Sentia que estava vivendo em câmera lenta, desde o momento que acordei com a porta do quarto sendo arrombada. Dei um salto, nua, quando vi um bombeiro entrando no quarto, ao mesmo tempo que vi todo um lado do prédio vir abaixo.O bombeiro me alcançou e me pegou no colo, saindo do quarto o mais rápido possível. Comecei a gritar, perguntando onde estava o meu marido. Percebi meio desnorteada que tinha uma operação formiguinha nas escadas do prédio e rapidamente fui passada para outro bombeiro que desceu um lance de escadas comigo enquanto o que me tirou do quarto voltava pra cima.Depois, enquanto era atendida e aguardava minha família chegar, fui acompanhando as notícias. Uma grande tragédia aconteceu nas ilhas Maui, muitos nativos e turistas morreram e tinha cerca de 1200 pessoas desaparecidas.Danilo e Bahuan me buscaram no Havaí e me levaram pra casa, Aleksander não tinha sido encontrado, vivo ou morto. O DMORT (equipe de respostas em tragédias) só fica falando em desastre em aberto
— Relaxa, Laila. Você precisa voltar para São Paulo, sabemos. E o Leandro tem que te acompanhar. Não dá mais pra adiar a inauguração do Lar amigo.— Isso porque a agenda de alguns artistas estava corrida. Mas ninguém imaginou que a Juliete iria ter nossa princesa na mesma época.— Coisas da vida, mas vá tranquila, amiga. Bahuan e Matheo estão na casa dela, Danilo e eu estamos aqui e Anninka chega amanhã. Juliete não está sozinha.— Mas eu queria estar com ela quando Alexia nascer. — Quem vai estar com ela é o Danilo, apenas.— Você entende a ironia da situação? Anos atrás, quando você encontrou o projeto dos seus pais, começou a ganhar o mundo e ela apareceu grávida, tornando nossas vidas um pequeno caos na época, quem imaginaria que você estaria falando que o Danilo vai assistir ao parto da Juliete com essa calma e tranquilidade?— Mais irônico na verdade é que o Danilo vai assistir ao parto dos dois filhos da Juliete sem ser pai de nenhum.— É. Mas se não fosse essa presepada que e
Estava no avião indo para o Havaí apagar aquele incêndio. E só pensava: que droga.Estava tão perto de enfim acabar com aquela vida de merda ao lado de Henrieta e viajar para o Brasil, assumir a Juliete. Planejei tão cuidadosamente como seria o nosso retorno. Eu estava há três anos servindo aquela idiota e somente a ela para não perder a mamata. Quando Matheo descobriu que eu não tinha mais nada com a Juliete e o meu filho não era dela, decidi que deveria planejar um golpe muito maior e significativo, pra ter uma chance de ter Juliete de volta.Agora ela estava diferente, teve um filho, trabalhava na Duex, viajava bastante, se vestia diferente. Tinha motorista particular e parecia que ganhava muito dinheiro, não só o aluguel da casa. Quando fui procurar por ela, soube que ela tinha alugado a casa para uma família. Foi difícil conseguir o novo endereço dela.E mais ainda foi admitir que Zé droguinha e pé rapado que eu era, não conseguiria tê-la de volta. Pensei em tentar por Matheo, m
Assistia alguns noticiários do Brasil no notebook do garoto, Joseph. Comecei a achar que tinha alguma coisa errada com a Vaitiari. Tudo o que eu queria fazer ou perguntar, primeiro ela ia falar com o estranho que me ajudou quando cheguei aqui, depois da tragédia na ilha. Vaitiari era uma mulher muito boa e decente. Depois da visita daquele homem, ela quis ter uma conversa comigo e me deu algumas opções.— Você ouviu o que ele disse. Você era um mendigo das ruas da ilha, e pode ser proveniente de qualquer uma das ilhas de Maui, mas deu o azar de estar naquele lugar naquele momento. E infelizmente, não poderemos saber se você tem algum familiar para onde voltar. Ninguém ajuda um mendigo, pior se for com essas condições. Olha, se quiser pode ficar aqui, na tenda comigo.— Se está me propondo começar um relacionamento. Eu não quero. Nem sei quem eu realmente sou. – Fui categórico e vi que ela não gostou muito da minha resposta.— Não pense assim. Apenas é um agradecimento por ter salvo
