Ashley observava a cidade enquanto o carro seguia pela avenida principal. Era uma tarde cinzenta, e as nuvens pesadas refletiam bem seu humor. Sentada no banco do passageiro ao lado de sua mãe, ela não conseguia deixar de pensar em como sua vida havia mudado drasticamente em questão de meses. Antes, vivia em uma cidade pequena onde todos se conheciam, onde o maior evento do ano era a feira de artesanato local e o céu era sempre estrelado à noite. Agora, tudo que via à sua frente eram prédios altos, ruas movimentadas e um constante ruído de fundo que a deixava tonta.
— Estamos quase chegando, Ash, - disse sua mãe, com um sorriso tenso nos lábios.
Ashley não respondeu. Estava ocupada demais tentando processar tudo. O divórcio, a mudança, a nova cidade… Era demais para ela. Sua mãe parecia estar tentando se manter otimista, mas Ashley via a tristeza escondida em seus olhos. O casamento tinha acabado há apenas três meses, e sua mãe ainda estava se ajustando tanto quanto ela.
O carro entrou em um bairro residencial, com casas geminadas que pareciam uma cópia umas das outras. Nenhuma delas tinha o charme rústico da antiga casa no campo, com suas paredes de madeira e o jardim selvagem que o pai de Ashley tentava manter sob controle sem muito sucesso. Ali, tudo parecia tão artificial, como se cada casa estivesse tentando se sobressair pela perfeição.
— É aqui.- Sua mãe parou o carro em frente a uma casa de dois andares, de cor clara, com uma pequena varanda e um jardim minúsculo na frente. Havia uma placa de -Vende-se- no gramado, como um lembrete constante de que aquele lugar também não era realmente delas. Apenas mais uma casa temporária.
Ashley desceu do carro lentamente, sentindo o vento frio da tarde bater em seu rosto. Enquanto sua mãe se apressava para abrir a porta da frente, ela ficou parada por um momento, observando o novo bairro. Algumas crianças brincavam de bicicleta na rua, enquanto adultos carregavam sacolas de compras para dentro de suas casas. Tudo parecia tão normal, tão pacífico, mas para Ashley, nada estava em paz.
— Você vai me ajudar a descarregar as coisas?- A voz de sua mãe a tirou de seus pensamentos. Ashley assentiu e foi até o porta-malas. As malas estavam amontoadas ali, um lembrete do quanto de sua antiga vida estava resumido àquelas poucas caixas. Não era muito, mas o suficiente para fazê-la sentir o peso de cada memória.
Entrar na nova casa foi ainda mais difícil. Era o símbolo de tudo o que ela estava deixando para trás, e enquanto caminhava pelos cômodos vazios, sentia uma desconexão total. Havia um eco no silêncio daquela casa que a fazia se sentir ainda mais sozinha.
O primeiro andar tinha uma pequena sala de estar, uma cozinha aberta e uma escada que levava ao segundo andar. Havia três quartos no andar de cima, e Ashley escolheu o que ficava de frente para a rua. O quarto não era grande, mas tinha uma janela que deixava entrar a luz do dia e dava uma boa vista do bairro. Ela jogou sua mochila no chão e se jogou na cama, que ainda estava sem lençóis.
Fechou os olhos, tentando afastar os pensamentos que vinham à tona, mas era impossível. Ela pensava no pai, em como ele estava lidando com tudo. Ele tinha ficado na cidade pequena, na velha casa que agora parecia tão distante. Ele prometera visitá-las assim que pudesse, mas Ashley sabia que isso poderia demorar. As coisas entre ele e sua mãe não haviam terminado bem, e cada visita seria apenas um lembrete disso.
Sua mãe apareceu na porta do quarto, batendo levemente antes de entrar. — Então, o que acha do seu novo quarto?- Ela tentou soar animada, mas Ashley percebeu o nervosismo na voz dela.
— É… bom,- murmurou Ashley, sem realmente acreditar no que dizia.
Sua mãe suspirou e se aproximou, sentando-se na beirada da cama. — Eu sei que isso não é fácil, Ash. Mas prometo que vamos fazer isso funcionar. A cidade grande pode ser assustadora no começo, mas tenho certeza de que logo você vai se adaptar.-
Ashley queria acreditar naquelas palavras, mas tudo ainda parecia tão surreal. Ela olhou para a janela, observando as nuvens escuras que começavam a se dissipar, revelando o céu alaranjado do fim da tarde.
— Eu sei, mãe. Só… vai demorar um pouco.
Sua mãe sorriu tristemente e assentiu.
— Vamos descer e pedir uma pizza? Acho que merecemos uma folga hoje.
Ashley apenas assentiu e seguiu a mãe para o andar de baixo. Enquanto ela fazia o pedido por telefone, Ashley olhou pela janela da sala, observando os vizinhos que começavam a acender as luzes de suas casas. Cada uma delas parecia tão diferente da sua, cheia de vida e rotina. A dela ainda era apenas um lugar vazio.
