Abro a porta da sala, e lá estamos, eu e Leo, prontos para enfrentar o que quer que venha. O cheiro do café no ar, vindo da cozinha, me lembra que nada disso está realmente sob controle. A minha mãe fez o café, como sempre, esse aroma familiar me acalma, mesmo em meio a tanta tensão.— Pai. Esse é Leonardo. — Eu digo, um pouco nervosa, mas tentando parecer tranquila.Meu pai, com a expressão séria, estende a mão para Leo, e, sem hesitar, Leo a aperta com firmeza, sua postura ainda imponente.— Jonas. — o meu pai diz, sem sorrir, mas de maneira educada.Leo o cumprimenta com um aperto forte, o que me faz sentir uma onda de orgulho, como se ele estivesse provando algo, mesmo que ninguém tenha pedido para ele fazer isso.— Prazer em conhecê-lo. — Leo diz, com uma voz que transmite respeito, mas também uma certa autoridade.— Leo, essa é minha mãe, Eleonora. — Eu falo, tentando dar o tom certo à apresentação, embora eu saiba que ela não está tão disposta a agradá-lo quanto eu gostaria.El
— Isso passa. Eles gostam de Omar, mas quando eles enxergarem que acabou, irão tirar isso da cabeça. — Mudo de assunto, tentando dar leveza à conversa. E de repente, minha voz soa mais suave, mais relaxada. Eu tento controlar meu ritmo, meu tom, para não deixar transparecer a insegurança que sinto. — O que você costuma comer de manhã?Ele me olha por um momento, pensativo, antes de responder, sua expressão séria, mas gentil.— Só café puro.Eu rio, a surpresa me pegando de surpresa, e então os meus olhos deslizam por seus braços fortes, notando o contraste entre sua força e o hábito simples que ele menciona.— Um homem desse tamanho só com café puro? — Digo, sorrindo e tentando brincar com ele, mas meu tom esconde uma curiosidade genuína. — Não acredito! Temos pão integral, geleia, manteiga, queijo, presunto. Se quiser, eu faço uma tapioca?Leonardo sorri, e o brilho nos seus olhos quase me faz derreter. Aquele sorriso... um daqueles que fazem tudo ao redor desaparecer. Eu fico sem pa
Minha mente tenta decifrar a resposta, mas me resigno. Apenas aceno com a cabeça, mantendo a expressão séria. Por dentro, no entanto, meu coração dispara, cheio de esperança e expectativa pelo que pode acontecer.O trânsito está incrivelmente tranquilo, e poucos carros cruzam nosso caminho. A viagem segue sem interrupções, e o cenário vai ficando mais rural conforme nos aproximamos do destino.— Seu ex sabe que eu irei com você? — Leo pergunta de repente, quebrando o silêncio que havia se instalado.Eu o encaro, surpresa com a pergunta, mas logo balanço a cabeça, procurando a resposta certa.— Não sei. Deve saber.Leo sorri de canto, despreocupado, mas com um brilho no olhar.— Se ele não sabe, será uma surpresa e tanto.Dou de ombros, fingindo indiferença, mas minha mente vai longe. Olho novamente pela janela, focando em conter as minhas emoções. Não é por Omar, não é medo de enfrentá-lo. É por Leo. Saber que ele está solteiro me dá um pouco de tranquilidade, como se, agora, houvesse
—É pra já —digo, inclinando-me para me apoiar em Leo enquanto começo a tirar as sandálias.O calor de suas mãos firmes em meus braços me traz uma sensação de segurança que parece natural demais, como se eu pertencesse ali. Ele me segura com cuidado, seus dedos fortes, porém gentis, garantindo que eu não perca o equilíbrio até terminar.Um sorriso surge em seu rosto, aquele sorriso aberto e genuíno que tanto amo. É o Leo que conheço, o Leo que transforma cada momento simples em algo especial.Ele se abaixa e começa a tirar os próprios sapatos, suas mãos ágeis mas sem pressa. Quando os deixamos juntos num canto da varanda, sinto algo inexplicável ao vê-los lado a lado, como se fossem uma pequena promessa de algo maior.Leo ajeita a barra das calças, dobrando-a com movimentos precisos. Quando ele se ergue, seus músculos nas pernas são revelados, fortes e cobertos por pelos dourados que brilham sob a luz suave da manhã. Meu olhar desliza sobre ele sem que eu consiga evitar, e há algo tão
