Sugestão de trilha sonora para esse capítulo: Lisa Mary: "Sexed up, Robbie Williams" Vicente François: "Unchained Melody" Boa leitura e até o próximo capítulo!
90Vicente François⤝⥈⤞Recuperação lenta. Eu não pensei que pudesse, tanto, querer ficar na cama de um hospital. Porém, por muitos meses eu fiquei, demonstrando zero vontade em me recuperar. Certo dia, meu pai me visitou sem minha mãe, ela estava esperando do lado de fora.—Pare de xavecar minhas enfermeiras, É uma perda de tempo e pensei que você fosse casado com minha mãe. —Brinquei, abrindo apenas um olho para meu pai. Ele me deu um sorriso de canto de boca que pareceu restaurar as minhas configurações, e então arfou.—É bom saber que não perdeu o senso de humor, apesar de ter perdido a vontade de se levantar daí. —Ele esfregou as mãos e foi em direção à poltrona ao lado da minha cama. —Sabe, meu filho, sua mãe e eu estamos preocupados com você. O que aconteceu? Porque não quer se recuperar e insiste em dar trabalho às suas enfermeiras e médicos?—Eu não me importo com a porcaria do ferimento, só queria que não fosse real.—O quê?—A minha história. —Arfei. —Eu sei, eu estou paga
91Vicente François⤝⥈⤞Mal pude controlar o celular me minha mão, quem dera pudesse controlar o que eu estava sentindo naquele momento. Acordei com o meu pai segurando minha cabeça sobre suas pernas. Nós estávamos no chão. Sentia o cheiro de canela se espalhando pela sala e meus olhos foram se abrindo. A luz solar no ambiente reluziu entre os cabelos grisalhos de meu pai, enquanto eu o olhava numa visão inferior.—Eu… —Gemia. Confuso, tentava assimilar a realidade com a notícia que havia recebido, e minhas configurações foram se restaurando aos poucos.—Precisa descansar, o que houve? O que lhe disseram ao telefone, filho? —Perguntou, com a mão em meu rosto.—Pai… Eu preciso ir até o presídio. —Arqueei as sobrancelhas e me esforcei para me sentar. Sentia a dormência percorrendo toda a minha panturrilha, mas me esforcei para parecer um pouco mais forte. —Tem algo que eu preciso saber e ver de perto.—Do que está falando?—Eu falo com você quando… Quando eu voltar. —Pus as mãos no chão
92Vicente François⤝⥈⤞Não foi fácil propor tirá-la do presídio, muito menos ficar diante dela sem relembrar tantas cenas valiosas. Embora não fosse verdadeiro para ela, era tudo verdade para mim.O grande dia chegou e Lisa Mary, junto com os advogados, conseguiu prisão domiciliar. Comprei uma nova casa longe da cidade. Uma propriedade imensa, calculada pelas autoridades para ser sua prisão. Onde o dinheiro for e não resolver, é porque foi pouco.Lisa Mary ficaria presa num paraíso.⤝⥈⤞—Deixe toda essa tralha pra trás, provavelmente não vai precisar de nada do que teve aí. —Comentei, analisando a mala que o advogado dela estava carregando para lhe ajudar.—Senhor François, nós iremos diretamente para a residência nova da senhorita Mary. A tornozeleira será colocada e não poderá ser removida, senão para manutenção, até os próximos doze anos. —Alertou, empurrando a mala pelos corredores insalubres.—Tanto faz. Faça com que ela chegue lá antes de mim. Não quero que as empregadas novas
93Vicente François⤝⥈⤞Há poucos dias eu havia descoberto que seria pai de uma menina e já esperava ansioso. Perdido nos próprios pensamentos, somente me dei conta de que Lisa estava acordado quando a ouvi.Lisa Mary suspirou e virou a cabeça para o lado, percebendo a presença de alguém na cadeira. Quando viu que era eu, sobressaltou com a mão no peito.—Não precisa se assustar, eu não entrei pronto para acatar você. —Defendi e pus as mãos sobre o paletó dobrado em minhas pernas. —A gente precisa conversar, Lisa Mary.Naquele momento, agarrei o paletó amassado novamente e me levantei. Fui até a escrivaninha onde tinha uma jarra com água e um copo. Estiquei a mão até o copo e o mesmo fiz com a jarra, despejando o líquido fresco e recém-trocado.Caminhando de volta para ela, a passos largos, Lisa Mary se sentou na cama e esperou que eu me aproximasse. Estiquei o braço para ela e lhe entreguei o copo.Não me olhou nos olhos.Havia uma camada de vergonha sobre sua face que nunca tinha lh
