Quando me vi sem o Danilo e sem a Laila na França, senti o meu mundo vazio. Dei graças a Deus que a Lis ficou com as minhas sogras, ou eu acabaria enlouquecendo. Comecei a sentir o peso do meu trabalho sobre mim, e me perguntava se realmente valia a pena todo aquele esforço em memória dos meus pais, que passaram a vida tocando uma empresa pequena no interior e me criaram com muito amor e atenção. Marquei uma consulta com um psicólogo na primeira semana. Queria conversar com alguém e não poderia ser os meus. Depois que contei tudo o que estava sentindo e tudo o que mudou, a moça que deveria ter a minha idade parecia muito segura quando me disse:— Tudo isso pode ser a reação tardia da mãe de anjo. Quando tudo lhe aconteceu, você fechou seu coração para essa possibilidade e em negação. Depois do susto por seu marido poder ter um filho com outra mulher, roubando seu lugar e o sonho que é de vocês, você sentiu o peso da sua decisão. E agora está tendo a necessidade de ter o seu bebê arco
O mês com o Aleksander na França passou voando. Mas em 20 dias, dei um treinamento intensivo para ele. Ia realoca-lo, e precisava nesse momento avisar a todos. Fizemos uma conferência com os três no Brasil e nós dois, em casa.— Bom, como todos sabem, amanhã vou levar a minha filha embora, ver o meu marido finalmente e entregar o reforço de vocês. Mas, eu planejei uma nova configuração, e vocês não vão poder contar com Aleksander na Psy.— Como assim, Isadora? Isso não é o que combinamos. E se ele não vai poder ajudar na Psy, como vai ser um reforço pra nós?— Viagens longas e cansativas têm sido o nosso problema. Se pudermos ficar no mesmo lugar, acho que nosso tempo será mais bem utilizado e nossas famílias serão mais valorizadas. Aleksander tem um filho recém-nascido, e carece de ter parada no mesmo lugar, então vou entregar seu cargo na empresa dos meus pais a ele, Laila. E ele vai morar em minha casa com o bebê. Daniel e a esposa concordaram em cuidar de Pedro no Lar, como se fos
Desanimada encarei a minha agenda. Tinha tantas obrigações, jantares, almoços e até café da manhã. Eu só tinha a manhã de domingo livre, depois do almoço voaria para Luxemburgo pois tinha um jantar de apresentação do projeto. Ficaria 6 dias com reuniões e agenda lotada todos eles. E sem descanso, um helicóptero me buscaria para um café da manhã em Munique. Depois desse café da manhã, seria um dia inteiro de um pseudo descanso. Pseudo, porque precisaria visitar três museus que queriam assinar com a minha tecnologia, mas exigiam que eu conhecesse a casa antes de trancar. Então, Pinakothec der Moderne e Lenbacchaus no dia do café, e Glyptitech na manhã seguinte, não eram turismo. Depois do almoço teria reuniões com os administradores e se fossem satisfatórias, teria outras oito reuniões com administradores de outros museus para o projeto.Analisando tudo aquilo e que estaria em três países em dez dias, pensei que era uma agenda desumana. Mas isso eram as consequências de ter ficado em ca
Não poderia estar mais radiante, acabei de fechar mais uma consultoria comissionada. Quando fui demitida pela Isadora, não posso negar que fiquei chateada. Não pelo emprego, mas por ter me sentido descartada. Sabia que era a menos experiente do quarteto, mas achava que estava fazendo um bom trabalho. Então a Isadora chegar do nada, na frente de todo mundo e dispensar os meus serviços, foi desagradável.Depois que ela atendeu o expediente na Psy, me visitou, conversou comigo, explicou que foi uma decisão muito difícil, e quem perdia mais era ela. E claro, o desconforto passou porque ela era a minha irmã e sempre nos entendemos. E mais do que explicar, a Isadora mostrou. Me indicou para dois clientes potenciais a quem eu poderia dar consultoria comissionada, igual nos projetos da Isadora.Em um mês, um indicando para outro, eu já tinha a minha cartela de doze clientes fixos, além da Isadora e do Leandro, que eu não queria assinar contrato e nem a Isadora ou ele permitiram. Os dois argum
