Marcelo.— Oi, mano, como está? — Mateus, meu irmão mais velho, chegou quando a enfermeira levava Thalia para a ala médica. Eu já estava passando os dados dela para a recepcionista.— Preocupado. Thalia tem passado muito mal desde que descobriu a gravidez.Seu rosto se tornou pesaroso.Ele tocou meu ombro.— De quantos meses ela está?— Dois, parece que vocês medem as gestações por semanas e ela está para completar doze semanas.— Sim, isso corresponde a dois meses mais ou menos. O que ela tem sentido? Não quer entrar com ela?— Eu posso? — Meu tom se elevou um pouco. — Não sou nada dela e... não sei se ela me quer lá dentro.— Você me disse há dois dias que iria acompanhá-la no pré-natal, você a trouxe e está quase tendo um treco de tão preocupado, acha mesmo que, estando tão mal, ela vai querer ficar sozinha?Soltei um suspiro.— Tem razão. Ela tem vomitado muito e tem sentido muita dor de cabeça. Quase desmaiou também.— Certo. Tem mulheres que têm o que chamamos de hiperêmese grav
Thalia.A enfermeira me ajudou a deitar na maca e depois me cobriu da cintura para baixo, depois pegou meu braço e colocou o acesso do soro. Aplicou um conteúdo no cateter que se conectava à bolsa de soro e pediu que eu ficasse quieta e descansasse, que ela logo voltaria para me ver e conferir se os remédios estavam fazendo efeito.— Eu... o rapaz que veio comigo não pode ficar aqui? Não queria ficar sozinha.— Acredito que a doutora o deixe entrar. Mas não se esforce, está fraca e precisa repousar.Assenti e ela saiu da sala.Fechei os olhos, levei a mão à barriga. Estava tonta e a ânsia de vômito não havia passado. Andreia Monteiro, a médica que me atendeu, disse que passaria um remédio para dor de cabeça e outro para o vômito. Eram remédios que eu poderia tomar, mesmo estando gestante, e esperava que logo fizessem efeito. Ela me dissera que a dor de cabeça se dava ao esforço para vomitar e pela falta de água no meu organismo. Estava desidratada e precisava repor os sais minerais pe
Marcelo.Thalia seguiu dormindo por algumas horas enquanto eu velava seu sono. A médica havia vindo vê-la, mas, como ela estava dormindo, preferiu não acordá-la. Trocou seu soro e nos deixou sozinhos. Sua palidez havia dado uma pequena melhora e isso era um bom sinal.Soltei um suspiro e recostei minha cabeça na cadeira. Ouvi a porta ser aberta e ergui a cabeça, vendo meu irmão passar por ela.— Como ela está?Esfreguei o rosto com as mãos e me levantei.— Bem. Já está dormindo há mais ou menos duas horas. Ela estava exausta.— Também precisa descansar. Vamos tomar um café.Olhei para Thalia. Não queria deixá-la sozinha.— Ela está bem, irmão. Se você quer seguir com isso, se está de fato gostando dela e pretende seguir com, seja lá o que estão tendo, tem que ficar bem. Pelo que me contou, ela não tem muitas pessoas para se apoiar e você está se tornando uma peça fundamental na vida dela.— Sei que sim. Tudo entre nós foi tão repentino e, ao mesmo tempo, tão certo, irmão. Eu... Gosto
Thalia.Abri os olhos e fui presenteada pela claridade presente no quarto. Remexi-me na cama e me pus mais confortável. Estava sozinha, mas logo a porta se abriu e Marcelo passou por ela. Meu sorriso se tornou largo e percebi ali o quanto sentia sua falta. Parecia que havia me tornado dependente dele, e isso não era bom.— Está melhor? — Ele se aproximou e tocou minha mão.— Sim. Sem dor de cabeça ou enjoo.— Que bom. A doutora Andreia veio vê-la, mas como estava dormindo, ela não quis te acordar.— O soro já acabou. — Falei ao notar meu braço sem o acesso. — Dormi muito?— Umas duas horas, mais ou menos. — Sorriu. — Estava cansada.— Sim. Tem sido assim desde que descobri a gravidez. Até antes, se levar em conta que foi isso que me levou a buscar um médico e saber o que eu tinha.— Acredito que, agora que acordou, elas irão te levar para fazer os exames.— Suponho que sim. Você vai para a empresa?— Não, tirei o dia de folga. Ficarei aqui com você.— Marcelo...— Nada de Marcelo, Tha
