Quando Alice percebeu que o ônibus tinha parado já estava na capital. O céu já estava escuro e as luzes da cidade já brilhavam para mostrar que estava em um lugar totalmente diferente. Até mesmo a rodoviária era muito maior que na sua cidadezinha, com muitos ônibus parados e passageiros embarcando e desembarcando.
Ela saiu do ônibus arrastando a sua mala e resolveu ligar o celular para olhar a hora. Uma pessoa com muita pressa esbarrou nela, mas nem olhou e correu na direção de outro ônibus parado ali. O celular que estava na mão de Alice caiu no chão longe dela e trincou a tela.
- As pessoas aqui não olham para onde estão indo, passam pela gente como furacão. – Resmungou ela.
Quando estava juntando o celular no chão, ouviu um choro desesperado de uma criança. Olhou em volta e viu um garoto agachado atrás de uma floreira, agarrando suas pernas.
-Oi, garoto! Posso te ajudar? Onde estão seus pais?
-Você só pode me ajudar se você vai me tirar daqui e me levar para bem longe. – Gritou o garoto. – Do contrário, fique longe de mim.
-Pra onde você quer ir? Onde estão seus pais? Você não me respondeu essa última pergunta.
O garoto acalma um pouco o choro, mas logo começa de novo, não conseguindo falar. Alice fica com muita pena dele e o abraça falando.
- Venha aqui. Um abraço sempre ajuda quando estamos tristes. Que tal a gente comer um lanche, eu estou com fome. Você não está?
O garoto simplesmente assenti concordando entre os braços da Alice. Eles caminham alguns passos e logo encontram uma lanchonete praticamente vazia devido ao avançado da hora. Sentam-se em uma mesa perto da janela e uma garçonete muito jovem, mascando chicletes aparece para fazer o pedido.
-O que vocês vão querer?
-Eu quero um café preto, sem açúcar e bem forte e para comer um sanduíche. E você garoto?
-Eu quero cachorro quente, tem? -ele respondeu animado- E refrigerante.
A garçonete assente para responder a pergunta do menino e anota os pedidos. Quando a garçonete saiu Alice olha para o menino e pergunta:
-Você pode me dizer o seu nome e o que está fazendo a essa hora em uma rodoviária sozinho?
-Eu queria fugir daqui, já que não tenho ninguém que me ame. Só que a mulher do guichê disse que só posso ir acompanhado de um adulto.
-Então você fugiu de casa? – Ela sorriu pensando na ironia, dois fugitivos lanchando na metade da noite em uma rodoviária.
-É.
-Depois de lancharmos você precisa voltar para casa, está bem? Você lembra do seu endereço?
-Sim, eu sei o meu endereço. Só que não quero voltar pra casa. - Ele dá um suspiro de decepção e depois continua: - Meu pai nunca tem tempo pra mim, trabalha o tempo todo, não ganho nem meus beijos de boa noite que ganhava uma vez. Acho que ele não me ama mais.
- Não diga isso, seu pai deve te amar muito. Só deve estar ocupado demais para te dizer isso. E agora ele provavelmente está desesperado procurando você.
O garoto dá um suspiro novamente. O Lanche chega e os dois devoram, pois estavam famintos. Alice pega o garoto por uma mão e sua mala na outra e os dois saem da lanchonete depois de pagar a conta.
- Já que você me contou a razão de ter fugido, pode me falar seu nome? Perguntou Alice.
- João Pedro. E o seu?
-Alice.
-Minha mãe me contou a história da Alice no País das Maravilhas a muito tempo. - Começou a chorar de novo.
Nesse momento, eles chegaram ao ponto de táxi e entraram em um. Então Alice deu um abraço apertado no garoto que parou de chorar e deu o endereço para o motorista.
Ao longo do caminho houve um silêncio mortal. Ninguém falou nada. Alice estava olhando o mar de prédios pelos quais estavam passando que com o andar do táxi foram diminuindo, dando lugar a casas luxuosas. Quando passaram pela entrada de um condomínio, o guarda olhou viu João Pedro e os deixou passar.
O táxi parou bem em frente a casa de João Pedro. Alice paga o táxi e sai pasma de admiração por aquela mansão de dois andares, muitas janelas, um jardim de contos de fadas e a entrada da casa tem uma porta enorme de madeira maciça. Ela anda em direção a porta imaginando qual será a reação do pai de João Pedro, torcendo para que não seja um homem tão frio quanto o menino falou.
Alice respira fundo e toca a campainha. Ao longe se ouve passos se aproximando rapidamente. Um homem alto, loiro de olhos cor de avelã abre a porta. Ela sente um arrepio quando olha para ele e ao mesmo tempo fica fascinada pelos seus traços perfeitamente esculpidos. Porém, quando ele vê Alice ali parada o encarando quase de boca aberta, fica furioso:-Quem é você? Como te deixaram entrar no condomínio? Pago por segurança e primeiro meu filho some e depois alguém que não conheço bate em minha porta.Alice dá um passo pra trás com medo do que ele possa fazer e se arrependeu de ter um coração bom e querer ajudar o garoto. Ela suspira e depois toma coragem de falar.- Desculpe incomodá-lo, senhor. Eu encontrei um garoto que disse morar aqui e o trouxe. – Falando isso ela tira João Pedro
Arthur que está no topo da escada observando- a antes de descer quando ouve o telefone. Ele pára e espera para que ela possa falar ao telefone antes de o ver.-Alô! Oi, mãe!- O que você fez Alice? - Uma voz preocupada do outro lado da linha.- Eu sei mãe, eu não deveria ter fugido. Só que não podia casar com aquele homem. Eu não queria passar o que passei nos últimos anos pelo resto da minha vida. - Ela fala isso e lágrimas começam a rolar pelo seu rosto.- Então é verdade. Nós achamos que você falou só para não se casar com ele.- Eu contei pra vocês a verdade, mas vocês preferiram acreditar nele e não em mim. Eu não pude fazer mais nada além de fugir.-Desculpa, filha!
