Dizer que era uma péssima ideia viajar com o chefe irritante era dizer o mínimo, mas eu juro que somente pensei em coisas positivas, tipo, eu conheceria uma cidade nova, e entraria em um avião....
Opa, ponto negativo.
Viu? Nem pensamentos positivos servem mais. Coloco mais algumas camisas na mala pequena e averiguo de novo antes de fechar e a colocar em pé ao lado da cama, olho o relógio, nove horas da manhã, tenho uma hora antes que precise pegar um táxi.
Entro no banheiro e tomo o banho mais relaxante que posso tomar, água gelada tende a fazer isso. Lavo os cabelos e depois o seco com o secador, criando pequenas ondas, faço uma maquiagem leve e passo brilho nos lábios, deixo o cabelo solto e coloco meu vestido preto justo, complementando com um sobretudo cinza.
Calço as botas de salto alto e deslizo a mala de rodinhas pelo apartamento, mando uma mensagem de aviso a Jasper e ele responde que vai cuidar de tudo, como se eu acreditasse nisso. Abro a porta da geladeira e fecho os olhos quando sinto uma rajada de ar junto com alguma coisa cintilante.
Ofego abaixando os olhos para o meu vestido e vejo glitter por todo lado, mas que filho da puta.
Começo a bater com força no meu vestido e paraliso quando o interfone toca.
- Sim?
- Srta. Jones, é o motorista de Declan, vim busca-la para leva-la até o aeroporto
- Ah tudo bem, já estou descendo.
Nem me incomodo de perguntar por que diabos ele me mandou o motorista, porque acho que tem relação com o fato de que eu não queria ir para começo de conversa. Espano por mais alguns segundos, mas desisto, desço o mais rápido possível e encontro o olhar confuso do motorista em mim, ele pega a minha mala e a coloca no bagageiro abrindo a porta para mim em seguida.
Ficamos em uma paz silenciosa por alguns minutos, mas ele começa a falar quando repara que estou tentando tirar o glitter.
- Recebeu alguma surpresa?
- Pior que não, meu amigo idiota achou que seria legal colocar uma bomba de glitter na porta da geladeira
Ele começa a rir e eu o acompanho fazendo careta
- Desculpe, eu nunca nem perguntei seu nome – eu falo e ele sorri pelo espelho
- Thomas
- Muito prazer Thomas, eu sou Kallie, a secretária desastrada de seu patrão
Ele ri de novo enquanto eu espano com mais força por sobre o glitter, aquela porcaria tinha cola?
- Isso não vai sair a tapas, sinto dizer
- Eu sei, mas estou imaginando que é o rosto do meu amigo no meu vestido
Dou risada da sua expressão e continuamos conversando até que chegamos ao aeroporto, desço do carro e pego minha mala branca, dando um aceno de adeus a Thomas.
Caminho por sobre os olhares especulativos e encontro Campbell ao lado da fila me esperando, paro ao seu lado e ele levanta o olhar, mas para quando vê o meu rosto.
- Você tem algum problema com açúcar?
- Não é açúcar, é glitter – respondo passando a mão no rosto
- Não sabia que iriamos a uma festa
- Larga de ser idiota, não foi de propósito.
- Jura? Eu nem percebi – mostro o dedo do meio e ele ri arrastando a minha mala e a sua pela fila – Parece que foi atropelada por um carro de festa.
- Foi um acidente
- Claro que sim, você parece que chama acidentes consigo
- Argh, você é irritante – respondo e desisto de tirar o glitter do rosto quando chegamos no atendimento.
Alguns minutos depois e estamos dentro do avião e todo o acidente envolvendo o glitter acabou passando a ser o segundo problema na minha vida, olho para o lado e vejo o rosto engraçadinho de Campbell, tudo bem, o terceiro problema.
Giro a pulseira quando vejo as pessoas se preparando e puxo uma respiração quebrada quando o avião começa a tomar vida.
- Problemas com voar?
- Um pouco
- Por isso não queria vim?
