Fiquei observando Isadora ser recebida com entusiasmo por Douglas. Era a hora do show. Meu passaporte para a liberdade.Eleanor havia me convencido a fingir que acordava sem memória e ainda amava Danilo. Ela disse que bastava manter a farsa até que ela resolvesse algumas coisas e viesse em meu socorro. Para mim, parecia uma boa solução: fingir falta de memória era mais fácil, considerando que neurologicamente não havia nada de errado comigo. Se eu confrontasse Danilo diretamente, perderia a chance de sair daquela situação com alguma segurança financeira.Eu não entendia muito bem o plano de Eleanor. Ela apenas explicou por cima que Danilo estava apaixonado pela estagiária e que a falta de memória afastaria os dois até que ela pudesse dar o xeque-mate. Então, aceitei viver naquela mentira, contando tudo a Eleanor.Era uma tortura! Eu estava presa naquela casa, desempenhando o papel de boa esposa, ajudando aquela velha cheia de frescuras e vendo os dois velhos acreditando que viviam uma
Saí do escritório de Leandro com um misto de leveza e excitação. Pela primeira vez em semanas, senti que poderia ter um espaço para respirar e me reencontrar longe dos dramas emocionais envolvendo Danilo e Juliete. Leandro tinha uma maneira descontraída de ensinar, algo que eu não via na rigidez com que era tratada na cobertura da Psy. Ali, tudo parecia fluir com mais naturalidade, como uma conversa entre amigos.Enquanto caminhava para a lanchonete no térreo, relembrei a manhã com um sorriso involuntário. Era estranho o quanto me senti à vontade em tão pouco tempo. Talvez porque, com Leandro, não havia expectativas ou julgamentos, apenas aprendizado. "Será que essa leveza vai durar?", pensei.No entanto, algo dentro de mim ainda estava em conflito. Mesmo com a decisão de voltar a focar em meus estudos e no trabalho, a sombra de Danilo parecia sempre presente, um peso que eu não conseguia ignorar. E o fato de Juliete estar de volta à França trazia mais perguntas do que respostas. Eu s
Quando voltei para casa naquele domingo, depois de finalmente despachar Juliete para fora da minha vida, minha mente estava uma confusão completa. Alain me esperava, como sempre, pronto com seus conselhos que, às vezes, eram mais irritantes do que úteis. Ele me fez refletir sobre o que tinha acontecido. A forma como Isadora lidou com Juliete... aquilo me deixou grato e, ao mesmo tempo, incomodado.Grato porque ela colocou um ponto final na farsa que Juliete insistia em manter. Incomodado porque o jeito como fez isso foi extremo. Humilhações, ameaças... Isadora estava impaciente, e talvez, com razão. Mas isso me preocupava.Alain insistiu que eu precisava considerar duas possibilidades. Primeiro, que Juliete não contou toda a verdade sobre sua suposta amnésia. E segundo, que Isadora estava no limite com toda essa situação. Ele tinha razão, claro. E também tinha razão ao dizer que era hora de eu ser completamente honesto com Isadora.Contar tudo. Sobre o acidente, sobre como eu só desco
Os passos de Leandro ecoavam no corredor enquanto eu o seguia até a sala. Um misto de culpa e preocupação me invadia. Assim que entramos, fui direto ao banheiro pegar papel toalha, umedecendo-o antes de limpar o filete de sangue no canto da boca dele.— Você está bem? — perguntei, passando o papel com delicadeza.Ele me olhou com aquele sorriso meio divertido e respondeu:— Eu estou muito bem. E você?— Eu? Você quem tomou um soco!Ele deu uma risadinha irônica: — Uma cara quebrada se conserta, um coração não. Então me diz, por que aceitou sair comigo se já está saindo com o chefe?Suspirei, tentando segurar o olhar dele. — E por que você presume que estou saindo com ele?— É só juntar dois mais dois. Há um tempo, começaram boatos sobre vocês dois. Eu te respeitei até parecer que nada estava acontecendo, mas só me aproximei depois que você aceitou sair comigo. E aí vem a reação dele... Não dá pra ignorar.Hesitei por um momento. Negar seria inútil, mas admitir também não parecia a m