—Ótimo —digo feliz, enquanto entrelaço os dedos aos de Leo.Ele me envolve pela cintura, e seguimos com passos calmos, nossas sombras projetadas pela luz suave da manhã sobre a areia. A mão dele, firme e quente em minha cintura, transmite uma sensação de segurança que só ele parece ser capaz de oferecer. É como se o toque dele fosse uma âncora, mantendo-me firme enquanto o mundo ao nosso redor parece se dissolver na tranquilidade do momento.Caminhamos assim, próximos, como se o universo tivesse nos criado para ocupar aquele espaço juntos. A conversa flui naturalmente, e nossos assuntos variam de filmes que marcaram nossas vidas a músicas que nos fazem sorrir. É leve, mas cada palavra, cada risada, parece construir uma base sólida para algo muito maior do que qualquer um de nós ousaria admitir em voz alta.No fundo, sabemos que estamos escrevendo os primeiros capítulos de uma história.Olho para ele enquanto caminhamos, observando seu perfil iluminado pelo sol. Os olhos verdes de Leo
Olho para o relógio. Passa um pouco das oito horas. Eu e Leo entramos de mãos dadas na casa, e nossos passos ecoam levemente pelo espaço amplo. A sala, iluminada por uma luz suave, emoldura meus pais sentados no sofá, conversando com Omar. Há uma rigidez na postura deles que me coloca imediatamente em alerta.Os rostos tensos, os olhares fixos. Tento captar mais detalhes do diálogo e, então, ouço meu pai pronunciar a palavra "dívida". O som da palavra, isolado e carregado de peso, reverbera como um alarme silencioso. Assim que me nota, ele interrompe a frase abruptamente, como se minha presença exigisse segredo.Omar, sentado em uma poltrona próxima, ergue o olhar para nós. Seus olhos, escuros e profundos, carregam algo difícil de decifrar, um peso que ele tenta mascarar atrás de uma fachada de formalidade. Mas é impossível não perceber.Por um instante, o silêncio toma conta da sala, tenso e carregado de significados não ditos. Omar nos observa, como se calculasse suas próximas palav
Preciso sair daqui. E rápido.A minha voz sai baixa, quase uma súplica, enquanto me sinto vulnerável, como um animal acuado diante de um predador. Omar hesita por um instante, mas finalmente solta o meu braço. Aproveito o momento para recuar rapidamente, quase correndo em direção à porta. Não olho para trás, mas ouço os seus passos pararem. Ele fica plantado no meio do quarto, provavelmente digerindo o fato de que perdi a paciência e me afastei."Deus, que homem arrogante!" penso, com o coração ainda martelando no peito. Omar se recusa a me ouvir. Ele vive preso à sua narrativa, acreditando que Leonardo é uma espécie de vingança pessoal a minha. Dialogar com alguém tão obstinado é inútil.Ao entrar na sala, avisto Leonardo. Ele está separado do restante do grupo, sozinho, de costas, com os olhos fixos na janela. Meus pais conversam no canto oposto, ignorando completamente a sua presença, como se ele fosse um estranho. A cena me deixa inquieta.—Leo. — a minha voz sai trêmula, ainda of
Minha mãe respirou fundo, claramente contrariada, mas não discutiu. Quando começou a se afastar, pronta para levar o recado, fui surpreendida pela voz de Leonardo.— Nós iremos. — Sua resposta foi firme, resoluta.Minha cabeça virou-se para ele num estalo, e meus olhos procuraram os dele, incrédula. Ele sustentou meu olhar com determinação.— Mas, Leo? — Questionei, sentindo minha voz fraquejar.— Não gosto de ser manipulado — ele respondeu, o olhar duro e inabalável. — Já basta o que esse cara fez, manipulando a situação a favor dele.Senti um nó se formar na garganta.— Não foi minha intenção...— Eu sei — ele cortou, sua voz suavizando um pouco. — Sei que você quer evitá-lo, e eu não tiro sua razão. Mas acho que, se quero ter um lugar ao seu lado, preciso conquistar a confiança dos seus pais. Mesmo que tudo esteja contra mim, eles precisam me conhecer de verdade. Não vou desistir disso.Fitei-o por um instante, admirada pela força que ele demonstrava, pela coragem que eu parecia est