- Não, eu não queria vim por que estaria na sua companhia
Sinto ele rindo do meu lado e fecho os meus olhos quando o avião começa a deslizar pela pista.
- Não me bate – ele sussurra e eu abro os olhos confusa. Porque eu bateria nele? Não que ele não merecesse, é claro.
Mas aí eu entendo, ele coloca a mão sobre as minhas que estão girando a pulseira e as tira de perto uma da outra. Sua outra mão se move para os fones de ouvido e ele me pede apontando com a cabeça para coloca-los, faço o que ele diz e ele insere o plug no seu celular. Ele desliza o dedo rapidamente e clica em uma playlist, e o som suave da voz de James Arthur preenche o silêncio.
Tento acalmar minha respiração, mas quando o avião finalmente decola não consigo me controlar e acabo apertando com força a primeira coisa que encontro. Acaba sendo a mão ainda próxima de Campbell.
Sua mão fica tensa por um instante, mas logo relaxa em torno da minha. Seus dedos se movem e um minuto depois seu dedo indicador está descansando suavemente em meu pulso. Não tento pensar em nada, simplesmente fecho os olhos e torço para que acabe logo.
.....................................
Filadélfia, finalmente.
Solto o ar devagar quando deslizamos para um taxi, as ruas são movimentadas e as pessoas andam quase correndo pelas calçadas, sorrio quando vejo uma criança chutar uma poça de água no irmão. Cubro a boca com a mão ocultando um bocejo e logo pego o meu tablet passando pelas pastas.
- Falei com o dono e ele disse que já está nos esperando para mostrar o prédio.
- Tudo bem – eu respondo e seleciono um grupo de imagens fazendo algumas anotações e perguntas nas bordas.
Trinta minutos depois e chegamos ao nosso destino, deixamos o taxista esperando a nossa volta junto com as nossas bagagens e saímos de dentro do carro. O prédio em si era um dos maiores e ficava bem no meio da cidade, a fachada era toda de pedra de cor clara, dando um ar de antiguidade, mas era bem impressionante tinha que admitir.
O dono – Giliarde Bucker – era alto e se vestia bem, o nariz ficava sempre empinado, como se estivesse em seu próprio mundo, então é claro fiquei bem distante dele. Ele por outro lado mostrou cada mínimo detalhe que importava, na sua opinião, é claro.
Campbell ia fazendo as perguntas que achava necessário enquanto eu ia anotando, mas foi no terceiro andar que eu achei algo que pudesse ajudar.
- Porque as paredes estão úmidas? – pergunto e Giliarde se vira dando de ombros.
- Nada importante, é época de chuvas e a umidade é horrível
- Isso não parece ser umidade, parece ser problema na encanação
- Pois não é, já conversei com meu empreiteiro sobre isso
Olho para Campbell e ele acena com a cabeça compreendendo, pego a imagem das plantas disponibilizadas pela prefeitura e localizo o que eu quero.
- A planta original fala de uma encanação bem aonde estou apontando
- O que?
- Aqui, olhe – aponto para a imagem e ele franze a testa com raiva
- Onde achou isso? Precisa de permissão
- Na verdade, está para quem quiser ver, eu só precisei procurar – ele resmunga e dispensa o assunto, mas sabe que vamos voltar a isso na hora certa.
Subimos mais alguns andares e só quando estamos no último é que eu vejo uma pequena fissura passando pela parede esquerda. Me aproximo, se afastando dos dois e sigo com o dedo até onde vai dar.
A fissura acaba no canto da parede no final, terminando com uma mancha escura e podre, chuto com um pouco de força no canto e pulo um centímetro quando a parede racha de vez e algumas pedras caem ao meu lado. Mãos me puxam para trás e eu vou sem lutar, e só quando as pedras param de cair é que me afasto de Campbell.
- Cacete – ele fala perto de mim e eu olho para ele, como se tivesse sido pega fazendo algo errado – Eu disse que você chama acidentes consigo.
- Não é culpa minha se as paredes estão podres
- Podres? É claro que não estão podres – Giliarde chega ao nosso lado com raiva e eu me movo para trás de Campbell que me olha de um jeito engraçado – Você é que mexeu no que não deve.
