A semana passou e o dito cujo não apareceu, nem sinal de fumaça, nenhuma sombra, nenhuma ligação e as reuniões acabaram se acumulando na minha mesa, e tenho que dizer que lidar com empresários chateados e idiotas foi o ápice da minha carreira administrativa.
Mas sábado chegou, e trouxe o aniversário de Tori, junto com uma sombra do que parecia ser o sol depois de dias de chuva. Tori não é muito de comemorar, principalmente sabendo que está completando 30 anos, então combinamos simplesmente de nos encontrar no pub Cavendish depois do trabalho, junto com Jasper é claro.
Claramente eu não poderia deixar que ela passasse o aniversário sem um pouco de doce, então encomendei um bolo pequeno com bastante confeite colorido, e combinei de buscar aos meio dia. E é por esse motivo que estou parada a dez minutos na faixa de pedestre esperando que o sinal fique vermelho, o que parece não acontecer, essa coisa deve estar quebrada só pode.
Aperto o botão pelo que parece ser a decima vez e suspiro aliviada quando o sinal vermelho aparece para os carros e o sinal verde para nós. Passo rapidamente pela faixa e caminho em direção ao estacionamento do prédio equilibrando o bolo em uma mão enquanto pesco meu celular com a outra, olho para o lado esquerdo e vejo um carro vindo lentamente em minha direção então passo apressada para o outro lado, mas não rápida o suficiente pelo visto.
Um flash do lado direito é visto pela minha visão periférica, e institivamente salto um centímetro para trás e como um pequeno inferno deslizo em uma poça de óleo de carro em direção ao chão com um tombo, o bolo voa por alguns segundos e metade do confete e chantilly vem em meu rosto e o resto em minha saia e no chão.
Um chiado de freio brusco é ouvido dos dois carros em direção um ao outro e tiro metade do doce dos meus olhos
- Cacete – uma voz grossa e brava vem do lado esquerdo, mas meu olhar irritado vai para o cara que entrou com tudo na curva ao contrário. Ele parece meio perdido olhando de mim para o outro motorista, mas volta o olhar rapidamente para o outro quando ele começa a falar de novo – Você está maluco? Essa pista do estacionamento é somente para entrar e não sair.
- Eu não sabia, sinto muito, o....
- Você por acaso é cego? Não viu a placa enorme do seu lado? Poderia machucar alguém
Tá, tudo bem, eu meio que estava sentindo pena do outro cara, mas não podia deixar de concordar com o outro cara esbravejante, ele parece ser muito sensato e....
- Ou pior, poderia bater no meu carro e aí sim, o senhor teria um problemão
O que??
Ele estava dizendo que a porcaria do carro dele era mais importante que uma vida? Mas que cretino.
- Você está brincando com a minha cara? – eu falo tentando tirar os fragmentos do que era um bolo do meu colo. Subo o olhar rapidamente e vejo um cara alto de cabelos com reflexos dourados e de óculos escuros me observando do alto – E eu aqui achando que você estava defendendo a vida quando você estava decididamente defendendo uma lataria.
- O que você disse? – sua voz saiu como um rosnado e era nessa hora que eu deveria ter ficado calada, mas só o que eu fiz foi tentar me levantar com o pouco de dignidade que me restava e olhar com cara feia para ele.
- Você ouviu muito bem, la-ta-ria
A parte de soletrar fez com que ele fumegasse ainda mais, então tirei o pedaço de bolo da minha blusa e passei os dedos melecados em minha saia, um rastro colorido ficou e eu bufei frustrada.
- Tinha que ser uma mulher a falar isso
- Tinha que ser um homem a tentar rebaixar o gênero feminino – devolvo e olho por cima do ombro franzindo a testa quando vejo o fujão dá a ré e sair de fininho – Ótimo.
- Culpa sua é claro, se fechasse a boca e me deixasse resolver eu...
- Você ia fazer o que? Multar ele? Gritar um pouco mais, talvez?
- Você é insuportável
- Obrigada
Resmungo um palavrão e me abaixo pegando a caixa rosa do bolo, puxando uma respiração ando rapidamente até a entrada do prédio e vou direto para o banheiro. Ignoro os olhares piedosos e maldosos por onde passo e entro fechando a porta, jogando a caixa no lixo pego vários papeis e começo a desabotoar a camisa três quartos preta, a blusa é colocada do lado da pia e começo a esfregar o papel em meu corpo tirando o açúcar.
Minutos depois olho para a saia e vejo que a marca colorida vai ter que ficar, então passo o papel para tirar o excesso e pego minha camisa da pia esfregando em alguns pontos debaixo da água e secando logo em seguida no secador automático. Abotoou e meus ombros caem aliviada quando termino, puxo mais alguns papeis, mas paro quando meu celular apita com uma mensagem.
Sônia: Onde você está? O senhor Campbell acabou de chegar
Puta merda, logo hoje? Sério isso?
Eu: Já estou indo, não se preocupe
Passo rapidamente a mão nos cabelos, arrumando e corro para fora do banheiro. Entro no elevador e quando chega ao andar desejado insiro o cartão, desbloqueando a entrada.
