•°•° Peter °•°•Meu corpo fica inerte, como se uma força maior estivesse assumindo o controle de minhas ações. Não consigo mais segurar o chicote, ele cai da minha mão e faz um som alto ao se chocar com o chão.Ela está imóvel, chorando baixinho, quase que um sussurro. Passei dos limites, agora ela está toda machucada e sangrando, não era para ter feito isso, isso não era para ter acontecido. Infelizmente, olho para ela e as cenas da morte de minha mãe vem tudo à minha mente.Era para ter prendido ela aqui e não batido. Burro, que idiota eu fui. Começo a bater na minha cabeça, enquanto penso. Ela tinha pedido desculpas e mesmo assim continuei.Eu devia assustar ela, mas não fazer isso. Minha ideia era trocar sua vida pela de seu pai, como farei isso agora se a marquei? Ela está toda machucada e ele vai querer ela intacta, caso queira trocar de lugar.Por que ela tinha de fugir? Por que tinha de instigar o pior de mim? Por que só de estar ao lado dela, sinto só ódio e vontade de me vin
Desço a escada com certa rapidez, só para ter certeza do que imaginei. Minha tia está parada próxima a porta, analisando uma pintura na parede. Ela se vira para mim assim que me aproximo, sua expressão não está muito convidativa.— O que faz aqui? — Pergunto sem rodeios.— Isso são modos de tratar sua querida tia? — Diz vindo em minha direção e parando em minha frente. — Assim me magoa. — Faz seu drama corriqueiro. Preciso respirar fundo para me manter paciente.— Desculpa, não estou no meu melhor dia. — Sou sincero.Me aproximo e lhe dou um abraço, apertando com força e tentando achar conforto. Estou tão quebrado que não consigo, aquela sensação de quentura e carinho não vem, apesar de saber o quanto ela gosta de mim.— Quando está sem seu melhor dia? — Retribui o abraço. — São raros, na verdade, são dias inexistentes. — Se afasta e me olha, um sorriso aparece em seu rosto. — Vim te perguntar uma coisa. Não, vim apenas confirmar algo que tenho quase certeza. — Cruzo os braços, espera
•°•°Peter°•°•Assim que entro em casa, minha tia já está à minha espera, com os braços cruzados e batendo com o pé direito no chão. Já vi que aquela garota abriu a boca, odeio sermões, não tenho mais idade para isso.— Como você pôde fazer aquilo com ela? — Pergunta vindo em minha direção.— Ela tentou fugir, tinha de punir ela de algum jeito. — Respondo calmamente, mas a mulher para em minha frente, de forma ameaçadora. — Ela não é nenhum bicho para tratá-la daquele jeito! — A mulher está transtornada. — Isso não te interessa em nada, ela é minha, eu faço com ela o que eu quiser. — Digo em um tom raivoso e recebo um tapa em resposta.— Você não tinha o direito de fazer isso, ela é tão inocente, não merecia isso, o corpo é dela e não seu para decidir o que quer e quando quer. — Diz vermelha de raiva. – Não te criei para isso, te dei educação e ensinei a respeitar a todos, mas por causa desta vingança ridícula você está se tornando outra pessoa. Isso está manc
Acordo devido às luzes que entram pela janela, me irrita acordar assim. Levanto e decido tomar banho, deixo a água encher a grande bacia e tiro minha roupa, logo depois a faixa do curativo e entro na banheira, sem dor alguma nas costas ou no braço, que maravilha. Aquela mulher é realmente poderosa. A única dor que sinto é da fome por não comer nada até o momento.Quando termino, me levanto e levo um susto quando o homem entra no quarto, eu estava de costa para ele e por isso, saio rápido da banheira e me enrolo na toalha. Fico de frente para onde ele está, completamente assustada, não confio nele. Vive dizendo que vai me devorar, não sei como entender essas palavras. Não me parece que ele come pessoas no sentido de comer mesmo. Ele vem andando em minha direção, fico com medo do que pode vir a seguir, seu rosto é de surpresa e espanto. Conforme ele se aproxima, recuo até que minhas costas encostaram na parede. É o meu fim. Ele para em minha frente e fica me encarando, sua boca se abre