Abro a boca para responder, mas Campbell passa na minha frente
- Está claro que o prédio não está nas condições que me falou, e minha assistente pode mexer no que bem entender – ele olha da parede para Giliarde contrariado – Vou ficar na cidade até amanhã, espero uma mudança bem grande no valor, ou nada feito.
Ele segue para a porta me arrastando pela mão e eu vou tropeçando logo atrás. Entramos no taxi e segundos depois ele está rindo ao meu lado, olho desconfiada para ele e espero ele falar alguma coisa.
- Porque eu ainda me surpreendo com você?
- Sabe que eu não sei? – devolvo ironicamente
- Só você mesmo para destruir uma parede inteira
- Eu não destruí, eu só chutei um pouco
Ele me olha arqueando a sobrancelha e eu levanto um ombro com descaso.
- Talvez eu tenha destruído um pouco
- Um pouco? – ele move a cabeça desacreditando e eu o vejo se virando para frente e dizendo o nome do hotel que iriamos ficar – Tenho que tomar cuidado perto de você
- Não exagere
- Espertinha, acredite, eu não estou exagerando
- Está sim.
Tudo bem, ele não estava exagerando.Mas se bem que a culpa não foi minha, só que estávamos na hora errada e no lugar errado, isso se chama efeito borboleta......Eu acho.- Eu estou com um probleminha nas costas sabe como é, a idade finalmente chegou – o motorista continuou explicando quantos problemas tinha quando chegamos na frente do hotel, ele literalmente estava se desculpando por não nos ajudar a tirar a mala, e juro por deus que eu não via problema nenhum nisso, tenho duas mãos afinal, mas o fato dele continuar citando todos os lugares que doí estava me deixando cansada – Tem uma dor que vai do pescoço até o meio das costas e só doí quando eu vou dormir e....Saio do carro e dou risada da expressão atônita de Campbell, ele me segue e abre a porta do bagageiro enquanto ainda escuto as reclamações do velho senhor.- Essas
Ele ia me beijarEle ia me beijarEle ia me beijar? Eu ia beijar ele?Não, claro que não, eu nunca faria algo assim. Eu não era tão idiota para arriscar o meu trabalho, de jeito nenhum.Bato a cabeça no encosto do carro gemendo baixinho. Mas que merda, o que eu estava pensando? Em nada pelo visto.Agradeço o motorista e desço do carro suspirando quando vejo meu prédio. Um dia e meio e já tinha me metido nas maiores das confusões, isso é bem o meu estilo mesmo. Mas se for pensar pelo lado positivo, eu consegui convencer Giliarde mudar drasticamente o preço, e agora Declan era o dono de mais um prédio imponente.Ahh e também consegui sobreviver ao voo de volta, enfiei os fones no ouvido, e segurei o apoio para o braço com força, sem tocar em Declan no processo.Declan......Argh.Ainda mais isso, quem já se viu go
- Vai por favor, está tudo combinado. Seria tão ruim da sua parte fazer isso com eles KallieOlho por cima do meu pote de sorvete para uma Tori triste e reviro os olhos quando ela faz um beicinho.- A culpa não é minha se você não perguntou primeiro se eu queria ir- Se eu perguntasse você diria não- Exatamente- Viu? Você é muito confusa sabia?- Confusa? Desde quando eu disse queria ir em um encontro as escuras?- Não estou falando disso – Tori se aproxima com uma colher e enche a colher antes de colocar na boca e mastigar contente. Eu deveria ter fingindo que não estava em casa.... Hunf, até parece que isso ia impedir ela de entrar – Você disse que eu deveria encontrar alguém para ir comigo ao jantar. Então é isso que estou tentando fazer, mas você não ajuda.- Você deveria ir enc
