Capítulo 61 Don Alexei Kim Dirigir me dava controle, um pouco do que havia perdido ao ouvir o nome de Anton. O motor rugia como a raiva que queimava dentro de mim. Enquanto avançávamos pela estrada deserta, minha mente girava com planos de retaliação. Anton não era apenas meu irmão; ele era sangue do meu sangue. E ainda assim, havia traído tudo pelo que lutamos. Maria Luíza quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas firme: — Não deixe que a emoção te cegue. O que Anton fez foi imperdoável, mas precisamos pensar estrategicamente. Olhei para ela por um breve momento, admirando a calma em sua postura. — Estratégia? Ele não merece isso. Ele merece sentir na pele o peso da traição — rebati, amargo. — E ele vai sentir. Mas você não pode simplesmente explodir e deixar de lado tudo o que construiu. Pense na sua filha, no legado dela. E se acontece algo com você? — ela continuou, com o tom frio, mas as palavras carregadas de razão. Fiquei em silêncio por um instante
Capítulo 62 Maria Luíza Duarte Senti meu coração acelerar, e pela primeira vez, as palavras de Alexei me desarmaram completamente. Ele podia ser bruto, controlador e implacável, mas naquele instante, era só um homem confessando sua rendição, ou talvez até fosse amor... caramba! Amor? — Você é perigoso, Alexei Kim, mais do que deveria ser — murmurei, ainda segurando minha mão sobre seu peito. — Porque agora, eu também não tenho escapatória. — Não precisa ter. E não pare o que estava fazendo. É uma ordem. Ele sorriu de canto, mas agora parecia quase vulnerável. Puxou-me com cuidado, segurando minha nuca com firmeza, mas sem pressa. Quando nos beijávamos, não havia disputa de poder, apenas uma conexão que fazia todo o caos ao nosso redor sumir. Naquele momento, não havia Anton, nem traições, nem guerras. Apenas nós dois, como duas metades de um mesmo problema que, de alguma forma, encontraram a solução no meio de tanto fogo cruzado. Toquei seu peito, senti
Capítulo 63 Maria Luíza Duarte Acordei de manhã, me virei na cama, esperando encontrar Alexei ao meu lado, mas tudo o que havia era o travesseiro ainda amassado. Passei a mão no lençol frio, indicando que ele tinha saído há horas. Suspirei. Ele fazia isso com frequência, desaparecia em suas tarefas misteriosas, mas ainda assim, o vazio ao meu lado me incomodava. “Qualquer hora vou fazer algo diferente, ele vai ver!“ Levantei e me vesti rapidamente. Havia coisas a fazer, e a primeira delas era buscar Sofia. Entrei no cômodo onde Neide cuidava da pequena. A babá, sempre atenta, segurava a princesa com carinho, balançando-a suavemente enquanto cantarolava uma canção de ninar em voz baixa. Assim que Sofia me viu, seus olhos se iluminaram, e um som de contentamento escapou de sua boquinha. Ela começou a agitar as mãozinhas no ar, como se quisesse voar para os meus braços. — Olha quem chegou, Sofia! — disse Neide, com um sorriso acolhedor. — A mamãe Malu veio te
Capítulo 64 Don Alexei Kim Caminhei pela casa até encontrar Hélio no escritório principal, sentado à frente do computador com os óculos levemente tortos no rosto. Combinei com ele de fazer um jantar, pedi para que convidasse apenas quem Malu gosta, e o resto eu cuidaria. — Nazar! — chamei, e ele apareceu na porta segundos depois, a postura rígida e os olhos atentos. — Sim, Don. — Hoje à noite teremos um jantar. Quero que coordene a segurança e avise aos responsáveis para organizarem a casa. Nada pode sair do lugar. Entendido? — Sim, senhor. Algo mais? — Sim, Neide. Ela vai te ajudar, hoje. Nazar assentiu e saiu sem questionar, como sempre. Ele era eficiente, ainda que sua personalidade às vezes irritasse Malu. Depois de passar as instruções, fui até a cozinha. Neide estava organizando o café da manhã. — Neide, leve essa bandeja para o quarto da minha mãe. Maria disse que ela estava sonolenta mais cedo. Certifique-se de que tomou os re
