— Hey! — Eve reclamou ao ver um homem entrando na frente dela, na fila. Ele não se moveu e ela o cutucou nas costas, chamando-lhe a atenção. — Não pode fazer isso. Com licença!
O homem se virou e, para Eve, parecia que o tempo se movia em câmera lenta. Por um segundo, ela ficou embasbacada com a visão: alto, olhos verdes, cabelos escuros perfeitamente penteados, traços que ela considerou muito harmoniosos, como uma estrela de Hollywood.
Mas o encanto durou apenas até que ele abrisse a boca.
— Por que está me cutucando? Qual o seu problema? — A frieza não só na voz, como no olhar, deixaram Eve com ainda mais raiva. O homem claramente era rico, pelo terno feito sob-medida, mas sem um pingo de educação!
— Eu quem pergunto! O senhor furou a fila! — Ela olhou para trás, com uma das mãos na cintura, e viu que não tinha mais ninguém além dela. Ao se voltar para a frente, o homem já estava com as costas para ela. Eve ajeitou os óculos no rosto e o cutucou novamente. — O senhor ouviu?
Ele a ignorou e foi para o caixa assim que a luz do mesmo indicou estar livre. Eve foi com ele e colocou a cesta dela em cima do balcão. O atendente olhou para os dois.
— Eu cheguei primeiro! — O homem disse, já perdendo a paciência.
— O senhor entrou na minha frente, na fila!
— Exato. Por isso, eu cheguei aqui primeiro. Volte para trás e pare de atrapalhar!
— Senhorita, por favor…— O atendente pediu e Eve, por mais que quisesse arrumar confusão, respirou fundo e deu um passo para trás, irritada. Ela odiava como gente rica e com cara de esnobe geralmente ganhava nessas disputas.
Minutos depois, ao sair do mercado, viu o homem desligando o celular e entrando em um carro luxuoso e, em seguida, cantando pneus.
— Cretino miserável! — Ela murmurou, com raiva, e foi para casa.
O pequeno apartamento em Sun Valley estava caindo aos pedaços, ainda que Eve o mantivesse impecavelmente limpo.
Ao deixar a sacola de compras em cima do pequeno balcão da cozinha, ouviu alguém bater na parede da sala. Provavelmente os vizinhos, discutindo novamente. Quando as vozes alteradas se fizeram ouvir, Eve apenas suspirou e continuou a tirar as poucas compras da sacola.
Alguém bateu em sua porta.
— Um momento! — Ela pediu e foi atender. Ao abrir a porta, deu de cara com a proprietária e síndica do prédio, que segurava um menino no colo. — Ah, senhora Clark. É sobre o aluguel? Eu estou…
— Não me interessa! Eu quero o dinheiro e o quero agora! — A mulher com o pano na cabeça disse de maneira rude, ajustando a criança no colo, que começou a chorar.
— Eu estou desempregada, mas prometo que vou…— Eve nem terminou de falar, pois a mulher deu um empurrão nela e entrou no apartamento. Seus olhos varreram a pequena kitnet e pousaram sobre a sacola de compras.
— Mas dinheiro pra esbanjar, tem, não é?
— Eu comprei apenas comida…— Eve detestava brigas e odiava "dever" a alguém, principalmente dinheiro.
Lenna Clark se virou para ela, balançando a criança que não parava de chorar. Eve sorriu para a criança, que piscou algumas vezes e sorriu de volta para ela.
— Amanhã. Se não me pagar amanhã mesmo, eu jogo as suas tralhas na rua! — A mulher não esperou uma resposta, apenas saiu a passos pesados e bateu a porta com força.
Eve se deixou cair no pequeno sofá surrado e colocou a cabeça entre as mãos. O que ela faria?
O celular dela apitou e era uma mensagem. Eve a olhou desinteressada, até ler o conteúdo e se levantar de um salto. Era uma entrevista de emprego!
Duas horas depois, Eve estava parada em frente a uma casa imensa, com um belo cercado, em Greenwood Village. Ela engoliu em seco e bateu à porta.
Uma senhora de cabelos grisalhos e um sorriso gentil a recebeu.
— Olá! Eu sou Everleigh Johnson e estou aqui para a entrevista para a vaga de babá. A senhora Ballilis foi quem me chamou.
— Entre, por favor, senhorita! — A empregada disse e abriu a porta para que Eve pudesse passar.
