— Agora pode ir. — Ele diz, com um sorriso debochado, mas seus olhos continuam carregados de algo que eu não entendo completamente.Eu fico ali, tentando recobrar os sentidos, meu corpo ainda tremendo, a mente em guerra.O que estamos fazendo? O que isso significa?— Isso não pode se repetir — eu digo, ofegante, a minha mente ainda girando pela intensidade do que aconteceu. O meu corpo ainda responde a ele, mas eu não posso me deixar levar assim. — Foi só agora. Na casa, vamos andar de mãos dadas, essas coisas que namorados fazem, sem beijinhos...Leo me olha, e o seu sorriso volta, mas com um toque de humor nos olhos. Ele se inclina um pouco, o canto dos lábios curvando-se para cima.— Beijinhos? Acho que não caprichei!Eu reviro os olhos, tentando ignorar a sensação de calor que explode em meu peito. Ele tem essa maneira de brincar com as palavras, de me tirar do sério com um simples sorriso. Mas eu não posso me entregar mais.— Para, Leonardo!O sorriso dele desaparece, e a expres
Entro no banheiro, ligo o chuveiro e deixo que a água quente escorra pelo meu corpo, despertando cada centímetro de mim. A sensação é revigorante, quase terapêutica. Depois de me secar, escolho uma saia lápis que abraça minha cintura e uma camisa leve, perfeita para o calor que o dia promete trazer. Saio do banheiro ainda secando o cabelo com pressa, sabendo que meu pai já deve estar na cozinha, como sempre.Minutos depois, encontro-o exatamente onde imaginei. Ele está diante do fogão, mexendo na cafeteira, os gestos automáticos de quem repete esse ritual há anos. O cheiro de café fresco se espalha pelo ambiente, acolhedor e familiar. Assim que entro, ele me lança um olhar rápido antes de voltar à sua tarefa.— Bom dia, pai. — Digo, pegando a xícara que ele já deixou pronta para mim. Forte, encorpado, exatamente como gosto.— Bom dia, Sofia. — Ele responde, mas sua expressão pensativa me intriga. — Tem algo importante para conversar? Por que está me olhando desse jeito?Me apoio na ba
O expediente está puxado. O clima nas agências bancárias é sempre intenso perto das festas, e hoje não seria diferente. Todo mundo resolveu correr para o banco antes de se perder nas comemorações. Eu, pessoalmente, mal posso esperar para ver o final do dia chegar. Graças a Deus, amanhã começa o meu período de férias. Eu já estou planejando, mentalmente, o que vou fazer. A primeira coisa que quero é dar uma repaginada no visual. Preciso urgentemente de um corte de cabelo, e umas unhas feitas para me sentir renovada. Quero estar o mais apresentável possível para Leo. Ele vai gostar da mudança, tenho certeza.Faltando pouco para o fim do expediente, finalmente consigo ligar para Leo. Desde aquele dia, não conseguimos mais conversar. Fico um pouco ansiosa, esperando que ele atenda. Ele demora, o que me deixa ainda mais nervosa.— Leo.A voz dele do outro lado vem séria, mas tranquila.— Oi.A insegurança toma conta de mim, mas tento disfarçar. Não sei se Estela está por perto, ou como ele
Ele sorri, com aquele olhar de quem está prestes a fazer algo incrível, e começa a trabalhar. Ele me diz algumas palavras de incentivo, elogia meu rosto, dizendo que tem um formato angelical, que não tem como eu ficar feia. Rafael é ótimo em fazer as pessoas se sentirem bem consigo mesmas, e seu elogio aquece meu coração.— Você tem um rosto lindo, angelical — ele continua, enquanto começa a cortar. — Não sei por que tanta insegurança. Seus cabelos são volumosos, com bastante textura. Cabelos ondulados como o seu são difíceis de errar nesse corte. As camadas que vou criar vão dar mais harmonia ao seu cabelo. Ele está pesado hoje, sem vida. Mas logo, logo, vai ter todo o movimento que você merece.— Ok, já gostei — respondo, sentindo uma confiança crescente.À medida que ele vai ajustando as camadas, sinto que a transformação vai além do meu cabelo. Algo dentro de mim também está mudando, e eu estou pronta para abraçar isso de coração aberto. O corte será o primeiro passo, mas as mudan
