Capítulo 6 °

•°•° Peter °•°•

Meu corpo fica inerte, como se uma força maior estivesse assumindo o controle de minhas ações. Não consigo mais segurar o chicote, ele cai da minha mão e faz um som alto ao se chocar com o chão.

Ela está imóvel, chorando baixinho, quase que um sussurro. Passei dos limites, agora ela está toda machucada e sangrando, não era para ter feito isso, isso não era para ter acontecido. Infelizmente, olho para ela e as cenas da morte de minha mãe vem tudo à minha mente.

Era para ter prendido ela aqui e não batido. Burro, que idiota eu fui. Começo a bater na minha cabeça, enquanto penso. Ela tinha pedido desculpas e mesmo assim continuei.

Eu devia assustar ela, mas não fazer isso. Minha ideia era trocar sua vida pela de seu pai, como farei isso agora se a marquei? Ela está toda machucada e ele vai querer ela intacta, caso queira trocar de lugar.

Por que ela tinha de fugir? Por que tinha de instigar o pior de mim? Por que só de estar ao lado dela, sinto só ódio e vontade de me vingar? Mas, quando prometeu ficar, foi como se a fera em mim se acalmasse.

Me aproximo dela, que se encolhe toda, devido ao medo. Abro as duas correntes de suas mãos, e preciso segurar seu corpo para que não atinja o chão. Ela não reclama, não se debate como normalmente, apenas fica quieta e prende o choro. Só seus soluços são ouvidos.

Abro a boca para falar algo, mas não consigo. Não sei o que está acontecendo. Me sinto tão confuso. Coloco seu corpo no chão, bem devagar, solto a corrente de sua perna e me afasto.

Apesar da dor que parece sentir, ela puxa os joelhos e os abraça, escondendo a cabeça entre os braços dobrados. Seu sangue escorre pelo chão. Olho para minha mão, manchadas pelo seu sangue. Eu fui longe demais, com alguém que não tem culpa, assim como minha mãe não tinha. No final das contas, sou um monstro como ele.

••°• Mellany •°••

Continuo no mesmo lugar que ele me sentou antes de sair, não me mexi nem um pouco, para não sentir mais dor. Fico pensando em tudo que aconteceu e o motivo de merecer isso. Não cheguei a nenhuma conclusão que me fizesse entender o porquê estou sofrendo tanto.

Minha bunda está doendo de tanto ficar sentada, preciso me levantar. Mordo os lábios, apoio a mão no chão e tento me levantar, não consigo. Meus olhos derramam lágrimas, mesmo que eu não queira. Apoio as mãos na parede e consigo me levantar escorando nela.

Olho para frente ao terminar, tem uma banheira grande de madeira, preciso me limpar. Ando até meu objetivo com dificuldade, mas consigo chegar antes que ele volte. A água parece limpa.

Me apoio na borda da banheira e respiro fundo, sentindo cada parte das minhas costas queimar enquanto sento. Entro, levo a mão a boca e mordo com força, para reprimir um grito. A dor que sinto na mão quando mordo, não é suficiente para apagar a das minhas costas queimando.

Termino de me sentar, fecho os olhos e me controlo para não gritar. Nunca dependi de ninguém para fazer as coisas para mim, não é agora que iria depender. Nana nunca gostou disso, mas quando ela não estava, sempre dava meu jeito de dispensar ajuda. Quando ela estava, eu não podia respirar sem ajuda, só quando fugia, era sufocante, para falar a verdade.

Termino de me limpar a medida do possível, me seco com uma toalha que estava pendurada em uma estaca de madeira presa à parede e uso para cobrir meu corpo. Tive de retirar o restante da roupa que usava em intervalos, por conta da dor.

Ando devagar até um roupeiro de madeira, abro e vejo algumas roupas masculinas, pego uma camisa e também um pano que aparentemente serve para forrar na cama, é diferente dos do castelo. Tudo é diferente, é tão estranho.

Ando até a cama que tem no canto do quarto e me sento. Enrolo o pano em meu corpo, para evitar que mais sangue saia e logo coloco a camisa que achei, ela fica enorme em mim e larga. Deito de lado, seguro no braço doendo, fecho os olhos e choro baixo.

Eu estou com tanta raiva dele, tanto medo também. Nem sei como vai ser daqui para frente, mas prevejo que não será bom para mim.

