•°•°Peter°•°•
Assim que entro em casa, minha tia já está à minha espera, com os braços cruzados e batendo com o pé direito no chão. Já vi que aquela garota abriu a boca, odeio sermões, não tenho mais idade para isso.— Como você pôde fazer aquilo com ela? — Pergunta vindo em minha direção.— Ela tentou fugir, tinha de punir ela de algum jeito. — Respondo calmamente, mas a mulher para em minha frente, de forma ameaçadora. — Ela não é nenhum bicho para tratá-la daquele jeito! — A mulher está transtornada. — Isso não te interessa em nada, ela é minha, eu faço com ela o que eu quiser. — Digo em um tom raivoso e recebo um tapa em resposta.— Você não tinha o direito de fazer isso, ela é tão inocente, não merecia isso, o corpo é dela e não seu para decidir o que quer e quando quer. — Diz vermelha de raiva. – Não te criei para isso, te dei educação e ensinei a respeitar a todos, mas por causa desta vingança ridícula você está se tornando outra pessoa. Isso está manchando seu coração!— Que coração? — Pergunto tranquilamente, isso a deixa mais furiosa. — Tia, olha bem para mim, eu não me meto nos seus assuntos e você não se mete no meu, não se envolve nisso. Isso é culpa sua também, você soube ao decorrer desses dezoito anos o que eu queria fazer e não fez nada para me impedir. — Digo andando em direção a porta. — Vai embora, eu odeio aquela garota e isso nunca vai mudar. — Ela se aproxima e para em minha frente novamente. — Vou destruí-la, assim como ele destruiu minha mãe.— Não fala bobagem, nunca é muito tempo, o destino às vezes pode nos surpreender. Pelo amor que deve ter guardado aí por mim, ou pela consideração por tudo que te fiz. Não encoste mais nela! — O tom meio da mulher não combina em nada com seu jeito extravagante, mas sinto a pontinha de ameaça. Jasmine pisca para mim e sai, reviro os olhos e vejo ela sumir em uma fumaça branca diante dos meus olhos. Meu pai era um lobo, já minha mãe era uma bruxa da luz, minha tia se beneficia um pouco da magia que tem. ••°• Mellany •°••Me viro assustada quando escuto a porta se abrir com rapidez, fico acuada na parede pois o semblante do homem não está dos melhores.— Achou mesmo que contar algo a minha tia poderia te ajudar? — Pergunta calmamente. — Você é idiota? Não entendeu sua posição aqui? — Se aproxima, mas não consigo me afastar pois a parede impede. — Você é minha prisioneira, ainda não entendeu? — Chega tão perto que sua respiração b**e em mim. — Eu perguntei se entendeu, está surda? — Grita tão alto que coloco a mão no ouvido e fecho os olhos com força, ele vai me b**er de novo.— E..eu eu não falei nada. — Acabo gaguejando, meu coração está quase fugindo pela boca. — Eu te obedeci. — Escuto a risada dele e logo seu corpo se afastar.— Ah, não? Como ela descobriu? Porque ler mentes não é um dos poderes dela. — Abro os olhos e vejo que me analisa, em busca de respostas.— Ela perguntou o motivo que o levou a me punir, disse apenas que fugi e essa foi a causa. — Tento não gaguejar, para que me leve a sério e não sinta mais raiva. Minhas costas parece estar sendo arrastada no chão pela dor e queimação que sinto. — O que mais? — Pergunta calmamente. Tenho medo de contar que ela parece ter me hipnotizado e ele rir, mas se conseguiu falar em minha mente antes, deve saber que ela faz isso. — Ela cuidou dos meus machucados e depois ela virou meu rosto para ela, quando olhei fiquei hipnotizada e me perguntou se algo a mais tinha acontecido, mesmo contra minha vontade, disse que me beijou e que tenho medo que me force a ser sua. — Sou sincera, já que ele deve saber o que aconteceu, só quer me sondar para ver se vou mentir. — Foi isso, somente isso. Ele se aproxima lentamente, para em minha frente, coloca um braço de cada lado do meu corpo, apoiado à parede e sorri. — Você