Capítulo 275NazarA casa está estranhamente silenciosa. Eu ando pelos corredores e percebo que algo está diferente. Não sei exatamente o quê, mas há um vazio no ar que me incomoda.Passo pela cozinha, pela sala, e nada. Quando subo as escadas, já tenho uma ideia do que está errado. Neide.Não a vi em nenhum momento desde que voltei, e isso me irrita mais do que deveria.Paro diante da porta do quarto dela. Está entreaberta, como se ela tivesse saído com pressa, mas o ambiente está vazio. Nenhum som, nenhum sinal de que esteve ali recentemente.Franzo a testa. Eu passei o dia inteiro fora, e agora já é noite. Se ela estivesse por aqui, eu já teria cruzado com ela em algum momento.Algo dentro de mim aperta.Balanço a cabeça, tentando afastar essa sensação ridícula, e me viro, indo atrás de Alexei.Ele está no escritório, sentado atrás da mesa, digitando algo no celular quando entro sem bater. Ele ergue os olhos e solta um suspiro cansado.— O que foi agora, Nazar?Cruzo os braços, enc
Capítulo 276 Nazar O bairro onde Viktoria Borisova mora é simples, ruas estreitas e prédios desgastados pelo tempo. A vizinhança tem aquele ar de vigilância silenciosa, onde todos sabem quem entra e sai. Meus homens param os carros a uma distância segura, e eu desço primeiro, ajustando minha jaqueta. A casa é modesta, com uma pequena cerca enferrujada na frente. Quando me aproximo, um rapaz jovem surge na porta. Tem o olhar desconfiado, como se já estivesse acostumado com problemas batendo à sua porta. — Quem são vocês? — ele pergunta, cruzando os braços. Seus olhos passam rapidamente pelos soldados atrás de mim, analisando a situação. Ele deve ter por volta de vinte anos, talvez um pouco menos. Não parece assustado, apenas alerta. — Estou procurando por Viktoria Borisova — digo, direto ao ponto. Ele estreita os olhos. — Minha avó. O que quer com ela? — Fico olhando. Será que essa senhora é minha mãe? Ela teve filhos? Netos? Porque fui privado de tudo isso? Culpa
Capítulo 277 Don Alexei Kim Desde que Nazar saiu fiquei inquieto. Tenho visto quantos inconvenientes ele tem vivido, e como a morte da mãe mexeu com ele. Agora veio com essa história de que ela pode estar viva, e de que quer encontrar quem fez isso com ela, mas não consigo resolver as minhas coisas sabendo que ele está sozinho nisso, então resolvi o que era importante e fui onde os soldados disseram que ele estava indo. Não quis avisar o Nazar e deixá-lo incomodado. Parei meu carro quase a uma quadra de onde ele desceu. Meus homens ficaram logo atrás, um deles puxou um zoom de onde filmava e vi que não pareciam confortáveis ao encararem um moleque sequela, desprovido de musculatura. — É o seguinte — chamei os seis soldados que vieram comigo — Não estou confortável com essa situação. Vamos cautelosamente pelos fundos da casa. Eu vou entrar, dois esperam no muro me dando cobertura, dois observam nossos demais soldados, e dois ficam no carro. Sem alarmes, sem sermos
Capítulo 278NazarEu me sentia... sufocado. Como se cada célula do meu corpo estivesse rejeitando aquela verdade, tentando cuspir para fora o gosto amargo do nome que nos unia. Maxim Kim.O desgraçado que destruiu minha mãe. O homem que moldou minha vida ao seu bel-prazer, que me tirou tudo, que me fez crescer como um cão sem dono, sem passado, sem família. E agora, de repente, eu descubro que o sangue dele também corre nas veias de Don Alexei.Minhas mãos tremiam. O peso da arma que eu havia largado no sofá ainda queimava meus dedos. Eu queria gritar. Queria quebrar algo. Queria voltar no tempo e arrancar aquele nome da minha história antes que ele tivesse a chance de me marcar.Mas o que mais me perturbava era Alexei.Ele não reagiu como eu imaginava, na verdade não imaginei nada disso. Não me afastou. Não me olhou com desprezo. Não questionou minha fúria. Ele apenas ficou ali. Me segurou. Me chamou de irmão. Como negar a isso, se ele não tem culpa de ter o sangue daquele demônio n