Alice sai de perto do patrão e repara em como ela é bonita, mas se veste de uma forma desastrosa. Quando ela volta ele fala:-Vou pedir para uma loja mandar alguns uniformes para você amanhã. Você poderia me dizer o seu tamanho.- Eu uso tamanho médio, mas eu gostaria que não fosse saia ou vestido, por favor.- Certo. Vou pedir calças para você. Pode ser?- Sim. Obrigada. Vou para cozinha, qualquer coisa é só chamar. – Alice saiu e foi para a cozinha lavar as louças que deixou depois de preparar o café.- Alice, você ficou? - Disse João Pedro, correndo para abraçá-la.- Sim, fiquei para cuidar de você. - Ela falou isso abaixando- se para retribuir o abraço. - Agora vá tomar seu café
Chegando na cozinha, passou pela mesa do jantar e viu que estava limpa assim como toda a cozinha, mas não viu nem rastro da Alice: “Julieta deve ter voltado”. Serviu um copo de água e quando estava tomando escutou gritos e correu para ver de onde vinham. Era um quarto de empregada.- Não, por favor pare. - Gritava Alice- Eu não quero.Arthur achou que alguém estava no quarto com ela e abriu a porta para socorrê-la, mas ela estava tendo um pesadelo e estava muito perturbada, então ele resolveu acordá-la.- Alice acorda, você está sonhando. – Ele disse enquanto sentava na beirada da cama. Olhando bem para ela percebia-se que chorou até adormecer e deve ter pensado em coisas que a atormentavam. - Alice - ele deu um pequeno chocalho nela.- O quê. - Ela levantou se supetão. - O qu
Na manhã seguinte Alice levantou cedo e foi até a cozinha ajudar Julieta a terminar o café da manhã. Quando terminaram de colocar tudo na mesa Arthur chegou, sentou-se e começou a comer.- Alice, preciso que, as doze e quarenta, meu filho esteja na entrada do condomínio para pegar a carona para a escola. Se você sabe dirigir pode usar um dos carros da garagem.- Sei, sim senhor. Posso te pedir um favor?- Claro, diga.- Preciso consertar meu celular, deixei cair quando encontrei seu filho e quebrou a tela. Se você conseguir o consertar pode descontar do meu salário no final do mês.- Deixe-o comigo e farei isso para você. A propósito, seus uniformes chegaram hoje à tarde.- O que o senhor quer que eu faça enquanto seu filho está na es
No sábado Alice estava dando almoço para João Pedro quando Arthur chegou e entregou-lhe um presente.- Obrigado, mas não posso aceitar.- Aceite. Você me salvou de um colapso nas minhas lojas.- Como assim?- Descobri que os funcionários que eu mais confiava estavam me roubando e se não fosse o que você me disse naquele dia de noite eu nem suspeitaria. Outra coisa, foi muito gentil deixar a janta pra mim no microondas.- Que bom que meu conselho estava certo e você descobriu as coisas a tempo, mas você não precisa me agradecer.- É só um pequeno presente, um vestido da nossa nova coleção de inverno. Eu tenho algumas lojas de roupa de grife e este é exclusivo, gostaria que aceitasse.Alice abriu o present
Já que Alice estava de folga no domingo ela resolveu dar uma volta pela cidade. Chamou um taxi e foi para a praça central dar uma olhada, caminhou um pouco, olhou de longe o palácio do governador e almoçou em um shopping perto. Depois de andar um pouco pelos corredores se dirigiu para a saída quando viu um evento sendo organizado em uma das salas e Arthur tentando resolver problemas por telefone.- Posso te ajudar? Perguntou ela ao se aproximar.- Oi, Alice!- Olhou para ela com admiração quando lembrou da entrada de sua casa que ela redecorou.- Talvez você possa. Preciso de ajuda para decorar o local. A decoradora ficou doente. E está tudo uma bagunça.- Vou dar uma olhada e ver o que posso fazer.Ela entrou no espaço e organizou os arranjos de flores e pediu para que os garotos que estavam colocando as ca
Os dois saíram do shopping e Arthur dirigiu pelo centro da cidade até o porto. Lá havia um restaurante na costa do rio que atravessa a cidade, muito luxuoso, Alice nunca tinha visto um lugar tão bonito. Com lustres caríssimos pendendo do teto e as mesas decoradas com pequenas velas e orquídeas.- Lindo esse lugar. – Exclamou Alice.- Foi aqui que pedi a mão de Andreia em casamento. - Disse ele quase arrependendo-se de ter levado Alice para aquele lugar. Seu olhar ficou um pouco triste e Alice percebeu.- Podemos mudar de ideia se quiser.- Não, eu trouxe você aqui porque sei que você vai gostar do que vai ver.A recepcionista chega e conversa com Arthur, depois pede que sigam até o local reservado para eles. Saíram pela porta lateral e a mesa estava do lado de fora com a