Capítulo 8 °

•°•°Peter°•°•

Assim que entro em casa, minha tia já está à minha espera, com os braços cruzados e batendo com o pé direito no chão. Já vi que aquela garota abriu a boca, odeio sermões, não tenho mais idade para isso.

— Como você pôde fazer aquilo com ela? — Pergunta vindo em minha direção.

— Ela tentou fugir, tinha de punir ela de algum jeito. — Respondo calmamente, mas a mulher para em minha frente, de forma ameaçadora. 

— Ela não é nenhum bicho para tratá-la daquele jeito! — A mulher está transtornada. 

— Isso não te interessa em nada, ela é minha, eu faço com ela o que eu quiser. — Digo em um tom raivoso e recebo um tapa em resposta.

— Você não tinha o direito de fazer isso, ela é tão inocente, não merecia isso, o corpo é dela e não seu para decidir o que quer e quando quer. — Diz vermelha de raiva. – Não te criei para isso, te dei educação e ensinei a respeitar a todos, mas por causa desta vingança ridícula você está se tornando outra pessoa. Isso está manchando seu coração!

— Que coração? — Pergunto tranquilamente, isso a deixa mais furiosa. — Tia, olha bem para mim, eu não me meto nos seus assuntos e você não se mete no meu, não se envolve nisso. Isso é culpa sua também, você soube ao decorrer desses dezoito anos o que eu queria fazer e não fez nada para me impedir. —  Digo andando em direção a porta. — Vai embora, eu odeio aquela garota e isso nunca vai mudar. — Ela se aproxima e para em minha frente novamente. — Vou destruí-la, assim como ele destruiu minha mãe.

— Não fala bobagem, nunca é muito tempo, o destino às vezes pode nos surpreender. Pelo amor que deve ter guardado aí por mim, ou pela consideração por tudo que te fiz. Não encoste mais nela! — O tom meio da mulher não combina em nada com seu jeito extravagante, mas sinto a pontinha de ameaça. 

Jasmine pisca para mim e sai, reviro os olhos e vejo ela sumir em uma fumaça branca diante dos meus olhos. Meu pai era um lobo, já minha mãe era uma bruxa da luz, minha tia se beneficia um pouco da magia que tem.

••°• Mellany •°••

Me viro assustada quando escuto a porta se abrir com rapidez, fico acuada na parede pois o semblante do homem não está dos melhores.

— Achou mesmo que contar algo a minha tia poderia te ajudar? — Pergunta calmamente. — Você é idiota? Não entendeu sua posição aqui? — Se aproxima, mas não consigo me afastar pois a parede impede. — Você é minha prisioneira, ainda não entendeu? — Chega tão perto que sua respiração b**e em mim. — Eu perguntei se entendeu, está surda? — Grita tão alto que coloco a mão no ouvido e fecho os olhos com força, ele vai me b**er de novo.

— E..eu eu não falei nada. — Acabo gaguejando, meu coração está quase fugindo pela boca. — Eu te obedeci. — Escuto a risada dele e logo seu corpo se afastar.

— Ah, não? Como ela descobriu? Porque ler mentes não é um dos poderes dela. — Abro os olhos e vejo que me analisa, em busca de respostas.

— Ela perguntou o motivo que o levou a me punir, disse apenas que fugi e essa foi a causa. — Tento não gaguejar, para que me leve a sério e não sinta mais raiva. Minhas costas parece estar sendo arrastada no chão pela dor e queimação que sinto. 

— O que mais? — Pergunta calmamente. Tenho medo de contar que ela parece ter me hipnotizado e ele rir, mas se conseguiu falar em minha mente antes, deve saber que ela faz isso. 

— Ela cuidou dos meus machucados e depois ela virou meu rosto para ela, quando olhei fiquei hipnotizada e me perguntou se algo a mais tinha acontecido, mesmo contra minha vontade, disse que me beijou e que tenho medo que me force a ser sua. — Sou sincera, já que ele deve saber o que aconteceu, só quer me sondar para ver se vou mentir. — Foi isso, somente isso. 