94Vicente François⤝⥈⤞Escolher ter ido embora foi uma das decisões mais difíceis que eu já havia tomado até aquele momento, depois de ter tirado a mãe da minha filha do presídio.Porém, quando cheguei em casa não consegui permanecer dentro do apartamento. Estacionei o carro na garagem e subi diretamente para a cobertura. Tomei um banho e ao sair do banheiro, me joguei sobre a cama encarando o teto.Eu estava inquieto. Levantei e vesti uma calça e casaco, ambos moletons. Calcei tênis para tentar is para a academia e liberar toda a energia, mas fracassei. Passei a mão pela mesa de canto e peguei as chaves barulhentas, saindo do apartamento.Eu peguei o carro e fui atrás dela.⤝⥈⤞Ao chegar naquela propriedade, eu estava sem vergonha na cara, mas estava me sentindo um pouco mais tranquilo naquele momento. Ordenei que meus seguranças noturnos saíssem dos carros, se preferissem, e então adentrei à casa. O silêncio da noite me deu calafrios, mas eu precisava ao menos estar ali.Os empre
96Vicente François⤝⥈⤞Eu entrei na sala e ela estava lá. Senti o meu coração palpitar enquanto via Lisa Mary segurando a nossa filha em uma manta amarela com desenhos infantis. A minha mãe estava ao lado dela, como se nada, nunca, tivesse acontecido.O que é isso? Que amor é esse que é capaz de até mexer comigo?Eu acelerei os passos, ao entrar na sala, e segurei a minha filha em meus braços. O cheiro dela, os cabelos curtos e finos dela, as mãozinhas dela. Tudo foi o suficiente para eu saber que eu perderia o juízo por ela, se fosse preciso.⤝⥈⤞Minha mãe e eu tivemos que sair após cerca de dois minutos ali dentro. Lisa Mary estava sendo bem atendida enquanto eu esperava, com a minha mãe, na sala ao lado.—Você está decadente, Vicente. —Disse mamãe, controlando a vontade de tomar um vinho ou whisky para acalmar os ânimos de seus nervos.—Eu mereço. Depois de tudo o que eu passei, eu tenho o direito de estar decadente, um pouco.Suspirei e pus as mãos sobre os joelhos, levantando-me
97Vicente François⤝⥈⤞Eu sentia uma coisa estranha que me causava agonia e uma extrema vontade de vomitar. Incomodava. Era como uma doença.Eu me sentia doente.Suspirei abruptamente e expirei, levantando-me em um giro revoltado.—Você não tem esse direito.—Direit-—Sim! Você não tem esse direito. Não tem o direito de dizer que me amou ou que me ama. Você não tem.Minha voz foi ficando um pouco mais agressiva e eu olhei para a minha filha no bercinho.—Eu não consigo ter essa conversa agora. Não quando você está nesse estado e… E a minha filha acabou de nascer e está presente. Eu… Eu tenho que ir.Acelerei os passos até a porta e saí o mais rápido que consegui, encontrando minha mãe do lado de fora.⤝⥈⤞—Vicente? Para onde vai com tanta pressa?—Embora. Embora. Eu volto daqui há umas duas horas, eu preciso… Eu tenho que pensar. Fica lá com elas. Fica lá com elas, mãe.E então rumei ao corredor, prometendo adentrar ao elevador.⤝⥈⤞97Lisa Mary⤝⥈⤞Eu estava acostumada a tê-lo me ro
98Vicente François⤝⥈⤞Meu coração acelerava cada vez mais enquanto o elevador descia. Saindo da caixa de metal, acelerei os passos pelo estacionamento, sendo escoltado pelos meus seguranças.Eu estava tendo um ataque de pânico.Como eu vou finalizar isso? Como eu vou saber que terei que dizer um adeus definitivo? Como eu explico pro meu coração que não tem mais volta? O que eu vou dizer pra aquela criança que vai crescer sem a mãe? Como eu vou explicar o que fomos?Enquanto a minha ansiedade sufocava a minha sanidade, um dos seguranças havia chamado um paramédico, que não demorou para me alcançar no banco de trás de um dos carros.—Senhor François! Senhor François, precisa respirar fundo, comigo. Eu estava disperso. A respiração estava curta. A gravata parecia apertada, mas ela havia sido desamarrada pelos seguranças. Eu não sentia minhas mãos. Meu rosto estava suado, embora eu não tivesse feito nenhum grande esforço.—Teremos que sedar ele. —Disse o paramédico, aferindo minha pre