Capítulo 260 Fred (dias depois) A viagem para a Inglaterra já estava planejada há dias, mas só quando pisamos no aeroporto percebi o peso real da situação. Eu sabia que Ivete estava tensa, e não a culpava por isso. O que quer que ela estivesse procurando aqui, não era algo simples. Era um pedaço do passado dela que precisava ser resolvido. E eu estaria ao seu lado para garantir que nada saísse do controle. Nosso grupo era discreto, mas eficiente. Seis soldados bem treinados, escolhidos a dedo pelo próprio Don, além de mim e de Ivete. Apesar da aparência casual, cada um de nós sabia exatamente qual era o protocolo em caso de problema. Ivete optou por usar um hijab, e eu respeitei sem questionar. Se aquilo a fazia se sentir mais confortável e segura, eu não tinha nada a dizer. Apenas me certifiquei de que ela soubesse que, independentemente de qualquer coisa, eu estava ali por ela. Enquanto atravessávamos o terminal, notei seu olhar inquieto, a forma como os dedos
Capítulo 261FredO velho suspirou antes de começar a falar. Seu olhar se perdeu por um instante, como se estivesse puxando memórias de um passado distante.— O Chefe tinha um irmão mais novo. Um garoto problemático, mas bom de coração. Desde pequeno, enfrentava muitos problemas de saúde. Fragilizado, dependia do irmão para tudo. E o Chefe... Bem, ele sempre foi um homem prático. Cuidava do irmão, mas sem sentimentalismos exagerados. Um dia, esse rapaz faleceu, e foi um baque para todos. Ele era a única família direta que o Chefe tinha.O silêncio na sala ficou pesado. Ivete mantinha a cabeça baixa, absorvendo cada palavra. O homem continuou:— Não muito tempo depois, apareceu uma mulher, desesperada, jurando que estava grávida dele. Disse que era um relacionamento secreto, que ele prometeu cuidar dela. Mas o Chefe... Ele não acreditou. Seu irmão lhe contava tudo, e nunca mencionou essa mulher ou uma filha a caminho. Ainda assim, ele não era um homem cruel. Acolheu a mulher. Deixou qu
Capítulo 262 Ivete Eu encarei o homem por alguns segundos, sentindo um peso enorme sobre os ombros. Aquilo tudo parecia de outro mundo. Uma herança, negócios, dinheiro... Eu nunca quis nada disso. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim gritava que essa era a única coisa que meu tio me deixou. A única conexão que eu tinha com ele. Com alguém da família do meu pai. Olhei para Fred, buscando algum tipo de resposta. Eu conhecia esse senhor a nossa frente, trabalha desde aquela época para essa família. — Você pode me ajudar com isso? — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia — Eles tem empresas de comunicação e desenvolvem muito na área de tecnologia. Ele sorriu de canto, já pegando os documentos da mesa e começando a folheá-los com atenção. Eu sabia que ele levaria isso a sério. Se havia alguém em quem eu confiava para resolver esse tipo de coisa, era Fred. — Posso sim — ele respondeu, analisando cada detalhe. — Vou revisar tudo e garantir que não tenha nenhuma
Capítulo 263 Ivete Fred continuou dirigindo enquanto eu ainda abraçava minhas sacolas de pantufas como se fossem relíquias preciosas. De vez em quando, olhava para ele e soltava uma risadinha, ainda meio incrédula com tudo o que tinha acontecido naquele dia. — Você acha que agora eu tenho que agir de forma diferente? Como uma pessoa rica? Ele soltou uma risada, mantendo os olhos na estrada. — Ah, claro! Agora você precisa começar a usar palavras chiques, beber chá com o dedo mindinho levantado e chamar todo mundo de "querido". — Humm... Vou tentar — brinquei, forçando uma pose de nobreza. — Isso significa que eu vou ter que usar terninhos e falar difícil? — perguntei de repente, olhando para Fred. Ele soltou uma risada, balançando a cabeça. — Se quiser, mas duvido que você consiga ficar séria por mais de cinco minutos. — É verdade. — Suspirei teatralmente. — Eu gosto muito das minhas roupas confortáveis. Será que posso administrar um império de pantufas?
