Nos dias que seguem, uma tranquilidade quase mágica se instala entre nós. É como se o tempo tivesse aprendido a acompanhar o ritmo que criamos juntos, permitindo que cada instante fosse vivido com a intensidade certa. O dia 29 chega, carregado de uma suavidade que só o conforto do bem-estar pode trazer. Há algo no ar, uma certeza silenciosa de que estamos vivendo algo raro, como se cada detalhe do cotidiano fosse desenhado para se encaixar perfeitamente com o que somos e com o que estamos construindo.Acordamos com a leveza de quem já se entende no olhar, com gestos que parecem compor uma linguagem própria, feita de detalhes e silêncios. O café da manhã flui como uma dança natural: ele pega as xícaras enquanto eu coloco o pão na torradeira, nossos movimentos se cruzando em harmonia, como se tivéssemos ensaiado. Quando nossos olhares se encontram, um sorriso espontâneo ilumina o momento, preenchendo o espaço com algo que não precisa de explicação.Estamos aprendendo a valorizar os pequ
— Muito. Claro.Ela responde com tanta naturalidade, como se fosse a coisa mais simples do mundo, mas para mim, essas palavras soam como uma verdade absoluta, como algo que eu sempre soube, mas agora posso finalmente ouvir de sua boca. A certeza de que ela está aqui, que ela me escolheu, me faz sorrir com uma alegria que vai além das palavras.Eu continuo a observá-la, os meus olhos fixos nos dela, tentando traduzir todas as emoções que borbulham em mim. Mas então, o que eu mais temo escapa dos meus lábios, como uma confissão, uma súplica que não posso mais esconder.— Nunca me deixe, Sofia... Eu não sei o que... o que seria de mim.A voz sai baixa, carregada de um medo que eu não esperava sentir. Eu sei que isso soa quase como uma fraqueza, mas não me importo. Eu preciso dela. Eu preciso dela de uma forma que é mais do que apenas o desejo físico. Eu a amo, e isso é algo que eu não posso mais negar. Não quero mais viver sem ela.Antes que eu possa continuar, ela me cala com um beijo.
O dia vinte de janeiro está se aproximando rapidamente. A ansiedade se mistura à empolgação, formando um turbilhão que toma conta de mim. A ideia de me casar com Leonardo, de finalmente celebrar o nosso amor de forma oficial e eterna, me faz sentir como se estivesse flutuando. Cada momento que passa, cada segundo mais próximo da data, me deixa mais ansiosa e, ao mesmo tempo, mais tranquila. Porque sei que estamos prontos. Eu sei que é com ele que eu quero passar todos os dias da minha vida.Durante as semanas que antecederam o casamento, tudo tem sido uma verdadeira montanha-russa de emoções. As preparações são muitas, os detalhes infinitos, mas nada me faz mais feliz do que imaginar o que nos aguarda após esse grande dia. Eu e Leo, juntos. Para sempre. Às vezes, olho para ele e não consigo acreditar como ele é meu. Como eu sou dele. Como conseguimos nos encontrar nesse vasto mundo, como nossos corações se reconheceram em meio a tantas possibilidades. Ele, com sua calma, sua força, su
O Primeiro Beijo Como CasadosO juiz nos dá a palavra final, e o momento parece mágico. Ele sorri calorosamente, e sua voz soa clara, carregada de significado:— Agora, podem se beijar.Meu coração acelera como se soubesse que algo grandioso acabara de acontecer. Leonardo se aproxima, seus olhos brilhando com uma emoção que só nós compartilhamos. Ele me segura com firmeza, mas ao mesmo tempo com uma suavidade que faz meu coração derreter. É como se suas mãos me dissessem que nunca, jamais, me deixariam ir.E então ele me beija.É um beijo profundo, cheio de paixão e promessas. O mundo ao nosso redor desaparece. As pessoas, os sons, as luzes — tudo se dissolve, deixando apenas nós dois, como se estivéssemos flutuando em uma bolha feita de amor puro. Em meio a esse momento, uma onda de certeza me invade: nossa vida juntos está começando, e não poderia ser mais perfeita.Quando nossos lábios se separam, ele ainda segura meu rosto com as mãos, seus olhos fixos nos meus. Há tanta ternura a
