Danilo conversou pouco durante o jantar, a cada resposta que o Aleks dava, ele parecia ponderar, e marcar mentalmente. Claro que contaria para o Leandro na primeira oportunidade. Mas era evidente a nossa sintonia. Aleks era um excelente profissional, e nos dávamos muito bem. Só isso. Eu e a minha amiga estávamos totalmente focadas no trabalho e com um planejamento para reduzir a agenda dela dos próximos dois anos. Leandro e o Danilo estavam caçando pelo em ovos.Eu estava uma pilha naquele jantar. Aliás, estava uma pilha há um mês, quando a Isadora teve a excelente ideia de fazer a proposta de Aleks ir para o Brasil comigo.Desde que ele aceitou, passamos a trabalhar juntos. E coloca trabalho nisso. Eu tinha que cumprir a agenda pela qual fui até a França e deixar o Aleks inteirado de suas funções na Psy Brasil. Jantamos juntos todas as noites. Ele passou finais de semana inteiros no flat, outros, nos levou para passear pela França. Disse que estava se despedindo.Mas tudo isso estav
Danilo estava no tal jantar com o pessoal. Eu encarava o meu celular com expectativa, e no primeiro toque, sem nem olhar o nome da tela, atendi.— Estou jantando com eles e a Isadora.— E o que você viu?— Duas mulheres focadas em trabalhar para diminuir o tempo de viagens. Um profissional extremamente capaz empolgado com a nova oportunidade, e dois babacas inseguros com ciúmes de nada.— Sério que esse francês não tá jogando charme para cima da Laila?— Eu não disse isso. Ele joga charme sim, assim como eu ou você faríamos com uma mulher linda e solteira se fôssemos solteiros. Com respeito e educação. Mas vejo a Laila meio desligada disso. Aliás, notei que ela está estranha, está meio desligada de tudo. Tem possibilidade de ela estar grávida? — Acho que não. Ela usa DIU e faz checagem a cada seis meses. E acredito que na primeira desconfiança, ela me ligaria me xingando de tantos nomes diferentes, que eu teria vontade de cortar meu pau fora.— Vai ter que ver com seus próprios olhos
Quando saí do banheiro, Isadora estava vindo ao meu encontro esbaforida:— Você demorou demais, nossa. Vamos, precisamos correr.— Aconteceu alguma coisa?— Juliete entrou em trabalho de parto.Entrei no carro, a Isadora decidiu dirigir e ela tinha o pezinho bem pesado. Eu não me lembrava que ela dirigia tão rápido. Aliás, poucas vezes eu deixei ela se estressar dirigindo comigo.A minha cabeça não estava legal. Eu nunca contei a ninguém, nem mesmo a Isa que era a minha maior confidente. Mas não tinha nenhum sentimento por essa criança. Quando descobri da existência dele, tive raiva. Muita raiva, mas da atitude da Juliete e não do bebê. Depois, deixei a Isadora ditar o tom de como tratar o assunto.Mesmo porque eu ainda não conseguia sentir expectativa ou vontade de ter esse bebê. E sabia que depois que nascesse, a Isadora não ia deixar ficar com Juliete. Ela iria dar um jeito, porque a minha mulher era só amor e preocupação com o próximo, e ela sabia que seria melhor pra todo mundo q
Ansiosa, andava de um lado para o outro, enquanto a minha amiga me olhava agoniada. A Laila tentou ligar diversas vezes para o Leandro para contar, e ele não a atendeu. Não podíamos saber o que ele estava pensando, ou fazendo, e isso deixaria a minha amiga agoniada com tantas incertezas, somado a minha situação. Mas me surpreendi com o Aleks, que também estava impaciente comigo zanzando:— Você vai fazer um furo no chão. Se você se sentar aqui e aguardar, a criança vai levar o mesmo tempo pra nascer.— Cale a boca, Aleks. Você não sabe o que estou passando.— Pode passar sentada ou em pé cansando as pernas. Mas sentada, Laila e eu podemos segurar sua mão e conversar para te distrair.Mostrei a língua para ele, mas acabei sentando entre os dois. No momento em que a Laila pegou em minha mão, o telefone tocou. Ela se levantou e se afastou, para o Leandro não ver o Aleksander e começar com um sermão. Revirei os olhos.— Leandro tem ciúmes de você e a Laila prefere evitar o confronto.— E