Capítulo 264 Maria Luiza Duarte A brisa fresca da manhã acariciava meu rosto enquanto eu me balançava levemente na cadeira de balanço da varanda. O sol estava suave, iluminando a paisagem com tons dourados, e o silêncio era confortável. Meus pequenos dormiam tranquilamente no carrinho duplo ao meu lado, e minha mãe tinha ido ao banheiro. Neide havia saído para levar Sofia para buscar uvas na cozinha, enquanto Alexei tinha saído a trabalho. Tudo parecia sob controle. Até que, de repente, o silêncio foi interrompido por um choro agudo. Não um, mas dois. Meu coração acelerou imediatamente, Beatrice e Andrey choravam ao mesmo tempo e eu estava sozinha. Me inclinei para o carrinho, tentando encontrar a causa do desconforto. Será que estavam com fome? Frio? Calor? Nada parecia ter mudado. Mas, ainda assim, eles choravam. Não, não apenas choravam — gritavam. Suas vozinhas frágeis e desesperadas estavam fortes aos meus ouvidos, como um alarme incessante dentro da minha cabeça.
Capítulo 265IveteEu e Fred estávamos chegando em casa quando uma cena inusitada me fez gargalhar alto. Dois brutamontes de preto, armados até os dentes, empurrando um carrinho de bebê sob a vigilância atenta do Don.— Os soldados empurrando o carrinho com os... — comecei, mas travei no meio da frase ao lembrar da última vez que chamei os bebês de "bezerrinhos". Alexei tinha me lançado um olhar tão gelado que, por um segundo, achei que ia levar um tiro.— Com quem, Ivete? — ele me perguntou.— Os gêmeosinhos.E agora lá estava ele, parado, me encarando de novo. Eu rapidamente limpei a garganta, disfarçando.Fred, sempre mais sensato que eu, aproveitou a oportunidade para puxar Alexei de lado.— Precisamos conversar — disse ele, e Alexei assentiu, nos levando até o escritório.Lá dentro, Fred fechou a porta e se virou para Alexei com a expressão séria.— Acho que nosso tempo aqui na Rússia chegou ao fim. Está na hora de voltarmos para casa.O Don arqueou uma sobrancelha, cruzando os b
Capítulo 266NeideDesci as escadas com calma, já era noite e as crianças dormiam tranquilamente. A casa estava silenciosa, mas um murmúrio distante me fez franzir a testa. Vozes... estranhas para aquele horário. Não era comum haver conversa na sala tão tarde, principalmente agora que tem menos visitas. Meu instinto me fez acelerar os passos, o coração já começando a bater mais rápido.Ao chegar ao final da escada, a visão que tive fez meu peito dar um salto inesperado."Nazar". Ele estava de volta. "Como? Não faz um mês que saiu."Meu corpo se moveu antes que minha mente pudesse processar qualquer coisa. Caminhei apressada até ele e, sem sequer perceber, abracei-o com força.Sentir sua presença de novo, o calor de seu corpo forte e a familiaridade do cheiro dele, fez algo dentro de mim se aquecer de maneira estranha. Nazar retribuiu o abraço, mas estava rígido, imóvel. Só então percebi que algo estava errado. Ele não fez nenhuma piada, nenhuma provocação. Não houve aquele sorriso to
Capítulo 267NeideO beijo de Nazar estava diferente, mais humano, com um toque que me pegou desprevenida. Ele não tentou avançar, não me puxou com força, não forçou nada. Apenas me beijou, lento e firme, como se estivesse absorvendo aquele momento.Por um instante, fiquei esperando sua mão deslizar pela minha cintura, apertar minha bunda como ele sempre fazia, com aquela confiança irritante e excitante ao mesmo tempo. Mas nada disso veio. Nazar só me segurou, os dedos se fechando levemente na minha cintura, sem intenção de tomar mais do que eu quisesse dar.Eu o beijei de volta. Porque queria, porque precisava sentir que ele ainda estava ali.O gosto dele era o mesmo, mas o toque era outro. Havia algo naquele beijo que eu nunca tinha sentido antes com Nazar. Não era desejo bruto, não era aquela guerra silenciosa que sempre travávamos. Era... outra coisa. Um pedido de conforto, talvez.Quando o beijo se desfez, ele não disse nada. Só ficou ali, me olhando, como se tentasse encontrar a