Sugestão de trilha sonora para esse capítulo: Lisa Mary buscando por Vicente: "Nothing Bkeaks Like a Heart" Lisa e Vicente na sala: "Unchained Melody" Boa leitura e até o próximo capítulo! ♥
88 Lisa Mary ⤝⥈⤞ “Não quero lágrimas caindo em meu rosto…” Ao chegar em meu quarto, tranquei a porta por dentro e respirei fundo, tomando coragem para assumir a minha decisão para mim mesma. Era loucura e eu precisava. Apoiei a mão no peito ouvindo o mar revolto lá fora. Fechei os olhos. Não tem volta. As janelas se abriram com o vento sem açoite. No interior das minhas pálpebras eu via a imagem dele me sacudindo pelos ombros e sua expressão desacreditada. Sentirei saudades de você, Vicente, até a própria saudade desbotar. ⤝⥈⤞ Minha última hora de liberdade. Tirei as botas, tirei tudo do que eu não precisava e saí do quarto descalça. Meus cabelos vermelhos e volumosos estavam esvoaçantes porque as janelas estavam abertas. Descendo as escadas, encontrei Vicente correndo em direção á cozinha. Mas que porra… Ele então retornou quando alcancei o chão da sala. Parou no corredor e controlou a respiração ofegante. —Não vai pra cozinha agora. Franzi o cenho e recuei a cabeça
89 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Presa. A minha “chegada” à Metz foi algo de outro mundo. Vários repórteres queriam se aproximar e eu tive que ser escoltada até o presídio para aguardar julgamento lá mesmo. Não conseguiram me deixar na cadeia convencional. Charlotte ficou na cela ao lado e eu não tinha notícias sobre Vicente. Ele foi levado para o hospital e isso era tudo o que eu sabia sobre ele. O meu rosto e o de Charlotte estavam estampados em todos os jornais e mídias sociais. Nós éramos, finalmente, um assunto que explodiu. —Eu odeio você. —Seu tom de voz era embargado pelo desânimo. Ela recostou-se nas grades de sua cela e pôs as mãos sobre os joelhos dobrados. Sentada no chão, suas costas se afundavam entre uma barra de ferro e outra. —Eu sei. Eu também- —Nem vem. —Expirou. —Isso é tudo culpa sua e agora o meu irmão tá lá num hospital. Eu nem sei como ele está, eu nem soube nada sobre Estevan também. Lisa Mary, eu queria muito cortar o seu pescoço com uma faca, agora. —Você nunca se im
90Vicente François⤝⥈⤞Recuperação lenta. Eu não pensei que pudesse, tanto, querer ficar na cama de um hospital. Porém, por muitos meses eu fiquei, demonstrando zero vontade em me recuperar. Certo dia, meu pai me visitou sem minha mãe, ela estava esperando do lado de fora.—Pare de xavecar minhas enfermeiras, É uma perda de tempo e pensei que você fosse casado com minha mãe. —Brinquei, abrindo apenas um olho para meu pai. Ele me deu um sorriso de canto de boca que pareceu restaurar as minhas configurações, e então arfou.—É bom saber que não perdeu o senso de humor, apesar de ter perdido a vontade de se levantar daí. —Ele esfregou as mãos e foi em direção à poltrona ao lado da minha cama. —Sabe, meu filho, sua mãe e eu estamos preocupados com você. O que aconteceu? Porque não quer se recuperar e insiste em dar trabalho às suas enfermeiras e médicos?—Eu não me importo com a porcaria do ferimento, só queria que não fosse real.—O quê?—A minha história. —Arfei. —Eu sei, eu estou paga
91Vicente François⤝⥈⤞Mal pude controlar o celular me minha mão, quem dera pudesse controlar o que eu estava sentindo naquele momento. Acordei com o meu pai segurando minha cabeça sobre suas pernas. Nós estávamos no chão. Sentia o cheiro de canela se espalhando pela sala e meus olhos foram se abrindo. A luz solar no ambiente reluziu entre os cabelos grisalhos de meu pai, enquanto eu o olhava numa visão inferior.—Eu… —Gemia. Confuso, tentava assimilar a realidade com a notícia que havia recebido, e minhas configurações foram se restaurando aos poucos.—Precisa descansar, o que houve? O que lhe disseram ao telefone, filho? —Perguntou, com a mão em meu rosto.—Pai… Eu preciso ir até o presídio. —Arqueei as sobrancelhas e me esforcei para me sentar. Sentia a dormência percorrendo toda a minha panturrilha, mas me esforcei para parecer um pouco mais forte. —Tem algo que eu preciso saber e ver de perto.—Do que está falando?—Eu falo com você quando… Quando eu voltar. —Pus as mãos no chão
