Nicolas Santorini Cheguei a Minas para resolver as questões burocráticas do hotel, mas, na verdade, minha cabeça estava em São Paulo. O que será que Jhulietta e Ethan estavam fazendo em pleno domingo? Essa dúvida me consumia.Enquanto organizava alguns papéis, meu amigo Eduardo chegou com sua energia de sempre. Ele me deu um tapa nas costas, o que me fez lançar um olhar torto.— Que cara é essa, Nic? Pensando na professorinha? — provocou, rindo.Revirei os olhos e dei um soco em seu braço com força suficiente para fazê-lo recuar.— Já te disse, o nome dela é Jhulietta. — Minha voz saiu mais dura do que o esperado. Eduardo gargalhou, achando graça da minha reação.— Tá bom, tá bom. Relaxa, moreco. Vamos resolver o que temos que fazer, mas, antes disso, precisamos comer. Mereço um café reforçado.Enquanto caminhávamos em direção à cafeteria do hotel, uma senhora passou por nós e soltou um comentário inesperado:— O mundo está perdido mesmo, dois homens bonitos desses jogando pro outro
Três dias depois, Eduardo e eu retornamos de Minas. Assim que o motorista estacionou, perguntei se estava tudo tranquilo, e ele confirmou que sim. Entrei em casa e, pela porta de vidro, avistei Ethan e Jhulietta na piscina. Fiquei parado por um momento, observando a cena. Ethan parecia extremamente feliz, enquanto ela ria das brincadeiras dele.Assim que me viu na porta, Jhulietta saiu rapidamente da piscina, enrolando-se na toalha.— Desculpe, estou na piscina com Ethan. — Disse apressada, parecendo um pouco sem jeito.— Não precisa se desculpar. Ethan não teve aula hoje? — perguntei, curioso.— Não. A escola está sendo dedetizada, então eles cancelaram as aulas por hoje.Nesse instante, Ethan me avistou. Ele saiu da piscina correndo, mas foi rapidamente interceptado por Jhulietta, que ralhou com ele.— Ethan, não corra molhado, você pode se machucar!— Desculpa, tia Jujubinha! — Disse ele, cabisbaixo.Não consegui segurar o sorriso. Ethan então veio até mim, me abraçando apertado. R
Jhulietta Duarte Depois de tudo que Nicolas me contou, fiquei deitada olhando para o teto, tentando organizar meus pensamentos. Estava na casa de uma irmã que eu nunca soube que existia, cuidando do filho dela, que, na verdade, é meu sobrinho. E, para complicar ainda mais, estava apaixonada pelo marido dela. Não importa o quanto eu tente negar, os sentimentos estão lá. Mas agora, com essa descoberta, minha relação com Nicolas parecia errada.Decidi que, por respeito à memória de Laura, eu deveria me afastar de Nicolas. Talvez fosse o certo. Antes de dormir, me ajoelhei ao lado da cama e fiz uma oração, a mesma que ensinei a Ethan. Pedi forças, discernimento e, no fundo, queria acreditar que Laura e minha mãe estavam juntas, olhando por mim e por Ethan. Quando terminei, uma lágrima escapou, mas senti uma paz inexplicável.Na manhã seguinte, recebi um comunicado da escola de Ethan, informando que as aulas seriam suspensas por mais dois dias devido à dedetização. Pedi que enviassem ativ
Assim que os amigos chegaram, o entusiasmo tomou conta da casa. Violett, com seus cachinhos dourados, parecia ansiosa para saber como seria a aula. Aurélia, sempre curiosa e cheia de perguntas, já segurava o caderno como se estivesse prestes a desvendar um mistério. Emanuel, tímido, mas muito inteligente, sorria discretamente enquanto ouvia Ethan falar com orgulho: — A tia Jujubinha é a melhor professora do mundo! Vocês vão ver. — Ethan! — repreendi, rindo. — Não coloca tanta expectativa assim em mim! Eles me seguiram até a sala, onde eu havia improvisado um pequeno espaço com uma mesa grande, almofadas espalhadas no chão e uma lousa portátil que peguei no escritório de Nicolas. Sobre a mesa, deixei materiais como folhas coloridas, marcadores, lápis de cor e algumas peças de LEGO, que planejava usar na aula. Escolhi a sala por conta da acessibilidade para Aurélia. — Vamos começar com algo diferente. — Disse, chamando a atenção de todos. Eles se acomodaram nos lugares improvis