Ele se aproxima lentamente, para em minha frente, coloca um braço de cada lado do meu corpo, apoiado à parede e sorri. 

— Você ser minha será só uma consequência de tudo que vai te acontecer. — Tremo diante de suas palavras e fico mais assustada ainda quando um sorriso de canto aparece. — Só irei parar quando destruir tudo que seu pai preza, foram dezoito anos esperando o melhor momento, você não vai me parar, princesa. — Sua cabeça se inclina, ficando na dobra de meu pescoço e fecho os olhos com força, tentando não me mexer enquanto suga o ar próximo a minha pele. — Seu cheiro me deixa em êxtase. — Sussurra. — Quero tanto te devorar. 

— Não! — Empurro o peito dele com força quando sua boca toca minha pele. O homem que se afastou um pouco, me olha como se fosse me ma.tar. — Desculpa. Sinto muito, não foi minha intenção. — Me desculpo com rapidez. — Já estou machucada demais. Por favor, me deixe descansar. — Suplico. 

O homem que parece completamente instável umedece os lábios, isso me faz recuar até o canto da parede, mas ele não se mexe. É como se quisesse se controlar. 

— Estou com fome. Pode me alimentar? — Pergunto, mudando o rumo da conversa. Se esse homem resolver me violar, acho que irei desejar a morte, não sei se irei suportar. — Por favor. — Minhas lágrimas descem sem minha permissão. — Por favor!

— Para de suplicar! — Grita, saindo de seu estado de hipnose e mesmo que pareça irritado, fico mais aliviada por seu semblante não estar como antes. — Não está em posição de fazer pedidos, precisa pensar em suas atitudes. Ficará sem comer por ter a boca grande demais. — Diz indo em direção a porta, mas corro até ele. 

— Por favor, meu estômago dói, senhor. — Imploro, mas paro quando se vira e me encara. O ódio que sente por mim, mesmo sem me conhecer, é notório. — Sinto muito. — Abaixo a cabeça.

Ele não fala nada, apenas escuto seus passos e penso que está se aproximando, mas percebo que não quando a porta é fechada com força. Caio no chão, sem forças para ficar de pé. Me permito chorar, como nunca antes tinha feito, um choro de dor e desespero, que vem da alma.

Percebo que ele não vai voltar para me trazer comida quando o tempo passa, desisto de esperar e fico de pé, ando lentamente até a cama e me deito. Fico de costas para a cama, na intenção da dor que sinto nela ser maior que a do estômago, mas isso não acontece. O remédio que ela passou deve ter feito efeito, pois não sinto mais nada, somente a fome que me assola. 

Qual é o objetivo dele? Sei que quer se vingar do meu pai, mas… e eu? Parece que irei sofrer junto por algo que aconteceu antes mesmo de eu nascer. 

Viro e encaro a janela, que mostra a noite lá fora. Sempre amei admirar as estrelas, mas no momento parece algo tão sufocante. Sempre achei que as estrelas eram mágicas, mesmo não acreditando em magia antes, coisa que agora acredito. Desejava algo nas vezes que via estrelas cadentes, mas nunca,  em nenhum dos meus pensamentos, mesmo os mais aterrorizantes, imaginei que algo como isso que estou vivendo pudesse me acontecer.

Meu pai é o melhor rei que existe, um homem sábio e muito honrado, todos respeitam ele cegamente. É difícil acreditar no que esse homem que me raptou diz, ele deve ser louco e tive o azar de estar na mira dele. 

Fecho os olhos, estou me sentindo tão fraca, deve ser pela quantidade de sangue que perdi ou pela fome, não sei dizer, só sei que isso é apenas o começo do meu sofrimento. Queria tanto que meu pai me encontrasse logo, seria perfeito se isso pudesse acontecer. 

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