Minha companheira estava exausta, sua respiração suave embalada pelo sono profundo. Eu a observei por um breve momento, fascinado pela paz ilusória que descansava sobre sua face. Paz essa que, eu sabia, em breve seria arrancada de nós. Levantei-me em silêncio, sem perturbá-la, e atravessei a porta interna que ligava meus aposentos aos de Ravena, para encontrar Nathaniel, meu conselheiro e primeiro ministro. Um dos únicos a quem ainda deposito plena confiança.A expressão dele dizia tudo antes mesmo de sua boca se abrir. Tensão, raiva, medo. Três sentimentos que raramente vi coexistirem no rosto de um vampiro tão sensato e contido como ele.— Northshore foi invadida outra vez. — ele disse, sem rodeios.Suspirei, aproximando-me da lareira que ardia fracamente no canto do quarto. O calor não me alcançava. — Quantos?— Três alcateias. Vieram de direções diferentes. Invadiram todos ao mesmo tempo. Estavam coordenados, Cyrus. Isso não foi uma tentativa cega. Foi uma declaração de guerra a
RavenaAcordei com o som de conversas sussurrantes. Abri os olhos buscando os donos das vozes desconhecidas, mas não encontrei ninguém. Os sussurros continuavam cada vez mais altos, gritos de mulher e uma criança chorando. O som era insuportável, tapei meus ouvidos, cedendo no chão frio de madeira polida. O barulho em minha cabeça é insuportável, meus ouvidos doem a ponto de sangrarem.Um silvo agudo como um apito se sobrepôs às vozes. Eu não consigo me mexer, com a cabeça entre meus joelhos eu supliquei para que aquilo parasse. “Desperte Ahal... desperte e destrua tudo o que é profano...” A voz ficou totalmente nítida. Era feminina, clara e firme.Meu coração estremeceu, e uma chama gélida percorreu meu corpo, me envolvendo lentamente, até que só restasse o silêncio, e o vazio.- Ravena... Ravena se concentre na minha voz. – mãos macias seguravam os meus braços. – Pode me ouvir? A imagem de Cyrus totalmente distorcida surgiu à minha frente, em seguida distingui sua voz, me chamand
Ao amanhecer, Cyrus me levou para o salão principal onde as refeições são servidas. Poucos vampiros se alimentam, mas os nobres têm o hábito de se sentar à mesa sempre que o rei está presente, em um sinal de respeito.Me senti intimidada com todos aqueles olhares em minha direção. Cyrus me guiava com sua mão na base de minhas costas. A roupa que eu vestia foi ele quem me ajudou a escolher. Uma calça jeans preta, botas de cano curto e salto alto da mesma cor, camisa vermelha de seda francesa e colete de veludo cotelê. Ele adornou o meu pescoço com um colar de obsidiana com um lindo e brilhante rubi no meio. A joia combinava com o bracelete que eu usava.Meus cabelos estavam soltos e eu me senti mais apresentável que nunca. Todos os vampiros me avaliavam abertamente, até que ouvi uma oscilação no ar.Foi então que percebi que meu companheiro olhava para eles com uma expressão perigosa, em advertência. Imediatamente, eles perderam o interesse em minha figura, e voltaram a conversar entr
Não conseguia deixar de refletir sobre o receio que François tanto instigou em mim. Seu olhar, uma mistura de desafio e deboche continuamente desnudava a ilusão que eu tanto lutava para manter. Quero com todas as minhas forças, me isolar de suas provocações, de seu desprezo que me fazia reviver a sensação de ser inadequada, de ser uma peça descartável em um jogo muito maior do que eu jamais desejei integrar. Enquanto o carro avançava pela rua, o silêncio se estendia entre nós. Eu permanecia absorta em meus pensamentos, relembrando os detalhes de cada olhar, de cada insinuação que me fazia estremecer. A voz de François, mesmo distante, parecia me seguir, lembrando que, por mais que eu me esforçasse para ser alguém novo, adornada por roupas caras, cabelos soltos e um colar de obsidianas cintilante, a essência da minha história, marcada por sujeiras e humilhações passadas, jamais poderia se apagar completamente.Dentro de mim, um turbilhão de sentimentos se misturavam. O desejo arden
