Acordei me sentindo nova em folha. Completamente renovada. Uma das maiores bênçãos que recebi foi a habilidade de não sentir ressaca. Sempre me disseram que isso acontecia porque eu era jovem, mas os anos estão passando e não ganho nem uma dor de cabeça após uma noitada. E por mais idiotice que possa parecer, não sinto um pingo de arrependimento pelo “episódio” da madrugada passada. Au contraire. É divertido vê-lo perder a pose e ficar desconcertado. Óbvio que eu não iria dormir com ele, só queria provocar. Dei a ele algo para pensar nos próximos dias. Atrasada (como sempre) pego o meu collant, as minhas sapatilhas e coloco dentro da mochila, hoje dou aulas no centro infantil no meu intervalo da tarde. Trabalho em alguns horários a mais para compensar as duas tardes na semana que estou em classe. Passo correndo pela Rosa, que trabalha aqui em casa, roubo uma panqueca do prato e saio correndo. -Pode pelo menos sentar para comer menina? O seu café tá pronto. - ela grita enquanto eu
Precisei de dois pontos pequenos na palma da mão, levei um sermão por causa das outras pequenas cicatrizes que e já tinha nas palmas e uma recomendação para que largasse o hábito. Quando subo de volta ao andar da minha sala encontro Robert parado para o lado de fora da porta. -Você está bem? -ele levanta a minha mão e olha para o pequeno curativo. -Não foi nada, é tão pequeno que nem se qualifica como um machucado, apenas me cortei no canto da mesa. -minto. -Como você ficou sabendo?-Todo mundo sabe de tudo por aqui. Anne disse que você entrou como um verdadeiro furacão no gabinete. As notícias por aqui tem asas e voam mais rápido que uma águia.-Foi só um mal entendido. Já resolvemos tudo. -falo. -Agora preciso voltar para o trabalho e você também. -Me manda mensagem mais tarde? - enquanto ele fala a porta da sala é aberta. -Se quiser… -Will fica parado na porta e encara nós dois. -Conversar comigo?Ignoro a presença da figura parada na entrada da sala. -Claro! -respondo. Colo
Como essa mulher consegue ser tão irritante?Achei que chegaria hoje pela manhã e ela evitaria até mesmo olhar na minha direção depois do que aconteceu na noite passada, mas pelo contrário. Primeiro ela me olhou com ódio, o que devo admitir seja a minha culpa porque provoquei e não me arrependo nem um pouco. E então seu olhar voltou a ser desafiador e provocante. Parece que a nossa relação virou uma espécie de jogo e nenhum dos lados está disposto a ceder. Ela me deixou sozinho na sala dela e não posso evitar dar uma bisbilhotada por aí. A mesa está meticulosamente organizada, apenas com o computador em cima, uma caixinha de cartões de visitas e um porta retrato. Lembro que não tenho o número de telefone dela, então pego um cartão e coloco no bolso. No porta retrato ao invés de uma foto de família, tem uma foto dela ao lado de Maya e segurando Melissa no colo, não consigo entender como essa relação se desenvolveu tão rápido, minha cunhada normalmente é muito fechada em relação a no
A sala permanecia em silêncio. -Você falou com um delegado? Em que momento? -meu pai quebra o silêncio. -Eu não falei, acabei de pesquisar o nome dele no google. Assim como não tenho nenhum amigo Juiz Federal. -ela dá de ombros. -O que eles fizeram foi errado, com tempo com certeza conseguiríamos essas coisas, se fossemos atrás. Mas a gente não tinha esse tempo, quanto mais tempo a matéria ficasse no ar, mais difundida e difícil de controlar. Eu só adiantei um pouco as coisas. Encarem como uma previsão e não uma mentira. -Como você sabia quem tinha escrito? -pergunto curioso. Ela tira um documento de dentro do bloco de notas e me entrega. Era uma oferta de emprego de Anthony para ela, datada de 5 meses atrás, e nela ele se referia ao meu pai como “falso profeta”. -Eu já te disse que não esqueço nada, só queria olhar de novo para ter certeza. -ela se volta ao restante das pessoas. -Então, ninguém quer ir comer? Após alguns minutos vemos a nota de retratação no ar, conferimos cada