- Ah, aí está ela – Dou um sorriso tenso para Sônia e sigo com passos rápidos para a minha mesa, mas paro quando ela acena com a cabeça para o lado mandando sutilmente eu entrar na sala dele. Inspiro pelo nariz e sigo para a porta, mas estanco quando vejo quem está sentado atrás da longa mesa – Campbell conheça a senhorita Jones, sua nova secretária.
Mas é claro que tinha que ser o idiota do carro.
.............................
- Srta. Jones, é um imenso.... Prazer – Posso escutar o seu tom sarcástico do outro lado da cidade, mas só o que eu faço é sorrir inocente.
- O prazer com certeza é meu sr. Campbell
- Bom, feita as apresentações vou deixar vocês a sós, eu tenho um montante de coisas a fazer – hahaha, estava mais para “vou fugir enquanto é tempo” do que coisas para fazer – Eu já apresentei o escritório a ela, e disse quais eram suas obrigações, por isso não se preocupe – ela se vira nos seus saltos quinze e some rapidinho pela porta – Até mais.
Fecho os olhos por segundos antes de puxar uma respiração e me virar de novo para Campbell, minha pulseira gira de um lado para outro, acompanhando os meus movimentos dos dedos.
- Precisa de algo sr. Campbell?
- Na verdade preciso saber uma coisa – Forço os meus olhos a focar nele, mesmo quando meus instintos me pedem para dar o fora dali o mais rápido possível. A postura dele está relaxada na cadeira de couro, os braços apoiados na mesa e sua expressão é nada mais do que curiosa – Alguém mexeu em minha mesa enquanto estive fora?
- Sim – pigarreio para tirar o gorro da garganta e estico ainda mais minha postura – Eu mexi, pelo menos acho que fui a única. Os papeis estavam bagunçados então coloquei-os em ordem, estão todos em cima da sua mesa – Vejo seus olhos se estreitando e termino de responder a sua pergunta – Sinto muito se não devia, não me foi passo nenhuma regra quanto a sua sala.
- Não estou recriminando, só perguntei por curiosidade
- Certo
Sinto seus olhos em mim, então forço os meus músculos a relaxarem enquanto devolvo o olhar. Cabelos escuros com reflexos dourados, um anel cinta no seu dedo indicador e me chama atenção por alguns segundos, mas subo o olhar quando seus olhos escuros e observadores parecem ver as mínimas manchas de onde o bolo encostou.
- Posso ir? – eu falo e me impeço de revirar os olhos quando sinto minha voz falhar um pouco.
- Pode é claro – sem entoação, sem emoção, nada. Me viro de volta para a porta e já estou quase a ultrapassando quando ele volta a falar – Tem açúcar no seu pescoço
- O que? – minha cabeça gira rapidamente em direção a ele enquanto minha mão passa freneticamente pelo pescoço e sinto as pequeninas pedrinhas de açúcar com os dedos, suspiro e fecho a porta resmungando um obrigada.
Mas assim que a porta se fecha mostro o dedo do meio para a porta que nos separa. Ouço o que parece ser um engasgo de um riso contido e reviro os olhos com tanta força que penso que meus olhos possam ter saído das orbitas.
Mauricinho.
- Eu ainda não acredito que você chamou o carro dele de lataria – Tori fala e começa a rir de novo, o que é um pequeno problema para mim, porque toda vez que ela volta a esse assunto eu entorno mais um shot.... eu já estava no quinto.A memória dos carros freando e eu caindo de bunda no chão só faz uma pequena cosquinha na minha dignidade, agora o fato de xingar o meu chefe no meio do estacionamento meio que dá um belo murro me colocando no chão de novo.Mas caramba, eu não tenho culpa sabe? Foi sem querer, e ele tinha que ter noção disso. Aquele babaca...Droga, xinguei ele de novo.- Eu vou ser demitida mais rápido que eu pensei – eu resmungo por sobre o som do pub.- Não vai nada, vai mostrar serviço e pronto – Jasper apoia o braço em meus ombros e eu apoio minha cabeça em seu peito – Ele vai esquecer isso
- Jones! – pulo cerca de dois centímetros na cadeira antes de me levantar e seguir em direção a sala de Campbell. Jesus, precisa gritar tão alto assim? Ele acha que eu sou surda? – Onde está a porcaria da pasta sobre os Brown?- Desculpe? – eu pergunto e me aproximo, mas dou um passo atrás quando vejo a carranca em seu rosto.- A pasta intitulada Brown, a indústria Têxtil- Sei que empresa está falando sr. Campbell. O que não sei é sobre a pasta, não a vi quando estava organizando- MerdaSuas mãos se movem abrindo e fechando gavetas e franzo a testa ao ver a bagunça começando a aparecer de novo em cima da mesa dele, mas volto o olhar para ele quando percebo que ele está resmungando de novo.- Pergunte a Sônia onde a secretária anterior deixou essa pasta, preciso das informações que est&a
