—Ótimo —digo feliz, enquanto entrelaço os dedos aos de Leo.Ele me envolve pela cintura, e seguimos com passos calmos, nossas sombras projetadas pela luz suave da manhã sobre a areia. A mão dele, firme e quente em minha cintura, transmite uma sensação de segurança que só ele parece ser capaz de oferecer. É como se o toque dele fosse uma âncora, mantendo-me firme enquanto o mundo ao nosso redor parece se dissolver na tranquilidade do momento.Caminhamos assim, próximos, como se o universo tivesse nos criado para ocupar aquele espaço juntos. A conversa flui naturalmente, e nossos assuntos variam de filmes que marcaram nossas vidas a músicas que nos fazem sorrir. É leve, mas cada palavra, cada risada, parece construir uma base sólida para algo muito maior do que qualquer um de nós ousaria admitir em voz alta.No fundo, sabemos que estamos escrevendo os primeiros capítulos de uma história.Olho para ele enquanto caminhamos, observando seu perfil iluminado pelo sol. Os olhos verdes de Leo
Olho para o relógio. Passa um pouco das oito horas. Eu e Leo entramos de mãos dadas na casa, e nossos passos ecoam levemente pelo espaço amplo. A sala, iluminada por uma luz suave, emoldura meus pais sentados no sofá, conversando com Omar. Há uma rigidez na postura deles que me coloca imediatamente em alerta.Os rostos tensos, os olhares fixos. Tento captar mais detalhes do diálogo e, então, ouço meu pai pronunciar a palavra "dívida". O som da palavra, isolado e carregado de peso, reverbera como um alarme silencioso. Assim que me nota, ele interrompe a frase abruptamente, como se minha presença exigisse segredo.Omar, sentado em uma poltrona próxima, ergue o olhar para nós. Seus olhos, escuros e profundos, carregam algo difícil de decifrar, um peso que ele tenta mascarar atrás de uma fachada de formalidade. Mas é impossível não perceber.Por um instante, o silêncio toma conta da sala, tenso e carregado de significados não ditos. Omar nos observa, como se calculasse suas próximas palav
Preciso sair daqui. E rápido.A minha voz sai baixa, quase uma súplica, enquanto me sinto vulnerável, como um animal acuado diante de um predador. Omar hesita por um instante, mas finalmente solta o meu braço. Aproveito o momento para recuar rapidamente, quase correndo em direção à porta. Não olho para trás, mas ouço os seus passos pararem. Ele fica plantado no meio do quarto, provavelmente digerindo o fato de que perdi a paciência e me afastei."Deus, que homem arrogante!" penso, com o coração ainda martelando no peito. Omar se recusa a me ouvir. Ele vive preso à sua narrativa, acreditando que Leonardo é uma espécie de vingança pessoal a minha. Dialogar com alguém tão obstinado é inútil.Ao entrar na sala, avisto Leonardo. Ele está separado do restante do grupo, sozinho, de costas, com os olhos fixos na janela. Meus pais conversam no canto oposto, ignorando completamente a sua presença, como se ele fosse um estranho. A cena me deixa inquieta.—Leo. — a minha voz sai trêmula, ainda of
Minha mãe respirou fundo, claramente contrariada, mas não discutiu. Quando começou a se afastar, pronta para levar o recado, fui surpreendida pela voz de Leonardo.— Nós iremos. — Sua resposta foi firme, resoluta.Minha cabeça virou-se para ele num estalo, e meus olhos procuraram os dele, incrédula. Ele sustentou meu olhar com determinação.— Mas, Leo? — Questionei, sentindo minha voz fraquejar.— Não gosto de ser manipulado — ele respondeu, o olhar duro e inabalável. — Já basta o que esse cara fez, manipulando a situação a favor dele.Senti um nó se formar na garganta.— Não foi minha intenção...— Eu sei — ele cortou, sua voz suavizando um pouco. — Sei que você quer evitá-lo, e eu não tiro sua razão. Mas acho que, se quero ter um lugar ao seu lado, preciso conquistar a confiança dos seus pais. Mesmo que tudo esteja contra mim, eles precisam me conhecer de verdade. Não vou desistir disso.Fitei-o por um instante, admirada pela força que ele demonstrava, pela coragem que eu parecia est