92Vicente François⤝⥈⤞Não foi fácil propor tirá-la do presídio, muito menos ficar diante dela sem relembrar tantas cenas valiosas. Embora não fosse verdadeiro para ela, era tudo verdade para mim.O grande dia chegou e Lisa Mary, junto com os advogados, conseguiu prisão domiciliar. Comprei uma nova casa longe da cidade. Uma propriedade imensa, calculada pelas autoridades para ser sua prisão. Onde o dinheiro for e não resolver, é porque foi pouco.Lisa Mary ficaria presa num paraíso.⤝⥈⤞—Deixe toda essa tralha pra trás, provavelmente não vai precisar de nada do que teve aí. —Comentei, analisando a mala que o advogado dela estava carregando para lhe ajudar.—Senhor François, nós iremos diretamente para a residência nova da senhorita Mary. A tornozeleira será colocada e não poderá ser removida, senão para manutenção, até os próximos doze anos. —Alertou, empurrando a mala pelos corredores insalubres.—Tanto faz. Faça com que ela chegue lá antes de mim. Não quero que as empregadas novas
93Vicente François⤝⥈⤞Há poucos dias eu havia descoberto que seria pai de uma menina e já esperava ansioso. Perdido nos próprios pensamentos, somente me dei conta de que Lisa estava acordado quando a ouvi.Lisa Mary suspirou e virou a cabeça para o lado, percebendo a presença de alguém na cadeira. Quando viu que era eu, sobressaltou com a mão no peito.—Não precisa se assustar, eu não entrei pronto para acatar você. —Defendi e pus as mãos sobre o paletó dobrado em minhas pernas. —A gente precisa conversar, Lisa Mary.Naquele momento, agarrei o paletó amassado novamente e me levantei. Fui até a escrivaninha onde tinha uma jarra com água e um copo. Estiquei a mão até o copo e o mesmo fiz com a jarra, despejando o líquido fresco e recém-trocado.Caminhando de volta para ela, a passos largos, Lisa Mary se sentou na cama e esperou que eu me aproximasse. Estiquei o braço para ela e lhe entreguei o copo.Não me olhou nos olhos.Havia uma camada de vergonha sobre sua face que nunca tinha lh
94Vicente François⤝⥈⤞Escolher ter ido embora foi uma das decisões mais difíceis que eu já havia tomado até aquele momento, depois de ter tirado a mãe da minha filha do presídio.Porém, quando cheguei em casa não consegui permanecer dentro do apartamento. Estacionei o carro na garagem e subi diretamente para a cobertura. Tomei um banho e ao sair do banheiro, me joguei sobre a cama encarando o teto.Eu estava inquieto. Levantei e vesti uma calça e casaco, ambos moletons. Calcei tênis para tentar is para a academia e liberar toda a energia, mas fracassei. Passei a mão pela mesa de canto e peguei as chaves barulhentas, saindo do apartamento.Eu peguei o carro e fui atrás dela.⤝⥈⤞Ao chegar naquela propriedade, eu estava sem vergonha na cara, mas estava me sentindo um pouco mais tranquilo naquele momento. Ordenei que meus seguranças noturnos saíssem dos carros, se preferissem, e então adentrei à casa. O silêncio da noite me deu calafrios, mas eu precisava ao menos estar ali.Os empre
96Vicente François⤝⥈⤞Eu entrei na sala e ela estava lá. Senti o meu coração palpitar enquanto via Lisa Mary segurando a nossa filha em uma manta amarela com desenhos infantis. A minha mãe estava ao lado dela, como se nada, nunca, tivesse acontecido.O que é isso? Que amor é esse que é capaz de até mexer comigo?Eu acelerei os passos, ao entrar na sala, e segurei a minha filha em meus braços. O cheiro dela, os cabelos curtos e finos dela, as mãozinhas dela. Tudo foi o suficiente para eu saber que eu perderia o juízo por ela, se fosse preciso.⤝⥈⤞Minha mãe e eu tivemos que sair após cerca de dois minutos ali dentro. Lisa Mary estava sendo bem atendida enquanto eu esperava, com a minha mãe, na sala ao lado.—Você está decadente, Vicente. —Disse mamãe, controlando a vontade de tomar um vinho ou whisky para acalmar os ânimos de seus nervos.—Eu mereço. Depois de tudo o que eu passei, eu tenho o direito de estar decadente, um pouco.Suspirei e pus as mãos sobre os joelhos, levantando-me