grossas e perfeitamente delineadas, cílios expressos e olhos verdes.

Meu rosto ficou quente. E não só ele.

Droga! Eu havia bebido demais.

— An, obrigada! — Lembrei de respondê-lo. — Eu só estava muito envolvida naquela música.

Ele se aproximou e abaixou a altura de meu ouvido, o que me permitiu sentir um pouco do seu perfume amadeirado.

— Estou me perguntando, o que mais você sabe fazer com esses quadris?

Meu corpo entrou em chamas e pude sentir meu rosto arder ainda mais, sequer fosse possível. Mas, por mais que tenha gostado, ouvi minha m*****a boca dizer:

— Esquece — falei o dispensando.

Ele apenas deu de ombros e remexeu o bolso de sua calça até tirar de lá uma caneta. Incrédula, vi ele pegar meu pulso e escrever algo na minha pulseira vip.

Afinal, quem vai para a balada com uma caneta no bolso? — pensei, tentando ignorar o novo arrepio que passou pelo meu corpo com o seu toque.

— Para o caso de você mudar de ideia.

— Ok — respondi vendo ele voltar para o seu grupinho de amigos de onde ele deveria ter saído.

Antes que tivesse a chance de assimilar, Kaitlyn já estava do meu lado.

— Que merda, Mandi? O cara era um gato!

— Era mesmo — me vi dizendo, ainda olhando para ele que estava de costas, em meio ao seu grupinho.

— Porque você o dispensou, então?

— Sei lá — resmunguei. — Onde está o cara que estava com você? — Falo mudando o foco.

Kaitlyn bufou — bufou para mim!

— Foi buscar uns drinques. Mas o foco aqui é você! — Kat insiste. — Parece que você está esquecendo o foco!

Reviro os olhos.

— Ah, vai se foder Kat!

Minha amiga faz beicinho e sorri logo em seguida.

— Eu vou, mas com aquele cara gostoso! Mas queria mesmo que você fizesse o mesmo. Lubrificar a ferramenta, lembra?

Solto um estalo com a língua.

— Está bem!

Kat solta um gritinho com entusiasmo, mas logo para.

— Mas e agora? Não acho que o senhor bonitão vai se aproximar de novo depois do fora que você deu.

Ela estava certa, mas se fosse para escolher alguém, eu preferia que fosse ele.

— Ele não vai precisar — respondo.

Que se dane!

Sai, deixando uma Kaitlyn de boca aberta para trás e caminhei na direção do "senhor bonitão", como ela disse. Atravessei em meio ao emaranhado de pessoas, determinada. Um dos amigos dele percebeu que eu me aproximava e disse algo, ele se virou e abriu um sorriso. Antes que falasse algo, envolvo meus braços em seu pescoço e o puxo para um beijo.

Talvez fosse minha imaginação, mas pude ouvir um gritinho de empolgação de Kat. Mas não pude pensar muito nisso.

Seus lábios sobre os meus eram macios e quentes, sua língua exploratória. Ele colocou suas mãos em minha cintura, mas pude sentir uma delas descer um pouco mais, me apertando e arrancando um suspiro que soltei em meio a seus lábios. Ele grunhiu em aprovação, causando-me mais um arrepio. — Ao nosso lado, um dos caras do grupinho falou algo que fez os outros rirem, mas não dei ouvidos, estava muito concentrada em sua boca na minha e no crescente frio em meu estômago.

Ele terminou o beijo mordiscando meu lábio inferior e me dando um selinho.

— Podemos ir para um lugar mais reservado? — Me pergunta, com a voz rouca.

— Ótima ideia! — Falo, arrancando um sorriso de seus lábios. — Vou pegar a minha bolsa.

Entrelaço seus dedos nos meus e o puxo em direção a mesa onde Kat ainda me olha de olhos arregalados. Faço menção de pegar a minha bolsa, curvando meu copo um pouco demais para conseguir falar no ouvido de minha amiga:

— Satisfeita agora?

— Não mais do que você vai ficar! — Ela sussurra de volta com um sorriso safado estampando seu rosto.

Semi-cerro o olhar e me despeço rapidamente.

Quando já estou de costas para ela, puxando o senhor bonitão pela mão, escuto Kaitlyn gritar para meu companheiro:

— Faça ela revirar os olhos!

— Eu vou! — Ele responde rindo.

Meu rosto não poderia estar mais vermelho.

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