Passei em frente ao endereço que me deram, e achei melhor dar a volta e colocar o meu carro em um estacionamento pelo qual passei um quarteirão atrás. Não era esnobe, mas prudente. Pessoas que tinham carros como o meu, apesar de não muito luxuoso, não frequentavam aquele lugar. Aliás, mesmo no estacionamento, não achava que ele estivesse muito seguro e seria possível que devesse pedir para irem me buscar. Quando entrei na lanchonete de aparência duvidosa, não vi a Julieta à vista. Sabia que teria que consumir, e apenas perguntar causaria desconforto e até uma situação catastrófica. Sentei em uma mesa mais afastada da porta e aguardei, até que vi o rapaz atrás do balcão gritar:— Juliete, cliente.Juliete sai correndo de uma porta com cortina, limpando as mãos em um avental, de touca descartável na cabeça olhando feio pro homem que gritou e reclamando:— Você não poderia atender? Estava colocando os assados no forno. — Ela pegou a caderneta e a caneta em cima do balcão e foi escrevend
Entrei na sala da casa da Juliete, a mesma em que decretei que a cabeça dela ia rolar quando estava grávida. Juliete me contou que a casa estava fechada há dois meses, quando a imobiliária exigiu que ela desocupasse para começar com as negociações.Depois de ajudá-la a abrir as janelas e bater o pó da sala, nos sentamos no sofá e eu pedi um delivery de frios, vinho e fundie de chocolate. — Amanhã uma moça virá dar uma boa limpada na casa, enquanto um segurança vai te acompanhar até a casa de seu irmão para recolher suas coisas. Você dirige?— Sim.— Tem carro?— Foi a primeira coisa vendida, com o que consegui pagar os dois meses de manutenção da casa.— Em dois meses, porque não voltou para a Global?— Achei que você e o Danilo tivessem com tanto ódio de mim que me barraram, e não tive coragem de passar essa vergonha.— Juliete, vamos parar de imaginar e agir a partir de agora. O Danilo e eu nem nos lembramos que você existe. Temos a intenção apenas de viver nossas vidas e aposto qu
No dia seguinte, quando acordei muito cedo, tinha café pronto e a Juliete me aguardava na mesa. Não sabia de onde surgiu o café, mas aceitei de bom grado. — Eu quero te pedir uma coisa.— Lá vem. O que é?— Eu não quero mais morar nessa casa, é grande demais pra mim e a manutenção dela é dispendiosa.— Bem, se é assim que você quer, você vai receber o valor dela por esses dias. Mas se não quiser comprar outro imóvel, eu alugo um flat no centro pra ficar próximo do escritório. Tem dois quartos mas apenas um banheiro.— Você me deixaria morar com você?— Óbvio. Seria até melhor e cômodo pra mim com relação a seu treinamento estarmos morando juntas.— Obrigada, Isadora. Você é muito boa.Destravei o celular e puxei a galeria, e entreguei para a Juliete ver as fotos do filho.Enquanto Juliete ia passando as fotos do menino, ela começou a contar:— Quando conheci o Aleksander, achei muito fofo ele se preocupar tanto com o preservativo estourado. Comecei a desenvolver muito carinho por ele
Estava viajando para casa, para o noivado da Laila, 15 dias depois de contratar a Juliete.Iria passar 15 dias no Brasil e marquei algumas reuniões para Juliete se representar, seria o teste dela. Durante o tempo em que ficamos juntas, percebi que ela era inteligente, safa e pegava rápido as coisas.Como foi secretária na Global por muitos anos, estava familiarizada com o tema e sabia se portar, se vestir e discutir alguns assuntos de programação.Quando morava com o Danilo, ele pagou curso de inglês pra ela, então ela só falava uma língua a menos que eu, que também precisava de intérpretes. Ela passava as noites estudando contratos anteriores e atas de reuniões, também vendo vídeos de reuniões anteriores. Eu achava que ela se sairia bem, e assim eu poderia ficar mais tempo em casa.Dependendo dos resultados dessas reuniões, a próxima viagem que faria ao Brasil, seria definitiva. Nas próximas reuniões que exigisse presença, Juliete a representaria. O resto ela trabalharia de casa. Em