Não conseguia deixar de refletir sobre o receio que François tanto instigou em mim. Seu olhar, uma mistura de desafio e deboche continuamente desnudava a ilusão que eu tanto lutava para manter. Quero com todas as minhas forças, me isolar de suas provocações, de seu desprezo que me fazia reviver a sensação de ser inadequada, de ser uma peça descartável em um jogo muito maior do que eu jamais desejei integrar. Enquanto o carro avançava pela rua, o silêncio se estendia entre nós. Eu permanecia absorta em meus pensamentos, relembrando os detalhes de cada olhar, de cada insinuação que me fazia estremecer. A voz de François, mesmo distante, parecia me seguir, lembrando que, por mais que eu me esforçasse para ser alguém novo, adornada por roupas caras, cabelos soltos e um colar de obsidianas cintilante, a essência da minha história, marcada por sujeiras e humilhações passadas, jamais poderia se apagar completamente.Dentro de mim, um turbilhão de sentimentos se misturavam. O desejo arden
MercedesNão posso acreditar que ele realmente acasalou com essa licantropa. Minhas esperanças se quebraram no momento em que eles entraram na minha loja. Antes de vê-los, já pude sentir o poder do elo deles e a força do vínculo.Eu nunca vi nada parecido, nem entre as bruxas, nem entre os vampiros ou entre os lobos insignificantes. Quando meus olhos pousaram sobre eles, vi o fio escarlate grosso unindo as duas essências, formando o vínculo de sangue completamente compartilhado. Isso significava que eles tinham consumado a união, e que agora, estavam totalmente ligados, em um só. Seus espíritos, compartilhavam do poder um do outro. Fui descartada como se não fosse nada, um pouco antes dos vampiros atacarem o norte para dizimar as alcateias insurgentes.Mesmo assim, ver os dois tão próximos, íntimos, trocando olhares, dividindo seus pensamentos; feriu meu coração como se uma lança o transpassasse.Me senti inferior, ridícula, por pensar que Cyrus me visitaria sozinho. Que ele buscari
Meu coração estremeceu dolorosamente. Não havia lugar para mim em um único pensamento de carinho. Ele me mataria sem nem pensar uma única vez.- Minhas aprendizes descobriram que a energia profana usada nos lobos que invadiram anteriormente, está desaparecendo rapidamente, como se alguma coisa estivesse sugando-a. - Que criatura pode fazer isso, além das bruxas?- Somente bruxas podem consumir tanta profanidade. – pousei a xícara na mesa de carvalho branco. – Ou talvez os magos, mas eles precisam de um catalisador para isso. Um ser capaz de absorver e purificar essa energia para não ser corrompido por ela.- Não há magos no continente. – Naty concluiu. – As bruxas estão por trás disso, é evidente. O que precisamos saber é quais são os clãs envolvidos e como estão usando magia profana nessa quantidade. - As marcações do círculo não evidenciam os clãs, mas a energia sim. Levou tempo e mais mana do que eu poderia produzir, mas consegui refinar o rastreio, para descobrir quais são. São
MarcelA casa da alcateia estava cheia, o movimento intenso logo pela manhã, era resultado de uma grande mobilização para o próximo ataque aos vampiros. Subi as escadas lentamente, pensando em uma forma mais eficaz de arrancar de Celeste o que eu quero saber. Fazer a Luna gemer feito uma vadia a noite toda, não foi o suficiente para obter a informação que preciso. Ela não revelou a localização de Ravena.Tudo o que Celeste fez, foi para se enfiar em minha cama. A única informação útil, era que a minha companheira estava em posse dos vampiros e que permanecia viva.Ravena não pode ser desejada por aqueles sugadores de sangue do inferno. Vampiros são esnobes e cheios de si. Eles se acham superiores a todas as outras raças, e para completar esse cenário improvável, Ravena é uma lycan, um inimigo mortal para eles.Entrei no meu quarto e vi a cama vazia. Celeste já tinha saído, felizmente.Abri a gaveta e peguei a escova de cabelos com o nome dela gravado em prata, na estrutura de marfim