Coisinha ardilosa? É sério que ele me chamou de coisinha ardilosa?Fico sem reação por um minuto, apenas com o calor passando nas minhas veias. A essa altura já não sei mais dizer se o calor ainda é ódio. -Não me provoque Rain. Entra nesse carro. Esquece o que eu disse, é ódio sim. -Eu não vou para lugar nenhum com você. -respondo. -Furacão.. -meu apelido sai da boca dele quase como um rosnado. Ele aperta ainda mais o meu corpo contra o dele. A mão que cobria a minha boca agora está no meu pescoço, apertando levemente. Então ela desce lentamente e para ao encontrar o meu seio por cima do collant. -Essa roupa…-ele fala e a mão me aperta mais forte.-Você devia usar apenas ela, todos os dias.Quando ele se afasta apenas um pouco, para olhar para mim, aproveito um momento de lucidez e acerto minha mão no rosto dele sem muita força.-Eu disse para me soltar. Ele ri e me solta levantando as mãos. -Você tem razão, me desculpe. -ele fala ainda me olhando nos olhos, mas com um tom mais
Ela desce do carro em silêncio, no elevador cruza os braços e enruga a testa. -O que foi? -pergunto. -A gente devia fazer alguma coisa sobre esse Anthony Jhonson. -responde séria.-Tipo matar? -questiono achando graça. -Não por enquanto. Depois quem sabe. -ela parece estar falando sério. A encaro preocupado e vejo o canto dos seus lábios subir. -Muito engraçado furacão. -Eu estava pensando mais em algo do tipo roubar o notebook dele para procurar o e-mail que ele enviou para o jornal. -ela permanecia olhando para frente.Ela estava falando sério? Não pode ser. -Você ainda está brincando, não está? -pergunto. -Não dessa vez Will. Ela realmente não estava brincando, pelo contrário, ela falava como se já estivesse decidida. -Rain, pelo amor de Deus, você sabe que isso é um crime? -quase suplico. -Sim, invasão de domicílio e furto. -responde como se as palavras não fossem nada. Ela sai do elevador e eu caminho atrás dela. -Você percebe o que está dizendo? -Sim. Respiro fun
Eu estou sentada na cafeteria em frente ao prédio comendo o meu segundo sanduíche. -Preciso lembrar de te alimentar com mais frequência, você com fome é um atentado contra a humanidade. -Marcus diz. -Eu me lembro de um tempo onde você tinha tanto medo de mim que não conseguia falar quando eu estava perto. Hoje eu sinto saudades desses dias. -falo.-Talvez eu devesse te comprar outro sanduíche. -Não existem sanduíches o suficientes no mundo todo para acalmar meu ódio hoje. -Rain… -ele me chama. Eu largo o sanduíche e olho para ele. -O que quer que seja que você vai fazer, mesmo se for ilegal, você pode contar comigo. Eu vou te ajudar. Sinto o nó na minha garganta afrouxar e o meu ódio diminuir um pouco. -Marcus, querido, você não precisa se preocupar comigo. Você sabe que eu sei me virar muito bem. …Como essa deveria ser a tarde em que passo dando aulas, não retornei para a Prefeitura. Passei no estacionamento, peguei meu carro e vim direto para a casa. -O que faz em casa t
Tento não demonstrar o meu nervosismo, mas não acho que consigo. Eu não sei nem o porque que estou aqui na verdade. Rain, ao contrário de mim, parece perfeitamente confortável. Ela disse que desligou o sistema de segurança, como ela fez isso. -Ei. -ela estala os dedos na frente do meu rosto chamando a minha atenção. -Você parece que vai desmaiar. -Eu estou bem. -minto. -Eu preciso fazer isso agora, não posso esperar. Se você vai passar mal, fique aqui e me liga se houver algum movimento.-Eu vou com você. -insisto. Ela apenas assente com a cabeça e sai do carro. Vou atrás dela. Ela passa pela lateral da casa em direção aos fundos. -Porque vamos entrar pelos fundos? -pergunto. Ela me olha feio e coloca o dedo sobre os lábios em sinal para que eu faça silêncio. Quando chegamos até a porta e ela puxa do bolso uma espécie de sacola que contém diversas ferramentas pequenas. Já vi isso em alguns casos que defendi, é um kit para abrir fechaduras. E ela claramente sabe o que está faze