— Obrigada!
Eve foi levada até a sala e lá esperou por menos de cinco minutos, quando uma mulher de cabelos longos e cacheados apareceu, um sorriso bonito no rosto e uma covinha na bochecha.
— Olá! Eu sou Shannon Ballilis! — A mulher se apresentou e lhe estendeu a mão. Eve se colocou de pé e logo a apertou. — Sente-se, por favor!
A mulher sentou-se no sofá em frente a Eve e limpou a garganta.
— Como explicado na vaga, eu preciso de alguém que seja gentil, cuidadosa, responsável, compreensiva, discreta e que, claro, goste de crianças!
— Eu adoro crianças! — Eve falou sinceramente.
Após algumas perguntas sobre as experiências de Eve — que não incluíam exatamente cuidar de crianças — e ver a documentação, conferindo que estava tudo em ordem, Shannon colocou a prancheta na qual anotou tudo, de lado.
— Excelente! Vem, que quero te mostrar a Rose! — Shannon se levantou e fez sinal para que Eve a seguisse.
No andar de baixo, uma criança estava dentro de um carrinho. Os olhos verdes da criança pareciam sorrir sozinhos. Eve teve uma sensação de reconhecimento, mas logo afastou aquele pensamento. Quem raios ela já tinha conhecido com olhos tão bonitos quanto aqueles?
A senhora mais velha estava lá e, assim que Eve e Shannon entraram, ela pediu licença e se retirou.
— Ela é linda! — Eve falou, emocionada. A bebê, vestida de rosa, esticou os bracinhos gorduchos, pedindo colo. — Eu posso? — Eve perguntou a Shannon.
— Claro, vá em frente!
Ao pegar a pequena, Eve sentiu o coração se enchendo de algo muito bom. A bebê pegou uma mecha dos cabelos castanhos de Eve e soltou uma risadinha.
— Eu… Eu acho que estou apaixonada! — Eve falou e Shannon bateu palmas, rindo de alegria.
— Quando você pode começar?
Os olhos de Eve brilharam por trás da lente. Ela tinha conseguido?
— Q-quando a senhora quiser!
— Agora? Que tal? — Shannon mostrou seu lindo sorriso.
— Por mim, tudo certo! A sua filha é adorável, senhora Ballilis!
Shannon limpou a garganta.
— Essa doçura é minha sobrinha. O pai dela é meu irmão, Archer Galloway. Ele trabalha muito, sabe como é…— Shannon revirou os olhos, como se desconversasse, com um sorriso nos lábios.
Eve queria perguntar sobre a mãe da criança, mas inferiu que a coitada provavelmente tinha morrido. Seria muito indelicado questionar a respeito.
— Eu compreendo.
Shannon adorou que Eve não perguntou nada sobre a progenitora da criança.
"Ela é discreta. E compreensiva! E Rose a adorou!"
Eve passou o restante da tarde com a bebê. Assim que a pequena dormiu, ela resolveu ir à cozinha beber água e viu a senhora que a atendeu na porta mais cedo subindo com uma pilha de roupas.
— A senhora quer ajuda?
— Oh, minha querida, não precisa se preocupar…
— Eu faço questão. — Eve sorriu e pegou as roupas. — Eu sou Eve, por sinal. — As duas subiram as escadas.
— Ilma Barlow!
A campainha tocou e a idosa esticou o pescoço.
— Pode deixar essas roupas naquele quarto, ali, por favor. Eu já volto.
A sra. Barlow sentiu que podia confiar na moça e acenou de leve com a cabeça, descendo as escadas novamente.
Eve abriu a porta do quarto e ficou maravilhada. Ela colocou o cesto de roupas em cima da cama e deu uma última olhada ao redor, antes de pegar uma peça de roupa e começar a dobrá-la.
Pouco depois, a porta se abriu atrás dela.
— Quem diabos é você? — Uma voz grave ressoou e Eve se virou tão rápido que podia jurar que seu pescoço havia estalado, o que lhe deixou zonza por alguns instantes.
Ela se viu olhando para olhos verdes intensos.
— Você! — Os dois falaram ao mesmo tempo. O semblante do homem mudou de surpresa para frieza imediatamente.