Levantei-me e peguei um papel e um marcador.— Aurélia, que tal liderarmos a brincadeira hoje? Você será a comandante, e vamos criar juntos uma aventura que só você pode inventar. Pode ser uma caça ao tesouro, uma missão espacial, qualquer coisa!Os olhos dela brilharam levemente, e ela inclinou a cabeça, interessada.— Uma missão espacial?— Sim! — Respondi, animada. — Você será a capitã da nave, e todos os outros terão que seguir suas ordens para completar a missão. Vamos fazer isso juntos.Ela sorriu de verdade dessa vez, aquele sorriso cheio de possibilidades. Peguei o papel, e começamos a desenhar “a nave” e o “mapa” da missão. Aurélia, com sua criatividade brilhante, criou um cenário onde todos tinham que explorar o jardim para coletar “amostras espaciais” (pedras, folhas e flores) enquanto enfrentavam “alienígenas” (imaginários) e evitavam “buracos negros” (os arbustos).Quando terminamos o plano, eu gritei para os outros:— Capitã Aurélia está convocando todos para a grande mi
O dia estava ensolarado, e, assim que as crianças chegaram, o ambiente encheu-se com a mistura de risadas e passos apressados. Ethan correu até mim com um desenho na mão. Ele mal conseguia conter sua empolgação. — Tia Jujubinha, olha só o que eu fiz! É a nave espacial da missão de ontem! — Está incrível, Ethan! — Respondi, admirando as cores e os detalhes que ele tinha colocado no desenho. — Acho que você tem um futuro brilhante como artista. Antes que eu pudesse falar mais, Violett entrou no salão, com a mesma postura confiante e aquele ar de “não estou impressionada com nada”. Ela olhou para o desenho de Ethan, arqueou uma sobrancelha e disparou: — Isso aí é uma nave espacial? Parece mais uma torradeira com asas. Ethan revirou os olhos e resmungou: — Lá vem a Violett com os comentários dela… As outras crianças, acostumadas com as piadinhas de Violett, trocaram olhares e deram risadinhas. Eu sabia que ela não dizia aquilo para magoar, mas sim para manter a pose de durona
Depois que todas as crianças foram embora, a casa finalmente ficou mais tranquila. Ethan, como de costume, continuava cheio de energia. Ele pulava pelo sofá, carregando o desenho que fizera mais cedo, ainda animado com nossa aula de redação.— Sabe de uma coisa, tia Jujubinha? Suas aulas são muito melhores que as da escola! — disse ele, com a empolgação típica de quem realmente acreditava naquilo.— Fico muito feliz em ouvir isso, meu amor, mas a escola é importante. É lá que você aprende coisas que vão te ajudar muito no futuro.Ele fez uma careta e cruzou os braços.— Eu queria estudar em casa, como as crianças dos Estados Unidos. Eles não precisam ir para a escola, podem aprender tudo na sala de casa.Fiquei surpresa com o comentário. Ethan era uma criança curiosa e esperta, mas aquele desejo soava mais como uma tentativa de escapar das responsabilidades.— Estudar em casa pode ser bom para algumas crianças, mas sabe o que é ainda melhor na escola? Fazer amigos, aprender a trabalha
A noite estava tranquila, e a brisa fresca da piscina era um convite ao relaxamento. Depois de um longo dia, sentei-me em uma das espreguiçadeiras próximas à água, admirando o reflexo da lua na superfície da piscina. Não demorou muito para que Nicolas surgisse, vestindo uma camiseta simples e calça de moletom, uma aparência casual que contrastava com sua habitual postura impecável. — A noite está linda, não é? — ele disse, sentando-se na espreguiçadeira ao lado da minha. — Está sim. Perfeita para relaxar. — Respondi, tentando manter um tom neutro, embora meu coração batesse acelerado. Ficamos em silêncio por um momento, apenas ouvindo o som suave da água se movendo com a brisa. Nicolas parecia distante, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. — Sabe, Jhulietta, eu realmente aprecio tudo o que você faz pelo Ethan. Ele é outra criança desde que você chegou. Mais feliz, mais confiante... você tem um dom incrível com ele. Sorri, tentando disfarçar o calor que sub