Sabe aquelas máquinas potentes de café? Que basicamente faz tudo o que você pedir?Tipo, cappuccino, expresso, latte, macchiato, esse tipo de coisa. Café que mais parece uma refeição.Eu quebrei.É isso aí, eu quebrei uma máquina que com certeza custava muito dinheiro, e depois andei até a mesa dele e coloquei o café que consegui salvar antes que quebrasse.Provavelmente ele vai ficar sabendo uma hora ou outra, mas puta merda, buscar café toda vez que ele tem algum cliente é pura chateação.E eu sei que ele sabe o quanto eu odeio, o covarde.Porque quando a máquina chegou, Sônia estava na sala dele e pediu rapidamente um copo de café com aquela voz fina e alegre de sempre “Quero ser a primeira a estrear, pode trazer uma xicara para mim florzinha? Cappuccino por favor”.Eu tenho certeza que ro
- Eu vou matar você – eu rosno baixinho e Tori arregala os olhos fingindo inocência- Não é nada demais amiga, é só um experimento- Experimento? Você está maluca?Olho ao redor e vejo Sarah uma funcionária, nos observando curiosa enquanto diminui os passos pelo saguão. Estou esperando no térreo que Campbell chegue, mais uma reunião fora do escritório e dessa vez estou munida com informações mais que necessárias, só não esperava que Tori também tivesse informações nada desejáveis.- Olha, a gente vai e se diverte juntas. Mas estando acompanhadas de dois homens muito bonitos e simpáticos.- Você não sabe disso, lembra? Você acabou de concordar em um encontro as escuras Tori- Eu sei, mas a minha colega disse que são muito gentis e eu confio nela- N
Dizer que era uma péssima ideia viajar com o chefe irritante era dizer o mínimo, mas eu juro que somente pensei em coisas positivas, tipo, eu conheceria uma cidade nova, e entraria em um avião....Opa, ponto negativo.Viu? Nem pensamentos positivos servem mais. Coloco mais algumas camisas na mala pequena e averiguo de novo antes de fechar e a colocar em pé ao lado da cama, olho o relógio, nove horas da manhã, tenho uma hora antes que precise pegar um táxi.Entro no banheiro e tomo o banho mais relaxante que posso tomar, água gelada tende a fazer isso. Lavo os cabelos e depois o seco com o secador, criando pequenas ondas, faço uma maquiagem leve e passo brilho nos lábios, deixo o cabelo solto e coloco meu vestido preto justo, complementando com um sobretudo cinza.Calço as botas de salto alto e deslizo a mala de rodinhas pelo apartamento, mando uma mensagem de aviso a Jasper e ele
Tudo bem, ele não estava exagerando.Mas se bem que a culpa não foi minha, só que estávamos na hora errada e no lugar errado, isso se chama efeito borboleta......Eu acho.- Eu estou com um probleminha nas costas sabe como é, a idade finalmente chegou – o motorista continuou explicando quantos problemas tinha quando chegamos na frente do hotel, ele literalmente estava se desculpando por não nos ajudar a tirar a mala, e juro por deus que eu não via problema nenhum nisso, tenho duas mãos afinal, mas o fato dele continuar citando todos os lugares que doí estava me deixando cansada – Tem uma dor que vai do pescoço até o meio das costas e só doí quando eu vou dormir e....Saio do carro e dou risada da expressão atônita de Campbell, ele me segue e abre a porta do bagageiro enquanto ainda escuto as reclamações do velho senhor.- Essas
Ele ia me beijarEle ia me beijarEle ia me beijar? Eu ia beijar ele?Não, claro que não, eu nunca faria algo assim. Eu não era tão idiota para arriscar o meu trabalho, de jeito nenhum.Bato a cabeça no encosto do carro gemendo baixinho. Mas que merda, o que eu estava pensando? Em nada pelo visto.Agradeço o motorista e desço do carro suspirando quando vejo meu prédio. Um dia e meio e já tinha me metido nas maiores das confusões, isso é bem o meu estilo mesmo. Mas se for pensar pelo lado positivo, eu consegui convencer Giliarde mudar drasticamente o preço, e agora Declan era o dono de mais um prédio imponente.Ahh e também consegui sobreviver ao voo de volta, enfiei os fones no ouvido, e segurei o apoio para o braço com força, sem tocar em Declan no processo.Declan......Argh.Ainda mais isso, quem já se viu go
- Vai por favor, está tudo combinado. Seria tão ruim da sua parte fazer isso com eles KallieOlho por cima do meu pote de sorvete para uma Tori triste e reviro os olhos quando ela faz um beicinho.- A culpa não é minha se você não perguntou primeiro se eu queria ir- Se eu perguntasse você diria não- Exatamente- Viu? Você é muito confusa sabia?- Confusa? Desde quando eu disse queria ir em um encontro as escuras?- Não estou falando disso – Tori se aproxima com uma colher e enche a colher antes de colocar na boca e mastigar contente. Eu deveria ter fingindo que não estava em casa.... Hunf, até parece que isso ia impedir ela de entrar – Você disse que eu deveria encontrar alguém para ir comigo ao jantar. Então é isso que estou tentando fazer, mas você não ajuda.- Você deveria ir enc