MercedesNão posso acreditar que ele realmente acasalou com essa licantropa. Minhas esperanças se quebraram no momento em que eles entraram na minha loja. Antes de vê-los, já pude sentir o poder do elo deles e a força do vínculo.Eu nunca vi nada parecido, nem entre as bruxas, nem entre os vampiros ou entre os lobos insignificantes. Quando meus olhos pousaram sobre eles, vi o fio escarlate grosso unindo as duas essências, formando o vínculo de sangue completamente compartilhado. Isso significava que eles tinham consumado a união, e que agora, estavam totalmente ligados, em um só. Seus espíritos, compartilhavam do poder um do outro. Fui descartada como se não fosse nada, um pouco antes dos vampiros atacarem o norte para dizimar as alcateias insurgentes.Mesmo assim, ver os dois tão próximos, íntimos, trocando olhares, dividindo seus pensamentos; feriu meu coração como se uma lança o transpassasse.Me senti inferior, ridícula, por pensar que Cyrus me visitaria sozinho. Que ele buscari
Meu coração estremeceu dolorosamente. Não havia lugar para mim em um único pensamento de carinho. Ele me mataria sem nem pensar uma única vez.- Minhas aprendizes descobriram que a energia profana usada nos lobos que invadiram anteriormente, está desaparecendo rapidamente, como se alguma coisa estivesse sugando-a. - Que criatura pode fazer isso, além das bruxas?- Somente bruxas podem consumir tanta profanidade. – pousei a xícara na mesa de carvalho branco. – Ou talvez os magos, mas eles precisam de um catalisador para isso. Um ser capaz de absorver e purificar essa energia para não ser corrompido por ela.- Não há magos no continente. – Naty concluiu. – As bruxas estão por trás disso, é evidente. O que precisamos saber é quais são os clãs envolvidos e como estão usando magia profana nessa quantidade. - As marcações do círculo não evidenciam os clãs, mas a energia sim. Levou tempo e mais mana do que eu poderia produzir, mas consegui refinar o rastreio, para descobrir quais são. São
MarcelA casa da alcateia estava cheia, o movimento intenso logo pela manhã, era resultado de uma grande mobilização para o próximo ataque aos vampiros. Subi as escadas lentamente, pensando em uma forma mais eficaz de arrancar de Celeste o que eu quero saber. Fazer a Luna gemer feito uma vadia a noite toda, não foi o suficiente para obter a informação que preciso. Ela não revelou a localização de Ravena.Tudo o que Celeste fez, foi para se enfiar em minha cama. A única informação útil, era que a minha companheira estava em posse dos vampiros e que permanecia viva.Ravena não pode ser desejada por aqueles sugadores de sangue do inferno. Vampiros são esnobes e cheios de si. Eles se acham superiores a todas as outras raças, e para completar esse cenário improvável, Ravena é uma lycan, um inimigo mortal para eles.Entrei no meu quarto e vi a cama vazia. Celeste já tinha saído, felizmente.Abri a gaveta e peguei a escova de cabelos com o nome dela gravado em prata, na estrutura de marfim
RavenaO que aconteceu na loja da bruxa ainda me incomodava, deixando Laha inquieta. Minha nova marca, em forma de runa ardia em meu peito. Dentro do carro, Cyrus conversava com Nathaniel sobre as novas informações adquiridas através de Mercedes.Estávamos passando pelo centro da cidade, e as vitrines das lojas me encantaram. Nunca tinha entrado em uma loja para comprar nada. Na verdade, o que sabia sobre o mundo exterior da alcateia, aprendi ouvindo as conversas dos outros na cozinha ou nos corredores.“Você quer comprar alguma coisa?” Cyrus me pergunta mentalmente.É incrível que ele pode ver minhas emoções e meus pensamentos dessa forma. Ainda não me acostumei a isso, mas espero poder retribuir tudo o que ele faz por mim.“Não, eu só estou empolgada. Nunca sai da alcateia antes. Essa é a minha primeira vez na cidade.” Consegui responder para ele.Me voltei da janela, encontrando seus olhos dourados, e sorri suavemente. Uma forte emoção tomou conta de mim, meu peito ardia ainda mais