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Capitulo 12 - Um Primeiro Passo

- Vai por favor, está tudo combinado. Seria tão ruim da sua parte fazer isso com eles Kallie

Olho por cima do meu pote de sorvete para uma Tori triste e reviro os olhos quando ela faz um beicinho.

- A culpa não é minha se você não perguntou primeiro se eu queria ir

- Se eu perguntasse você diria não

- Exatamente

- Viu? Você é muito confusa sabia?

- Confusa? Desde quando eu disse queria ir em um encontro as escuras?

- Não estou falando disso – Tori se aproxima com uma colher e enche a colher antes de colocar na boca e mastigar contente. Eu deveria ter fingindo que não estava em casa.... Hunf, até parece que isso ia impedir ela de entrar – Você disse que eu deveria encontrar alguém para ir comigo ao jantar. Então é isso que estou tentando fazer, mas você não ajuda.

- Você deveria ir encontrar sozinha, eu ajudaria rastreando os seus passos e qualquer coisa acionaria a polícia, isso é o que eu considero ajudar.

Coloco mais uma colher de sorvete na boca e mastigo feliz quando encontro um pedaço enorme de chocolate no meio.

- E que tal assim – ela pega um pedaço de chocolate e eu bato em sua mão afastando – Se você não for comigo hoje, eu falo para os meus pais que você odeia os jantares e por isso não vai

Arregalo os olhos e afasto o pote de sorvete dela.

- Você não faria isso

- Você sabe que sim – ela levanta um ombro com descaso. Tudo bem, ela realmente faria isso

- Víbora

- É isso aí, vou arrumar o meu vestido na sua cama. E vou procurar alguma coisa para você, não pode ir de calça

Ela sai fazendo os próprios planos enquanto eu enfio mais sorvete na boca, olho tristemente para a televisão com o filme Diário de uma Paixão pela metade (bem na hora que ela ia lembrar dele). Olho para o relógio na parede e vejo que se não for tomar banho agora Tori irá me matar.

Uma hora depois e muita maquiagem espalhada na minha cama estamos prontas, Tori optou por um vestido tubinho verde, com um salto ponta fina de cor preta e decidiu fazer um coque bem elaborado – ela disse que isso fazia parecer seu pescoço mais alongado -. Eu escolhi um vestido rodado, acima dos joelhos, de cor vermelha, as alças caiam com o tecido fino e finalizei colocando uma pequena corrente dourada.

Passo um batom nude e prendo meus cabelos de lado, deixando que as ondulações caiam livremente pelo meu ombro. Já estou fechando a bota de cano curto e com um salto extremamente alto quando Tori traz um par de brincos.

- Coloque, vai combinar com o vestido – o par é delicado e lindo, com mínimas pedrinhas douradas caindo como se fossem pequenas lágrimas.

- Isso é muito chique, não quero, obrigada

- Coloca logo Kallie, trouxe um para você e esses para mim

O par dela são argolas finas e grandes, muito mais simples que o meu

- Prefiro o seu

- Se você não colocar eu vou....

Ela para quando o interfone toca e praticamente corre até a sala, suspiro e enfio rapidamente os brincos nas orelhas, pesco minha bolsa no caminho e a sigo até o saguão. Ofereço um sorriso para os dois homens e vejo quando Tori segue animada para um, então o outro deve ser o meu acompanhante.

- Olá, sou Kallie – estendo a mão para ele que a pega sem jeito

- Oi, eu sou Henry e esse é Adam

Aperto sua mão também e vejo Tori os observando de longe, eu não a julgo, fiz o mesmo, e não posso discordar da sua colega, eles são muito bonitos. O Henry é alto, os cabelos negros são curtos, os olhos claros me observam de longe e um sorriso brinca em seus lábios, Adam também não fica atrás, cabelos cacheados e um tom mais claro que o de Henry, a pele escura fica linda em contraste com os olhos claros.

- E então, vamos? – Tori pergunta animada e eu confirmo seguindo-os até o carro.

..........................

