- Eu ainda não acredito que você chamou o carro dele de lataria – Tori fala e começa a rir de novo, o que é um pequeno problema para mim, porque toda vez que ela volta a esse assunto eu entorno mais um shot.... eu já estava no quinto.
A memória dos carros freando e eu caindo de bunda no chão só faz uma pequena cosquinha na minha dignidade, agora o fato de xingar o meu chefe no meio do estacionamento meio que dá um belo murro me colocando no chão de novo.
Mas caramba, eu não tenho culpa sabe? Foi sem querer, e ele tinha que ter noção disso. Aquele babaca...Droga, xinguei ele de novo.
- Eu vou ser demitida mais rápido que eu pensei – eu resmungo por sobre o som do pub.
- Não vai nada, vai mostrar serviço e pronto – Jasper apoia o braço em meus ombros e eu apoio minha cabeça em seu peito – Ele vai esquecer isso rapidinho
- Está usando o meu perfume? De novo? – eu falo e ele me empurra
- Seu perfume é muito bom
- Então deveria comprar um seu – ele mostra a língua e eu reviro os olhos – Meu perfume não é óleo corporal Jas, caramba, você passa em partes que nem são necessárias
- Quem disse que não são? – ele pisca para mim e vejo Tori se engasgando com a bebida
- Me poupe os detalhes – eu falo e bebo um pouco do meu drink. Aproveito as conversas safadas de Tori com Jasper e observo ao redor.
O pub Cavendish é um dos meus lugares favoritos para esquecer por poucas horas o que eu tenho que fazer no outro dia. O lugar é pequeno e aconchegante, a música nunca está alta demais e a comida é excelente.
As paredes são cobertas de instrumentos musicais antigos com algumas fotografias de personagens famosos que de alguma forma contribuíram para a construção do pub, seja direta ou indiretamente. Mas a minha parte favorita? As canções que eram tocadas.
Você simplesmente poderia ir até o jukebox e escolher aquela que mais te chamasse atenção, como agora. Vi o momento em que o casal se aproximou da máquina e inseriu o dinheiro, a música começou a tocar e a voz suave de James Arthur começou a ser ouvida.
Naked.
Bela escolha, eu penso com meus botões. Suspiro e tomo o restante do meu drink pensando o que eu deveria fazer na segunda feira, já que obviamente hoje não contava, porque passamos somente alguns minutos na presença um do outro antes que ele se levantasse e saísse pela porta sem nem olhar duas vezes para a minha mesa, isso fez com que eu corresse para fora do prédio o mais rápido que eu podia.
- Kallie? – pisco os olhos encontrando o olhar confuso de Tori – Ouviu o que eu disse?
- Não, desculpe
- Tudo bem, eu perguntei se você poderia fazer um favor para mim
- Claro, manda – Pego o copo de Jasper e bebo um gole antes que ele volte o olhar para mim e me belisque com força. Dou de ombros e sorrio para Tori esperando o pedido.
- Sabe aquele jantar? O...
- Não – eu respondo negando com a cabeça veementemente
- Mas você nem sabe o que eu ia pedir
- Sei sim, você ia pedir para que eu fosse naquele jantar besta dos seus pais em que seu ex-marido sempre comparece.
- Tá, era isso que eu ia pedir. Mas dessa vez ele disse que não ia, ele falou que iria viajar
- Não sei como você ainda acredita nele, está obvio que ele vai estar lá assim como esteve nos outros – Ela abre a boca para discutir, mas eu a interrompo levantando a mão - E aí vocês começam a brigar, seus pais me puxam para a briga, eu tento interromper e no final vocês acabam indo para o mesmo lugar e para a mesma cama se me permite dizer.
Jasper engasga com a bebida e começa a tossir enquanto Tori me mostra o dedo do meio, mas posso ver muito bem que ela sabe que é verdade. O relacionamento dela com o ex-marido John, era no mínimo hilário.
Eles se separaram quatro anos depois de se casarem, ele queria a liberdade de antes e ela queria encontrar o marido em casa quando chegasse, isso não deu certo, obviamente. Meses depois da separação, os pais fizeram o precioso jantar de todo ano, com algumas pessoas intimas e fofoqueiras, então John chegou como se fosse uma coisa normal e tudo foi aos ares. Tori começou a conversar bastante com um vizinho conhecido e John não gostou e tudo virou no máximo uma tragedia digna de um Oscar.
E advinha quem estava no meio da bagunça?
Acertou, eu estava. E só no dia seguinte que eu fiquei sabendo que os dois tinham ido juntos para casa, e isso meio que se repetiu durante os anos seguintes, nos últimos três anos exatamente. Mas dessa vez eu não iria, de jeito nenhum.