SophiaEntro na sala e vejo os meus pais assistindo a um filme caseiro de três anos atrás. Eles estão rindo de uma cena minha com Omar, quando ele me surpreende, jogando-me nos seus ombros e correndo comigo em direção ao mar. Na filmagem, o meu bumbum aparece para cima enquanto eu bato as pernas em protesto, rindo e gritando.Passo a mão pelos meus cabelos castanhos, longos e pesados, sentindo um incômodo imediato. Detesto essa situação. Tento manter uma expressão neutra enquanto a minha mãe comenta casualmente:— Quem diria que Omar trabalharia para um Sheik...Forço um sorriso para disfarçar o desconforto, mas meu coração pesa ao olhar para o vídeo. A cena muda, mostrando nós dois rindo como crianças depois que ele me joga na água. Meu coração acelera, mas não por causa de Omar. É por Tiago que aparece na sequência. Que droga... Perdê-lo foi um golpe avassalador.Fecho os olhos me lembrando de uma cena com o meu amigo, meu irmão....A luz dourada do fim de tarde atravessa as janelas
O aperto no peito se intensifica.— Mãe, chega desse vídeo! Que tal um cafezinho? — tento mudar o foco, precisando de uma pausa dessa mistura de saudade e dor.— Vou fazer — responde minha mãe, enxugando os olhos marejados enquanto troca um olhar com meu pai, que permanece em silêncio. Algo na atitude dela me deixa alerta.— Precisamos conversar. Sente-se — diz meu pai com uma expressão séria.Meu coração dispara. Quando ele assume esse tom, sei que vem algo importante, e geralmente não é coisa boa.— O que foi? — pergunto, tentando parecer tranquila, mas já sentindo o peso da ansiedade.— Há uma semana, Omar nos ligou.Fico perplexa ao ouvir o nome do meu ex-namorado sair dos lábios de meu pai.— Pai! Deus! Esquece esse homem. E daí que ele ligou? Por que está me contando isso agora?Meu pai suspira profundamente, ignorando minha reação.— Não seja dura com ele.— Dura com ele? Por que essa conversa agora? Ele está do outro lado do mundo. Nem se lembra mais de nós!— Filha! Ouça.Eu
Omar caminha em direção à minha mãe com uma leveza que quase parece desumana. Ele pega a bandeja das mãos dela com um gesto tão natural, tão cheio de uma elegância imperturbável, que a cena se estende no tempo, como se o movimento fosse feito para ser admirado. Ele a coloca suavemente sobre a mesa de centro, seus dedos roçando a madeira com uma precisão que eu quase posso sentir na minha própria pele. Então, ele se serve de uma xícara, os dedos envoltos em volta da porcelana com uma calma que me provoca. Eu o observo em silêncio, absorvendo cada detalhe do seu físico. Ele está visivelmente mais magro, a face mais definida, como se a vida o tivesse esculpido com pressa, um reflexo de dias longos sob o comando do tal Sheik. Uma onda de estranheza se espalha por mim, como se ele tivesse se distanciado de quem foi, e ao mesmo tempo, algo no fundo de mim ainda o reconhecesse.Meu celular vibra e, sem pensar muito, pego-o na mão. As palavras para Leo saem rápidas, como se a escrita fosse a
Deus! Ele que terminou comigo! Saiu da minha vida de um jeito intempestivo. Ficou quase dois anos longe e agora volta e quer mudar o meu Natal?— Desculpem-me, mas eu não vou. Eu já tenho o meu Natal planejado. — As palavras saem de mim com mais força do que eu esperava.Meu pai endurece o olhar, mas não recua.— Pois eu e sua mãe queremos ir e gostaríamos muito que você fosse conosco.Minha mãe chora ao lado de meu pai, abraçando-o como se isso fosse algum tipo de despedida. Um golpe baixo, um apelo. Eu sinto a raiva ferver, a impotência me corroer.— Pode ser nosso último Natal, ninguém sabe o que pode acontecer... — Minha mãe diz, chorando com a fragilidade de quem não consegue mais esconder a dor.Deus, isso é torturante.Eu encaro Omar. Ele está lá, parado, com o semblante sério, seus olhos fixos em mim. Há algo em seu olhar que me ferve por dentro, uma espécie de calor que eu não quero sentir. Mas é impossível não notar.Meus pensamentos voltam ao passado, ao momento em que ele