Capítulo 65 Don Alexei Kim Acordei com uma estranha sensação de vazio ao meu lado. Estiquei a mão, ainda sonolento, mas Malu não estava na cama. Franzi o cenho, levantando-me de imediato. Apesar do cansaço acumulado pela noite, algo parecia errado. Malu não costumava sair do quarto sem avisar, especialmente àquela hora. Calcei os chinelos e fui direto procurá-la. Desci o corredor em direção ao quarto da Sofia, mas a pequena dormia e Neide também. Fui na direção ao quarto que a minha mãe estava. Ao abrir a porta, a cena que encontrei me deixou surpreso. Malu estava de pé ao lado da cama da minha mãe, enquanto um homem estranho mexia em alguns papéis sobre a mesinha. A postura dele era descontraída, mas firme, como alguém que sabia o que fazia. Zaia estava mais ao fundo, escorada na parede, visivelmente tensa. O rosto dela estava tão pálido que parecia uma folha de papel. — Quem é ele? — questionei. Malu se virou, segurando um copo vazio na mão. Ela parecia tr
Capítulo 66 Don Alexei Kim A sala estava mergulhada em um silêncio, quebrado apenas pelo som das teclas sendo pressionadas por Fred, enquanto ele e Malu analisavam as imagens das câmeras. Meu pai estava ao lado dela, com os braços cruzados e a expressão severa. Ele não era um homem de demonstrar nervosismo, mas a tensão no ar era impossível de ignorar. Eu me recostei na porta, tentando acalmar a raiva que fervilhava em meu peito. Minha mente estava fixa em Anton, no quanto ele nos manipulou, no quanto ele quase destruiu tudo o que construí. Eu não conseguiria descansar até ver aquele traidor diante de mim. — Aqui — disse Malu, sua voz firme enquanto apontava para a tela. — Ele esteve nesse prédio ontem à noite. As câmeras externas captaram sua saída por volta das 22h, e pela ligação tem uma mulher lá. Estranho é que puxando as imagens que temos, ele não saiu. E seu pai disse que o viu de manhã... Fred ampliou a imagem, ajustando o ângulo para mostrar um estacionamen
Capítulo 67 Don Alexei Kim Malu mantinha os olhos no tablet, analisando cada detalhe com precisão cirúrgica. Não parecia hesitante, mas sim completamente segura. Isso me deixou inquieto e, ao mesmo tempo, mais confiante na decisão. — Se estivermos certos, ele estará lá com pelo menos dois homens — ela falou, ainda olhando o mapa. — Não subestimem o Anton. Ele é astuto, não estará sozinho, com certeza. — Não se preocupe, ele não vai escapar dessa vez — respondi, seco, enquanto destravava a pistola no meu colo. O trajeto até o depósito levou cerca de dez minutos. O local era típico de alguém que queria desaparecer: isolado, pouco movimentado e estrategicamente próximo ao porto. Assim que nos aproximamos, dei a ordem para apagar os faróis. Paramos cerca de 200 metros antes da entrada. — Nazar, leve três homens para a lateral. Quero cobertura. Eu e Malu entraremos pela frente com o restante. Quero ele vivo, mas não hesitem se for preciso derrubar algum soldado.
CAPÍTULO 1 Maria Luíza Duarte Desci as escadas de casa correndo, com um sorriso no rosto e um envelope na mão. Marco precisava saber da minha melhora. Ele era o motivo pelo qual eu me sentia tão bem nas últimas semanas. Apesar de ser um dos soldados do meu pai, Marco sempre me tratou com respeito. Seus beijos e carinhos faziam meus dias mais leves, mesmo que nosso relacionamento fosse um segredo. Atravessei a sala sem olhar para os lados, passei pelo jardim e fui direto para a casinha dos fundos, onde os soldados moravam. Eu sabia onde ficava o quarto dele. Só tinha entrado uma vez, mas hoje queria surpreendê-lo logo de manhã, contar sobre o laudo médico e como os resultados foram bons. A porta estava apenas encostada. Coloquei a mão na maçaneta e a abri devagar. Meu coração acelerou no peito. "Marco?" sussurrei para mim mesma, incrédula, ao ver a cena que me destruiu por dentro. O ar pareceu sumir. Uma dor aguda atravessou meu peito e precisei me concentrar para nã