A hora do baile se aproxima, termino de me arrumar, dessa vez meu cabelo está preso em um coque muito bonito com uma tiara ornamentada. Não quero esse cabelo todo me atrapalhando na hora da festa. Dispensei a maquiagem, só o vestido e meu cabelo bem vermelho chamam a atenção. O vestido é marfim, tem o corpete bem apertado com pontos brilhantes e a parte debaixo aberta em camadas. Foi amor à primeira vista.Sigo em direção a carruagem que me levará, Nana vai comigo como acompanhante. Ela também está linda em seu vestido de baile. Assim que entramos, o cocheiro já se põe a conduzir nosso transporte.O reino vizinho não é tão longe, mas demora um pouco até chegar. Escuto o galopar de mais cavalos que o normal, abro uma fresta na janela e vejo o tanto de guardas em cavalos ao nosso redor.- Por que tantos guardas? - Volto a me sentar direito, para olhar Nana.- Precaução. O caminho entre os reinos tende a ser muito perigoso ao entardecer. - Responde, mas sinto que não é só isso. Não irei
Acordo com o barulho de uma porta batendo e me sento na hora. Olho para os lados e vejo que não conheço esse lugar. Fico desesperada, pois acreditei ter sido apenas um pesadelo, igual a outra noite, mas não é.Estou apavorada e com muito frio, pois meu vestido não está mais em meu corpo, apenas minhas roupas de baixo. Nem meu cabelo está preso mais. Quem me capturou?Fico por um bom tempo tentando entender a situação, buscando um motivo para que a pessoa me trouxesse para cá. Só um apareceu em minha mente, o fato de eu ser uma princesa. Deve ser algum mercenário em busca de riquezas.Tento me levantar após um bom tempo parada encarando a parede, meu pulso dói e acabo me sentando novamente. Estou acorrentada como um animal raivoso. Puxo o braço, tentando passar pela pulseira larga, mas tudo que ganho é uma pele machucada e avermelhada.— Socorro, alguém me ajuda. — Começo a gritar. — Por favor, me tirem daqui. — Minha garganta dói pela intensidade que coloco, meus olhos transbordam pel
Quando chego ao final da ponte, vejo que tem uma caverna. Não olho para trás, apenas continuo correndo, entrando no local escuro mesmo sem saber para onde me levará.Algumas folhas batem em mim, elas cobrem o caminho e parecem estar penduradas no teto. Vejo um paredão à frente, muitas folhas, mas só pode ser a saída. Fecho os olhos e corro em direção, espero o impacto, mas ele não vem, apenas consigo sair do outro lado e preciso frear meus pés para não cair.Olho para trás, qualquer um que passasse por aqui, não saberia desse lugar, pois é imperceptível. Uma montanha enorme, com folhas penduradas em toda a sua extensão. Ele parece ter pensado em tudo.Me dou conta de que estou fugindo e começo a correr em direção às muitas árvores à frente. Não sei para onde vou, só sei que chegarei em algum lugar. Se eu tiver sorte, encontrarei alguém que possa me ajudar.Paro de correr quando escuto uma risada bem alta. Olho ao redor, mas não vejo ninguém. O mais estranho foi que ouvi ela dentro da
•°•° Peter °•°•Meu corpo fica inerte, como se uma força maior estivesse assumindo o controle de minhas ações. Não consigo mais segurar o chicote, ele cai da minha mão e faz um som alto ao se chocar com o chão.Ela está imóvel, chorando baixinho, quase que um sussurro. Passei dos limites, agora ela está toda machucada e sangrando, não era para ter feito isso, isso não era para ter acontecido. Infelizmente, olho para ela e as cenas da morte de minha mãe vem tudo à minha mente.Era para ter prendido ela aqui e não batido. Burro, que idiota eu fui. Começo a bater na minha cabeça, enquanto penso. Ela tinha pedido desculpas e mesmo assim continuei.Eu devia assustar ela, mas não fazer isso. Minha ideia era trocar sua vida pela de seu pai, como farei isso agora se a marquei? Ela está toda machucada e ele vai querer ela intacta, caso queira trocar de lugar.Por que ela tinha de fugir? Por que tinha de instigar o pior de mim? Por que só de estar ao lado dela, sinto só ódio e vontade de me vin