A noite caiu, e o som constante de carros passando pela rua fez Ashley perceber que estava longe do silêncio confortável a que estava acostumada. A antiga casa no campo tinha apenas o som distante dos grilos e o vento balançando as folhas das árvores. Aqui, a cidade parecia nunca dormir.
Após comer a pizza, Ashley subiu para seu quarto. Ela pegou o celular e ficou rolando pelas redes sociais, vendo as fotos de seus antigos amigos na cidade pequena. Eles estavam todos seguindo com suas vidas, postando sobre os mesmos lugares de sempre. Ninguém parecia perceber o quanto tudo estava diferente para ela. Isso só a fez se sentir ainda mais isolada.
Quando finalmente decidiu tentar dormir, o sono não veio fácil. Ela se revirava na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas seus pensamentos a mantinham acordada. Ela pensava na escola nova que começaria na próxima semana, nas novas pessoas que teria que conhecer, e no fato de que seu antigo grupo de amigos estava a quilômetros de distância.
E então, havia o divórcio. Não era algo que ela queria pensar, mas era impossível ignorar. Ashley sabia que as brigas entre seus pais estavam piorando há anos, mas nunca achou que chegariam ao ponto de se separarem. E agora, lá estava ela, em uma nova casa, em uma nova cidade, com uma nova vida que não parecia a dela.
Eventualmente, o cansaço venceu, e Ashley adormeceu, mas não foi um sono tranquilo. Seus sonhos eram cheios de imagens desconexas, misturando lembranças antigas e medos novos. A cidade grande a envolvia em um nevoeiro espesso, e em algum lugar distante, ela ouvia vozes chamando seu nome.
A manhã seguinte trouxe consigo uma leve neblina que cobria o bairro. Quando Ashley acordou, a luz fraca que entrava pela janela parecia ainda mais fria do que o dia anterior. Ela se levantou lentamente, sentindo o corpo pesado, como se tivesse carregado o mundo em suas costas durante a noite.Desceu as escadas e encontrou a mãe na cozinha, já vestida para o trabalho.— Bom dia, querida. Como foi a noite?-Ashley deu de ombros.— Difícil dormir.-Sua mãe sorriu de maneira reconfortante.— É normal. Vai melhorar com o tempo. Hoje tenho que sair para resolver algumas coisas do trabalho, mas deixei um pouco de café pronto, se você quiser.— Obrigada.Depois que a mãe saiu, Ashley ficou sozinha na casa. O silêncio era opressor. Ela preparou uma xícara de café e se sentou na mesa da cozinha, olhando para o celular em busca de algo que distraísse sua mente. Mas nada parecia aliviar o desconforto.Com o passar das horas, ela decidiu dar uma volta pelo bairro. Precisava sair de casa e respira
Os dias seguintes passaram devagar. Ashley e sua mãe começaram a desempacotar as caixas, tentando transformar a casa vazia em um lar. Cada novo objeto colocado no lugar era um pequeno passo em direção à normalidade, mas ainda assim, Ashley sentia-se deslocada. A antiga rotina havia sido completamente destruída, e ela se agarrava a qualquer coisa que pudesse lhe dar uma sensação de controle.Naquela mesma semana, chegou o primeiro dia de aula. Ashley se levantou cedo, com um nervosismo que há muito tempo não sentia. Vestiu-se de maneira simples, com uma camiseta preta, jeans e tênis confortáveis. Ela não queria chamar atenção, apenas passar despercebida, como uma sombra entre a multidão.O caminho até a escola foi rápido. O campus era grande, com prédios modernos e um pátio central que parecia sempre cheio de estudantes. Assim que entrou, sentiu todos os olhares voltados para ela. Sabia que era normal em uma escola nova, mas isso não tornava a sensação menos desconfortável.Ela foi até
Ashley acordou na manhã seguinte com a luz do sol invadindo o quarto através das persianas. Ela se espreguiçou, sentindo os músculos ainda tensos após dias de estresse. Era o começo de uma nova semana, e com isso, mais um passo para se ajustar à nova realidade. Ela ainda não se sentia em casa. A nova casa era maior do que o antigo apartamento em que vivia com os pais, mas parecia fria, impessoal, como se faltasse algo que tornasse aquele lugar verdadeiramente dela.Levantando-se, Ashley olhou para a janela. O bairro era silencioso pela manhã, com poucas pessoas na rua. A mudança para a cidade grande deveria trazer excitação, novas oportunidades, mas até agora, tudo o que ela sentia era a ausência do que costumava ser. A separação dos pais a afetara mais do que queria admitir. E aquele sentimento de incompletude parecia enraizado profundamente em sua alma.Após se arrumar, Ashley desceu para a cozinha, onde sua mãe estava preparando o café. O silêncio ali era quase palpável, interrompi