- E se eu prometer que eu não vou embora com ele? – Tori pergunta e eu volto o olhar para ela, negando, desacreditada.
- Amiga, o problema não está no dormir com ele, na verdade eu acho realmente que vocês deveriam ficar juntos de uma vez. O problema está nas brigas que nunca se resolvem, e seus pais sempre ficam chateados e adivinha quem escuta todos os conselhos que você deveria escutar?
- Eu sei, foi mal – ela suspira dentro do copo antes de entornar a bebida bebendo em um só gole, ela olha para Jasper e uma luz se acende nos olhos, opa, novo alvo – Jasper você bem que poderia ir, não é?
- Foi mal gatinha, vou estar trabalhando
- Eu nem disse a data – Tori pergunta abismada
- Ah bom, que dia é?
- 12 de junho
- Vou estar trabalhando – ele responde cinicamente e eu caio na gargalhada, Tori resmunga um palavrão e se encosta na cadeira emburrada.
- Não fica assim, é seu aniversário e esse jantar só vai ser daqui a três meses. Tempo o suficiente para encontrar um acompanhante – dou um sorriso malicioso e ela revira os olhos.
- Como se fosse fácil
- Não é, mas vamos dar uma ajudinha – Jasper fala e pega as nossas mãos nos puxando para cima e em direção a pista de dança quando escuta os primeiros acordes de Love Myself. Dançamos, rimos, cantamos e fizemos poses exageradas para marcar o aniversário de Tori nas fotos, e por um momento esqueço com o que eu tenho que lidar.
........................
A clinica St. Antony fica a uma hora de trem, o que me dá algumas horas de sono pela manhã e depois do almoço pego o primeiro trem e sigo em direção a clínica. Pesco o livro da bolsa e começo a ler sobre as aventuras dos irmãos Pevensie antes que acabe quebrando minha pulseira de tanto rodeá-la no braço.
Uma hora depois e cinco minutos de uma caminhada calma pelas ruas, eu chego à clínica. Steff, a enfermeira chefe sorri quando me vê chegando e acena para mim de longe, aceno de volta e sigo pelo corredor entrando no salão principal.
Hoje a área está iluminada e o som hesitante das notas chegam aos meus ouvidos me tirando um sorriso, dou alguns passos vendo Bianca do lado de uma mulher mais velha, a última está franzindo a testa para as teclas e tocando cada uma delas como se fosse algo novo, algo curioso.
- Boa tarde – eu falo baixinho e recebo um sorriso de Bianca e um olhar confuso de Melina – Como estão?
- Estamos muito bem, não é Mel?
Ela olha para mim e depois de volta para o piano, suspiro baixinho desanimada e Bianca se levanta vindo até mim.
- Vou deixar vocês a sós, estou na outra sala
- Obrigada
Ela acena dispensando o agradecimento e eu vou até o piano de cauda longa colocando a bolsa em cima dele. Fico observando-a de longe sem querer impor nada enquanto ela continua dedilhando os dedos, como se estivesse procurando algo.
- Não sei como fazer isso – ela fala finalmente e eu pisco os olhos contendo as lágrimas
- Como fazer o que?
- Tocar
Ela diz isso com tanta tristeza que meu coração vira uma pequena bola de papel, amassada, frágil...tão frágil. Engulo o caroço que teima em aparecer em minha garganta e me aproximo hesitante.
- Posso ajudar?
- Como? – Pois é vovó, como? Como eu posso te tirar dessa?
- Eu sei tocar um pouco, talvez se me vê fazendo consiga tocar
Vovó olha para mim desconfiada, mas assente concordando, ela se afasta alguns milímetros para a direita e eu me sento, tomando o cuidado de não a assustar. Arqueio a coluna e puxo uma respiração antes de colocar minhas mãos por sobre o teclado, e a partir daí é só eu, a vovó e a música. Como antes.
Dedilho os primeiros acordes da nossa música favorita, e Nocturne n° 2 de Chopin ressoa pela sala, repercutindo em todos os lugares inclusive e principalmente em meu coração.
Toco
Crio
Exponho
Relembro
Aceito
Demonstro, e continuo tocando por segundos, por minutos, por horas, até que os últimos acordes acabem e meus dedos toquem as últimas teclas e só aí eu olho para ela, e vejo seu rosto marcado pelas lágrimas derramadas em silencio.
- Minha Kallie, minha pequena musa
As primeiras lágrimas caem dos meus olhos enquanto eu me aproximo de vovó e a abraço com força, com saudade. Meus soluços ficam presos em meu corpo e ela me aperta ao seu encontro, me puxando para mais perto.