A galeria Dayneo ficava bem no meio da cidade, a estrutura toda feita de pedras antigas me fazia lembrar das aulas de história, época vitoriana talvez. Somos recebidos por uma assistente e logo depois entramos no local.

Quadros e esculturas preenchem meu campo de visão e eu inspiro o ar criativo, cheiro de tinta fresca, Tori segue na frente com Adam em uma conversa animada e eu sorrio quando vejo ela apontando para alguns quadros.

- Gosta de pinturas? – Henry pergunta ao meu lado e eu aceno confirmando.

- Na verdade eu gosto sim, e você?

- Bastante, é por isso que sou professor de artes

- Você é professor? – pergunto admirada e ele sorri sem jeito

- Sou, dou aulas na faculdade

- Foi você quem teve a ideia de vim aqui hoje?

- Não – ele ri e aponta para a minha amiga – Vitória disse que seria uma boa ideia

- Não me surpreendo.

Ele ri mais um pouco e paramos para observar um quadro, era uma cópia autentica de um dos quadros de Frida Khalo, eu sabia disso, mas deixei que ele contasse a história, vendo que ele se sentia melhor nessa posição.

Conversamos por mais alguns minutos e fico surpresa com o quanto eu gostei dele, talvez ele não seja tão ruim assim. Paro em um dos maiores quadros e observo, Henry começa a citar algumas coisas, mas é interrompido quando uma voz feminina chama ele, olho para o lado e vejo uma senhora mais velha o chamando até ela, ele pede licença e se afasta rapidamente.

Fico olhando para o quadro por algum tempo e só paro quando sinto um arrepio percorrer o meu corpo, coloco a mão no pescoço massageando e estanco quando não sinto o brinco bater em minha mão. Passo os dedos pelo lóbulo da orelha e gemo baixinho quando não o encontro.

Olho desenfreadamente para o chão e me abaixo procurando, um dos passantes franze a testa para mim, mas eu os ignoro, porcaria de tapete cinza, ponho as mãos no chão e tateio em busca de algo brilhante e caro......Puta merda será que seria caro mesmo?

- O que está fazendo?

Olho de supetão para cima ouvindo a voz grossa e linear de Declan. Abro a boca quando o vejo na minha frente tentando não rir da minha posição.

Deus tenha misericórdia de mim.

- O que está fazendo aqui? – eu sussurro me levantando. Oscilo de lado e ele me apoia segurando minha mão.

- Perguntei primeiro

- Eu perdi um brinco – respondo simplesmente e olho de novo para o chão

- E achou que seria uma boa ideia ficar de quatro no meio do corredor?

- Eu não achei nada – digo raivosa e pigarreio quando vejo uma senhorinha me olhar de cara feia – O que está fazendo aqui?

- Gosto de pinturas

- Uhum – chuto de leve o tapete ao meu lado e não vejo nada – Você está vendo algum brinco?

- Aquele em baixo do quadro com pontinhos?

Olho para onde ele aponta e corro até lá pescando o brinco aliviada, tiro o outro e os coloco na bolsa, é mais seguro assim. Volto para onde Declan está e acerto um soco em seu braço.

- Hey! – ele foge das minhas mãos e eu o encaro irritada

- Você sabia onde estava e ficou me observando procurar, seu cretino

- Talvez eu tenha...

- Kallie?

Me viro para ver um Henry confuso se aproximar, dou um sorriso tranquilo e ele vem para o meu lado.

- Henry esse é Declan o meu....

- Ex-namorado

Ofego e olho desnorteada para Declan que cumprimenta Henry e vejo quando ele faz uma mínima careta de dor, soltando sua mão com um puxão.

- Não, ele não é....

- Por favor querida, não minta. O rapaz não vai gostar

- Seu idiota

- Não vamos conversar sobre isso aqui amor, seu amiguinho está querendo falar algo, não é?

Ele olha para Henry e fico furiosa quando vejo ele se afastando

- Sabe o que é? Me ligaram e eu preciso ir, coisa da universidade sabe?

