O céu lá fora está tingido de vermelho, o pôr do sol lançando sombras dançantes sobre o seu rosto. Os olhos verdes dele, iluminados pelo reflexo da luz, parecem brilhar ainda mais intensamente, mas não há calor neles. Apenas uma intensidade quase cruel, penetrante, que me faz querer desviar o olhar, mas eu não consigo.— O que ele queria? — A pergunta vem de repente, quebrando o silêncio, mas a voz dele continua baixa, carregada de algo que não consigo decifrar.A minha boca se abre e fecha, hesitante. Sinto o meu estômago dar um nó, e as palavras parecem presas, como se a minha garganta tivesse sido tomada por espinhos. Finalmente, eu respiro fundo e deixo escapar:— Nos convidar para passar a semana do Natal até o Ano Novo na casa dele. — a minha voz sai fraca, quase um sussurro. A confissão é um peso que me sufoca, uma verdade que eu preferia não dizer.Leonardo vira a cabeça, os seus olhos encontrando os meus por um instante. É como se ele estivesse tentando ler os meus pensamento
Ele me encara por um instante, os seus olhos fixos nos meus com uma intensidade que quase me faz recuar. Sinto como se ele estivesse prestes a explodir, mas ao invés disso, ele desvia o olhar para o trânsito, deixando-me sozinha com os meus pensamentos.— Você gosta dele. — As palavras saem de repente, carregadas de um desafio que me pega de surpresa.Meu coração dispara, e eu viro-me para encará-lo. Ele sabe o que está fazendo, sabe exatamente como me desestabilizar.— Eu já disse que não gosto dele! — Minha voz sobe, carregada de uma raiva que esconde a minha própria confusão. É como se, ao dizer isso, eu estivesse tentando me convencer tanto quanto a ele.Ele não parece convencido. O seu olhar é sério, quase implacável, como se estivesse esperando que eu finalmente confessasse algo.— Confesse. — Ele insiste, sua voz firme, mas carregada de algo mais, algo que não consigo identificar.Respiro fundo, balançando a cabeça, recusando-me a ceder.— Não, não gosto. Mas se eu gostasse, é
Eu engulo em seco, sem saber se o calor no meu rosto é devido à proximidade ou pela tensão da situação. Olho para suas costas largas e sinto uma onda de prazer involuntária se espalhando pelo meu corpo. Tento focar nos olhos dele, aqueles olhos verdes que têm o poder de me hipnotizar. Ele me observa com um olhar atento, quase como se estivesse me desnudando com os olhos.— Meu Uno está com problemas no freio de mão. Em descidas, preciso engatá-lo e girar a roda para a guia. Só assim ele não desce rua abaixo. Posso deixá-lo aqui para você dar uma olhada? — Eu falo rapidamente, tentando manter a calma, mas a verdade é que quero sair correndo e não consigo.Ele não diz nada imediatamente, mas seu olhar se fixa ainda mais nos meus, e parece que o tempo para. Eu me vejo refletida nele, e tudo em mim diz para ficar, para não me afastar. Ele quebra finalmente o silêncio, seu tom agora mais suave, mas carregado de uma confiança indiscutível.— Claro. — Ele responde, quase como se estivesse se
Nessas minhas idas frequentes, Estela foi se achegando, acho que por insegurança de me ver sempre lá. Se o carro não tinha algo, inconscientemente eu arrumava algo para ele fazer, tipo trocar a palheta do limpa vidro, dar uma olhada no óleo...Deus! Agora eu percebo que só foram pretextos para ir à oficina de Leo. Que vergonha...Por isso Estela começou a sair do escritório e marcar presença, e conversar comigo enquanto ele me atendia. Ela está certa, se eu tivesse um homem como Leo, eu agiria da mesma maneira.A semana passada foi um divisor de águas. O destino, como sempre, me pregando peças, fez com que eu cruzasse com Leo fora do contexto que já conhecia. Eu estava no meu intervalo, havia acabado de almoçar, e lá estava ele, na rua, com aquele olhar irresistível. O convite foi simples, direto, e, de alguma forma, casual, como se a ideia de sair para um sorvete fosse tão natural quanto respirar. Aceitei sem pensar duas vezes, apesar de saber que normalmente sou rígida com a minh
