Ame ou odeie

Trabalhar com Christian não era algo que Sophia esperava que seria tão difícil. Sim, ela era uma profissional que sabia dos seus limites, mas tinha um passado com esse homem que ele não lembrava. E ela faria de tudo para esconder isso no quarto escuro da sua memória.

Christian Harrison era o homem mais safado de toda a Hollywood. Isso desde que começou a atuar com 10 anos. E aos 24 anos, fez o papel de um adolescente jogador de futebol.

Nessa época, Sophia era só mais uma menina fissurada pelo mundo mágico das séries e filmes. Com 10 anos colecionava pôsteres de Christian só de calça jeans surrada, no quarto. No seu caderno tinha imagens dele como o Tomás Philips, o garoto com o sonho de ser um grande jogador de futebol que ele interpretava.

Esse foi o período em que os fã-clubes estouraram, e ela estava lá, fascinada pelo cara mais gato do momento.

Ela queria ser dentista, como o seu pai. Seria o orgulho da família. Mas sua paixão pelos filmes e por Chris a levou para o teatro. Assim, ela declarou guerra com o seu pai, que surtou, dizendo que isso nunca a levaria a nada.

O pobre não fazia ideia de que a determinação da sua filha e a paixão dela por um certo famoso a fariam se esforçar tanto, que logo teria oportunidade em uma série pequena que a levaria para muitas outras. E mesmo que sua relevância fosse mínima naquela época, ela soube esperar até que, finalmente, chegasse às grandes produções.

Nesse meio tempo ela só queria encontrar Christian Harrison, o seu maior ídolo da adolescência. A festa na casa de um produtor famoso lhe deu essa oportunidade perfeita. Ela estava nervosa, ansiosa, e quase perdeu a compostura, mas então respirou fundo, esperou o momento ideal e se aproximou dele, tímida e com o coração na boca.

Ele não a percebeu chegando, estava fitando uma loira do outro lado da sala. Ela não se importou, respirou e abriu a boca, dizendo que era sua fã. E... o Chris foi o Christian de sempre: ignorou-a, levantando uma das mãos, disse que não estava autografando e que ela não era mais importante do que sua possível conquista peituda no lado oposto do cômodo.

Sophia ficou parada, sem mais palavras. Ela esperava pelo menos que ele a olhasse no rosto, porém ele saiu, foi embora, deixando-a decepcionada.

É como se diz: nunca conheça seus ídolos.

No entanto, em Hollywood, as coisas não são perfeitas; uma hora ou outra eles iriam se topar. “Até que demorou”, ela pensou. Achou que seria só uma interação pequena e sem relevância, entretanto veio o longa escrito por Jonathan Spector: Meu amor de mentira. Ela conseguiu o papel da mocinha. Sophia já tinha sido, várias vezes, protagonista, desde que começou, mas daquela vez as coisas estavam complicadas.

De início ela não sabia quem seria o seu par. O diretor fez todo um drama, guardou a informação e a fez odiá-lo de primeira. Então, no primeiro dia, com o texto na cabeça e na mão, ela entrou no set de filmagem, foi ao seu camarim e fez todos os procedimentos que sempre fazia. Até que se esbarrou em um homem alto e muito arrogante.

Os dois se olharam e ela ficou calada com a surpresa. Já Chris, com aquele olhar de caçador, varreu o seu corpo dos pés à cabeça e abriu um sorriso safado no final. Ele não a reconheceu do passado, mas sim da sua carreira como atriz.

Aquele sorriso a prendeu e fez com que seu corpo tremesse. Sua língua sumiu e ela mal o ouviu falando.

Diferentemente do passado, ali, Sophia despertou o seu interesse. Ela era uma mulher bonita de 27 anos, com curvas e cabelos ondulados cor de chocolate. Sua boa forma era rigorosamente regida pelo seu agente e por sua assistente pessoal. Mesmo usando o figurino, estava bonita e encorpada.

Já Chris tinha acabado de chegar. Usava roupas de verão com o fundo branco e estampas laranja e verdes, além de óculos escuros que escondiam seus belos olhos azuis. O jeans era perfeito na sua bunda, algo que ela nunca havia deixado de admirar, ainda que nutrisse um rancor no peito por ele desde o último encontro dos dois.

Aqueles lábios estavam muito perto dela, e ela chegou a encará-los por um bom tempo.

Falando em tempo, ele foi muito bondoso com aquele cafajeste que, ano após ano, ficava cada vez mais gostoso.

Christian não conhecia a jovem de olhos castanhos muito bem, só a via em algumas recepções, encontros casuais ou nas telas. Assim que pôs os olhos nela, soube que ela era diferente. Por incrível que pareça, ela chamava a sua atenção de formas incomuns. Ele tinha uma velha lembrança que os ligava, só não conseguia se lembrar.

Naquela hora ele quis conhecê-la melhor. Sua boca carnuda, o perfume sutil e os seios fartos prendiam sua atenção. Então, do nada, ela o empurrou para longe, com fogo nos olhos, deixando-o confuso.

Ele se perguntou de onde a conhecia ou o que tinha feito a ela.

Os dois seguiram seus caminhos, até pararem lado a lado naquela cena. Sem demonstrar, Sophia estava nervosa, com seu coração na boca e as mãos suando. Isso afetou sua interpretação, até, curiosamente, ele ser gentil e a ajudar.

Sophia não entendeu, só que os anos de experiência lhe ensinaram a se conectar com seu parceiro. Ela não poderia deixar que aquela raiva a impedisse de trabalhar.