E rapidinho ele some dali, olho para Declan e cruzo os braços esperando que ele pare de rir. O que não acontece rapidamente, então piso em seu sapato e ele arqueja se afastando.

- Aí, cacete Kallie isso doí

- Verdade? Porque se você não me contar o que diabos está querendo eu vou fazer bem pior

- Kallie? Onde Henry está? – Tori se aproxima com Adam a tiracolo e os dois estão nos observando surpresos.

- Ele foi embora, disse que precisava fazer algo importante

Não digo que ele saiu correndo porque o idiota do meu chefe o espantou, isso só traria mais perguntas.

- Não entendi – Tori questiona e arregala os olhos quando vê com quem estou falando – Sr. Campbell

- Boa noite, é Vitória certo?

- Sim – ela olha para mim fazendo uma pergunta silenciosa e só o que eu faço é balançar a cabeça negando.

Negando tudo

Negando até aquela cena ridícula

- Estou vendo que acabamos atrapalhando o seu encontro – olho desconfiada para o tom sem emoção de Declan – Eu e Kallie vamos os deixar a sós.

Peço ajuda com os olhos para Tori mas ela olha de mim para Declan e o que vê faz ela tomar a decisão sozinha.

- Ah tudo bem então, nos vemos depois amiga. Vamos Adam

Se pensamentos pudessem matar, ela estaria morta com os meus pensamentos assassinos. Mas não importa eu a mataria, enforcaria ela e...

- Kallie?

- O que? – eu pergunto cansada

- Tenho algo para lhe mostrar, vamos?

- Tenho escolha?

- Não

Encolho meus ombros e o sigo em direção a saída, meus pensamentos indo de: O que ele quer de mim? Para: Qual é o método mais fácil de matar alguém?

.................................

Ele tem um carrão, do tipo que você só vê passando na rua, e nunca, jamais chegando tão perto, e se eu não estiver errada era um Aston Martin One preto fosco, tão lindo. Ele abre a porta e eu entro tomando o cuidado de não quebrar nada, ele entra pelo lado do motorista e eu coloco o cinto de segurança.

- Para onde estamos indo?

- Vai perder a graça se eu disser

Reviro os olhos e fico calada pelo restante do caminho. Mas volto a falar quando vejo aonde estamos.

- Central Park?

- Não julgue ainda

- Eu não julgo

Saio para o ar frio e olho para o parque, várias pessoas estão passeando descontraídas em direção a lugares nenhum. Declan parece saber para onde vai então eu o sigo olhando ao redor, eu nunca tinha vindo ao parque de noite, o que parece ser meio estranho para alguém que nunca saiu daqui.

Franzo a testa quando o vejo escalando umas poucas rochas e o sigo tentando não virar o pé nos saltos.

- Me dê sua mão

Eu faço isso e ele me puxa, sorrio para agradecer, mas paro quando vejo a paisagem a qual fiquei de frente.

Uau

Me aproximo da beirada e vejo todo o parque se estender a minha frente, luzes pequenas e maiores dão um ar mágico e íntimo, sorrio me sentado e vejo Declan fazer o mesmo ao meu lado.

- Como achou esse lugar?

- Digamos que eu venho muito aqui

- Para pensar?

- Para esquecer – ele fala baixinho e eu o olho me virando para ele. Mas vejo o quão desconfortável ele ficou de repente, então mudo de assunto.

- Se isso for um pedido de desculpas pelo que fez, saiba que ainda está no meio do caminho

- O que eu fiz?

- Colocou medo em Henry

- Ahh, sinto em lhe dizer espertinha, que não vou me desculpar por afastar aquele rapaz medroso de perto de você. Faria tudo de novo

- Ele não é medroso – porque eu o estou defendendo?

- Ele não aguentaria passar mais de meia hora com você

- O que? – pergunto afrontada e um pouco ofendida.... Tudo bem, muito ofendida – Está me chamando de chata?

- Nunca a chamaria de chata, irritante talvez, mas não chata

Bufo deselegante e olho para o parque de novo, depois dessa até as poucas luzes pareceram desaparecer.