- Sinto saudades vovó
- Você é o começo, o meio e o fim – ela se afasta só o suficiente para me olhar e enxugar minhas lágrimas com os dedos – Você é a minha melhor melodia Kallie.
Encosto a minha bochecha em sua mão e fecho os olhos inspirando seu perfume doce, me permitindo pensar só por alguns minutos que aquilo é minha realidade, ter ela ainda perto de mim, sussurrando todo o tempo o quanto eu era forte, o quanto me amava. Porque era isso que ela queria dizer, eu era sua melhor melodia e ela era a minha, parte uma da outra. Beijo sua mão e me afasto sabendo que nosso momento estava acabando, rápido demais, passageiro.
Dou um sorriso e me afasto quando vejo seu olhar confuso aparecer de leve, ela pisca lentamente eu olho para o piano como se tivesse acabado de tocar.
- Desculpe, eu.... – Ela para no meio do caminho e eu me viro para ela enxugando os resquícios das lágrimas, ela olha ao redor e para em mim perto do piano – Nós conhecemos?
- Não, eu estava de passagem e vi a senhora tocando
- Eu estava tocando? Não me lembro disso – ela lança um olhar para a porta antes de voltar para o piano
- Estava sim, toca muitíssimo bem. A propósito, meu nome é Kalliope – estendo a mão e ela a pega apertando de leve – é Melina, não é?
- Sim, minha filha me chama de Mel, é o doce favorito dela – engulo em seco e pigarreio antes de me levantar devagar, mas paro quando ela me chama a atenção – Sabia que você tem o nome de uma das nove musas?
- Sabia sim, minha avó que escolheu o nome
- Verdade? – aceno afirmando e ela sorri gentilmente – Conhece a história? Dos dons?
Por dentro estou gritando que sim, estou lembrando das várias noites em que ela sentava comigo na cama e contava de novo e de novo, enquanto eu pedisse, com uma xicara de chocolate quente e vários biscoitos doces. Mas só o que eu faço é negar com a cabeça, e me acomodar no banquinho, animada, esperando a história. Então ela o faz, ela conta nos mínimos detalhes, e eu sorrio nos mesmos momentos, aproveitando esses poucos segundos.
E só quando ela fala que tem de buscar a filha Evie na escola é que saio da sala e passo pelas enfermeiras me olhando com simpatia no rosto, mas eu sorrio, eu dou tchau, eu sigo em frente.
As lágrimas só chegam horas depois, no meu quarto, debaixo dos lençóis.
- Jones! – pulo cerca de dois centímetros na cadeira antes de me levantar e seguir em direção a sala de Campbell. Jesus, precisa gritar tão alto assim? Ele acha que eu sou surda? – Onde está a porcaria da pasta sobre os Brown?- Desculpe? – eu pergunto e me aproximo, mas dou um passo atrás quando vejo a carranca em seu rosto.- A pasta intitulada Brown, a indústria Têxtil- Sei que empresa está falando sr. Campbell. O que não sei é sobre a pasta, não a vi quando estava organizando- MerdaSuas mãos se movem abrindo e fechando gavetas e franzo a testa ao ver a bagunça começando a aparecer de novo em cima da mesa dele, mas volto o olhar para ele quando percebo que ele está resmungando de novo.- Pergunte a Sônia onde a secretária anterior deixou essa pasta, preciso das informações que est&a
Sabe aquelas máquinas potentes de café? Que basicamente faz tudo o que você pedir?Tipo, cappuccino, expresso, latte, macchiato, esse tipo de coisa. Café que mais parece uma refeição.Eu quebrei.É isso aí, eu quebrei uma máquina que com certeza custava muito dinheiro, e depois andei até a mesa dele e coloquei o café que consegui salvar antes que quebrasse.Provavelmente ele vai ficar sabendo uma hora ou outra, mas puta merda, buscar café toda vez que ele tem algum cliente é pura chateação.E eu sei que ele sabe o quanto eu odeio, o covarde.Porque quando a máquina chegou, Sônia estava na sala dele e pediu rapidamente um copo de café com aquela voz fina e alegre de sempre “Quero ser a primeira a estrear, pode trazer uma xicara para mim florzinha? Cappuccino por favor”.Eu tenho certeza que ro
- Eu vou matar você – eu rosno baixinho e Tori arregala os olhos fingindo inocência- Não é nada demais amiga, é só um experimento- Experimento? Você está maluca?Olho ao redor e vejo Sarah uma funcionária, nos observando curiosa enquanto diminui os passos pelo saguão. Estou esperando no térreo que Campbell chegue, mais uma reunião fora do escritório e dessa vez estou munida com informações mais que necessárias, só não esperava que Tori também tivesse informações nada desejáveis.- Olha, a gente vai e se diverte juntas. Mas estando acompanhadas de dois homens muito bonitos e simpáticos.- Você não sabe disso, lembra? Você acabou de concordar em um encontro as escuras Tori- Eu sei, mas a minha colega disse que são muito gentis e eu confio nela- N
