— Por que a demora? Aconteceu alguma coisa? — Ele pergunta, a voz grave, buscando entender o que aconteceu, a preocupação evidente nos seus olhos.
Eu forço um sorriso triste, tentando disfarçar a confusão.
— Problemas familiares. — Respondo, minha voz falha, mas não posso dizer mais.
De repente, a voz de Omar me chama da porta.
— Sofia! — Ele grita, e o meu estômago dá um nó tão forte que m@l consigo respirar. Não olho para ele. Não posso. Não quero.
Em um impulso desesperado, avanço sobre Leonardo, agarrando-o como se a minha vida dependesse disso. Sinto os seus músculos se enrijecerem sob o meu toque, a hesitação tomando conta dele por um instante antes que os seus braços, firmes e quentes, se fechem ao meu redor. E, meu Deus, o cheiro dele… uma mistura inebriante de algo familiar e perigoso, invade os meus sentidos, apagando tudo ao redor.
Sem pensar, as minhas mãos alcançam a sua nuca, puxando-o para mais perto. Os meus lábios encontram os dele com urgência, um choque elétrico que explode no meu peito. O beijo é bruto, intenso, como se fosse a única coisa que nos mantém ancorados à realidade. Sinto o coração de Leonardo martelando contra a minha palma, que descansa sobre seu peito nu e quente. Há tensão nele, dúvida, confusão… mas não por muito tempo.
Então, ele cede. Um gemido baixo escapa de seus lábios, e, num gesto que me desarma, ele me puxa ainda mais para perto. Seu beijo é avassalador, um furacão que consome tudo. O mundo desaparece, e eu me perco no calor, no toque, na sensação de ser tomada por algo que não consigo controlar. O meu coração está disparado, o sangue corre como fogo em minhas veias, e me sinto simultaneamente pequena e invencível nos seus braços.
Quando os nossos lábios finalmente se separam, estou ofegante, como se tivesse corrido quilômetros. Seus olhos me encontram, intensos, carregados de algo que mistura desejo, choque e uma pergunta silenciosa. Mas antes que eu possa decifrá-lo, a voz de Omar corta o momento como uma lâmina.
Leonardo muda. Sua expressão suaviza por um instante, mas logo se transforma em algo duro, calculado. Ele entende o que fiz, e sua mandíbula se tensa. Seu olhar me queima, mas agora carrega algo que não sei nomear. Eu me afasto, o peso de tudo me atingindo como uma onda gelada.
Omar está à porta, segurando minha bolsa. Seu rosto é uma máscara de desagrado, e sua voz, cortante como gelo: — Você esqueceu.
Seu tom me faz estremecer, mas me forço a não transparecer o impacto. Minhas pernas estão bambas enquanto caminho até ele, pego minha bolsa e respondo, com um fio de voz: — Obrigada.
Eu me viro antes que ele possa dizer algo mais, mas não olho para trás. Não quero encarar o abismo que ele representa. Ao me aproximar de Leonardo, percebo seu olhar fixo em Omar, desafiador como nunca. Seu rosto está sério, os traços mais pronunciados, uma masculinidade crua que só aumenta a tensão no ar. Ele está me protegendo, silenciosamente, e isso me faz tremer. Como pode ser tão… selvagem?
Eu me forço a afastar a lembrança do beijo, o calor que ainda pulsa em mim. Tento me recompor, mas cada passo parece um esforço monumental. As peças de mim mesma ainda estão espalhadas, e Estela, minha amiga, aparece como uma âncora mental. Foque, Sofia, eu me ordeno. Mas mesmo com sua lembrança, o desejo por Leonardo arde como uma chama indomável.
Leonardo se move, abrindo a porta do carro para mim com um gesto natural, mas carregado de significado. Antes de entrar, algo chama minha atenção: o Camaro estacionado à nossa frente. Meu coração se aperta, e um nó sufocante se forma na minha garganta. Há algo errado.
Aquele carro… Não deveria estar ali. Ele carrega um peso, um aviso silencioso que faz o ar parecer mais denso. A tensão se torna quase tangível. Tento desviar o olhar, mas é impossível. O carro é uma presença sombria, uma lembrança de que as coisas nunca são tão simples quanto parecem.
Leonardo entra ao meu lado, a energia entre nós ainda fervendo, mas agora tingida de algo mais sombrio. Ele lança um olhar para o Camaro e comenta, com um tom que tenta quebrar a pressão sufocante: — Um belo carro.
A frase paira no ar, carregada de ironia. Ele sabe, assim como eu, que aquele carro é mais do que parece. E, mesmo sem palavras, algo em seus olhos me diz que a batalha está longe de acabar.
Eu o encaro, tentando manter a compostura, mas é impossível. O que acontece entre nós dois transcende palavras. Meu peito aperta, e tudo dentro de mim parece uma tempestade prestes a explodir.