- Ele estava bem confortável comigo, antes de você aparecer

- Porque você estava fingindo, estava obvio pela sua expressão que já tinha ouvido a história de cada quadro e só escutou por pena

Pode ter sido a gravata vermelha do seu terno que me deixou com a visão vermelha, mas poderia apostar que foi de raiva. Me levanto sacudindo o vestido e ele ri se levantando também.

- Eu não estava com pena dele

- Ah não? Jura mesmo? De onde eu estava, parecia muito com pena

Abro a boca para lhe responder, mas paro no meio do caminho. Junto as peças e arregalo os olhos surpresa.

- Você sabia – ele me olha confuso, mas eu complemento com raiva – Você me ouviu conversando com Tori, por isso estava lá hoje.

Ele fica em silêncio confirmando minhas suspeitas, rosno e olho para ele com ódio.

- Porque? Porque fez isso?

- Pensei que saberia

- O que? Que você é um idiota? Sim, eu sei.

Ele dá alguns passos se aproximando e eu prendo a respiração o observando, seus olhos descem para a minha boca e eu a sinto secar, passo a língua por elas e engulo em seco quando o vejo acompanhando os meus movimentos.

- Não amor. Pensei que saberia o quão maluco você está me deixando desde o primeiro dia que apareceu na frente do carro – Suas mãos se movem para o meu rosto e ele afasta uma mecha de cabelo do meu rosto – Que saberia que acompanho cada maldito passo que você dá, e isso é tão errado.

- Sim, é errado – caramba, porque tudo parece mais quente aqui? – Então é melhor você se afastar.

- Eu não consigo. Mas você pode conseguir, dê um passo para trás e então eu me afasto, eu juro Kallie

Subo meu olhar para ele e o que vejo, olhos verdes me chamando, implorando, fazem com que eu permaneça onde estou. Então ele tem a sua resposta.

Sua boca encontra a minha no meio do caminho e me arrasta para um lugar quente demais, errado e tão certo. Sua língua traça os meus lábios pedindo permissão e eu a dou, e depois disso tudo vira um emaranhado de sensações, nossas línguas estão se entrelaçando, nossos corpos não poderiam estar mais unidos, mas ainda assim eu o puxo para mais perto. Subo minhas mãos por sobre o seu peito e as entrelaço em volta do seu pescoço, puxando os seus cabelos, com raiva, com ardor. Ele geme dentro da minha boca e seu aperto em minha cintura se aperta.

Sua boca desce por sobre o meu pescoço e eu lhe dou total acesso, uma trilha de beijos suaves começam e eu me arqueio pedindo mais, e é só quando uma gota fria toca em minha boca que eu olho para o céu.

- Isso é um pingo de chuva? – eu falo ofegante. Ele diz um não abafado no meu pescoço e eu já estou pronta para esquecer minha pergunta quando a chuva nos recobre de vez, com força.

- Talvez você esteja certa

Dou risada e ele captura o som com sua boca, me consumindo por inteira, é a minha vez de gemer, aperto seu corpo com o meu e ele morde o meu lábio inferior......Cacete.

- Dec – eu sussurro em sua boca e ele toma minha boca de novo, incansável, as sensações não terminam

- Kallie eu....

Seu celular vibra e eu me afasto com um pulo para longe dele, recuperando minha consciência. Ele olha tão desnorteado para o celular quanto eu o olho.

- É o Jason

- Você deveria ir, eu vou pegar um táxi e....

- Não Kallie, eu vou leva-la – ele dá um passo a frente e eu um passo atrás

- Péssima ideia

Ando o mais rápido que posso e o vejo indo atrás de mim, tiro os sapatos e começo a correr pelo parque.

Começo a correr porque é errado

Começo a correr porque por mais que seja errado, eu senti que fosse a coisa mais certa que fiz.

Com esses pensamentos, apresso ainda mais os passos e a chuva lava todos os pensamentos para longe.

Mais ou menos.

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