Dizer que era uma péssima ideia viajar com o chefe irritante era dizer o mínimo, mas eu juro que somente pensei em coisas positivas, tipo, eu conheceria uma cidade nova, e entraria em um avião....Opa, ponto negativo.Viu? Nem pensamentos positivos servem mais. Coloco mais algumas camisas na mala pequena e averiguo de novo antes de fechar e a colocar em pé ao lado da cama, olho o relógio, nove horas da manhã, tenho uma hora antes que precise pegar um táxi.Entro no banheiro e tomo o banho mais relaxante que posso tomar, água gelada tende a fazer isso. Lavo os cabelos e depois o seco com o secador, criando pequenas ondas, faço uma maquiagem leve e passo brilho nos lábios, deixo o cabelo solto e coloco meu vestido preto justo, complementando com um sobretudo cinza.Calço as botas de salto alto e deslizo a mala de rodinhas pelo apartamento, mando uma mensagem de aviso a Jasper e ele
Tudo bem, ele não estava exagerando.Mas se bem que a culpa não foi minha, só que estávamos na hora errada e no lugar errado, isso se chama efeito borboleta......Eu acho.- Eu estou com um probleminha nas costas sabe como é, a idade finalmente chegou – o motorista continuou explicando quantos problemas tinha quando chegamos na frente do hotel, ele literalmente estava se desculpando por não nos ajudar a tirar a mala, e juro por deus que eu não via problema nenhum nisso, tenho duas mãos afinal, mas o fato dele continuar citando todos os lugares que doí estava me deixando cansada – Tem uma dor que vai do pescoço até o meio das costas e só doí quando eu vou dormir e....Saio do carro e dou risada da expressão atônita de Campbell, ele me segue e abre a porta do bagageiro enquanto ainda escuto as reclamações do velho senhor.- Essas
Ele ia me beijarEle ia me beijarEle ia me beijar? Eu ia beijar ele?Não, claro que não, eu nunca faria algo assim. Eu não era tão idiota para arriscar o meu trabalho, de jeito nenhum.Bato a cabeça no encosto do carro gemendo baixinho. Mas que merda, o que eu estava pensando? Em nada pelo visto.Agradeço o motorista e desço do carro suspirando quando vejo meu prédio. Um dia e meio e já tinha me metido nas maiores das confusões, isso é bem o meu estilo mesmo. Mas se for pensar pelo lado positivo, eu consegui convencer Giliarde mudar drasticamente o preço, e agora Declan era o dono de mais um prédio imponente.Ahh e também consegui sobreviver ao voo de volta, enfiei os fones no ouvido, e segurei o apoio para o braço com força, sem tocar em Declan no processo.Declan......Argh.Ainda mais isso, quem já se viu go
- Vai por favor, está tudo combinado. Seria tão ruim da sua parte fazer isso com eles KallieOlho por cima do meu pote de sorvete para uma Tori triste e reviro os olhos quando ela faz um beicinho.- A culpa não é minha se você não perguntou primeiro se eu queria ir- Se eu perguntasse você diria não- Exatamente- Viu? Você é muito confusa sabia?- Confusa? Desde quando eu disse queria ir em um encontro as escuras?- Não estou falando disso – Tori se aproxima com uma colher e enche a colher antes de colocar na boca e mastigar contente. Eu deveria ter fingindo que não estava em casa.... Hunf, até parece que isso ia impedir ela de entrar – Você disse que eu deveria encontrar alguém para ir comigo ao jantar. Então é isso que estou tentando fazer, mas você não ajuda.- Você deveria ir enc
Tudo bem, não era nada demais. Foi só um beijoUm beijo quente e que me deixou de pernas bambas.Merda.Abro a porta do apartamento e finjo não perceber os pingos de água escorrendo dos meus cabelos e do meu vestido enquanto ando até a cozinha.Preciso de álcool, sim álcool seria uma ótima ideia.Abro a portinha do armário e fecho os olhos quando o açúcar refinado cai em minha cabeça como se pequenos respingos de glitter caísse- Droga Jasper, isso é hora para fazer pegadinha?É claro que ele não responde, ele está trabalhando hoje à noite. Tiro metade do açúcar dos meus olhos e tento alcançar a garrafa de vodca, pulo por sobre as pontinhas dos pés e quando já estou pensando em pegar uma cadeira o som de batidas ressoa do outro lado da porta.Franzo a testa e olho para