RavenaO que aconteceu na loja da bruxa ainda me incomodava, deixando Laha inquieta. Minha nova marca, em forma de runa ardia em meu peito. Dentro do carro, Cyrus conversava com Nathaniel sobre as novas informações adquiridas através de Mercedes.Estávamos passando pelo centro da cidade, e as vitrines das lojas me encantaram. Nunca tinha entrado em uma loja para comprar nada. Na verdade, o que sabia sobre o mundo exterior da alcateia, aprendi ouvindo as conversas dos outros na cozinha ou nos corredores.“Você quer comprar alguma coisa?” Cyrus me pergunta mentalmente.É incrível que ele pode ver minhas emoções e meus pensamentos dessa forma. Ainda não me acostumei a isso, mas espero poder retribuir tudo o que ele faz por mim.“Não, eu só estou empolgada. Nunca sai da alcateia antes. Essa é a minha primeira vez na cidade.” Consegui responder para ele.Me voltei da janela, encontrando seus olhos dourados, e sorri suavemente. Uma forte emoção tomou conta de mim, meu peito ardia ainda mais
- Das fúrias. As criaturas que nos atacaram no meio da avenida. - O que são aquelas coisas?- As fúrias se apresentavam como manifestações do caos primordial, refletindo a inimizade dos próprios deuses contra a traição dos outros seres. Seus rostos são uma mescla de traços humanos e deformidades assustadoras, com olhos de abismo profundo e bocas contorcidas em sorrisos macabros, carregadas de intenções vingativas. Seus corpos esguios, cobertos por uma pele pálida e quase translúcida, se moviam com uma agilidade. Dotadas de garras afiadas como lâminas e presas que são forjadas no próprio abismo, cada movimento é letal. Essas criaturas, verdadeiras encarnações de brutalidade das sombras, combinavam a beleza trágica de seres condenados com a ferocidade de monstros míticos. As fúrias foram conjuradas com magia profana.Tentei me segurar no pescoço dele, mas o meu braço parecia mole, pesado demais. Meu corpo estava cada vez mais fraco e letárgico.- O que está acontecendo.. comigo.- Ague
— Por que... por que eu? Por que querem fazer isso comigo? — Minha voz ecoou frágil no recinto, mas havia uma força latente que se fazia notar em cada palavra, como se a própria essência da minha alma clamasse por respostas.— Porque, Ravena, há algo dentro de você que as forças que regem este mundo não podem ignorar. — replicou Cyrus, sua voz aquecendo-me novamente, fazendo com que me sentisse, por um breve momento, acolhida e entendida em meio ao caos.Seu olhar, sempre tão penetrante, buscava afundar-se na minha alma, revelando emoções que, até então, eu mantinha sob controle.O mago prosseguiu com a solenidade de quem desvela antigos segredos.— A adaga que as fúrias trouxeram, não é apenas um instrumento de destruição, mas um selo ritual. Ela foi usada para aprisionar um poder ancestral, um ser que, há muito tempo, ameaçou a estabilidade dos reinos e a extinção de raças inteiras. Agora, por algum motivo desconhecido, um dos selos foi violado. O nome desse ser era Ahal.Minhas mão
CyrusRavena estava quieta e tensa ao meu lado. Enquanto Amon, o único mago que permaneceu no continente, realizava encantamentos e para ver o passado dela.Esperar por respostas era frustrante, mas neste momento não tínhamos opções. As bruxas estavam dispostas a selar a lycan de minha companheira de qualquer maneira, elas queriam a morte de Ravena.Um terceiro selo mataria qualquer ser. Estava óbvio que Ravena foi selada duas vezes, e que um desses selos se rompeu quando eu a marquei como minha. Mas mesmo que somente um deles ainda existisse, se tentassem selar sua essência sobrenatural pela terceira vez, a cisão entre as duas consciências a mataria.As inúmeras incógnitas que cercavam a existência dela é um desafio para mim. Aero insiste em minha mente que Ravena foi selada pela segunda vez quando perdeu os pais. Porque ela ainda era capaz de sentir o nosso cheiro quando a encontramos durante sua infância.A marca dela em meu ombro começou a arder como brasa, quando Amon abriu um