Thalia.Abri os olhos e fui presenteada pela claridade presente no quarto. Remexi-me na cama e me pus mais confortável. Estava sozinha, mas logo a porta se abriu e Marcelo passou por ela. Meu sorriso se tornou largo e percebi ali o quanto sentia sua falta. Parecia que havia me tornado dependente dele, e isso não era bom.— Está melhor? — Ele se aproximou e tocou minha mão.— Sim. Sem dor de cabeça ou enjoo.— Que bom. A doutora Andreia veio vê-la, mas como estava dormindo, ela não quis te acordar.— O soro já acabou. — Falei ao notar meu braço sem o acesso. — Dormi muito?— Umas duas horas, mais ou menos. — Sorriu. — Estava cansada.— Sim. Tem sido assim desde que descobri a gravidez. Até antes, se levar em conta que foi isso que me levou a buscar um médico e saber o que eu tinha.— Acredito que, agora que acordou, elas irão te levar para fazer os exames.— Suponho que sim. Você vai para a empresa?— Não, tirei o dia de folga. Ficarei aqui com você.— Marcelo...— Nada de Marcelo, Tha
ThaliaMarcelo sentou-se na cadeira e me entregou o celular. Ficamos em silêncio, cada um mexendo em seu aparelho. Tudo entre nós era tão bom e confortável que até o silêncio se tornava agradável. Era incrível como nos dávamos bem até no silêncio. Assim que entrei no aplicativo de mensagens, respondi às que Vivian havia enviado.Eu: 16:00 — Amiga, já acordei. Estou bem, não se preocupe.Vivian: 16:05 — Eu vou te matar, Thalia! Como você passa mal e não me avisa, caralho? Não sou mais sua amiga, é isso? Fui trocada por um pau?Ri de seu drama.Eu: 16:06 — Sua louca. Estava mal, não pensei em nada, me desculpe. Marcelo, que me ajudou.Vivian: 16:06 — Sim, ele me avisou. Disse que chegou à sua casa e você estava quase desmaiada. Que bom que você agora tem alguém pendente de você. Você merece, amiga. Marcelo parece gostar de você de verdade. Ele se preocupa, eu quero te ver bem.Eu: 16:07 — Não sei se isso é bom, estou me apegando a ele. E, se isso não passar de algo passageiro? Sei lá
ThaliaEu: 16:28 — Já até sonhei transando com ele. O sonho pareceu tão real, amiga, quase acreditei que não era mais virgem.Vivian: 16:28 — Mas você já não é mais virgem, né? Já transaram?Eu: 16:29 — Não, apenas nos demos prazer, mas sem penetração. Ainda não é o momento para isso.Vivian: 16:29 — Entendo. Só se entregue quando estiver pronta. Ainda me culpo por ter colocado pulha para você sair com o Diego. Ele é um canalha que merece sofrer muito.Eu: 16:31 — Sim, merece e vai sofrer. Ainda estou ponderando falar a ele sobre meu filho. Por mais canalha que ele seja, ele é o pai. Da última vez que nos encontramos, Marcelo disse que o meu filho era dele. Mas isso não é certo, amiga. Embora eu tenha gostado de pensar que estava grávida dele e não do canalha do Diego.Vivian: 16:33 — Concordo com você, amiga. Mas pense bem antes de dizer a ele. Diego pode querer tirar o bebê de você.Eu: 16:33 — Isso nunca vai acontecer, meu filho é só meu. Ele jamais chegará perto dele. Diego não
Marcelo.Peguei a bolsa da Thalia e coloquei no ombro. Um enfermeiro a ajudou a sentar na cadeira de rodas, e eu lhe agradeci com um aceno de cabeça. Meu irmão, Mateus, estava encostado na porta, observando-nos com um leve sorriso no rosto.A doutora Andreia havia liberado a alta da Thalia, mas só depois que prometemos voltar naquela mesma semana para uma nova bateria de exames. Além disso, ela insistiu que Thalia seguisse à risca a prescrição médica, o que me deixou ainda mais atento. Como era domingo, Vivian havia ido ao apartamento de Thalia para deixar tudo preparado para sua chegada.— Pronta para ir? — Mateus perguntou, seu tom leve.Thalia retribuiu com um sorriso, ainda que cansado, e respondeu:— Estava ansiosa por isso. Odeio hospital.Eu entendia bem. Também odiava hospitais. Para muitos, eram lugares de tristeza, perdas e memórias dolorosas. Sabia o quanto Thalia havia sofrido com a doença da mãe e como sua última lembrança dela era em uma cama de hospital. Ainda assim, Ma