"Ele deve ser o pai da Rose, Archer Galloway!", ela pensou, já que aquele homem tinha os mesmos olhos do bebê que ela cuidaria de agora em diante. "Como eu não me dei conta disso antes?" Eve queria muito dizer uns bons desaforos para aquele homem, porém, se ele era mesmo o pai da criança, poderia demiti-la. E, naquele momento, Eve precisa muito de um emprego. Ela respirou fundo. — Eu sou Everleigh Johnson, senhor. — Ela lançou um sorriso caloroso para ele e ofereceu a mão, mas a carranca dele aumentou.— Está me seguindo, é isso? Como entrou aqui?! — Ele praticamente rosnou. — Quer saber? Eu vou chamar a polícia, agora mesmo! O sangue de Eve congelou nas veias. Polícia? Ela não podia ter problemas com a polícia! — Senhor, eu… Eu sou apenas a…Archer segurou ferozmente o braço de Eve, que choramingou. Ele afrouxou um pouco o aperto, mas não a soltou, arrastando-a para fora do quarto. Eles desceram as escadas e Shannon, que estava antes saltitando de felicidade, murchou assim que v
Eve deu um passo para trás e colocou a mão na cabeça da criança, como se a consolasse após ouvir aquelas palavras horríveis. “Esse homem não merece esse neném lindo!”, Eve ficou chorosa. Ela não compreendia como um pai podia falar daquele jeito. — O que você quer dizer com isso? — Shannon questionou. — Tem um apartamento. Roselyn vai ficar lá com a babá, eu as manterei com tudo o que for necessário. — Menos a sua presença. — Shannon parecia chorar. — Eu não posso, ok? Ainda não consigo digerir isso.— Se não saísse por aí com mulheres aleatórias, em vez de se casar de uma vez, isso não teria acontecido!”— Não vou discutir! — Archer falou e o som dele se afastando foi ouvido por Eve.Eve retornou para dentro do quarto e fez a criança dormir. Quando já estava para sair, Shannon estava na sala, esperando por ela. — Você nem jantou! — Ela disse. — Não tem problema. Vou comer em casa. — Eve respondeu e sorriu fraco. — Até amanhã, sra. Ballilis.— Eve… Eu tenho que te dizer uma cois
Archer se virou com calma. Ele não queria ter parado em loja nenhuma porque se alguém o reconhecesse… — Quem é você? — Ele perguntou, franzindo a testa. Aquela pessoa não lhe era estranha. O homem, de cabelos curtos e óculos, com uma barba cheia, sorriu, estendendo a mão. — Eu sou David Thomas! — Ele se apresentou e Archer inspirou fundo. Aquele era o "repórter perigo". O homem que sempre entregava os maiores furos das celebridades. "Mas que inferno!", Archer praguejou mentalmente. Ninguém sabia da existência de Rose. Ele não havia informado ao público, ainda mais que a mãe da criança havia simplesmente a abandonado na porta da casa dele e sumido! Eve se aproximou, Rose no colo e o bebê-conforto na outra mão. — Prontinho — Ela falou, esticando o cartão Black para Archer. — Quem é essa? — David perguntou, sorridente. — E que criança mais linda! — Não vê que é a filha deles? — A senhora idosa, que não havia se afastado, respondeu. Archer apertou os lábios, pensando que
— O senhor vai descontar do meu salário? — Ela perguntou calmamente. Archer pensou inicialmente que Eve estivesse se fazendo de boba, até perceber no olhar dela que não, ela realmente não havia compreendido a malícia nas palavras dele. Ele apenas engoliu em seco. — Vou.A expressão de Eve murchou e ela olhou para baixo, tristonha. — Eu compreendo. Perdão, novamente. — Eve disse, derrotada. Antes de Archer falar qualquer coisa, ouviu-se um barulho alto, um ronco. Eve, com o rosto vermelho de vergonha, levou a mão à barriga e olhou de esguelha para Archer.— Isso…— ele começou a perguntar. Eve se levantou rápido, o rosto queimando. — Isso daí foi a sua barriga roncando? — Archer perguntou e Eve o olhou, mas logo desviou o olhar. — Se está com fome, por que não vai comer? Ela apertou os lábios e se virou para Archer. — Eu comeria, mas não tem nada, aqui. O que tinha eu usei para alimentar Rose. — Ela inspirou fundo, enquanto Archer parecia não compreender o que ela falava. — Pr