— Isso não me impressiona. — Respondo, mas minha voz vacila, traindo o esforço que faço para soar firme. Sinto minha respiração se tornar mais rápida, mais irregular, enquanto uma tensão sufocante cresce entre nós, pesada e impossível de ignorar.
Os olhos dele, que antes estavam fixos na estrada, descem lentamente até meus lábios. Ele me observa com uma intensidade que me faz estremecer, como se enxergasse algo em mim que nem eu mesma consigo entender. O mundo para, o tempo congela, mas, num movimento brusco, Leonardo vira o rosto e dá partida no carro. O ronco do motor corta o silêncio, ecoando minha própria inquietação.
Sinto o calor subir pelo meu pescoço enquanto encaro seu perfil rígido, a mandíbula cerrada. A vergonha me consome. A culpa, o arrependimento, tudo se mistura em uma confusão caótica.
— Eu... não sei o que me deu. Perdoe-me por ter te beijado. — As palavras saem rápidas, quase tropeçando uma na outra. Meu coração b**e descompassado, ansioso para que ele entenda, mas ao mesmo tempo consciente de que talvez seja impossível colocar em palavras o que sinto. Não foi só um beijo. Não foi apenas impulso. Foi algo mais, algo que me apavora.
Leonardo vira o rosto na minha direção, e sua expressão me atinge como um soco. Ele está fechado, os seus olhos apertados numa carranca que não consigo decifrar. É como se eu tivesse cruzado um limite invisível, e a ideia de tê-lo perdido de alguma forma me rasga por dentro.— Esse aí é o seu ex? — Ele pergunta, a voz baixa, mas tão fria que parece cortar o ar entre nós. Ele hesita, a sua mandíbula se movendo como se mastigasse as palavras antes de soltá-las. — E quando ele me chamou... — Ele para por um momento, desviando o olhar. — Você me enxergou como a sua tábua de salvação?As palavras dele são como um golpe certeiro. Sinto o ar escapar dos meus pulmões, e meu peito se aperta, a culpa crescendo como uma sombra dentro de mim. Não era isso. Não foi isso! Tento formular uma resposta, mas tudo parece errado, insuficiente. Não sei como explicar o que sinto, porque nem eu entendo completamente. Como posso dizer que sim, em algum momento, procurei nele um porto seguro, mas que ele é ma
O céu lá fora está tingido de vermelho, o pôr do sol lançando sombras dançantes sobre o seu rosto. Os olhos verdes dele, iluminados pelo reflexo da luz, parecem brilhar ainda mais intensamente, mas não há calor neles. Apenas uma intensidade quase cruel, penetrante, que me faz querer desviar o olhar, mas eu não consigo.— O que ele queria? — A pergunta vem de repente, quebrando o silêncio, mas a voz dele continua baixa, carregada de algo que não consigo decifrar.A minha boca se abre e fecha, hesitante. Sinto o meu estômago dar um nó, e as palavras parecem presas, como se a minha garganta tivesse sido tomada por espinhos. Finalmente, eu respiro fundo e deixo escapar:— Nos convidar para passar a semana do Natal até o Ano Novo na casa dele. — a minha voz sai fraca, quase um sussurro. A confissão é um peso que me sufoca, uma verdade que eu preferia não dizer.Leonardo vira a cabeça, os seus olhos encontrando os meus por um instante. É como se ele estivesse tentando ler os meus pensamento
Ele me encara por um instante, os seus olhos fixos nos meus com uma intensidade que quase me faz recuar. Sinto como se ele estivesse prestes a explodir, mas ao invés disso, ele desvia o olhar para o trânsito, deixando-me sozinha com os meus pensamentos.— Você gosta dele. — As palavras saem de repente, carregadas de um desafio que me pega de surpresa.Meu coração dispara, e eu viro-me para encará-lo. Ele sabe o que está fazendo, sabe exatamente como me desestabilizar.— Eu já disse que não gosto dele! — Minha voz sobe, carregada de uma raiva que esconde a minha própria confusão. É como se, ao dizer isso, eu estivesse tentando me convencer tanto quanto a ele.Ele não parece convencido. O seu olhar é sério, quase implacável, como se estivesse esperando que eu finalmente confessasse algo.— Confesse. — Ele insiste, sua voz firme, mas carregada de algo mais, algo que não consigo identificar.Respiro fundo, balançando a cabeça, recusando-me a ceder.— Não, não gosto. Mas se eu gostasse, é