Percebo que já está escurecendo e me sento no galho que estou, sequer percebi o tempo passar. O sol está se pondo. Está tão lindo, uns tons abóboras, vermelhos e amarelos, é a primeira vez que vi assim de um ângulo certo e no oceano. Sempre via da varanda do meu quarto, mas não é a mesma coisa, admiro pelo máximo de tempo que posso, não sei se terei chance de sair novamente. E preciso descer do topo dessa árvore antes de escurecer, posso acabar caindo e não quero isso.Quando chego ao chão, vou em direção a escada e entro na casa, aquele homem desapareceu. Não imaginava que ele me deixaria sair e depois sumiria assim. Acho que poderia fugir caso quisesse, porém, por algum motivo, tenho certeza que ele conseguiria me achar. Fiquei o tempo todo naquela árvore, não percebi o tempo passar, fiquei sem comer o dia todo, preciso comer algo. Vou aproveitar que aquele homem sumiu e vou comer escondido. Será que a cozinha é naquela porta enorme mais a frente? Passo por ela só para me certifica
°•°Peter°•°• Preciso terminar de preparar as correntes e a jaula, hoje é dia de lua cheia, posso me transformar sempre que quero, mas quase não faço isso. Não é algo que eu necessite, é apenas algo que faz parte de mim e nas noites de lua cheia, sou obrigado a me transformar. Quase não me transformo, pois não consigo controlar o monstro, preciso deixar tudo certo, não posso sair da jaula, não com ela aqui, posso pôr meu plano a perder se eu fugir. — Tenho de ver se está tudo firme para me segurar, da última vez não deu muito certo e escapei, dessa vez isso não pode acontecer. — Começo a conferir rapidamente, pois a lua já está prestes a chegar em seu auge. Olho para a janela, tenho pouco tempo até que a transformação aconteça, pego alguns galhos finos da planta que pode ajudar ela a se proteger de mim e ando a passos largos em direção ao quarto em que está. Abro a porta, ela está acuada no canto do quarto e a imagem me deixa tão satisfeito, parece uma ovelha assustada e meu lado lo
•°• Mellany •°•• Pensei que ele não me diria o nome, mas fiquei surpresa quando me respondeu. Só não entendi o motivo da planta. Quando ele colocou em minha mão, senti minha mão queimar e não consegui segurar por mais tempo. — Ele estava estranho que o normal. – Comento dando de ombros e jogo a planta na cama, elas me queimam e parecem sugar minha energia. Vou até a janela, a noite está tão linda, hoje é lua cheia, eu amo essas noites. Todas as noites que tinha lua cheia, costumava esperar todo mundo dormir e ia para o jardim de casa, o ar parecia ser especial nessas noites e assim como as estrelas, continham uma certa magia. Sou tirada de meus pensamentos ao escutar um grito, ele está gritando, o que será que está acontecendo? Foi um grito de dor, isso me deixa com medo, se ele está com dor e ele é mau, o que fez isso deve ser pior ainda. Não é bom para mim. Ando em direção a porta, péssima ideia, pois quando estou próxima de segurar na maçaneta para ver se está aberta, ela se ab
°•°Peter°•°•No momento que a ataquei, minha única intenção era matá-la, meu instinto falava mais alto, o monstro queria isso, não conseguia me controlar. Tentei resistir, mas estava disposto a devorá-la e isso acabaria com meu plano. Quando meus dentes cravaram em sua pele, tão macia, tão frágil, eu ia matá-la sem dúvidas, até que seu grito ecoou em meus ouvidos, não sei o motivo, mas aquele grito fez o monstro se acalmar, foi como se ele a reconhece de alguma maneira, ela era a calmaria em sua tempestade. Foi tão estranho. Naquele instante, não queria matá-la, queria protegê-la e não sabia como fazer, meu lobo ficou agitado, temeroso e culpado. Quando me vi sentindo o cheiro que seu corpo emanava, foi como se um turbilhão de sentimentos fossem jogados contra mim e uma calmaria que nunca senti relaxou meu corpo transformado, irradiou pela minha mente e consegui retomar o controle, consegui me controlar.Isso me assustou, pois quando era mais novo, tinha quinze anos na época, estava