— Oh! — Eve soltou, enquanto quase abraçava Archer. Ele passou os braços por reflexo em volta dela. Eve levantou o rosto.Archer notou que havia lágrimas nos olhos dela e levantou uma das mãos, passando o polegar pela gota que escorria. A expressão de Eve fez ele querer consolá-la e então, ele se inclinou na direção dela, mas percebeu o que estava fazendo e a soltou abruptamente, dando dois passos para trás. — Ai! — O que houve? — Ele perguntou sem muita emoção. Eve, que tinha tropeçado quando ele a soltou e quase caiu, o olhou ressentida. — Eu preciso buscar as minhas coisas, senhor Galloway. Rose ainda dorme. — Eve enxugou as lágrimas. — O senhor só precisa ficar aqui rapidinho. Eu voltarei logo. — Ficar… — Archer compreender e balançou a cabeça. — Nem pensar! — Ela está dormindo. E qualquer coisa, o leite dela… — Não! — Archer gritou e depois, silêncio. — Eu não… Olha, se fosse pra cuidar dela, eu não teria contratado você. “Não foi você quem me contratou, seu nojento!” Ev
— Larga ele, Danny! — Lenna falou. — Estão chamando os cana! Danny soltou Archer, limpando a própria boca, suja de sangue e correu com as duas mulheres. — Senhor Galloway! — Eve se aproximou de Archer, mas ele levantou a mão para pará-la. Ele olhou para o rosto dela e colocou a mão na bochecha de Everleigh. — Cadê seus óculos? — Não sei. — Ela fungou. Ele olhou em volta e viu que havia algumas coisas jogadas do lado de fora. — Suas coisas? — Eve concordou e ele foi até a mala, aberta, e colocou o que podia ali dentro. — Algo a mais que queria levar? Eve negou. Os três irmãos haviam destruído os poucos livros que ela possuía. — Desculpe… — Eve disse baixinho, mas Archer passou o braço pelos ombros dela e fez sinal com a cabeça, para que eles andassem. No carro, Eve colocou Rose, já mais calma, no bebê-conforto e se sentou no banco do passageiro. Archer já havia colocado a bagagem dela no porta-malas. — Senhor Galloway… — Vamos conversar quando chegarmos em casa! O trajeto f
Archer engoliu em seco, mas sorriu fraco. — Claro, Lennon! Quem mais? Lennon torceu a boca. — Pela forma como fui mantido no escuro, eu não duvidaria de mais essa traição. — Você faz parecer que eu sou seu homem! — Archer reclamou, enquanto Lennon deu de ombros. — Eu posso cobrar, ganhei o título de melhor amigo. — Então, se virou para Eve. — Certo? Everleigh… Posso te chamar de Eve? Archer abriu a boca. — EU não a chamo de Eve! Lennon levantou a sobrancelha. — Tá me dizendo que você chama ela de Everleigh em todos os momentos? — Archer entendeu sobre o que Lennon se referia e apertou os lábios em uma linha fina. — Que esquisito que você é… — Lennon! — A Eve deve te amar muito, mesmo. Fico feliz por você. — Se virou novamente para Eve, que observava com curiosidade e diversão a interação dos dois homens. — Nem tanto por você. Sinto um pouquinho de pena, na verdade.— Sai do meu carro! Você veio aqui pra arruinar meu relacionamento ou o quê? E pare de chamá-la com tanta inti
Eve olhou séria para Archer, abriu a boca algumas vezes, mas ela não sabia o que responder, pois estava na dúvida se tinha entendido errado a pergunta dele. — Estou perguntando se quer se casar comigo, Everleigh. — Archer mantinha um olhar frio. — Para todos os efeitos, você será a mãe de Rose. — Ca-casar? — Eve estava sorrindo, mas os olhos dela denotavam clara confusão. — Senhor Galloway, como pode perguntar algo assim, de forma tão leviana? Casamento é algo sério. Ele se aproximou dela, o que não precisou de muito, já que os dois estavam sentados no sofá. — Eu sei. E é por isso que estou solteiro até hoje. — O tom dele estava carregado de deboche. — Isso é, se a senhorita decidir aceitar a proposta, eu mudo o status hoje mesmo. Archer não costumava ficar em redes sociais, mas sabia que era importante no mundo dos negócios. Ele tinha uma equipe que cuidava daquilo e, obviamente, lá constava que ele era um homem livre. — O senhor decidiu, do nada, que quer passar o resto da vid