ser minha será só uma consequência de tudo que vai te acontecer. — Tremo diante de suas palavras e fico mais assustada ainda quando um sorriso de canto aparece. — Só irei parar quando destruir tudo que seu pai preza, foram dezoito anos esperando o melhor momento, você não vai me parar, princesa. — Sua cabeça se inclina, ficando na dobra de meu pescoço e fecho os olhos com força, tentando não me mexer enquanto suga o ar próximo a minha pele. — Seu cheiro me deixa em êxtase. — Sussurra. — Quero tanto te devorar. — Não! — Empurro o peito dele com força quando sua boca toca minha pele. O homem que se afastou um pouco, me olha como se fosse me ma.tar. — Desculpa. Sinto muito, não foi minha intenção. — Me desculpo com rapidez. — Já estou machucada demais. Por favor, me deixe descansar. — Suplico. O homem que parece completamente instável umedece os lábios, isso me faz recuar até o canto da parede, mas ele não se mexe. É como se quisesse se controlar. — Estou com fome. Pode me alimentar? — Pergunto, mudando o rumo da conversa. Se esse homem resolver me violar, acho que irei desejar a morte, não sei se irei suportar. — Por favor. — Minhas lágrimas descem sem minha permissão. — Por favor!— Para de suplicar! — Grita, saindo de seu estado de hipnose e mesmo que pareça irritado, fico mais aliviada por seu semblante não estar como antes. — Não está em posição de fazer pedidos, precisa pensar em suas atitudes. Ficará sem comer por ter a boca grande demais. — Diz indo em direção a porta, mas corro até ele. — Por favor, meu estômago dói, senhor. — Imploro, mas paro quando se vira e me encara. O ódio que sente por mim, mesmo sem me conhecer, é notório. — Sinto muito. — Abaixo a cabeça.Ele não fala nada, apenas escuto seus passos e penso que está se aproximando, mas percebo que não quando a porta é fechada com força. Caio no chão, sem forças para ficar de pé. Me permito chorar, como nunca antes tinha feito, um choro de dor e desespero, que vem da alma.Percebo que ele não vai voltar para me trazer comida quando o tempo passa, desisto de esperar e fico de pé, ando lentamente até a cama e me deito. Fico de costas para a cama, na intenção da dor que sinto nela ser maior que a do estômago, mas isso não acontece. O remédio que ela passou deve ter feito efeito, pois não sinto mais nada, somente a fome que me assola. Qual é o objetivo dele? Sei que quer se vingar do meu pai, mas… e eu? Parece que irei sofrer junto por algo que aconteceu antes mesmo de eu nascer. Viro e encaro a janela, que mostra a noite lá fora. Sempre amei admirar as estrelas, mas no momento parece algo tão sufocante. Sempre achei que as estrelas eram mágicas, mesmo não acreditando em magia antes, coisa que agora acredito. Desejava algo nas vezes que via estrelas cadentes, mas nunca, em nenhum dos meus pensamentos, mesmo os mais aterrorizantes, imaginei que algo como isso que estou vivendo pudesse me acontecer.Meu pai é o melhor rei que existe, um homem sábio e muito honrado, todos respeitam ele cegamente. É difícil acreditar no que esse homem que me raptou diz, ele deve ser louco e tive o azar de estar na mira dele. Fecho os olhos, estou me sentindo tão fraca, deve ser pela quantidade de sangue que perdi ou pela fome, não sei dizer, só sei que isso é apenas o começo do meu sofrimento. Queria tanto que meu pai me encontrasse logo, seria perfeito se isso pudesse acontecer.Acordo devido às luzes que entram pela janela, me irrita acordar assim. Levanto e decido tomar banho, deixo a água encher a grande bacia e tiro minha roupa, logo depois a faixa do curativo e entro na banheira, sem dor alguma nas costas ou no braço, que maravilha. Aquela mulher é realmente poderosa. A única dor que sinto é da fome por não comer nada até o momento.Quando termino, me levanto e levo um susto