Aleksander, Isadora e eu adentramos o quarto da Juliete na manhã seguinte. Nós três com cara de poucos amigos.Aleksander nos deixou convencer de que era melhor apurar aquela possibilidade antes de confrontar a Juliete, que tinha acabado de passar pelo trabalho de parto e não precisava desse estresse naquele momento.— Mal dormi essa noite, imaginando que milagre foi esse que me tornou pai do nada. — Ele nos disse no dia seguinte.Nos encontramos às sete da manhã para tomar um café, Laila estava conosco. Fomos até a clínica de fertilização, o médico que fez o procedimento em Juliete nos aguardava.— Isso é possível? Juliete ter ficado grávida por vias naturais?— Bem, existem muitos casos na história da medicina que relatam laqueaduras que se revertem sozinhas com o tempo. Durante a FIV, a mulher recebe uma explosão de hormônios, sem contar os estimuladores dos hormônios próprios. Juliete fez duas sessões sem esperar o tempo de pausa recomendado. — E ninguém a orientou que não deveri
Eu estava pronta para partir pra casa com o Danilo. Ficou decidido que o Aleksander ficaria na França mais um mês, prazo de segurança para o bebê voar. Os médicos disseram 3, depois de todas as vacinas, mas optaram por dar as vacinas no Brasil.O Danilo e a Isadora o convidaram para ficar na casa do lago. Sheila e Elza ficariam pra ajudar com a Lis e o bebê. Eduardo voaria pro continente asiático de lá para fechar acordos pelo projeto. Mas eu e o Danilo, não poderíamos mais ficar na França. A empresa dos pais da Isadora careciam da CEO, e o Daniel não dava conta. E Leandro ia surtar se ficasse mais um tempo tomando conta de tudo sozinho.Eu estava aguardando os dois voltarem da maternidade, onde foram buscar Pedro. Aleksander trocou o nome do bebê, avisou a sua família que viriam visitá-lo no dia seguinte, quando a casa estivesse mais vazia.Isadora estava lá em cima conversando com a Lis, explicando que o bebê não era irmãozinho dela e que iria ficar um tempo com eles, mas iria morar
Quando acordei depois das horas de voo, senti o cheiro de comida no meu apartamento. Sorri, coloquei os chinelos e fui até a cozinha. Encontrei com Leandro de bermuda, sem camisa, com um avental rosa e o pano de prato no ombro, andando de um lado para o outro enquanto fritava os legumes ao shoyu. Claro que ele estaria fazendo Yakisoba, a minha comida preferida. Notei também os rolinhos primavera na bancada, prontos para serem fritos.— Que horas você chegou aqui pra preparar tudo assim, sem ajuda?Quando Leandro virou para trás e me viu, soltou o ar entrecortado. Me deu um sorriso largo e isso me fez ver que ele sentiu saudades. Ele tencionou vir até mim, mas não podia, estava com o fogo ligado, então apenas me respondeu:— Danilo me liberou mais cedo para vir cuidar de você e matar a saudade. Eu já ia te chamar.— Falta muito aí?— Não. Os legumes já estão todos fritos, ia desligar agora e te chamar pra ir tomando um banho enquanto eu frito os rolinhos e o macarrão — Leandro foi fala
Quando me vi sem o Danilo e sem a Laila na França, senti o meu mundo vazio. Dei graças a Deus que a Lis ficou com as minhas sogras, ou eu acabaria enlouquecendo. Comecei a sentir o peso do meu trabalho sobre mim, e me perguntava se realmente valia a pena todo aquele esforço em memória dos meus pais, que passaram a vida tocando uma empresa pequena no interior e me criaram com muito amor e atenção. Marquei uma consulta com um psicólogo na primeira semana. Queria conversar com alguém e não poderia ser os meus. Depois que contei tudo o que estava sentindo e tudo o que mudou, a moça que deveria ter a minha idade parecia muito segura quando me disse:— Tudo isso pode ser a reação tardia da mãe de anjo. Quando tudo lhe aconteceu, você fechou seu coração para essa possibilidade e em negação. Depois do susto por seu marido poder ter um filho com outra mulher, roubando seu lugar e o sonho que é de vocês, você sentiu o peso da sua decisão. E agora está tendo a necessidade de ter o seu bebê arco