Desço a escada com certa rapidez, só para ter certeza do que imaginei. Minha tia está parada próxima a porta, analisando uma pintura na parede. Ela se vira para mim assim que me aproximo, sua expressão não está muito convidativa.— O que faz aqui? — Pergunto sem rodeios.— Isso são modos de tratar sua querida tia? — Diz vindo em minha direção e parando em minha frente. — Assim me magoa. — Faz seu drama corriqueiro. Preciso respirar fundo para me manter paciente.— Desculpa, não estou no meu melhor dia. — Sou sincero.Me aproximo e lhe dou um abraço, apertando com força e tentando achar conforto. Estou tão quebrado que não consigo, aquela sensação de quentura e carinho não vem, apesar de saber o quanto ela gosta de mim.— Quando está sem seu melhor dia? — Retribui o abraço. — São raros, na verdade, são dias inexistentes. — Se afasta e me olha, um sorriso aparece em seu rosto. — Vim te perguntar uma coisa. Não, vim apenas confirmar algo que tenho quase certeza. — Cruzo os braços, espera
•°•°Peter°•°•Assim que entro em casa, minha tia já está à minha espera, com os braços cruzados e batendo com o pé direito no chão. Já vi que aquela garota abriu a boca, odeio sermões, não tenho mais idade para isso.— Como você pôde fazer aquilo com ela? — Pergunta vindo em minha direção.— Ela tentou fugir, tinha de punir ela de algum jeito. — Respondo calmamente, mas a mulher para em minha frente, de forma ameaçadora. — Ela não é nenhum bicho para tratá-la daquele jeito! — A mulher está transtornada. — Isso não te interessa em nada, ela é minha, eu faço com ela o que eu quiser. — Digo em um tom raivoso e recebo um tapa em resposta.— Você não tinha o direito de fazer isso, ela é tão inocente, não merecia isso, o corpo é dela e não seu para decidir o que quer e quando quer. — Diz vermelha de raiva. – Não te criei para isso, te dei educação e ensinei a respeitar a todos, mas por causa desta vingança ridícula você está se tornando outra pessoa. Isso está manc
Acordo devido às luzes que entram pela janela, me irrita acordar assim. Levanto e decido tomar banho, deixo a água encher a grande bacia e tiro minha roupa, logo depois a faixa do curativo e entro na banheira, sem dor alguma nas costas ou no braço, que maravilha. Aquela mulher é realmente poderosa. A única dor que sinto é da fome por não comer nada até o momento.Quando termino, me levanto e levo um susto quando o homem entra no quarto, eu estava de costa para ele e por isso, saio rápido da banheira e me enrolo na toalha. Fico de frente para onde ele está, completamente assustada, não confio nele. Vive dizendo que vai me devorar, não sei como entender essas palavras. Não me parece que ele come pessoas no sentido de comer mesmo. Ele vem andando em minha direção, fico com medo do que pode vir a seguir, seu rosto é de surpresa e espanto. Conforme ele se aproxima, recuo até que minhas costas encostaram na parede. É o meu fim. Ele para em minha frente e fica me encarando, sua boca se abre
Percebo que já está escurecendo e me sento no galho que estou, sequer percebi o tempo passar. O sol está se pondo. Está tão lindo, uns tons abóboras, vermelhos e amarelos, é a primeira vez que vi assim de um ângulo certo e no oceano. Sempre via da varanda do meu quarto, mas não é a mesma coisa, admiro pelo máximo de tempo que posso, não sei se terei chance de sair novamente. E preciso descer do topo dessa árvore antes de escurecer, posso acabar caindo e não quero isso.Quando chego ao chão, vou em direção a escada e entro na casa, aquele homem desapareceu. Não imaginava que ele me deixaria sair e depois sumiria assim. Acho que poderia fugir caso quisesse, porém, por algum motivo, tenho certeza que ele conseguiria me achar. Fiquei o tempo todo naquela árvore, não percebi o tempo passar, fiquei sem comer o dia todo, preciso comer algo. Vou aproveitar que aquele homem sumiu e vou comer escondido. Será que a cozinha é naquela porta enorme mais a frente? Passo por ela só para me certifica