quando o homem entra no quarto, eu estava de costa para ele e por isso, saio rápido da banheira e me enrolo na toalha. Fico de frente para onde ele está, completamente assustada, não confio nele. Vive dizendo que vai me devorar, não sei como entender essas palavras. Não me parece que ele come pessoas no sentido de comer mesmo. Ele vem andando em minha direção, fico com medo do que pode vir a seguir, seu rosto é de surpresa e espanto. Conforme ele se aproxima, recuo até que minhas costas encostaram na parede. É o meu fim. Ele para em minha frente e fica me encarando, sua boca se abre
Percebo que já está escurecendo e me sento no galho que estou, sequer percebi o tempo passar. O sol está se pondo. Está tão lindo, uns tons abóboras, vermelhos e amarelos, é a primeira vez que vi assim de um ângulo certo e no oceano. Sempre via da varanda do meu quarto, mas não é a mesma coisa, admiro pelo máximo de tempo que posso, não sei se terei chance de sair novamente. E preciso descer do topo dessa árvore antes de escurecer, posso acabar caindo e não quero isso.Quando chego ao chão, vou em direção a escada e entro na casa, aquele homem desapareceu. Não imaginava que ele me deixaria sair e depois sumiria assim. Acho que poderia fugir caso quisesse, porém, por algum motivo, tenho certeza que ele conseguiria me achar. Fiquei o tempo todo naquela árvore, não percebi o tempo passar, fiquei sem comer o dia todo, preciso comer algo. Vou aproveitar que aquele homem sumiu e vou comer escondido. Será que a cozinha é naquela porta enorme mais a frente? Passo por ela só para me certifica
°•°Peter°•°• Preciso terminar de preparar as correntes e a jaula, hoje é dia de lua cheia, posso me transformar sempre que quero, mas quase não faço isso. Não é algo que eu necessite, é apenas algo que faz parte de mim e nas noites de lua cheia, sou obrigado a me transformar. Quase não me transformo, pois não consigo controlar o monstro, preciso deixar tudo certo, não posso sair da jaula, não com ela aqui, posso pôr meu plano a perder se eu fugir. — Tenho de ver se está tudo firme para me segurar, da última vez não deu muito certo e escapei, dessa vez isso não pode acontecer. — Começo a conferir rapidamente, pois a lua já está prestes a chegar em seu auge. Olho para a janela, tenho pouco tempo até que a transformação aconteça, pego alguns galhos finos da planta que pode ajudar ela a se proteger de mim e ando a passos largos em direção ao quarto em que está. Abro a porta, ela está acuada no canto do quarto e a imagem me deixa tão satisfeito, parece uma ovelha assustada e meu lado lo
•°• Mellany •°•• Pensei que ele não me diria o nome, mas fiquei surpresa quando me respondeu. Só não entendi o motivo da planta. Quando ele colocou em minha mão, senti minha mão queimar e não consegui segurar por mais tempo. — Ele estava estranho que o normal. – Comento dando de ombros e jogo a planta na cama, elas me queimam e parecem sugar minha energia. Vou até a janela, a noite está tão linda, hoje é lua cheia, eu amo essas noites. Todas as noites que tinha lua cheia, costumava esperar todo mundo dormir e ia para o jardim de casa, o ar parecia ser especial nessas noites e assim como as estrelas, continham uma certa magia. Sou tirada de meus pensamentos ao escutar um grito, ele está gritando, o que será que está acontecendo? Foi um grito de dor, isso me deixa com medo, se ele está com dor e ele é mau, o que fez isso deve ser pior ainda. Não é bom para mim. Ando em direção a porta, péssima ideia, pois quando estou próxima de segurar na maçaneta para ver se está aberta, ela se ab