O silêncio entre nós pesa e, de repente, noto que o carro já está estacionado em frente ao casarão onde Estela mora. É uma mansão imensa, num bairro nobre, com vista para o parque Municipal do Córrego. Tudo começa a fazer sentido. Leo me pegou antes porque ele queria me deixar aqui.A mente começa a girar, a fazer perguntas. Como é possível que Estela e ele, tão diferentes, tenham se encontrado e se mantido juntos por tanto tempo? A diferença social entre eles é clara.Mas, estranhamente, Estela o aceitou. Me sinto meio desconectada do que vejo. Um sentimento ruim se infiltra em meu peito, algo muito parecido com ciúmes. Mas eu tento afastar isso. Pare com isso, não tem razão para sentir assim.Decido sair do carro antes que ela chegue, sem querer dar motivos para uma situação desconfortável. Abro a porta e vou para o banco de trás, não por ser algo errado, mas por saber muito bem qual é o meu lugar ali. E aquele lugar ao lado dele não é o meu. Infelizmente.Estela surge do portão, ra
— E você, Sofia? Não sai da linha, nunca? Pizza de couve-flor, coca diet. — Estela provoca, com um sorriso malicioso.Eu a encaro, e, apesar do desconforto que sinto, consigo manter a calma. Solto o ar com mais força e evito olhar para Leo.— Não. Eu gosto de me sentir bem com meu corpo. E já me acostumei, não sinto falta de gulodices. Claro que, de vez em quando, saio da linha. Eu gosto muito de chocolate. Não deixo de comer, mas só o de 70% cacau. — Respondo, orgulhosa, lembrando-me do quanto mudei desde os tempos em que eu me sentia insegura.— Você faz exercícios? — Ela pergunta, curiosa.— Eu corro antes de ir ao trabalho. — Respondo, com um sorriso.— Não é de se admirar. Por isso que você tem esse corpão. — Estela diz, de maneira quase reverente.Eu pisco para ela, entrando na realidade novamente.— Sim, mas eu já fui gordinha. Por isso, eu me cuido.O garçom começa a servir as pizzas na mesa ao lado. O cheiro está delicioso, e por um momento, a tentação é grande, mas continuo
O silêncio no carro é absoluto, quase ensurdecedor. Cada minuto parece durar uma eternidade enquanto assisto, impotente, Leo deixar Estela em sua casa. Meu estômago se aperta ao ver o beijo longo, profundo, que eles trocam. Eu não deveria me importar, mas a dor é tão forte que quase consigo tocá-la.Deus! Longo mesmo!Eu me viro rapidamente para o vidro da janela, tentando esconder a revolta e a tristeza que crescem dentro de mim. Uma sensação de incompletude me invade. Eu não faço parte disso. Eles são um mundo à parte, e tudo o que eu tenho são essas horas intermináveis ao lado de Leo, sem saber o que ele realmente pensa sobre mim.—Amanhã passo na sua oficina. —ela diz com um sorriso bobo no rosto, ainda visivelmente encantada com ele.—Que horas? —Leo questiona.—Uma hora da tarde.—Tudo bem. —Leo diz e recebe mais um beijo longo na boca. Deus! Longo mesmo!Oi, eu estou aquiii!Incomodada viro minha cara para o vidro. Estela desce do carro. Leo acena para ela antes de ela entrar
Eu fico sem palavras, e tudo o que consigo fazer é respirar fundo, tentando não ceder. Tento não ser uma tola, tento não me entregar a essa mentira que ele está me propondo.— Eu não preciso provar nada para você. — Eu digo, tentando me manter firme.Leo sorri com desdém, como se estivesse me estudando, mas o que eu vejo em seus olhos é mais complexo do que qualquer sorriso.— Vocês universitárias são todas iguais. Querem o cara bonito do lado, mas é só. — Ele diz, e essas palavras parecem me cortar. Mais do que eu gostaria de admitir.As palavras dele ecoam na minha mente, como lâminas afiadas, cortando mais do que eu imaginava ser possível. "Vocês universitárias são todas iguais. Querem o cara bonito do lado, mas é só." Aquelas palavras queimam, deixam um gosto amargo na minha boca. Mais do que eu gostaria de admitir, elas me atingem em cheio. Como se ele estivesse me julgando, me reduzindo a uma simples menina que só se interessa pelo superficial, pelo que está na aparência. — O