Na manhã seguinte, Ashley acordou com um misto de ansiedade e expectativa. A discussão com sua mãe ainda reverberava em sua mente, mas o tempo que passou com Eleonora havia sido como uma pausa, um intervalo de calma no meio do caos. Havia algo naquela garota que a fazia sentir um pouco mais ancorada, embora também fosse intrigante. Eleonora era um enigma que Ashley não conseguia decifrar completamente, e talvez isso fosse parte da atração.Enquanto se preparava para ir à escola, Ashley decidiu que hoje seria um dia diferente. Ela precisava encontrar uma maneira de se adaptar à nova realidade, tanto na escola quanto em casa. Talvez, se desse uma chance real a tudo aquilo, as coisas começassem a se encaixar.Chegando à escola, Ashley notou que Eleonora já estava esperando por ela no portão, como se soubesse exatamente quando ela iria aparecer. Isso não a surpreendeu mais. Era quase como se Eleonora estivesse sempre à espreita, pronta para surgir do nada, com aquele sorriso inabalável e
Ashley não conseguia ignorar a presença de Eleonora, mesmo que quisesse. A sensação de que algo estava fora do lugar crescia a cada encontro, cada olhar. E, no fundo, ela sabia que também estava atraída por aquele mistério que cercava Eleonora. Era algo que fazia seu coração acelerar, mesmo quando sua mente lhe dizia para manter distância.As duas começaram a passar mais tempo juntas, embora Ashley ainda não conseguisse definir o que exatamente estava acontecendo entre elas. Era amizade? Era algo mais? Eleonora parecia estar sempre lá, observando, esperando... mas esperando o quê?Naquela manhã, após uma aula particularmente monótona de história, Eleonora se aproximou de Ashley no corredor, com aquele sorriso enigmático no rosto.-Ei, Ash,- Eleonora disse, inclinando-se levemente contra o armário de Ashley.-Tem planos para hoje à tarde?Ashley fechou seu armário, tentando não demonstrar o nervosismo que sentia sempre que Eleonora estava por perto.-Hum... não exatamente. Por quê?- E
Naquela manhã, os pensamentos de Ashley estavam uma bagunça. O sonho da noite anterior continuava a ecoar em sua mente como uma melodia distante, mas ainda presente. Ela tentou se concentrar nas aulas, nos livros, nas conversas triviais com os colegas, mas nada parecia conseguir afastar aquela sensação inquietante que Eleonora havia deixado em seu subconsciente. No intervalo, sentada no pátio da escola, Ashley se pegou olhando em volta, procurando involuntariamente por Eleonora. Desde que chegou àquela cidade, nada havia sido normal, mas agora... agora era diferente. Ela sabia que não era apenas a mudança de ambiente que a deixava assim. Era Eleonora, e o modo como parecia brincar com seus sentidos, sempre tão enigmática. Antes que percebesse, Eleonora estava ali, ao seu lado, com um sorriso malicioso estampado no rosto. — Ei, Ash. Parece perdida em pensamentos — a voz de Eleonora soou suave, quase como se estivesse insinuando algo. Ashley ergueu os olhos para ela e tentou disfarç
Ashley estava sentada em sua mesa na escola, tentando concentrar-se na aula, mas sua mente estava em outro lugar. Desde o sonho da noite passada, não conseguia parar de pensar em Eleonora. O toque, o cheiro, a sensação que parecia tão real... E então havia a estranha sensação de que havia algo mais nela, algo além da beleza deslumbrante e da confiança. — Ei, terra chamando Ashley!- Uma voz conhecida a tirou de seus devaneios. Era Kate, uma garota do grupo de estudo.— Você está bem? Parece que viu um fantasma. Ashley piscou algumas vezes, tentando voltar à realidade. — Sim, desculpa. Só... não dormi bem.— Claro que não dormiu, né? A cabeça cheia de pensamentos sobre a vida nova, a escola, e... aquela garota.Kate sorriu de canto, curiosa. — Eleonora, certo? Ashley sentiu um frio na espinha ao ouvir o nome dela em voz alta, como se o simples fato de mencioná-la a deixasse exposta. — É... ela é... interessante.Kate riu, levantando uma sobrancelha. — Interessante? Ela é tipo... a
Ashley estava saindo da escola quando viu Eleonora do outro lado da rua, encostada em uma árvore, os braços cruzados. Eleonora levantou o olhar e seus olhos se encontraram. O coração de Ashley acelerou, mas ela tentou manter a compostura.Eleonora sorriu de forma encantadora e caminhou na direção de Ashley.— Você tem tempo para um café?-Ashley hesitou, mas acabou assentindo.— Claro. Conhece algum lugar por aqui?-— Sim. Tem um café incrível na esquina. Vem, vou te levar lá.-Enquanto caminhavam juntas, Ashley sentiu uma mistura de nervosismo e curiosidade. Havia algo em Eleonora que a atraía, algo mais profundo do que apenas a aparência deslumbrante. Ela não conseguia entender o que era, mas sabia que estava cada vez mais envolvida.No café, elas se sentaram em uma mesa perto da janela. Eleonora pediu um cappuccino, enquanto Ashley pediu um suco de laranja.— Então, como está sendo a adaptação na cidade?- perguntou Eleonora, girando distraidamente a colher em sua xícara.Ashley deu