Eu aguardava a chegada de Gerard, na beira da ilha, me sentia muito ansiosa. Eu acreditava que ele me ajudaria a manter o meu homem em casa. Eu cuidei de Kaleu, ajudei a tirar novos documentos, ajudei a se curar dos ferimentos do acidente, dei guarita a ele quando estava a esmo. Não era certo nem justo agora ele querer ir embora.Eu senti que não daria certo quando o vi pesquisando na internet. Tanto que não permitia ele ter dados no celular. Com ele usando o computador de casa, eu poderia verificar o que ele estava pesquisando e fazer a contenção de danos. Quando ele deu a ideia de um computador em casa, eu fui contra. Liguei para o francês contando da intenção e pedindo ajuda de como poderia evitar.— Você é burra? Ele pode ter acesso a internet de qualquer maneira. Pode até comprar um celular ultra moderno e contratar um pacote. É melhor que você possa fiscalizar isso pra não sermos pegos de surpresa. E outra coisa: ele não pode se sentir acuado, que você está impedindo ele de bus
Assistia a uma reportagem, bem desinteressado, quando ouvi o nome de Isadora. Passei a prestar atenção e soube que naquele dia, sua advogada e amiga estava em uma festa de inauguração de um projeto bem bacana em que orientavam e davam acompanhamento jurídico, psicológico e financeiro para adolescentes na criminalidade. Revirei os olhos e pensei que isso era um problema estrutural e que nada adiantava injetar dinheiro nessas comunidades se não houvesse uma mudança de atitude. Resolvi apenas ouvir enquanto procurava uma roupa para tomar banho. Mas voltei a minha atenção para a tela do notebook quando ouvi uma voz feminina respondendo ao meu pensamento negativo:— Muitos podem achar que o projeto é uma utopia, já que a criminalidade infantil é um problema estrutural, principalmente nas comunidades do Brasil com os ditos aviõezinhos, e que injetar dinheiro nesse problema seria como financiar o crime, e no problema de natalidade na adolescência, seria como incentivar meninas a engravidar.
Apaguei a tela do celular e fiz uma busca entre a multidão, encontrei com os olhos Leandro, que já estava vindo em minha direção.— Você não vai acreditar com quem eu estava ao telefone.Quando contei toda a conversa que tive com o suposto Aleksander, Leandro me perguntou:— Você acha que pode ser verdade? — Não sei. Era a voz dele. Mas posso ter sido enganada.— Vamos checar, pelo menos. Vou pedir a Elza e ao Eduardo para terminar de conduzir a inauguração. Você já discursou mesmo.Leandro tomou as rédeas da situação. Saímos do local e volta para casa, fui dirigindo. Eu queria mesmo ir direto para Mairiporã — Não podemos, se tivermos que ir para o Havaí, o jatinho está em São Paulo. Precisamos otimizar o tempo.— Tem razão. Seria perda do tempo que já não temos. — Acelerei o carro.Ainda a caminho de casa, Leandro ligou para o Danilo e acionou o viva-voz.— Não, Leandro. Diz pra Laila que ainda não temos notícia diferente de uma hora atrás. Juliete não está sentindo dores.— Coloc
Quando cheguei em Mairiporã, encontrei uma Isa nervosa e apavorada.— Alain me retornou. Gerard vive com essa mulher que faz os gostos dele. Ela está aguardando uma chamada de vídeo nossa, só esperando você chegar.— Mas é madrugada na França agora...— Ela sabe e mesmo assim está aguardando.Depois que fizemos a chamada, vimos chegar na tela uma senhora de uns 50 anos, bem vestida, conservada, com um olhar perdido.— Boa noite, sou Henrieta. Alain me adiantou o assunto, mais ou menos. De verdade, o que vocês esperam que eu saiba?— Henrieta, me desculpe te incomodar uma hora dessas, mas é realmente assustador tudo o que está acontecendo. Você já ouviu falar de Juliete?— Não, mas Gerard era obcecado pela Duex e o CEO, o senhor Danilo. Ele dizia que queria ter sido programador e eu até sugeri ele voltar a estudar, mas ele disse que o tempo dele passou.— Porque vocês foram para o Havaí?— Ele sugeriu termos uma viagem nossa, disse que gostaria de conhecer o Havaí. Ele programou tudo.