Antes das cinco da madrugada, eu já tinha arrumado a cama, tomado um banho quente e reconfortante que parecia ter dissolvido, ainda que temporariamente, a inquietude que me consumia. Visto-me com cuidado, cada gesto carregado de uma tensão silenciosa. Minha rotina matinal, quase automática, oferece um pequeno conforto diante do caos que pulsa dentro de mim.— Pronto — murmuro para o espelho, enquanto aplico um batom cor de telha. Ele aviva a tonalidade natural dos meus lábios, o suficiente para dar vida à minha expressão sem ser exagerado.Sorrio para minha própria imagem, uma tentativa de convencer a mim mesma de que a noite passada, consumida pela insônia, não deixou marcas visíveis. Mas sei a verdade: dormi mal, prisioneira de pensamentos desordenados sobre Leo, tentando entender a tensão inexplicável que ele provoca em mim. Meu rosto pode não refletir cansaço, mas meu corpo grita por descanso.Dou um passo para longe do espelho, mas não consigo evitar olhar novamente. O reflexo me
Eu pisco, surpresa com a pergunta. Esperava um elogio, uma palavra gentil que alimentasse a chama que insisto em apagar. Mas, em vez disso, ele questiona minha mudança. Fico sem palavras. O que posso dizer? Ele ainda está com Estela. Preciso me lembrar disso, como um mantra que me prende à realidade. Não posso me entregar a essa atração com tanta facilidade.Quero que ele perceba. Quero que veja a diferença entre mim e ela, que entenda o abismo que separa nossos mundos. Somos de realidades opostas, mas, mesmo assim, algo em mim anseia por ser notada, por ser vista de verdade.Meu Deus! Espero que ele perceba. Mesmo que não seja para ficar comigo, que ao menos saiba o quanto estou tentando protegê-lo, evitando que sofra. Não quero ser a causa de sua dor. Nunca. Mas, se ele souber... Se ao menos entender o que estou tentando fazer, talvez torne tudo isso mais suportável. Para mim. E para ele.— Não gostou? — Pergunto, um pouco aturdida com como ele me observa, a expressão dele quase des
Abro a porta da sala, e lá estamos, eu e Leo, prontos para enfrentar o que quer que venha. O cheiro do café no ar, vindo da cozinha, me lembra que nada disso está realmente sob controle. A minha mãe fez o café, como sempre, esse aroma familiar me acalma, mesmo em meio a tanta tensão.— Pai. Esse é Leonardo. — Eu digo, um pouco nervosa, mas tentando parecer tranquila.Meu pai, com a expressão séria, estende a mão para Leo, e, sem hesitar, Leo a aperta com firmeza, sua postura ainda imponente.— Jonas. — o meu pai diz, sem sorrir, mas de maneira educada.Leo o cumprimenta com um aperto forte, o que me faz sentir uma onda de orgulho, como se ele estivesse provando algo, mesmo que ninguém tenha pedido para ele fazer isso.— Prazer em conhecê-lo. — Leo diz, com uma voz que transmite respeito, mas também uma certa autoridade.— Leo, essa é minha mãe, Eleonora. — Eu falo, tentando dar o tom certo à apresentação, embora eu saiba que ela não está tão disposta a agradá-lo quanto eu gostaria.El
— Isso passa. Eles gostam de Omar, mas quando eles enxergarem que acabou, irão tirar isso da cabeça. — Mudo de assunto, tentando dar leveza à conversa. E de repente, minha voz soa mais suave, mais relaxada. Eu tento controlar meu ritmo, meu tom, para não deixar transparecer a insegurança que sinto. — O que você costuma comer de manhã?Ele me olha por um momento, pensativo, antes de responder, sua expressão séria, mas gentil.— Só café puro.Eu rio, a surpresa me pegando de surpresa, e então os meus olhos deslizam por seus braços fortes, notando o contraste entre sua força e o hábito simples que ele menciona.— Um homem desse tamanho só com café puro? — Digo, sorrindo e tentando brincar com ele, mas meu tom esconde uma curiosidade genuína. — Não acredito! Temos pão integral, geleia, manteiga, queijo, presunto. Se quiser, eu faço uma tapioca?Leonardo sorri, e o brilho nos seus olhos quase me faz derreter. Aquele sorriso... um daqueles que fazem tudo ao redor desaparecer. Eu fico sem pa