ThaliaMarcelo sentou-se na cadeira e me entregou o celular. Ficamos em silêncio, cada um mexendo em seu aparelho. Tudo entre nós era tão bom e confortável que até o silêncio se tornava agradável. Era incrível como nos dávamos bem até no silêncio. Assim que entrei no aplicativo de mensagens, respondi às que Vivian havia enviado.Eu: 16:00 — Amiga, já acordei. Estou bem, não se preocupe.Vivian: 16:05 — Eu vou te matar, Thalia! Como você passa mal e não me avisa, caralho? Não sou mais sua amiga, é isso? Fui trocada por um pau?Ri de seu drama.Eu: 16:06 — Sua louca. Estava mal, não pensei em nada, me desculpe. Marcelo, que me ajudou.Vivian: 16:06 — Sim, ele me avisou. Disse que chegou à sua casa e você estava quase desmaiada. Que bom que você agora tem alguém pendente de você. Você merece, amiga. Marcelo parece gostar de você de verdade. Ele se preocupa, eu quero te ver bem.Eu: 16:07 — Não sei se isso é bom, estou me apegando a ele. E, se isso não passar de algo passageiro? Sei lá
ThaliaEu: 16:28 — Já até sonhei transando com ele. O sonho pareceu tão real, amiga, quase acreditei que não era mais virgem.Vivian: 16:28 — Mas você já não é mais virgem, né? Já transaram?Eu: 16:29 — Não, apenas nos demos prazer, mas sem penetração. Ainda não é o momento para isso.Vivian: 16:29 — Entendo. Só se entregue quando estiver pronta. Ainda me culpo por ter colocado pulha para você sair com o Diego. Ele é um canalha que merece sofrer muito.Eu: 16:31 — Sim, merece e vai sofrer. Ainda estou ponderando falar a ele sobre meu filho. Por mais canalha que ele seja, ele é o pai. Da última vez que nos encontramos, Marcelo disse que o meu filho era dele. Mas isso não é certo, amiga. Embora eu tenha gostado de pensar que estava grávida dele e não do canalha do Diego.Vivian: 16:33 — Concordo com você, amiga. Mas pense bem antes de dizer a ele. Diego pode querer tirar o bebê de você.Eu: 16:33 — Isso nunca vai acontecer, meu filho é só meu. Ele jamais chegará perto dele. Diego não
Marcelo.Peguei a bolsa da Thalia e coloquei no ombro. Um enfermeiro a ajudou a sentar na cadeira de rodas, e eu lhe agradeci com um aceno de cabeça. Meu irmão, Mateus, estava encostado na porta, observando-nos com um leve sorriso no rosto.A doutora Andreia havia liberado a alta da Thalia, mas só depois que prometemos voltar naquela mesma semana para uma nova bateria de exames. Além disso, ela insistiu que Thalia seguisse à risca a prescrição médica, o que me deixou ainda mais atento. Como era domingo, Vivian havia ido ao apartamento de Thalia para deixar tudo preparado para sua chegada.— Pronta para ir? — Mateus perguntou, seu tom leve.Thalia retribuiu com um sorriso, ainda que cansado, e respondeu:— Estava ansiosa por isso. Odeio hospital.Eu entendia bem. Também odiava hospitais. Para muitos, eram lugares de tristeza, perdas e memórias dolorosas. Sabia o quanto Thalia havia sofrido com a doença da mãe e como sua última lembrança dela era em uma cama de hospital. Ainda assim, Ma
Marcelo Me sentei ao lado de Vivian.— Ela é bem teimosa. — Concordei com a cabeça.— Quero agradecer por cuidar dela tão bem. Thalia não está acostumada com isso.— Percebe-se. — Sorrimos. — Me culpo por ter insistido para ela ter os encontros com o Diego. Ela poderia não estar passando por isso hoje.— Não é culpa de ninguém ele ter sido um canalha. — murmurei, enraivecido só pela simples menção do que o infeliz fez à minha Thalia.— Você gosta dela, não é?Ergui o olhar e nossos olhares se encontraram.— Gosto, sim. Eu... Thalia é apaixonante, apesar de ser bem doidinha.Vivian sorriu.— Sim, ela é especial. Vou ser sincera, Marcelo, eu quero ver minha amiga feliz.— Eu também. — afirmei.Vivian estava séria. Inclinei-me e coloquei os cotovelos apoiados nas coxas, ouvindo com atenção o que ela falava.— Ela está grávida e é meio maluquinha da cabeça. — Ri de seu modo de falar, mas não descordei.Thalia era realmente alguém especial. — É azarada. Fala muito