Tudo bem, não era nada demais. Foi só um beijoUm beijo quente e que me deixou de pernas bambas.Merda.Abro a porta do apartamento e finjo não perceber os pingos de água escorrendo dos meus cabelos e do meu vestido enquanto ando até a cozinha.Preciso de álcool, sim álcool seria uma ótima ideia.Abro a portinha do armário e fecho os olhos quando o açúcar refinado cai em minha cabeça como se pequenos respingos de glitter caísse- Droga Jasper, isso é hora para fazer pegadinha?É claro que ele não responde, ele está trabalhando hoje à noite. Tiro metade do açúcar dos meus olhos e tento alcançar a garrafa de vodca, pulo por sobre as pontinhas dos pés e quando já estou pensando em pegar uma cadeira o som de batidas ressoa do outro lado da porta.Franzo a testa e olho para
- Com Celine de volta, você vai poder terminar aquela maldita planilha e enviar para o setor de recursos humanos – Colton digita mais alguma coisa no notebook enquanto fala comigo – Preciso que vá até a sala de arquivos e pegue uma pasta intitulada como funcionários, acho que vai encontrar alguma coisa que ajude na planilha.Colton continua falando enquanto eu continuo anotando no automático, minha cabeça indo em outras direções e eu a puxando para o presente. Termino a lista e saio da sua sala indo em direção a minha mesa. Tori está lá olhando para mim desconfiada.- O que? – eu pergunto me sentando na cadeira- O que aconteceu no sábado?- Como assim? Fui para casa- Uma ova que você foiReviro os olhos e abro a pasta com a planilha, gemendo quando vejo a bagunça que está, e não está nem na metade. P
- Você dormiu com ele sua safada e mentiu na cara limpa – Tori fala um baixo quase gritando do meu lado enquanto pego minhas coisas – Você não presta.- Cala a boca, e porque você acha que eu dormi com ele?- Estava bem obvio na cara de predador dele, parecia que ia te devorar inteirinha – ela estremece ao meu lado e eu reviro os olhos – Tive que ir no banheiro jogar água no rosto.- Larga de ser exagerada- Queria eu que fosse exagero – ela para pegando minha caneta preta e a jogando na sua mesa, pego de volta e dou um tapa na mão dela – Você obviamente não vai poder explicar em detalhes agora, mas eu juro que se você não me contar ainda hoje eu te mato Kalliope Jones.Pego o restante das minhas coisas e as deixo em cima da mesa ignorando de proposito a ameaça de Tori enquanto vou até a sala de Colton.Ah meu deus, como eu vou
Mas que filho da putaComeço a rir quando vejo o carro e nem sei se fico com raiva ou aliviada.... Não espera, eu estou ofendida na verdade. Como assim ele não confia em mim com aquele carrinho todo luxuoso dele?Abro a porta do motorista e entro, esse carro também não ficaria muito atrás. Um Honda civic de cor cinza com bancos de couro é uma visão linda, ligo e dou um sorriso animado quando o motor ganha vida.Vinte minutos depois estou na frente do restaurante de Amanda, entro e uma funcionária me leva até onde ela está, a cozinha está uma verdadeira bagunça e mesmo com o horário vejo a quantidade de pedidos. Aceno para ela e Amanda rapidamente passa as ordens para uma moça vindo até mim.- Desculpe a bagunça- Tudo bem, é animador esse lugar- Todos os dias são assim – ela ri e me leva até a sua
- KALLIECacete o grito deve ter repercutido pelo prédio inteiro, saio de onde estava deitada na cama e vou para o quarto de Jasper. Ele está parado de pé no canto do quarto com um travesseiro na mão em posição de ataque.Dou risada e ele tira os olhos da aranha enorme em cima da cama dele e olha para mim apavorado.- Tira ela, tira ela agora- Larga de ser frouxo Jasper, é só uma aranha- Porra nenhuma, olha o tamanho disso.Ele tinha certa razão, a aranha era enorme, só que o que ele não sabia era que era uma aranha falsa. Então vou até um quartinho onde guardamos as coisas e pego uma vassoura, finjo me aproximar lentamente da cama e empurro a aranha falsa para cima de Jasper que solta um grito e começa a correr em direção a cozinha- Ela está em cima de mim, tira, tira- É falsa Jasper, se acalma &nda