Eu estava adorando a atenção de Danilo. Ele estava fazendo de tudo para passar mais tempo comigo, e meu plano com Leandro estava funcionando perfeitamente.No jantar do dia seguinte, contei para Leandro que era casada com Danilo, de todo o problema com Juliete e da proposta de disputa. Ele ficou admirado ao descobrir que eu era a esposa secreta do Danilo e concordou que nós dois realmente não tínhamos nada a ver, mas poderíamos ser amigos. Pedi para ele continuar fingindo que não sabia de nada e que ainda disputava minha atenção. Em troca, prometi arrumar alguns projetos para ele fazer sem supervisão.Danilo, previsível como sempre, rapidamente começou a passar algumas de suas funções para Leandro. Isso sobrecarregava o rival e, ao mesmo tempo, lhe dava mais tempo para passar comigo. Todos saíam ganhando.A única coisa que faltava nesse relacionamento que estava indo tão bem era sexo. E eu já estava subindo pelas paredes. Pensei em chamar Danilo para vir à minha casa no sábado. Eu que
A viagem até a França foi tranquila, quase perfeita. Para mim, foi um momento ideal: eu estava de férias da faculdade, e John tinha terminado com Laila. Ele conseguiu uma bolsa para fazer residência em um hospital nos Estados Unidos e decidiu que a ruptura seria a melhor solução. Ele só tinha mais um semestre para terminar a faculdade.Laila estava bem com isso, até porque eles já tinham começado a namorar sabendo dessa possibilidade – ele poderia sair do país dois anos antes de ela terminar o curso dela. Mesmo assim, não deixava de ser triste, e sair do país por alguns dias parecia uma boa distração para ela.E foi mesmo. Eu me senti acolhida na casa de Rafelle e Alain. Enquanto os homens se trancavam para trabalhar, Rafelle levava nós duas para passear. Conversávamos, nos divertíamos... Nenhum dos problemas que imaginei antes de sair do Brasil aconteceu.Eu confesso que pensei bastante sobre ir ao país que acolheu Danilo, onde ele viveu por tantos anos, se formou e escreveu sua hist
A volta pra casa foi marcada por uma ruga de preocupação. O evento tinha sido um sucesso, e Danilo fez de tudo para me deixar à vontade. Eu me senti maravilhosa. Ele foi indicado para dois prêmios, e se ganhasse, teríamos que voltar à França para outro evento daqueles em três meses. Rafelle ainda comentou, toda animada, que por sorte tinha comprado todos os vestidos que experimentei!Achei melhor deixar os vestidos na França mesmo. Eu não tinha onde usar tudo aquilo no Brasil. Um dia antes de voltarmos, Danilo me levou para visitar alguns lugares. O último foi uma casa de vidro, próxima a um lago, bem afastada da civilização. Levamos cerca de uma hora e meia para chegar lá, partindo do centro de Annecy. Danilo me contou que, se viajássemos mais uns dez minutos, daríamos de cara com o castelo medieval de Chillon.Eu estava encantada. A casa era perfeita, e as paisagens eram de tirar o fôlego. Foi então que ele me disse que estava procurando uma nova casa para comprarmos e que eu estava
Na tarde do acidente da minha mãe, ao sair do escritório, percebi que precisava parar de agir como uma louca e criar um plano sólido. Fui até a universidade, consegui o endereço dos pais de Isadora e, naquele mesmo dia, fui para Mairiporã.Quando cheguei lá, só tinha o endereço da empresa. Achei muita coincidência Isadora ter vindo da mesma cidade do casal que morreu no acidente de Danilo e Juliete. Quando cheguei na empresa, Thomas me atendeu, e em menos de cinco minutos, tudo ficou claro: Isadora era a garota que Danilo estava procurando.Também percebi que as desconfianças de Danilo, na época do acidente, faziam sentido. Thomas escondia algo, eu tinha certeza.A partir disso, comecei a desenhar um plano de verdade. A sonsa da Isadora jamais aceitaria ficar com Danilo se soubesse que ele matou os pais dela. E não precisei pensar muito para perceber que Danilo sabia, sim, quem eram os pais dela. Afinal, foi só ele descobrir que ela era a filha deles para abandonar sua obsessão por aq