Eu engulo em seco, sem saber se o calor no meu rosto é devido à proximidade ou pela tensão da situação. Olho para suas costas largas e sinto uma onda de prazer involuntária se espalhando pelo meu corpo. Tento focar nos olhos dele, aqueles olhos verdes que têm o poder de me hipnotizar. Ele me observa com um olhar atento, quase como se estivesse me desnudando com os olhos.— Meu Uno está com problemas no freio de mão. Em descidas, preciso engatá-lo e girar a roda para a guia. Só assim ele não desce rua abaixo. Posso deixá-lo aqui para você dar uma olhada? — Eu falo rapidamente, tentando manter a calma, mas a verdade é que quero sair correndo e não consigo.Ele não diz nada imediatamente, mas seu olhar se fixa ainda mais nos meus, e parece que o tempo para. Eu me vejo refletida nele, e tudo em mim diz para ficar, para não me afastar. Ele quebra finalmente o silêncio, seu tom agora mais suave, mas carregado de uma confiança indiscutível.— Claro. — Ele responde, quase como se estivesse se
Nessas minhas idas frequentes, Estela foi se achegando, acho que por insegurança de me ver sempre lá. Se o carro não tinha algo, inconscientemente eu arrumava algo para ele fazer, tipo trocar a palheta do limpa vidro, dar uma olhada no óleo...Deus! Agora eu percebo que só foram pretextos para ir à oficina de Leo. Que vergonha...Por isso Estela começou a sair do escritório e marcar presença, e conversar comigo enquanto ele me atendia. Ela está certa, se eu tivesse um homem como Leo, eu agiria da mesma maneira.A semana passada foi um divisor de águas. O destino, como sempre, me pregando peças, fez com que eu cruzasse com Leo fora do contexto que já conhecia. Eu estava no meu intervalo, havia acabado de almoçar, e lá estava ele, na rua, com aquele olhar irresistível. O convite foi simples, direto, e, de alguma forma, casual, como se a ideia de sair para um sorvete fosse tão natural quanto respirar. Aceitei sem pensar duas vezes, apesar de saber que normalmente sou rígida com a minh
O silêncio entre nós pesa e, de repente, noto que o carro já está estacionado em frente ao casarão onde Estela mora. É uma mansão imensa, num bairro nobre, com vista para o parque Municipal do Córrego. Tudo começa a fazer sentido. Leo me pegou antes porque ele queria me deixar aqui.A mente começa a girar, a fazer perguntas. Como é possível que Estela e ele, tão diferentes, tenham se encontrado e se mantido juntos por tanto tempo? A diferença social entre eles é clara.Mas, estranhamente, Estela o aceitou. Me sinto meio desconectada do que vejo. Um sentimento ruim se infiltra em meu peito, algo muito parecido com ciúmes. Mas eu tento afastar isso. Pare com isso, não tem razão para sentir assim.Decido sair do carro antes que ela chegue, sem querer dar motivos para uma situação desconfortável. Abro a porta e vou para o banco de trás, não por ser algo errado, mas por saber muito bem qual é o meu lugar ali. E aquele lugar ao lado dele não é o meu. Infelizmente.Estela surge do portão, ra
— E você, Sofia? Não sai da linha, nunca? Pizza de couve-flor, coca diet. — Estela provoca, com um sorriso malicioso.Eu a encaro, e, apesar do desconforto que sinto, consigo manter a calma. Solto o ar com mais força e evito olhar para Leo.— Não. Eu gosto de me sentir bem com meu corpo. E já me acostumei, não sinto falta de gulodices. Claro que, de vez em quando, saio da linha. Eu gosto muito de chocolate. Não deixo de comer, mas só o de 70% cacau. — Respondo, orgulhosa, lembrando-me do quanto mudei desde os tempos em que eu me sentia insegura.— Você faz exercícios? — Ela pergunta, curiosa.— Eu corro antes de ir ao trabalho. — Respondo, com um sorriso.— Não é de se admirar. Por isso que você tem esse corpão. — Estela diz, de maneira quase reverente.Eu pisco para ela, entrando na realidade novamente.— Sim, mas eu já fui gordinha. Por isso, eu me cuido.O garçom começa a servir as pizzas na mesa ao lado. O cheiro está delicioso, e por um momento, a tentação é grande, mas continuo
O silêncio no carro é absoluto, quase ensurdecedor. Cada minuto parece durar uma eternidade enquanto assisto, impotente, Leo deixar Estela em sua casa. Meu estômago se aperta ao ver o beijo longo, profundo, que eles trocam. Eu não deveria me importar, mas a dor é tão forte que quase consigo tocá-la.Deus! Longo mesmo!Eu me viro rapidamente para o vidro da janela, tentando esconder a revolta e a tristeza que crescem dentro de mim. Uma sensação de incompletude me invade. Eu não faço parte disso. Eles são um mundo à parte, e tudo o que eu tenho são essas horas intermináveis ao lado de Leo, sem saber o que ele realmente pensa sobre mim.—Amanhã passo na sua oficina. —ela diz com um sorriso bobo no rosto, ainda visivelmente encantada com ele.—Que horas? —Leo questiona.—Uma hora da tarde.—Tudo bem. —Leo diz e recebe mais um beijo longo na boca. Deus! Longo mesmo!Oi, eu estou aquiii!Incomodada viro minha cara para o vidro. Estela desce do carro. Leo acena para ela antes de ela entrar