Pior foi notar que, ao deixar isso de lado e interpretar aquele papel, eles conseguiram o que ela jamais esperava: realmente se deram bem e entregaram um clima de romance que quase fez Sophia esquecer que, no final de cada gravação, ele voltava a ser o odioso Christian Harrison.

— Para de me encarar desse jeito, ou vou acabar colocando você contra a parede. — Chris estava do outro lado da sala de um evento relacionado ao final das gravações do filme e à sua estreia, porém fez questão de sair de onde estava só para a provocar e lhe questionar sobre seus olhos furtivos, que diziam o quanto ela queria a atenção dele. No entanto, sua boca sedutora e atrevida teimava em proclamar outras palavras que não fossem de desejo.

Ele gostou do que aconteceu naquele set de filmagem. De uma hora para a outra, encontrou uma parceira com quem se conectou tão bem, que os dois realmente viveram aquele amor. Só que sem as regalias do prazer.

Christian tentou se recordar de algum momento da sua vida em que tinha atuado ao lado de alguém tão espontânea e... provocativa. Ele sentia o quanto ela o odiava. E diferentemente de Sophia, ele gostava dela. Sua língua solta já o tinha feito tirar o sorriso convencido dos lábios várias vezes. Porém, com essa pimentinha, ele não estava disposto a brigar, mesmo que, no fundo dos seus olhos, enxergasse uma chama ardente que o atraía.

— Se acontecer, vou acusá-lo de assédio.

— Se acontecer, vai gostar tanto, que desejará repetir — sussurrou ao seu ouvido.

Ele tinha que admitir que aquele perfume era raro, afrodisíaco e o deixava louco. Lembrou-se de que todas as vezes que seu personagem a beijava, não era apenas ele. Naqueles momentos os dois se aproveitavam dessa desculpa para pôr tudo para fora.

— Acha que não sei que sua calcinha está molhada agora?

— Você não me atrai nem um pouco — ela disse as palavras com raiva, por saber que mentia.

Sophia estava excitada. Algo que a torturou por todos aqueles meses. Não tinha como odiar aquele corpo e eletricidade, embora se esforçasse.

Chris riu bem na sua cara, olhando em seus olhos. Ele queria tirá-la daquele banco de madeira, arrastá-la para o banheiro e provar que ela estava mentindo.

— Mentirosa.

— Não tem nada melhor para fazer? — Ficou nervosa e, como sempre treinava, pensou em algo ruim. Geralmente se recordava da humilhação que ele a fez passar. Pensando assim, sentia mais raiva do que desejo. — Como caçar sua próxima vítima?

— Estou olhando para ela agora mesmo.

Para ele, era bom irritar a mulher que teimava em não se entregar aos seus braços definidos. Essa era a parte perigosa dali. Chris só precisava de duas conversas com uma mulher antes de eles acabarem na cama. Sophia, por sua vez, já torrava a sua paciência há meses. Ela era difícil. Pior, estava quase o fazendo perder a honra.

— Você é irritante, sabia? — ele comentou.

— Sou? — Ela ficou orgulhosa. — Isso me deixa feliz.

— Claro que sim. Gosta de me torturar.

— Você não vai ganhar nada aqui. — Ela se inclinou sobre o vidro do balcão, mostrando o seu decote. Chris tentou, mas não conseguiu desviar o olhar dele. — Não precisa perder seu tempo.

— Mulher, eu nunca desisto. — Também se inclinou.

Os dois estavam cara a cara, entreolhando-se, em um jogo de sedução. Para quem estava de longe, aquilo parecia uma conversa interessante. Pior, um romance. Esse era o ponto que agradava seus espectadores e agentes.

— Eu desistir seria declarar que perdi o brilho.

— Ah, não se preocupe. — Pegou o copo com sua bebida favorita, um Martini, e bebeu, encarando-o. — A questão é mais pessoal.

— Ah, é? — Franziu o cenho, curioso. — Estou interessado em saber.

— Você é um safado, gosta de colecionar conquistas. E eu não serei uma — foi fatídica. — Simples.

— Então, eu não tenho chance? — Isso não importava, seu objetivo era a irritar e a seduzir.

— Nenhuma. — Deu de ombros. — Vou ficar longe das suas polêmicas não sendo mais uma na sua lista.

— Ok, florzinha. — Levantou-se do assento. — Mas se eu fosse você, não diria “nunca”. — Sophia se encostou no vidro, assistindo-lhe. — Além do mais, eu não vou atrás das polêmicas, são elas que me perseguem. Não sou o monstro que pensa.

— Você é arrogante e egocêntrico. Uma mistura perigosa.

Ele a encarou com um dos melhores sorrisos que já havia dado.

— Todos em Hollywood correm o risco de se meter em merdas, até mesmo você.

Infelizmente, ele tinha razão. Todos ali estavam em um buraco de formigas venenosas, apesar de essa ser uma ofensa aos insetos. Nada ali era magia, como ela pensava antes de entrar nesse mundo. Tudo, ou praticamente tudo, era falso. As pessoas sorriam falsamente, eram amigas por interesse e tinham relações baseadas na falsidade, embora algumas saíssem pela culatra. Era difícil confiar em alguém que não fosse realmente seu amigo.

Christian passou por uns bocados naquele lugar. Era perseguido por ser conhecido, e muitos não o olhavam com respeito. Claro que ele não era um santo. As suas escolhas, sendo as mais erradas, não ajudavam. Mas ele não era um monstro. Assim pensava.

Olhando-o se afastando, Sophia se questionou se estava sendo muito dura com ele. Então se lembrou do modo rude como ele a tratou, e mesmo sabendo que isso havia sido há muito tempo, que eles eram mais jovens, não conseguia abandonar a adolescente magoada pelo seu ídolo.

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