Marcelo Me sentei ao lado de Vivian.— Ela é bem teimosa. — Concordei com a cabeça.— Quero agradecer por cuidar dela tão bem. Thalia não está acostumada com isso.— Percebe-se. — Sorrimos. — Me culpo por ter insistido para ela ter os encontros com o Diego. Ela poderia não estar passando por isso hoje.— Não é culpa de ninguém ele ter sido um canalha. — murmurei, enraivecido só pela simples menção do que o infeliz fez à minha Thalia.— Você gosta dela, não é?Ergui o olhar e nossos olhares se encontraram.— Gosto, sim. Eu... Thalia é apaixonante, apesar de ser bem doidinha.Vivian sorriu.— Sim, ela é especial. Vou ser sincera, Marcelo, eu quero ver minha amiga feliz.— Eu também. — afirmei.Vivian estava séria. Inclinei-me e coloquei os cotovelos apoiados nas coxas, ouvindo com atenção o que ela falava.— Ela está grávida e é meio maluquinha da cabeça. — Ri de seu modo de falar, mas não descordei.Thalia era realmente alguém especial. — É azarada. Fala muito
Thalia.Enquanto caminhava em direção ao quarto, fui alcançada pela voz de Marcelo e Vivian. Sabia que não deveria escutar a conversa deles, mas quando ouvi minha amiga questionar sobre os sentimentos de Marcelo por mim, meus pés travaram, impedindo-me de continuar. Cada palavra que saía da boca dele acelerava meu coração.Ele estava confessando gostar de mim, não apenas de forma amigável, mas de estar apaixonado. Era assustador ouvir isso tão cedo em nosso conhecimento, apenas dez dias para ser mais precisa, mas, ao mesmo tempo, me trazia conforto.Perguntei-me se era possível amar alguém em tão pouco tempo. No entanto, mais do que isso, a pergunta que ecoava em minha mente era se eu também estava apaixonada por ele. Sentia algo especial por Marcelo, sua ausência me incomodava, apreciava sua companhia e era grata por seu cuidado, mas amá-lo? O amor não vai além disso?Com a mente confusa, fechei a porta do quarto e me sentei na cama. Nestes dias no hospital, Marcelo demonstrou algo q
Marcelo.Já haviam se passado alguns dias desde que Thalia ficara internada com suspeita de hiperêmese gravídica, e eu começava a notar sua melhora. Ela seguia com a medicação e uma alimentação mais saudável e balanceada. Os enjoos haviam diminuído e já não se sentia tão cansada como na semana anterior. Eu estava sempre pendente dela, falava com ela pelo menos quatro vezes ao dia.À noite, sempre ia jantar com ela ou dormia em seu apartamento, mas apenas para descansar, pois Thalia ainda estava se recuperando. Vivan também estava bastante atento à sua amiga. Ela ainda seguia no seu apartamento antigo, pois não tinha disposição para ver o novo. Esse novo apartamento seria pago pela empresa de resort onde ela ia trabalhar — aliás, ela já trabalhava, mas só voltaria com o cargo de supervisora.Hoje, ela tinha acordado mais disposta e estava animada com a ideia de preparar um jantar especial. Thalia queria me apresentar formalmente à sua melhor amiga, Vivian, e ao marido dela. Eu sabia o
MarceloEnquanto eu me sentava no sofá ao lado de Arthur, Thalia e Vivian seguiram para a cozinha, comentando sobre o que ainda precisava ser finalizado para o jantar. O clima leve e descontraído contrastava com o pequeno incômodo que se instalava em mim sempre que interagia com eles.Arthur e eu começamos a conversar, e rapidamente o assunto se voltou para o trabalho. Ele era advogado e, por coincidência ou não, trabalhava na mesma empresa de advocacia em que minha mãe era sócia. A conexão era inevitável, mas eu preferi não revelar a ele que Nelicia Toledo era minha mãe. Ele, no entanto, mencionou que eu parecia muito com algumas pessoas que ele conhecia — no caso, era quase certo que ele estava falando dos meus pais.— O sobrenome também é o mesmo, Toledo, não? — Arthur comentou casualmente, lançando um olhar curioso.Forcei um sorriso e desconversei, desviando o assunto para algo mais genérico. Era sempre assim: um nó na garganta se formava toda vez que precisava esconder quem eu r