Capítulo 279 Don Alexei Kim Saí pela porta da frente, feliz. Com um tipo diferente de inquietação, algo que eu não sentia fazia tempo. Um peso havia sido tirado de mim. Meus soldados estavam posicionados ao redor da casa, atentos, prontos para qualquer ordem minha. Quando apareci sozinho, todos endireitaram a postura, esperando instruções. — Vamos embora. Quero todos pra fora, e nunca mais entrem sem a ordem dos moradores. Eles se entreolharam, surpresos. Normalmente, eu mandaria reforçar a segurança, manter a casa sob vigilância. Mas hoje era diferente. Nazar ficaria ali. Com a tia dele. Nossa tia. Um dos homens pigarreou, hesitando. — Tem certeza, Don Alexei? — Quer morrer, soldado? — ergui uma sobrancelha. — Não, senhor. — Então sumam daqui. Agora. Eles obedeceram sem mais perguntas, saindo rapidamente em direção aos carros. Entrei no meu próprio veículo e peguei a estrada. *** O caminho de volta para Moscou foi rápido, mas minha mente não desaceler
Capítulo 280 Don Alexei Kim (Uma hora depois) O toque do telefone ecoou pelo meu escritório, interrompendo meus pensamentos. O número na tela me fez franzir o cenho antes de atender. — Neide. — Don… — A voz dela soou fraca do outro lado da linha, com um cansaço incomum. — Preciso falar com você, Don. Imediatamente, endireitei minha postura. — O que aconteceu? Ela respirou fundo antes de responder. — Eu piorei muito hoje. Fiz alguns exames e… descobriram que estou com COVID 19. Soltei um suspiro pesado, esfregando a têmpora. — Merda. — Eu não vou, de maneira alguma, ficar perto das crianças nos próximos sete dias. — A firmeza na voz dela me fez perceber que essa decisão já estava tomada há algum tempo. — Mas para que vocês não se assustassem ou precisassem resolver isso de última hora, fiz como combinamos antes. Já deixei tudo certo. Só preciso da sua confirmação. Minha mente já trabalhava em todas as possibilidades. — Você confia completamente na sua irm
Capítulo 281 Nazar O dia tinha sido uma loucura. Conhecer minha tia hoje, finalmente saber mais sobre minha família… Era como se uma parte de mim que sempre esteve perdida tivesse encontrado um rumo. Ela me contou histórias que eu nunca tinha ouvido antes, sobre minha mãe, e até sobre os primos que eu não conhecia. Pela primeira vez em muito tempo, me senti conectado a algo além dessa vida de morte e violência. Agora, enquanto me preparava para ir embora, minha tia me olhava com aquele mesmo sorriso tranquilo que manteve o dia inteiro. — Já vai, sobrinho? — Sim. Mas volto no fim de semana. — Ah, é? — Ela cruzou os braços, me analisando. — Que bom! Hesitei por um instante antes de soltar: — Quero trazer alguém pra você conhecer. Ela ergueu as sobrancelhas, claramente surpresa. — Alguém importante? — Lembrei do rosto da Neide. Dei de ombros, tentando disfarçar, mas o sorriso dela só aumentou. — Talvez. — Nazar… — Ela se aproximou, segurando meu rosto entre a
Capítulo 282 Nazar Eu podia ter ficado ali batendo na porta até Neide finalmente abrir e me deixar falar, mas quer saber? Foda-se. Se ela queria agir como uma maluca, problema dela. Soltei um suspiro irritado, massageando os dedos doloridos depois da porrada que levei no batente da porta. — Essa mulher vai me deixar louco... Bufei, me virei e segui para o meu quarto. Me joguei na cama, mas o sono não veio. Não importava o quanto eu fechasse os olhos, minha mente ainda estava acelerada. O dia tinha sido longo, cheio de informações sobre minha família, e agora, no final da noite, Neide tinha me tratado como um estranho. Isso não fazia sentido. Me virei para um lado. Depois para o outro. Porra, será que essa mulher enfeitiçou meu cérebro? Impaciente, me levantei e saí do quarto. Talvez um copo de água ajudasse. Desci as escadas, caminhando em silêncio até a cozinha. O ambiente estava escuro, exceto por uma luz suave vinda de uma das luminárias. Fui até a geladeira