°•°Peter°•°•No momento que a ataquei, minha única intenção era matá-la, meu instinto falava mais alto, o monstro queria isso, não conseguia me controlar. Tentei resistir, mas estava disposto a devorá-la e isso acabaria com meu plano. Quando meus dentes cravaram em sua pele, tão macia, tão frágil, eu ia matá-la sem dúvidas, até que seu grito ecoou em meus ouvidos, não sei o motivo, mas aquele grito fez o monstro se acalmar, foi como se ele a reconhece de alguma maneira, ela era a calmaria em sua tempestade. Foi tão estranho. Naquele instante, não queria matá-la, queria protegê-la e não sabia como fazer, meu lobo ficou agitado, temeroso e culpado. Quando me vi sentindo o cheiro que seu corpo emanava, foi como se um turbilhão de sentimentos fossem jogados contra mim e uma calmaria que nunca senti relaxou meu corpo transformado, irradiou pela minha mente e consegui retomar o controle, consegui me controlar.Isso me assustou, pois quando era mais novo, tinha quinze anos na época, estava
•°• Mellany •°•• Resmungo descontente quando volto a mim, olho para todos os lados ao sentir que estou sobre algo macio. Lembro de cair no chão gelado e duro, alguém me encontrou. Olho para baixo e levanto os braços, estou vestindo outra roupa. Me sento rapidamente quando percebo isso e também quando reconheço o ambiente. Ele me trocou? Ele me viu nua. Me auto abraço, isso faz com que uma dor grande incomode meu ombro e olho, está enfaixado. Estava com medo e fugi, ele me encontrou e vai me punir novamente. Estou com medo da reação dele, se dá ultima vez me bateu sem piedade, agora vai completar a outra ameaça que me fez, vai me fazer a mulher dele. — Será que ele vai me punir novamente? — Minha pergunta sai em um sussurro. — Não, dessa vez vou deixar passar, mas se fizer isso de novo já sabe o que vai te acontecer. — Tomo um susto quando ele entra no quarto e puxo a coberta para me cobrir até o pescoço. — Come. — Diz colocando uma bandeja com comida ao meu lado. — Anda. — Me obr
*°*Rei Marcus*°*— Odeio não ter notícias. — Falo, olhando para Nana, já se passaram alguns dias, mas ela continua chorando. — Ainda lembro do abraço que ela me deu antes de sair. — A mulher me olha desolada. — Senhor, nós precisamos encontrar ela. — Nana diz voltando a chorar. — Eu sei, mas não entendo. O normal é que peçam uma recompensa, mas está demorando muito. — Olho para os guardas parados em minha frente, acabaram de voltar da procura e nada. Ainda tenho esperança de que os que ainda não voltaram a tenham encontrado. — É impossível que ela tenha fugido, sequer saberia se virar lá fora. — Já não sei mais o que pensar.— Existe alguém que queira se vingar do senhor? Algum inimigo meio ao povo ou algum reino que é contra sua soberania? Alguém que o odeie tanto a ponto de pegar minha menina para se vingar? — Nana pergunta me olhando.— Não, não sei. Sou tão bom para o povo, não consigo lembrar de nada que tenha feito para alguém. — Digo, coçando a cabeça, realmente não me lembro
•°•°Peter°•°•Escuto ela gritar assim que saio do ambiente. Não consigo entender ela. Mesmo que fosse a pessoa mais gentil do mundo, ela deveria ser do tipo que coloca veneno e não que tenta alimentar quem te causou mal. É impossível que aquele homem podre possa ter feito uma filha assim. Certamente, isso é para me enganar e evitar que seja repreendida. — Garota estranha. — Resmungo subindo as escadas e um sorriso bobo brota em meus lábios, mas logo desfaço. — Devia estar me odiando e não ficar sendo toda gentil, pode ser assim o quanto quiser, não vai mudar o que sinto e a minha vingança. — Falo entrando em meu quarto. *Eu gosto dela.* Balanço a cabeça negativamente quando começo a escutar coisas que não deveria. Pensamentos assim me irritaram durante todo o dia Preciso tomar banho, dormir e tentar relaxar. Todo esse estresse está me causando esse pequeno conflito. Nada que uma boa noite de sono não faça. A primeira lua cheia me obriga a ser um monstro, monstro esse que está estr