— Leonardo. — A voz de Omar me arranca de meus pensamentos. Ele fala com um sorriso de canto, leve e disfarçado, mas que não esconde o desprezo em suas palavras. — Jonas me disse que você tem uma oficina mecânica?Percebo a tentativa de desqualificar minha profissão, o julgamento implícito em seu tom. Uma sensação de desagrado se instala em mim. Ele não sabe o quanto eu abomino esse tipo de atitude, essa tendência de inferiorizar minha categoria. É um preconceito que ressurge sempre que alguém imagina um mecânico, como se eu fosse um simples trabalhador sujo de graxa, parado no tempo. E o que é mais irritante: essas pessoas, que vivem cercadas de tecnologia, ainda carregam essa imagem ultrapassada.As coisas mudaram. O tempo dos carros simples já passou. Hoje em dia, eu só me sujo de graxa com carros mais antigos. O resto, os carros modernos, eu conserto com tecnologia de ponta, com equipamentos avançados. Minha profissão evoluiu de maneira exponencial, e os outros não fazem ideia do
De repente, Omar não era mais o centro da conversa.Meus olhos se tornam maiores e a minha sobrancelha arqueia enquanto Leo inicia o que só posso descrever como uma verdadeira aula de mecânica para o meu pai. É impossível não sentir um leve constrangimento. Descubro ali o quanto eu mesma sabia tão pouco sobre a profissão dele. Mas não é só isso. Ele não está apenas explicando; está transformando as nossas ideias, como se dissesse que subestimamos o que faz. Sua segurança é tão natural que mais parece uma lição de moral disfarçada.— Você deve usar equipamentos bem avançados e caros. — o meu pai comenta, tentando sondar o quanto aquilo realmente exige.— Sim, são avançados, mas não caros. A tecnologia hoje está mais acessível. — Leo responde com a tranquilidade de quem domina o próprio universo.— Que equipamentos você usa, meu jovem? — o meu pai se inclina para frente, claramente intrigado.— Osciloscópios, que me permitem analisar sinais gerados pelos sensores e componentes dos siste
Ele me olha com um sorriso nos lábios.— Ótimo. — Ele responde, ainda tentando se recompor.Relutante, olho para ele mais uma vez.— Leo... Depois do almoço, quero que me espere no seu quarto. Quero um momento só para nós, sem ninguém nos olhando. — Murmuro, sentindo minha ousadia me surpreender.Os olhos de Leonardo brilham, uma intensidade viva nele ao me ouvir.— Combinado. — Ele responde, a voz rouca, cheia de promessas.Engulo em seco, uma onda de nervosismo me atinge, mas, com um impulso, saio da piscina. Pego minhas roupas do chão e sigo em direção à minha espreguiçadeira. Pelo canto dos olhos, vejo Omar me observando com atenção. O que ele está pensando? O homem não desiste nunca?Bola para a frente! Foi isso que eu fiz!Um pensamento me atravessa: Leonardo, eu, e ele no quarto, sozinhos. Um sorriso involuntário se forma em meus lábios enquanto me enxugo rapidamente e coloco minhas roupas.Meu pai tenta puxar conversa com Omar, mas ele não responde. Está estático, os olhos fix
Eu congelo. Meu irmão deve dinheiro? Meu pai foi ameaçado? E onde Omar quer chegar com isso?— Eu irei ajudar. Mas você terá que ser minha.O quê?Aquelas palavras me atingem como uma lâmina afiada. Sorvo uma grande quantidade de ar, tentando controlar minhas emoções. Olho para o homem à minha frente, que agora me observa como se já fosse dono de tudo, até mesmo da minha vida.— Então, se você pode ajudar meus pais com essa dívida, você só o fará caso eu me renda a você? — Pergunto, tentando manter a calma, mas a indignação já transborda de mim.— Exatamente. — Ele diz, com uma expressão satisfeita.— Não precisamos da sua ajuda, então, por favor, saia do nosso caminho. Eu dou um jeito. — Respondo, mas minha voz tremula com a incerteza.Omar ri, como se o que eu dissesse fosse irrelevante.— Sua casa é alugada, seu carro é velho. Como você vai pagar cinquenta mil reais?Eu o encaro, completamente em choque.— Cinquenta mil? — A palavra parece um peso na minha boca.O valor parece pequ