•°•°Peter°•°•

Volto ao quarto, vejo a garota deitada na cama e me aproximo, ela parece estar dormindo ou desmaiou de dor. Percebo que uma camisa minha cobre seu corpo, parece um vestido em seu corpo magro. Ela está de lado, mas não vejo sangue. Deve ter arrumado um jeito de impedir que isso acontecesse.

Inclino a cabeça ao notar sua mão segurando o braço, minha testa se franze e vejo a marca enorme vermelha. Sua mão, em comparação a minha, é minúscula. Mesmo que segure o local magoado, ainda consigo ver a força que fiz. Não use tanta força assim. Droga. Esqueci que não consigo controlar muito bem minha força em certas situações.

Fico, levemente, admirado. Apesar da dor, ela deu um jeito de se cuidar sozinha, só para não precisar de mim. Mas, não é como se ela tivesse escolha, mesmo que eu tenha me descontrolado, minha vingança ainda está de pé e vou ir até o fim.

Encaro fixo seu rosto sereno, mesmo que me faça lembrar o que seu pai fez, em aparência não tem nada a ver com ele. Sua pele é branca, seu rosto é fino e delicado, seus cabelos enormes e vermelhos como o fogo. Ela é linda, e tem um cheiro próprio que me deixa em êxtase, quando estou perto, parece que não consigo pensar claramente.

Ela deve estar me odiando agora, com razão. Tirei ela de onde pertencia, a trouxe para cá e estou fazendo com que passe por situações que, provavelmente, jamais imaginou. Infelizmente, para ela, é preciso tratar suas feridas, então, ela vai ter que superar qualquer medo.

Me aproximo mais um pouco e acabo batendo no pé da cama, o que a faz dar um salto, me olhando assustada e se afastando um pouco. Consigo sentir a tristeza que seus olhos passam. Eu estou em parte conseguindo minha vingança, uma parte de mim está feliz e a outra parte está triste, por envolvê-la nessa história.

— Tira a camisa, preciso tratar desses machucados. — Falo me aproximando e ela recuando, péssima hora para ter uma cama grande.

— Não, não, você não vai tocar em mim. Nunca mais. Por favor, não toque em mim. Eu já falei que vou te obedecer. — Seus olhos se enchem de lágrimas novamente, eles estão, curiosamente, cinzas, diferente das outras vezes que vi.

— Lembro que disse que vai me obedecer, por que não está fazendo isso agora? É para o seu próprio bem. — Digo me sentando na ponta da cama.

— Agora, você pensa no meu bem? Não tem muito tempo que pensou só em seu bem, em sua vingança e esqueceu de pensar em mim. — Cospe em minha direção. Olho para o espaço à minha frente, onde o cuspe caiu e depois para seu rosto. — Posso cuidar de mim, não preciso de você. — Me controlo para não fazer nada, já fiz ela sofrer demais, deixa para outro dia. Sinto que se continuar se recusando e me desafiando, vai ser pior para ela. Minha paciência é muito curta.

— Tudo bem. — Fico de pé e vou até a jaula. Ela fica me avaliando enquanto pego a corrente e volto em sua direção. — Tente não fugir, se fizer isso, dessa vez não tem nada que me faça parar. — Prendo sua mão e acorrento a cama.

Me aproximo de seu rosto, ela virá para o lado e isso me faz sorrir. Meu nariz encosta na pele lisa de sua bochecha.

— Se não se comportar. — Digo roucamente e devagar, para que entenda cada palavra. — Eu vou me deliciar ao te devorar. — Ameaço e seu corpo fica rígido. — E vou amar ouvir seus gritos de pavor. — Me afasto, espero que isso deixe ela com mais medo ainda, para que não cometa outras loucuras.

Olho para a porta quando escuto um barulho alto. Faço careta, péssima hora para receber visita. Volto a olhar para a menina, que mantém os olhos fechados, o rosto virado e a boca comprimida.

— Fique quieta. Não queremos mais machucados, certo? — Sussurro em seu ouvido. — Responda! — Ordeno.

— Não, senhor. — Sua voz sai em um sussurro reconfortante.

— Boa garota. — Me afasto sorrindo. Se continuar me obedecendo assim, irei gostar.

Saio do quarto, puxo a porta e sigo em direção ao local em que o intruso está. Já consigo ter uma leve noção de quem seja. Só ela entraria aqui sem minha permissão.

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